MAKURU
– UM MUSICAL DE NINAR
(UM COLÍRIO,
PARA OS OLHOS;
UM BÁLSAMO,
PARA OS OUVIDOS.)
O
primeiro semestre de 2017 está se
despedindo e contam-se, nos dedos de uma das mãos – e vão sobrar dedos –, o que
foi montado, de qualidade, no nicho Teatro Infantojuvenil, no Rio de Janeiro.
É
com muito pesar que me vejo obrigado a dizer isso, entretanto é a mais pura
verdade. Raríssimos espetáculos, endereçados a um público tão especial e
importante, como as crianças e os adolescentes, puderam ser apreciados no
semestre que se finda.
Felizmente,
como uma luz no fim do túnel e uma esperança de que possamos ter um segundo
semestre melhor, nesse sentido, estreou, no último sábado, 24 de junho, para uma temporada no OI Futuro Flamengo (VER SERVIÇO) o musical “MAKURU – UM MUSICAL
DE NINAR”, mais uma grande obra da dupla JOSÉ MAURO BRANT e TIM
RESCALA.
José Mauro Brant e Tim Rescala.
Não
se trata, na verdade, de um espetáculo infantil ou infantojuvenil; é para todas as idades, como bem está
registrado no “release”, enviado por
MÁRCIA VILELLA (TARGET ASSESSORIA DE
COMUNICAÇÃO), com o acréscimo de que os autores “promovem um vibrante encontro da cultura popular e
do afeto”.
JOSÉ
MAURO e TIM TESCALA retomam uma excelente parceria, que já rendeu
dois lindíssimos espetáculos, do nível deste “MAKURU”: “Era Uma Vez...Grimm!”
e “O Pequeno Zacarias”.
No
atual trabalho, os autores focam nas cantigas de ninar, para contar uma
história um pouco hermética, para os miúdos, como as duas anteriores, mas de
uma beleza ímpar, especialmente do ponto de vista da plasticidade.
De
acordo com o “release”, “Cantigas de ninar fazem parte das nossas mais remotas
lembranças da infância. A música, assim como as histórias, transforma, cria
laços e vínculos para toda vida. As cantigas de ninar e o universo da cultura
popular são a grande fonte de inspiração para ‘MAKURU – um musical de ninar’”.
Quatro
atores/cantores dão conta do espetáculo. São eles o próprio JOSÉ MAURO BRANT e as fabulosas ESTER ELIAS, JANAÍNA AZEVEDO e LILIAN
VALESKA. “Juntos, evocam imagens poéticas, numa sutil dramaturgia, entremeada
pelas canções originais de Brant e Tim”.
Janaína Azevedo.
Lilian Valeska.
Completa o elenco um conjunto de quatro músicos: PAULA MARTINS (flauta), DÉBORA CHEYNE
(viola), CÁSSIA MENEZES (violoncelo)
e TIBOR FITTEL (acordeão).
SINOPSE:
O
ponto de partida da peça gira em torno de um pequeno núcleo familiar: o PAI (JOSÉ MAURO BRANT), a MÃE
(ESTER ELIAS), a AVÓ (JANAÍNA
AZEVEDO) e a babá BARTIRA (LILIAN
VALESKA).
Às
voltas com o desafio de adormecer uma criança, o menino MAKURU, a família não sabe que, em cima do telhado, vivem seres
estranhos: A MURUCUTUTU, a TUTU e o JOÃO PESTANA.
Juntos,
os seres mágicos tentam, a todo custo, serem lembrados pela família, para
escaparem do esquecimento.
Segundo TIM RESCALA, que assina a direção
musical, compôs a música original
e é responsável pelos arranjos, o espetáculo “foi
uma ideia do ZÉ MAURO, que eu, imediatamente, encampei. Ela é ótima, pois as
cantigas de ninar fazem parte do inconsciente coletivo e, no Brasil, temos uma
bela coleção de cantigas tradicionais, que sempre merecem ser lembradas. Como
sabemos, a música está presente em nosso dia a dia, de diversas formas. Mas, em
alguns casos, como na canção de ninar, nos ajuda a deixar um pouco o mundo
real, lógico, previsível, e nos leva para outros mundos, sobretudo o da
imaginação, por intermédio do afeto, do carinho e de tudo aquilo que está no
campo da sensibilidade”.
Já JOSÉ MAURO, que também assina o texto e a direção do
espetáculo, diz: “Eu sempre tive um desejo de trazer, para os palcos, os temas com os
quais me identifico e foram objeto de pesquisa. Neste espetáculo, coloquei esse
mundo onírico – a TUTU, a MURUCUTUTU, o JOÃO PESTANA – no telhado da casa,
esquecidos. E a família vai descobrindo que lembrar deles pode ser legal, uma
maneira de trazer e descobrir a nossa identidade. Por isso, cada personagem da
família acaba trazendo um universo que tem a ver com a sua cultura. Por
exemplo, a BARTIRA traz a herança africana; a AVÓ, a herança indígena, por meio
da MURUCUTUTU; e o JOÃO PESTANA, a herança portuguesa. Juntamos essas
três culturas formadoras, para chegarmos a essa família, por meio das canções
de ninar. É disso que fala, basicamente, o ‘MAKURU’, um espetáculo sobre a
importância da memória na construção da nossa identidade, renovando as
tradicionais cantigas de ninar, resgatando o valor do afeto nas relações
familiares”.
Reforço
que o espetáculo é voltado para um público mais crescido, ainda que também
possa agradar aos menores, pela riqueza plástica que ele reúne.
O
cenário, de NATÁLIA LANA, é um primor. Uma casa, praticamente “oca”, de
objetos, preenchida pelas belíssimas projeções,
criadas pelos irmãos RICARDO e RENATO VILLAROUCA, os dois craques do videografismo, que jamais erraram a mão
em algum trabalho do gênero.
Ainda sobre o cenário, ele representa uma casa, com
destaque para o telhado, elemento importantíssimo na história, e duas cadeiras
brancas, que se transformam num berço. Num dos lados do palco, fica uma
miniatura daquela mesma casa, do tipo “casinha de boneca”, mobiliada. Tudo
feito com o maior requinte e delicadeza.
Requinte,
delicadeza e muita criatividade também são características que podem ser
aplicadas ao excelente figurino,
criado por CAROL LOBATO, reforçado,
em alguns casos, pelos fantásticos adereços,
de BRUNO DANTE, também responsável
pelo boneco que encarna MAKURU.
A beleza plástica do
espetáculo é completada pela competente iluminação
de PAULO CÉSAR MEDEIROS.
Ainda
sobre o detalhe da plasticidade, merece destaque a interessante maquiagem, a cargo de MONA MAGALHÃES, tão rica em detalhes e
de difícil realização, creio eu.
O
texto, apesar de bem escrito,
merecia, a meu juízo, um tratamento mais ao nível do entendimento das crianças.
A classificação da peça é “livre”, porém
com recomendação a maiores de seis anos, entretanto – pode ser que eu esteja
errado – não creio que os dessa faixa etária conseguirão atingir as sutilezas e
a poesia que o texto contém. Acho,
contudo, válido que o dramaturgo
tenha escolhido esse caminho, que pode provocar uma interação entre pais e
filhos; estes questionando aqueles, acerca do que não conseguiram entender. De
qualquer forma, louvo o cuidado e o bom gosto na escolha do tema e na
preocupação de não escrever um texto tão evidente e raso.
A
parte musical é uma jóia das mais
raras, não tivesse sido composta por um dos mais competentes nomes da música,
popular e erudita, principalmente esta, TIM
RESCALA. As canções são
lindíssimas e comoventes, as melodias enriquecidas pelas letras, de JOSÉ MAURO, e
a partitura é bastante difícil de
ser executada, na visão deste leigo no assunto (é apenas um palpite), o que
valoriza o trabalho dos músicos e
dos atores/cantores.
Acho muito válido
apresentar, às crianças, desde cedo, uma música de qualidade, despertando o seu
gosto musical, desviando-as do que existe de má qualidade, em execução nas
mídias. Iniciar, musicalmente, uma criança pelas mãos de TIM RESCALA é um privilégio e uma grande sorte.
Sobre
o elenco e sua atuação, todos os
adjetivos seriam insuficientes para incensá-los. Todos, sem exceção, têm um
rendimento acima da categoria “excelente”,
com destaque para o trio feminino, sabidamente formado por três dos maiores
nomes do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Reunir, num só espetáculo,
três cantrizes do nível de ESTER, JANAÍNA e LILIAN é uma “covardia”. Em conjunto e nos seus solos, o público se
delicia com as vozes das três, valorizando o que já é belo: as canções. JOSÉ MAURO BRANT também se entrega, plenamente, aos personagens que
faz.
À
exceção de ESTER ELIAS, os outros se
revezam em dois papéis, com ótimo rendimento em todos.
Um
aplauso também deve ser reservado ao trabalho de SUELI GUERRA, na direção de
movimento e na coreografia.
Makuru.
FICHA TÉCNICA:
Texto e
Direção: José Mauro Brant
Direção
Musical, Música Original e Arranjos: Tim Rescala
Elenco: Ester Elias,
Janaína Azevedo, José Mauro Brant e Lilian Valeska (atriz convidada)
Músicos: Paula Martins
(flauta), Débora Cheyne (viola), Cássia Menezes (violoncelo) e Tibor Fittel
(acordeon)
Direção
de Movimento e Coreografia: Sueli Guerra
Cenário: Natália Lana
Figurino: Carol Lobato
Bonecos e
Adereços: Bruno Dante
Iluminação: Paulo César
Medeiros
Ilustrações: Rosinha e Bruno
Dante
Vídeo
Animação: Ricardo e Renato Villarouca
Maquiagem: Mona Magalhães
Preparação
Vocal:
Janaína Azevedo e Marcello Sader
Pianista
Ensaiador: Tibor Fittel
SERVIÇO:
Temporada: De 24 de junho a
27 de agosto.
Local: Oi Futuro
Flamengo.
Endereço: Rua Dois de Dezembro,
63 – Flamengo – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábados e domingos, sempre às 16h.
Valor do Ingresso: R$20,00
(inteira) e R$10,00 (meia entrada).
Horário
de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 14h às 20h.
Telefone: (21) 3131-3060.
Capacidade
do Teatro: 63 lugares.
Classificação
Etária: Livre. Recomendado para crianças a partir dos seis anos.
Duração: 60 minutos.
Que
bom termos em cartaz, na categoria Teatro
Infantojuvenil, uma obra da qualidade deste “MAKURU”!
Recomendo, com bastante empenho, o
espetáculo, na certeza de que aqueles que aceitarem a minha sugestão
haverão de fazer coro comigo, nos elogios, que não poupo à peça.
(FOTOS: DIVULGAÇÃO,
YVINA RAIRA
e ALEX MONTEIRO.)
Lindo demais! Estou apaixonada!
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