“GAIVOTAS”
ou
(UMA ODE AO
TEATRO.)
TEATRO “de verdade”, como nos velhos
tempos. TEATRO dentro do TEATRO, quase uma “metalinguagem”.
TEATRO de muito boa qualidade. Assim, começo minha crítica sobre o
espetáculo “GAIVOTAS”, em cartaz no Teatro Poeirinha (VER
SERVIÇO.).
A peça, que foi encenada,
virtualmente, durante a pandemia, com o ator Paulo Giardini, num dos papéis masculinos (Assisti à exibição e gostei muito, apesar
de avesso a esses “experimentos cênicos virtuais”.), o que não
quer dizer que já tenhamos nos livrado desta, ganhou, agora, uma montagem
presencial, como forma de homenagear o grande dramaturgo russo
ANTON TCHÉKHOV, “com reflexões sobre as relações humanas”.
E como é difícil e, ao mesmo tempo, instigante, analisar as relações humanas, falar
e tratar delas!!! O Homem, em seu universo, cercado de seus iguais, expondo
suas emoções, dúvidas, inquietações, questionamentos, esperanças, dentro do grupo, da bolha, em que vive, sempre foi, é e será um
excelente estímulo para escritores, de uma forma geral, incluindo os dramaturgos.
Quem aprecia o bom TEATRO, o chamado “teatrão”, sem a
menor pincelada de depreciação - muito pelo contrário -, está diante de um prato
cheio, quase transbordando, quando se propõe a assistir a “GAIVOTAS”.
O projeto foi idealizado pela atriz
e produtora BIBIANA ROZENBAUM e pelo diretor FERNANDO
PHILBERT, para celebrar os 125 anos da primeira encenação de “A GAIVOTA”, obra-prima do já citado dramaturgo.
O texto de “GAIVOTAS”,
entretanto, é do consagrado dramaturgo romeno, MATÉI VIȘNIEC, radicado
na França, contemporâneo, um dos mais aplaudidos e montados autores,
nos últimos anos, bastante premiado, em várias partes do mundo. Entre nós, brasileiros, goza de
uma enorme boa reputação, contando com uma legião de admiradores de seus
trabalhos. Além de escrever para o TEATRO, MATÉI também é poeta
e jornalista.
(MATÉI VIȘNIEC - Foto: The Romenia Journal.)
Antes de entrar na análise da peça, faço questão de dizer
que o subtítulo desta crítica não foi criado por mim, mas é do diretor,
FERNANDO PHILBERT, que assim se pronunciou, durante uma conversa que
tivemos, após a estreia do espetáculo: “A peça é uma ode ao
TEATRO.”, com o que concordo plenamente, achando que nada melhor a
definiria, a ponto de roubar-lhe a definição da montagem.
Os que conhecem a obra-prima
de TCHÉCHOV sabem que, no final da peça “A GAIVOITA”, a
figura central da trama, KONSTANTIN GAVRILOVICH TREPLIOV, um jovem
escritor, um aspirante à pena, suicida-se, por conta de sua obra ter sido
rejeitada pelos amigos intelectuais de sua mãe, a famosa atriz IRINA
NIKOLÁIEVNA ARKÁDINA. “GAIVOTAS” é uma adaptação de um texto
dramático de MATÉI
VIȘNIEC, cujo título é “NINA OU DA FRAGILIDADE DAS GAIVOTAS
EMPALHADAS”, no qual a genialidade do grande dramaturgo parte da hipótese de o suicídio não ter se concretizado - a cena do
suicídio é apenas sugerida, quando os que estão dentro da casa ouvem um
estampido, no quintal -, fazendo com que KONSTANTIN reapareça, quinze
anos depois, à casa onde morava, para se reencontrar com NINA MIKHAILOVNA ZARÊTCHNAIAN, seu amor,
a qual estava apaixonada por BORIS ALEKSIEVICH TRIGORIN, um famoso escritor
e amante da mãe de KONSTANTIN.
No texto de VIȘNIEC, os que
formam o triângulo amoroso, KONSTANTIN, NINA e
BORIS, se apresentam, em função do tempo passado, mais maduros e
amargurados, precisando “lidar com as pontas soltas, deixadas pelas
decisões que tomaram ao longo de suas vidas”. Segundo o “release”,
que me chegou às mãos por intermédio de ALESSANDRA COSTA (Assessoria
de Imprensa), “‘Gaivotas’ traz uma mensagem de
esperança e superação. As personagens são como gaivotas,
mortas e empalhadas, nas lembranças do passado, mas nada impede que, no
universo de VIȘNIEC, elas possam ter uma nova chance.”.
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
SINOPSE:
NINA (BIBIANA ROZENBAUM) representa a mulher que enfrenta a sociedade, em busca de sua
realização pessoal.
Ela não se envergonha em questionar as próprias escolhas.
“GAIVOTAS” põe um foco de luz na complexidade das
relações humanas.
É certo que a SINOPSE soa muito
vaga e, ao mesmo tempo, serve para despertar o interesse e a curiosidade do espectador, para conhecer essa personalidade feminina, tão forte, ou tão fraca, vivendo um
jogo de relações conturbadas, com dois homens, KONSTANTIN (SÁVIO MOLL) e BORIS
(ANTONIO GONZALEZ).
Embora eu não conheça o original que serviu para a adaptação, esta agradou-me bastante e confesso que fui ao Teatro com muita expectativa e, também, com bastante saudade de algumas montagens de “A GAIVOTA”, a que assisti, ao longo de mais de cinquenta anos, principalmente uma de 1974, com um elenco estelar. Vários grandes nomes do nosso TEATRO, como Sérgio Britto, Fernanda Montenegro, Renata Sorrah, Fernando Torres, Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Celso Frateschi e Enrique Diaz, por exemplo, já viveram personagens da peça. Mas eu sabia que seria outra coisa que me esperava, mas não, exatamente, o quê, e a curiosidade era bem grande.
O
primeiro detalhe que impacta o espectador, quando ele adentra o local da
encenação, é a cenografia, algo tão simples quanto magnífico,
executada, com total cuidado pelo cenotécnico ANDRÉ SALLES.
Imaginem paredes cobertas de “neve” – não vou me deter nos
detalhes de como ela foi feita –, obra da premiada e genial cenógrafa
NATÁLIA LANA, que utiliza, ainda, no cenário, uma mesa de escritório,
sobre a qual estão alguns objetos, e algumas cadeiras. É importante dizer que
essa “neve” dialoga com a bela iluminação, de VILMAR
OLOS. A luz acompanha ou “agasalha” cada cena,
impondo-se, de acordo com o tom de cada uma delas, mais ou menos tensa. Os figurinos,
assinados por MARIETA SPADA são lindos e de um bom gosto a toda prova,
sem falar no fino acabamento de cada peça do vestuário dos três personagens. Obedecem à época e ao nível social dos três personagens.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Foto: Gilberto Bartholo.)
Dos demais elementos da ficha técnica, os quais, reunidos aos já mencionados, colaboram para um belo produto final, merecem destaques a excelente direção musical, de MARCELO ALONSO NEVES, contribuindo, sobremaneira, para a criação de um ambiente exigido pelo texto, a direção de movimento, a cargo de MARINA SALOMON e o visagismo, criado por MAYCO SOARES.
FERNANDO PHILBERT, que dirige o quarto
texto de MATÉI, também se encarregou da adaptação do original e o
faz, valendo-se, também, de algumas falas do original de TCHÉKHOV, além
de um pequeno texto de Domingos Oliveira e um trecho de uma
entrevista do autor romeno sobre a democracia. “Nada mais atual!”. "Um achado!!!
PHILBERT fez seu trabalho de direção em função das limitações do
espaço do Teatro Poeirinha, que me agradou, porém gostaria de ver
a montagem do texto num outro Teatro, num palco italiano, maior, ainda que se trate de um texto bem intimista, mas com coxias, que permitissem a oportunidade de entradas e saídas dos personagens
de outra forma, evitando repetições. Mas, se o fruto à mão é um limão, um bom diretor,
como FERNANDO PHILBERT, consegue fazer uma deliciosa limonada.
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
Há uma excelente cumplicidade entre o
trio de atores, totalmente necessária e exigida, para que o público
consiga mergulhar no drama existencial dos três e se deixe emocionar pelas
ações e reações, pelos conflitos internos e externos dos três. BIBIANA
ROZENBAUM interpreta uma comovente NINA, oscilando, a personagem,
entre a fragilidade de uma mulher ressentida e a fortaleza de quem luta por não
ser uma perdedora, assim como SÁVIO MOLL se destaca, com seu KONSTANTIN,
fragilizado, por seu fracasso como escritor, e morto de inveja do sucesso de BORIS (Permitam-me uma comparação, talvez um pouco exagerada, com relação à inveja: Wolfgfang Amadeus Mozart e Antônio Salieri),
nas letras, não aprovando, de jeito algum, o relacionamento deste com sua mãe. ANTONIO
GONZALEZ interpreta o consagrado escritor BORIS, farto da vida, aos
40 anos. Que bela aula de representação teatral os três nos dão!!!
BIBIANA ROZENBAUM, uma das idealizadoras do projeto,
ao lado de FERNANDO PHILBERT, assim se pronuncia, no já citado “release”:
“Desde a primeira leitura, eu me senti inspirada por NINA, uma mulher que
não tem medo de enfrentar preconceitos, para alcançar seus sonhos. Ela não tem
medo de errar. Apaixonei-me pelo texto, porque ele é atemporal. (...) A arte é
uma ferramenta terapêutica, que ajuda no enfrentamento das angústias e dilemas
cotidianos. Por isso ela é tão necessária.”. Além de concordar com a
talentosa atriz, acrescento que a ARTE se torna, a cada dia, mais
importante, para a nossa sobrevivência, uma espécie de “oxigênio”,
ainda mais nos “dias de trevas” que vimos atravessando, há três anos e
meio, no Brasil, “página infeliz da nossa História”,
que há de chegar ao fim, daqui a um semestre.
O
diretor, FERNANDO PHILBERT, chama a nossa atenção para três temas
que atravessam a peça, e eu reforço, aos que ainda assistirão ao espetáculo, esse seu
destaque: a revolução, a busca por si mesmo e a vocação. Eles se entrecruzam,
durante toda a narrativa. “A vida sempre dá para uma peça de TEATRO, e
vice- versa.”, finaliza ele.
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
FICHA TÉCNICA:
Adaptação da Obra de MATEI VIȘNIEC
Direção e Adaptação – Fernando Philbert
Elenco - Bibiana Rozenbaum, Sávio Moll e Antonio Gonzalez
Direção de Movimento – Marina Salomon
Direção Musical – Marcelo Alonso Neves
Iluminação – Vilmar Olos
Cenário – Natália Lana
Figurino – Marieta Spada
Visagismo - Mayco Soares
Cenotécnico – André Salles
Comunicação Visual – Barbara Lana
Fotos: Nando Chagas
Assessoria de Imprensa – Alessandra Costa
Direção de Produção – Júnior Godim e Bibiana Rozenbaum
Idealização – Bibiana Rozenbaum e Fernando Philbert
SERVIÇO:
Temporada - de 30 de junho a 28 de agosto de 2022.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João Batista, nº 104, Botafogo - Rio de Janeiro.
Dias e Horários: de quinta-feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Indicação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
É preciso que valorizemos, cada vez
mais, as produções de pequeno e médio porte, por demandarem muito mais
sacrifício de um batalhão de gente, profissionais da melhor qualidade, os quais
se entregam, de corpo e alma, para levantar espetáculos que precisam ser
prestigiados, como este, no qual se percebem o carinho, a dedicação, o esforço e
o talento de todos os envolvidos no projeto, razão mais que suficiente
para que eu o RECOMENDE COM BASTANTE EMPENHO. E que cada um espectador
possa ser um agente multiplicador, divulgando a peça, a fim de lotar o Teatro
Poeirinha, como no dia da estreia, e que, ao final da apresentação,
demonstrem sua satisfação, com muitos e merecidos aplausos!
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
Elenco e profissionais de criação.
Elenco e profissionais de criação, em dia de estreia.
(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)
FOTOS: NANDO CHAGAS
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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