DEUSES
INVISÍVEIS
OU
O
DEUS DANÇANTE
(UMA RARA E AGRADABILÍSSIMA
EXPERIÊNCIA TEATRAL.)
As
boas surpresas... Sempre elas... Que bom que surgem, quando menos as esperamos!
Gente
que eu não conhecia, de quem jamais ouvira falar, aportou, no Rio de Janeiro, mais propriamente, no
delicioso Teatro Cesgranrio, com um
espetáculo belíssimo, que merece ser visto por quem tem sensibilidade e ama a
arte de representar.
O espetáculo em tela chama-se “DEUSES INVISÍVEIS ou O DEUS DANÇANTE” (VER
SERVIÇO.), “um manifesto sobre as relações
humanas, desenhado em dez histórias, por dois atores,
quatorze personagens e uma infinidade de emoções”, encenado pela CIA. TEATRO IMEDIATO.
Diz
o “release”, enviado pela assessoria de imprensa (FRANCINY ESPÍNDOLA), que o espetáculo “provoca o público a rever velhos conceitos,
aplicados a relacionamentos e questões sociais. (...)
Entre
diversas histórias, dançam, no tablado, gêneros e temas que expõem fragmentos
de vida, arquétipos de homens e mulheres, que, de alguma forma, estão interligados
e se afetam. Inquietante”.
Apresenta-se,
em cena, o casal LUDMILA BRANDÃO e THOR VAZ, também responsáveis pela dramaturgia, enquanto cabe a THOR a encenação da peça.
Também faz parte da CIA, de origem baiana, em 2010, um terceiro integrante, LEOPOLDO VAZ EUSTÁQUIO, músico e compositor, que assina a
instigante trilha sonora.
É a primeira vez que o grupo atua no Rio de Janeiro, depois
de seis trabalhos realizados, com sucesso, em Salvador e em São Paulo.
“O fio condutor da trama é orquestrado por uma mulher, diagnosticada
com esquizofrenia, que, internada em uma clínica psiquiátrica, inventa uma
fábula, para traduzir a forma como vê a sociedade. Uma história com diversas
camadas de entendimento, onde todas as personagens estão intimamente ligadas
entre si’ (extraído do “release”)
Ainda esclarece tal material que “o processo de montagem segue sempre a mesma
metodologia: inicia-se pela construção da dramaturgia e a consequente busca por
um espaço ideal à montagem. Logo em seguida, começam os ensaios, e outros
artistas são convidados a participar da obra, como parceiros do grupo, na
investigação do essencial para a realização de uma ação artística potente. Todo
o resto é supérfluo neste método, adotado pela companhia, e cunhado por
Grotowski como ‘Teatro Pobre’”.
SINOPSE:
GEORGETE (LUDMILA BRANDÃO), paciente de uma clínica psiquiátrica,
recebe a visita do seu médico e companheiro filosófico (THOR VAZ).
Para ele, ela desnuda,
teoricamente, a loucura que a perturba, dia e noite, através de uma fábula
social, que une todos os seres em um mesmo emaranhado poético. Uma
antologia de encontros. Retratos vivos de momentos que moldaram destinos
pessoais e coletivos; e a desconfiança de que nossa individualidade é uma
utopia e, só através dos encontros, passamos a existir.
A produção do espetáculo é franciscana, o que valoriza, mais ainda, a
sua qualidade. Sem nunca ter contado com patrocínio público ou privado,
conseguindo, apenas, um ou outro apoiador, a CIA TEATRO IMEDIATO mostra seu trabalho de forma totalmente
independente.
Elementos
técnicos da montagem são quase que acessórios e bastante limitados, com
destaque, apenas, para a iluminação,
que é um acontecimento, uma verdadeira obra de arte. É muito mais estética que
funcional, o que lhe confere, além da beleza, um diferencial, em relação ao que
significa a iluminação numa montagem
teatral.
O cenário, bastante minimalista, é, praticamente, inexistente e
perfeitamente dispensável. Palco nu; uma rotunda, ao fundo, branca, que se
presta a projeções; duas pretas, nas laterais, e apenas dois banquinhos, de
acrílico, ao que parece, transparentes, sobre o palco. Tudo para deixar o casal
de atores bem à vontade, para ocupar todo o espaço cênico, com suas “perfomances”.
Os dois figurinos são iguais: um traje branco, meio amorfo, que pode
sugerir, ao espectador, o que este bem entender.
Enriquece, sobremaneira, a encenação
o belo e apurado trabalho de criação de uma trilha sonora original, que “mistura um minucioso trabalho de paisagem
sonora, construção de atmosferas energéticas, silêncios e efeitos de indução
sensorial; sem dúvida, um dos pontos altos do espetáculo”.
Paralelamente, as histórias vão
se entrelaçando, no palco e “os dois atores revezam-se entre os papéis,
compondo vários seres, em situações que trazem reflexões fundamentais à
contemporaneidade. Questões como a invisibilidade das minorias; a falta de
consciência a respeito de quem somos e como nos relacionamos; a dificuldade de
encontrar-se, em si e no outro; a nossa função, no todo universal; a escassez
no afeto, mesmo entre familiares; o sentido vazio de moralidade e dever na propagação
dos padrões afetivos; as relações extraconjugais; as relações amorosas
abusivas; a questão de gênero; a noção de valores entre a fama ‘versus’
o anonimato e o abismo que separa dois seres que moram no mesmo edifício
constroem, de forma intrigante, cenas cotidianas, que podem ser vividas por
qualquer indivíduo”.
Essa farta e nossa velha conhecida
matéria-prima, tão próxima à realidade do público, e a forma como as situações
são tão bem vivenciadas pelos atores estabelecem um nível de interesse, no
sentido da plateia para o palco, tão imediato e intenso, que não conseguimos
piscar, durante a peça.
Agradou-me demais a atuação de LUDMILA e THOR, dois excelentes artistas, que, como tantos por aí, ainda são
desconhecidos do grande público, entretanto merecem ter o seu trabalho conhecido,
aplaudido e valorizado pela comunidade que frequenta teatros.
Um detalhe que me chamou muito a atenção foi o trabalho corporal e vocal da dupla. Ambos falam, durante quase todo o espetáculo, num tom de voz baixo e suave, completamente audível, graças ao excelente desenho de som, a cargo de LEOPOLDO VAZ EUSTÁQUIO.
FICHA TÉCNICA:
Concepção e Dramaturgia: Ludmila Brandão e Thor Vaz
Elenco: Ludmila Brandão e Thor
Vaz
Encenação: Thor Vaz
Direção de Arte:
Ludmila Brandão
Trilha Sonora Original: Leopoldo
Vaz Eustáquio
Desenho de Som: Leopoldo Vaz Eustáquio
Iluminação: Cia Teatro
Imediato
Figurino: Cia Teatro
Imediato
Fotografia e Filmaker: Laura
Fragoso
Designer Gráfico: Laura
Fragoso
Assistente de Produção:
Laura Fragoso
Produtor: Javier Rubin
Assessora de Imprensa: Franciny
Espíndola
SERVIÇO:
Temporada: De 06 a 28 de Julho de 2017.
Local: Teatro Cesgranrio.
Endereço: Rua Santa Alexandrina,
1011 - Rio Comprido – Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: Às 5ªs e 6ªs
feiras, às 19h30min.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira)
e R$15,00 (meia entrada).
Venda: www.ingressorapido.com.br e Bilheteria
do Teatro.
Duração: 1h20min.
Classificação Etária: 14 anos
Um dos muitos parâmetros que costumo utilizar, para avaliar o grau de
prazer que um espetáculo teatral provoca em mim, é a avaliação do chamado tempo psicológico, interior, pessoal,
que significa este passando naturalmente, do ponto de vista cronológico (aqui,
no caso, 80 minutos), entretanto
dando a impressão de que “voou”, passou, sem ser percebido, deixando aquela
vontade de “quero mais”.
Assim acontece em “DEUSES
INVISÍVEIS OU O DEUS DANÇANTE”. Saímos do Teatro na certeza de que gostaríamos de continuar nos deliciando
com o que estávamos vendo.
Recomendo o espetáculo, sabendo que os que aceitarão a minha
recomendação haverão de se associar à minha opinião sobre ele.
(FOTOS: LAURA FRAGOSO)
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