URBANA
(DAS GRANDES SURPRESAS
AGRADÁVEIS QUE O TEATRO
NOS PROPORCIONA.
ou
A “URBIS” NUA E CRUA.)
Recebo,
diariamente, até mais de três convites para estreias de espetáculos teatrais e procuro atender a todos, das produções mais
“badaladas”, com nomes estelares, na ficha
técnica, a trabalhos bem modestos, alguns experimentais, em cartaz nos mais
longínquos lugares. Faço questão de ver tudo o que posso, muitas vezes, abrindo
mão de interesses particulares e à custa de um esforço hercúleo. Mas sempre o
faço de muito boa vontade e com grande interesse e aguçada expectativa. O TEATRO me chama, e eu vou.
Atendendo
a um convite, feito por JULIANA FELTZ
(PASSARIM COMUNICAÇÃO), fui à estreia de um monólogo, no Teatro
Municipal Serrador (VER SERVIÇO.), cujo título é bastante interessante e
instigante, “URBANA”, assim como a sinopse, mas que, na ficha técnica, só reconhecia o nome três
queridos e talentosos amigos: ROBERTO
RODRIGUES, na co-direção, JÚLIO ADRIÃO, assinando a supervisão geral do espetáculo, e FLORÊNCIA SANTANGELO, colaborando no figurino. No mais, só havia nomes de profissionais que eu não
conhecia, ou não ligava os nomes às pessoas, o que me fazia um pouco cético.
Será que valeria a pena um deslocamento do Recreio
dos Bandeirantes ao Centro da
cidade, num frio e chuvoso dia, atípico, de inverno carioca?
Sim. Valeu a pena; e muito. E a alegria
que aquela peça me proporcionou, tão
grande, quero dividir com quem me lê, com o firme propósito de tocá-los e
convencê-los a assistir ao solo e
ratificar o que direi sobre ele.
Não
precisei de mais de dois minutos, para sentir que um grande espetáculo estava à
minha espera. Isso se deu, tão logo a atriz GLAUCY FRAGOSO, uma ilustre desconhecida, para mim, até então, e,
agora, uma ilustríssima conhecida, subisse
ao palco, vindo da plateia e se comunicasse, de pronto, com o público, fazendo
um meio minuto de silencio e fingindo voltar, para o lugar de onde viera, a fim
de pegar algo que “esquecera”. Mas era só a primeira brincadeira com o público,
que lotava o Teatro Municipal Serrador.
Em seguida, ainda com o “pretexto”, ou um “pré-texto”,
que se verificou, depois, desnecessário, de se fazer comunicar, consulta a
plateia, para saber se poderia começar a sua “performance”.
Em
menos de cinco minutos, eu já estava me sentindo hipnotizado por GLAUCY e com a plena certeza de que se
tratava de uma atriz / palhaça, sem
que soubesse nada de sua formação profissional. Sim, ela é palhaça, de corpo e alma, o que me faz, mais ainda respeitar e
valorizar o seu trabalho, uma vez que sou apaixonado por esses artistas, os
quais muito me emocionam.
Reconheci
sua porção palhaça na maneira como
se comporta em cena, a sua técnica de representar; na sua postura, meio desconjuntada; nos seus movimentos
ágeis; na sua flexibilidade; na sua capacidade de ocupar todo o espaço cênico,
completamente desprovido de elementos
cenográficos; no seu olhar maroto; no brilho intenso dos seus olhinhos expressivos, que sorriem, além da boca; na
sua voz trabalhada; na sua candura; no seu todo, enfim.
SINOPSE:
Baseado em fatos e
personagens reais, o texto aborda a
humanidade do indivíduo marginalizado.
A cidade e o homem em
desordem, pessoas em situações de risco e abandono, às margens da cidade,
acuada por poderes paralelos, comum nos grandes centros – tudo isso está em
cena.
Com ação física, técnicas de
circo e de dança, a atriz e dramaturga GLAUCY FRAGOSO questiona a normatização da barbárie e
busca refletir sobre os encontros humanos, bem como suas influências ao meio
que se habita.
Segundo
a idealizadora do projeto, assim com
autora do texto, diretora do espetáculo e protagonista GLAUCY FRAGOSO, “‘URBANA’ narra a cidade e o indivíduo em
desordem. Tem um pouco do olhar do palhaço, de se deixar afetar pelo outro e de
rir do ridículo e do absurdo."
Os
vários personagens, vividos por uma
só atriz em cena, são pessoas que
ela encontrou pelas ruas ou são personagens
reais, de relatos que lhe chegaram, por meio de amigos e conhecidos. Esses encontros “...revelaram a humanidade desses indivíduos para além da
marginalização a que estão sujeitos, bem como suas influências”.
Extraído do “release”,
enviado pela assessoria de imprensa, “’URBANA’ é um grito de humanidade dentro da
desumanizada urbanidade. A liberdade do invisível, do oprimido opressor vestido
de loucura, testemunhados pelos cinco sentidos da falsa gringa frágil. Corpo
que dá vez e voz ao coração dos esquecidos e indesejados. ‘URBANA’ não tem cor,
credo ou gênero e está além do sotaque, pois é carioca e do mundo. ‘URBANA’ não
mente. “URBANA’ é uma flor teimosa, que não desiste de ser formosa. ‘URBANA’ é GLAUCY.",
nas palavras do grande ator e diretor JÚLIO ADRIÃO, que supervisiona
a montagem.
Em cena, temos a oportunidade de conferir um trabalho de mistura de
linguagens, oriundo de profundas pesquisas, abarcando técnicas de circo
e da dança, além da palhaçaria. “Com ação física, GLAUCY apresenta uma dinâmica corporal de
movimentação intensa, em que o corpo da atriz é a cidade, onde circulam os
invisíveis e indesejados”.
Esse aspecto do seu trabalho corporal é algo que marca a sua brilhante
atuação, assim como as máscaras faciais e a expressividade que
emana de seus olhos. Tudo cativa e atrai o público, o qual fica totalmente
atraído pela força interpretativa da atriz.
Antes
de chegar ao Rio, o solo colecionou premiações e participou de
importantes eventos, como, por exemplo, para citar apenas um, a importantíssima
“Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena”, Tiradentes (MG), em
7 de maio de 2018.
Julgo
importante que se conheça um pouco da trajetória de GLAUCY FRAGOSO, um nome que, em breve, certamente, ocupará um lugar
de destaque na mídia. Ela é atriz, palhaça e acrobata circense, de Santa
Catarina, radicada no Rio de Janeiro.
Desde 2010, atua na arte de rua, com
espetáculos e cenas autorais de circo
e teatro, em locais públicos da
cidade do Rio de Janeiro. Atuou em espetáculos de artes integradas (teatro-dança-circo) do circuito profissional
das artes cênicas do RJ e de SP, como as montagens “Veracidade”,
“Sonhos”, “Lua Gigante” e “Passos e
Oceano”, apresentando-se por onze
estados brasileiros. Dirigiu o processo criativo do espetáculo “In Versus”,
na Escola Nacional de Circo/FUNARTE,
com vinte alunos formandos da entidade. É formada pela ESLIPA - Escola Livre de Palhaços do Grupo Off-Sina (RJ), onde
desenvolve o trabalho de palhaçaria
em áreas de extrema precariedade da cidade do Rio de Janeiro. GLAUCY
começou no teatro amador de Santa Catarina, veio para o Rio de Janeiro, estudar TEATRO, e, na sua formação de atriz e circense, passou por grupos e escolas, como “Nós do Morro”, “Circo
Crescer e Viver”, “Intrépida Trupe”,
“Escola Nacional de Circo”, “Cia Brasileira de Mystérios” e “Novidades”, dentre outras.
O espetáculo é uma prova de que é possível,
com muito sacrifício e determinação, correndo atrás de um sonho, fazer TEATRO de alta qualidade com parcos
recursos e nenhum patrocínio ou apoio, a não ser contando com a colaboração de
amigos que acreditam num bom projeto.
Foi assim que “URBANA” se
concretizou.
O
texto é muito bom e chega, facilmente,
a qualquer tipo de espectador, do mais ilustrado ao menos informado. Ainda que
classificado como “drama”, este é tratado com muitas e muitas ótimas pinceladas
de um excelente humor. As primeiras gargalhadas surgem, quando GLAUCY resolve falar de seu gosto pelos
atrasos, tudo reforçado por “justificativas” hilárias. Depois, é a vez de, ainda
utilizando o humor, porém com seu toque crítico, mostrar a transformação de um
local paradisíaco numa “urbis”
infernal, a natureza cedendo lugar à selva de pedra. A cena em que é narrado o
roubo de uma bicicleta também provoca muitas gargalhadas, assim como a reprodução
de uma “feira”, onde o comércio de drogas é livre. A plateia se diverte, à
farta, durante a cena em que a personagem espera um ônibus, num local ermo,
onde reinam a violência e a periculosidade, e um local tenta persuadi-la a não
ficar ali “dando bobeira”, para não ser assaltada ou violentada. Funcionam muito
bem os momentos em que a personagem quebra a dramaticidade da cena para brincar
com a plateia. É uma maneira de amenizar a tensão e fazer com que pensemos e
reflitamos sobre todas aquelas situações com as quais, inevitavelmente,
convivemos no dia a dia.
A
atuação de GLAUCY é digna de todos os elogios, por ser correta e criativa. Seu
domínio de corpo, suas expressões, corporal e facial, chamam a atenção no seu
trabalho, bem como sua invejável resistência física. Visceral!!!
Não
há cenário; e nem precisa. O palco
nu é preenchido totalmente pela presença da atriz.
A
luz, de GUINGA ENZÁ, não apresenta muitas variações,
o que seria, mesmo desnecessário. A luz
própria de GLAUCY ilumina tudo.
O
figurino, criação da própria GLAUCY, contando com a colaboração de FLORÊNCIA SANTANGELO, é bem interessante.
Simples: um “short”, de lamê preto, ou algo parecido, uma camiseta cinza, tipo
regata, e a peça mais importante, que é uma blusa de manga comprida, preta, feita com
uma malha elástica, que serve, durante a encenação, de apoio para a interpretação;
abusando, um pouco, do exagero, um personagem.
Ela a retira do corpo e volta a vesti-la e faz dela usos os mais diversos, na
composição dos personagens e das
cenas. Uma ótima sacada da direção.
FICHA
TÉCNICA:
Dramaturgia, Direção e Atuação:
Glaucy Fragoso
Supervisão Geral: Júlio Adrião
Co-Direção: Roberto Rodrigues
Figurino: Glaucy Fragoso e
Florência Santangelo
Trilha Sonora: André Ramos
Iluminação: Guiga Ensá
Fotografia: Renato Mangolin
Vídeo: Renato Riguetti e Cris
Lustosa
Mídias Sociais: Ana Righi
Assessoria de Imprensa: Passarim
Comunicação (Silvana Cardoso e Juliana Feltz)
Produção Executiva e Identidade Visual:
Fernando Alax
Produção: Júlio Adrião Produções
SERVIÇO:
Temporada:
De 07 a 29 de agosto de 2018.
Local: Teatro Serrador.
Endereço: Rua Senador Dantas, 13 – Cinelândia, Centro
- Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2220-5033.
Dias
e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 19h30min.
Valor dos Ingressos:
R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia entrada) e R$15,00 (lista amiga).
Horário
de Funcionamento da Bilheteria: De 2ª a
6ª feira, das 12h às 19h; sábados e domingos, das 17h às 19h.
Lotação
do Teatro: 226 lugares.
Gênero:
Drama.
Classificação
Etária: 16 anos.
Duração
do Espetáculo: 65 minutos.
“URBANA”, sem a menor dúvida, é uma das melhores
surpresas teatrais que apareceram, no Rio de Janeiro, neste ano de 2018, e
merece ser vista por quem aprecia um bom trabalho de TEATRO.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO
BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE BOM NO TEATRO
BRASILEIRO!!!
(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)
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