OCUPAÇÃO
MARCELINO FREIRE
– A
PALAVRA AMASSADA ENTRE
OS
DENTES
(A RADIOGRAFIA DE UMA
SOCIEDADE.)
Teve
início, no dia 9 de maio passado, e
vai até o dia 4 de junho, o próximo domingo, no SESC Copacabana, Rio de Janeiro, a “OCUPAÇÃO
MARCELINO FREIRE - PALAVRA AMASSADA ENTRE OS DENTES”. Embora estejamos no
último final de semana da temporada, vale o registro do que está acontecendo no
SESC.
MARCELINO FREIRE é um consagrado
escritor pernambucano, radicado em São Paulo, que está tendo seus textos montados em três espetáculos,
simultaneamente, nessa “OCUPAÇÃO...”.
Do “release” do evento (com adaptações),
enviado pela assessoria de imprensa (DANIELLA
CAVANCANTI): “Apesar de já ter tido incursões pelo cenário carioca, onde seus livros
foram lançados, e participar de eventos literários, é o projeto mais
significativo de abordagem da obra de MARCELINO, no Rio, um dos maiores
expoentes da escrita brasileira na contemporaneidade, que tem seus livros
lançados em toda a América Latina e na Europa e atrai a atenção de diversos grupos,
pelo Brasil, principalmente porque MARCELINO ‘escuta’ a rua; é dela que vem sua
obra, repleta de personagens marginais, reconhecíveis e através de uma voz
crítica, contundente e importante para os dias de hoje”.
Três espetáculos estão sendo encenados nessa “OCUPAÇÃO...”: “UM SOL DE
MUITO TEMPO”, “BALÉ RALÉ”, e “CONTOS NEGREIROS DO BRASIL”. Além
disso, o projeto também abarca uma oficina literária, com o próprio MARCELINO; um sarau de poesias, com a participação do autor e dos poetas
convidados Chacal e Mano Melo; e, ainda, disponibilizará um acervo, com uma seleção
de livros do escritor, no Espaço de
Leitura do SESC.
Assisti aos três espetáculos teatrais, porém,
por falta de tempo, só entrarei em detalhes técnicos com relação a um deles e, utilizando
o critério de gosto pessoal, falarei, exatamente, daquele de que mais gostei, do
que me falou, profundamente, na alma, que é “CONTOS NEGREIROS DO BRASIL”.
UM
SOL DE MUITO TEMPO
(“LÁGRIMA
EM ROSTO DE VELHO, É CHUVA.
SAI, ENCHENDO RIOS SECOS.
PROFUNDOS DESLIZAMENTOS.”)
SINOPSE:
Trata-se de uma “performance” solo, feita por WILSON BELÉM, com direção de CADU CINELLI,
a partir de seis
contos de MARCELINO FREIRE.
Personagens, como o Velho, os Acompanhantes, o Avô e
a Criança, dão voz a pontos de vista
distintos sobre o processo de envelhecimento e a senilidade.
Os contos são “A Última Sessão”, “Belinha”, “A
Acompanhante”, “Hora do Banho”, “Vovô Valério Vai Voar” e “Troca de Alianças” e abordam o tema
da senilidade.
A passagem do tempo
incidindo sobre corpos, mentes e sentidos. Sobre velhos e acompanhantes.
Sobre avós e netos. Sobre pais, sobre filhos. Sobre
irmãos.
O texto se reporta tanto aos que vivem, na própria carne, o processo
de envelhecimento como aos que estão por perto, atentos à inexorabilidade das
horas.
Construindo um ambiente
intimista, de cumplicidade e proximidade com o espectador, o ator fala pelos
personagens destas histórias.
A teatralidade dos contos emerge
não a partir de uma adaptação para a forma dramática (os contos são falados integralmente), mas através da valorização
da riqueza rítmica, musical e poética da prosa do autor. São palavras e sons
que constroem as imagens; sensações e afetos constroem as relações que se
encarnam nas ações da cena.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Marcelino Freire (contos extraídos dos livros “AMAR É CRIME”, “ANGU DE SANGUE”,
“BALÉ RALÉ” e “RASIF”)
Concepção
e atuação: Wilson Belém
Direção:
Cadu Cinelli
Cenografia
e Iluminação: Cadu Cinelli
Assistência
de Projeto Cenográfico: Harderson Oliveira
Cenotécnico:
Alex Augusto
Figurino:
Florencia Santangelo
Costureiro:
Caio Braga
Preparação
Vocal: Marianna Lima
Composição
Musical para o Conto “TROCA DE ALIANÇAS”: Henrique Machado
Fotos:
Caíque Cunha e Rafael Teixeira
Design
Gráfico: Evee Ávila
Assessoria
de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Mídia
Social: Rafael Teixeira
Direção
de Produção: Thamires Trianon e Wilson Belém
Assistente
de Produção: Raphaela Machado
Produção:
9 Meses Produções Artísticas
Idealização:
Inácio e Belém Produções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada:
De 09 de maio a 01 de junho de 2017.
Local:
SESC Copacabana (Sala Multiuso – Cine-Teatro).
Endereço:
Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias
e Horário: 3ªs, 4ªs e 5ªs feiras, às 20h.
Valor
dos Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do
SESC).
Classificação
Indicativa: 14 anos.
Duração:
60 minutos.
Lotação:
50 lugares.
BALÉ
RALÉ
(“ESSA
É UMA HISTORINHA INFANTIL.
MAS TEM SANGUE”.)
SINOPSE:
“BALÉ RALÉ” é a celebração da palavra. Mas é, também, sua
execração. Porque não há palavra sagrada que dê conta de um mundo podre.
E esse tempo é político,
como sempre, como tudo, mas mais agora, uma política à flor da pele, da qual
não podemos nos safar, obliterar, ocultar mais. Não queremos. Há um grito pendente no mundo, na fila, para
ser gritado, há gerações. Os personagens marcelianos são essa metonímia - a de
todos os gritos num único grito.
O espetáculo fecha uma trilogia, iniciada com “Feriado de Mim Mesmo” e “O Homossexual ou A Dificuldade de Se
Expressar”.
O projeto dá continuidade à trajetória da companhia, marcada pela
reflexão de algumas questões emergentes do país e do mundo, que atravessam conteúdos
ligados à diversidade, à territorialidade, à modernidade e seu reflexo sobre o
homem contemporâneo, numa reflexão contundente sobre os limites do corpo e da
sociedade e de como estes podem estar dotados de uma potência revolucionária.
Falas, frases, falos,
frases roubadas, pedaços vivos de cotidiano, matéria, coisa.
“BALÉ RALÉ” é música para os olhos.
Existe um destino trágico
dos que estão na vanguarda. Estar conectado a um tempo, mas também a um espaço:
o Rio, o Brasil, o mar, o sertão, o mundo. Em uma difusa e dispersa pós-modernidade,
personagens marginais buscam por identidade.
“BALÉ RALÉ” é no presente. “BALÉ
RALÉ” é um exercício de auto-escuta. É o homem, atribulado, perturbado por
si, tentando, entre acordes e fugas, entre semitons e batuques, ouvir,
auscultar a si mesmo. Personagens que são monstros, que despertam, como
vulcões, seres atolados, que decidem cantar o que escutam nos seus próprios
corações. Sensualidade, miséria, amor, vingança, ódio, existência.
Para falar de coisas
concretas, recorremos ao melífluo universo do velado, da escuridão: um cabaré.
Com ações extremadas, estes personagens não se limitam ao indivíduo, são o
próprio mundo.
Os personagens de “BALÉ RALÉ”
carregam o mundo nas costas, as dores e os amores. E isso tudo tem uma origem
específica: são pedaços vivos, rejuntes da própria matéria social
brasileira. São personagens que desabafam palavra e, por ela, desabam. São
pedaços vivos de cotidiano, compondo um vozerio.
“BALÉ RALÉ” é uma peça sobre vozes e sobre corpos, impondo,
ao público, o lugar de escuta. Personagens que são como vulcões em erupção,
em momentos-limites, extremos, prontos para matar ou morrer.
“BALÉ RALÉ” é um depoimento.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Marcelino Freire
Concepção
e Direção: Fabiano de Freitas
Assistência
de Direção: Juracy de Oliveira
Elenco:
Blackyva, Leonardo Corajo, Maurício Lima, Samuel Paes de Luna, Vilma Mello e
Juracy de Oliveira (Stand In)
Direção
de Movimento: Márcia Rubim
“Design”
de Luz: Renato Machado
Operadores
de Luz: Iuri Wander e Celma Ungaro
Direção
Musical: Gustavo Benjão
Cenografia:
Pedro Paulo de Souza e Evee Ávila
Montagem
de Cenário: Gérson Porto e Iuri Wander
Figurinos:
Luiza Fardin
Costureira:
Karen Bernardo
Assistência
de Figurino: Julie Mateus
Pesquisa
Visual: Evee Ávila
Visagismo:
Josef Chasilew
Assessoria
de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Mídia
Social: Rafael Teixeira
Fotos:
Caíque Cunha e Rafael Teixeira
EQUIPE
QUINTAL PRODUÇÕES: Verônica Prates (Direção de Produção), Valencia Losada
(Coordenação Artística), Maitê Medeiros (Coordenação de Planejamento), Thiago
Miyamoto (Produção Executiva), e Iuri Wander (Coordenação Técnica)
Motoboy:
Amaro Salvador
Realização:
Teatro de Extremos / Quintal Produções
SERVIÇO:
Temporada:
De 11 de maio a 04 de junho de 2017.
Local:
SESC Copacabana (Arena).
Endereço:
Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias
e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h30min; domingo, às 19h.
Valor
do Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do
SESC).
Classificação
Indicativa: 16 anos.
Duração:
60 minutos.
Lotação:
200 lugares.
Gênero:
Drama.
CONTOS
NEGREIROS DO BRASIL
(NINGUÉM
AQUI É ESCRAVO DE NINGUÉM”.)
SINOPSE:
“CONTOS NEGREIROS DO BRASIL” leva o público a presentificar índices
estatísticos, contextualizados com cenas, que
reproduzem dores, paixões,
medos, alegrias e
angústias.
A carne negra é exposta em
suas dimensões e experiências reais, sociais e culturais. Um espetáculo documentário sobre a
condição real e atual da negra e do negro no Brasil; seja o jovem estudante, o
gay negro, a negra hipersexualizada pela sociedade, o menor infrator, a
prostituta e a idosa.
Os personagens veem as
cenas por meio de estatísticas, apresentadas pelo sociólogo e filósofo RODRIGO FRANÇA, com dados atuais, que
são expostos para a plateia, em imagens desenhadas e projetadas.
Os atores LI BORGES e MILTON FILHO interpretam todos os personagens, contidos nos 12
contos do livro “Contos Negreiros”,
de MARCELINO FREIRE.
Dos três espetáculo a que assisti,
este foi o que mais me tocou, pela profundidade dos textos, pela bela direção,
de FERNANDO PHILBERT, e pela
magistral interpretação do elenco, LI BORGES, MILTON FILHO E RODRIGO FRANÇA.
Com os contos utilizados nesta
montagem, o autor, além de situar o negro na sociedade brasileira, mostrando,
abertamente e sem poupar realidade, o quanto ele sofre, para se impor, como
cidadão, para ter vez e voz, nos chama a atenção para a ancestralidade da raça,
mostrando a sua importância e influência na formação da cultura brasileira, em
toda a sua miscigenação.
Nesse viés, ganha força, no
espetáculo, a religiosidade, explorada no foco às religiões de origem africana.
Vez por outra, os textos são intercalados por frases e/ou citações em yoruba, sem falar nos diversos cantos,
nessa mesma língua, que são entoados, ao longo de toda a encenação. É tudo muito emocionante, contagiante,
e confesso estar arrepiado, agora, ao escrever estas palavras, porque estou me
reportando à sessão em que assisti à peça.
As informações que nos chegam, pela
mídia, sobre toda a sorte de atrocidades que, até hoje, sofre a raça negra, no Brasil, do
racismo, de forma geral, à violência, física e moral, por que passam, tornam-se
mais iluminadas, pelas impressionantes e revoltantes estatísticas, que vão sendo, brilhantemente, apresentadas,
e fixadas, em painéis-lousa, por RODRIGO
FRANÇA, didaticamente, porém com um toque teatral, que as valoriza.
O trabalho dos atores é magnífico.
Tanto LI quanto MILTON, em apresentações solo ou quando dialogam, valorizam,
sobremaneira, o texto de MARCELINO. Ambos, ao assumir a sua
negritude, a sua identidade, demonstram orgulho por sua origem, e isso é muito
bonito e serve para mostrar, aos que, ainda, não se conscientizaram de que a cor da pele não
faz a menor diferença, dentro da raça humana, que “black is beautiful”, que negro é gente, como qualquer pessoa de
outra cor, e merece ser visto e tratado com respeito e dignidade.
PHILBERT,
a cada dia, vem se firmando como um dos nossos melhores diretores contemporâneos
e soube captar toda a essência das mensagens contidas nos textos de MARCELINO, conduzindo seu excelente
trio de atores a uma “performance” que contagia, mexe, profundamente, com os
corações, que são todos da mesma cor.
Uma das grandes ideias do diretor foi pedir a LI e MILTON
que redigissem um texto, adicional,
falando dos seus sentimentos e narrando uma experiência própria de vida, em que
ficasse marcada a sua condição de negro. E o resultado foi fantástico. As duas
últimas cenas da peça têm, como coautores,
os dois. Ambos os textos
são lindos e muito valorizados pela interpretação da dupla.
Saí daquela sala, para assistir a
outro espetáculo da “OCUPAÇÃO MARCELINO
FREIRE”, com a vontade de ficar ali mesmo e rever tudo aquilo e me emocionar
novamente.
Para a nossa alegria, principalmente a de quem não conseguiu, ainda, ver a peça
ou deseja, como eu, revê-la, o espetáculo voltará ao cartaz, no próximo dia 13 de junho e será encenado
até o dia 26 de julho, sempre às 3s e 4ªs feiras, às 20h, no Teatro Poeirinha.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Marcelino Freire
Direção:
Fernando Philbert
Assistente
de Direção: Mery Delmond
Elenco:
Li Borges, Milton Filho e Rodrigo França
Direção
Musical: Maíra Freitas
Cenotécnico:
André Salles e Equipe
Costureira
de Figurino: Zilena Costa
Iluminação:
Vilmar Olos
Pesquisa,
Texto Descritivo e Iconografia: RodrigoFrança
Pesquisa
de Cânticos e Idioma Yoruba: Ya Erelu Lola Ayonrinde, Babalorixá Anderson
Soares Conceição, Babá Tebe É Bruno Henrique Silveira Macedo e Professor Fábio
França.
Diretor
de Cena: James Simão
Fotos:
Caíque Cunha e Rafael Teixeira
Mídia social: Rafael Teixeira
Direção
de Produção: Sérgio Canizio
Contabilidade:
TA Consultoria e Assessoria Financeira Contábil
Realização:
Diverso Cultura e Desenvolvimento.
SERVIÇO:
Temporada:
De 12 de maio a 04 de junho de 2017.
Local:
SESC Copacabana (Sala Multiuso)
Endereço:
Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro
Dias
e Horários: De 6ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor
do Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do
SESC).
Classificação
Indicativa: 14 anos
Duração:
70 minutos
Lotação:
50 lugares
Gênero:
Drama
(FOTOS:
CAÍQUE CUNHA
E
RAFAEL TEIXEIRA.)
E
RAFAEL TEIXEIRA.)
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