quinta-feira, 1 de junho de 2017

LÍVIA

(“EM QUE MOMENTO DE NOSSAS VIDAS FIZEMOS AS ESCOLHAS QUE NOS TROUXERAM ATÉ AQUI?)




            Dois jovens e talentosos atores se reúnem, para escrever um texto de TEATRO, que eles mesmos interpretariam. São nomes conhecidos no meio artístico? Ainda não, mas o serão, certamente. Convidam dois outros jovens atores, igualmente talentosos, ligados, a eles, por laços afetivos, para dirigir a peça, que recebe o delicado e sonoro título de “LÍVIA”, nome da protagonista feminina. Eles me convidam para assistir ao espetáculo e eu vou; antes, como espectador e amante de TEATRO; depois, como crítico; e, em outra escala, como amigo. E saio do Teatro Eva Herz completamente encantado com a história que me foi contada e da maneiro como o fizeram.


 





SINOPSE:

“LÍVIA” é um retrato poético da trajetória de uma mulher, tão simples e incrível quanto qualquer outra, que vê seus planos serem completamente alterados pelos acontecimentos que sua vida lhe impõe.

            O espetáculo acompanha a história do casal LÍVIA (SOL MENEZZES) e FELIPE (LICÍNIO JANUÁRIO), do seu início ao fim de suas vidas, propondo uma reflexão sobre como os nossos relacionamentos podem modificar e (re)definir a nossa vida.

            Nesta montagem, dois atores percorrem diversas fases da vida dos personagens e abordam, de forma sensível e dinâmica, temas diversos, como paixão, família, companheirismo, memória e a transição para a vida adulta e a velhice.

            Uma história de parceria e união, impulsionada pelo fluxo inexorável do tempo.










            O cenário, de LORENA LIMA, é extremamente simples, mas chama a atenção do público, logo que se adentra o auditório: dezenas de molduras, vazadas, penduradas e espalhadas pelo palco. Elas têm uma função, na primeira cena, como elementos do ambiente, um museu, onde se dá o primeiro encontro dos dois protagonistas; depois, permanecem no lugar, como agentes de uma bela plasticidade cênica, com mais duas cadeiras. Apenas isso, ligeiramente iluminadas por uma bela luz, de GABRIEL PRIETO, que se manterá de qualidade, até o final da peça. Não há grandes invenções e novidades; a luz, sempre não muito intensa, apresenta muitas variações, entretanto nada gratuito; tudo a serviço das cenas.
            O destaque, dentre os elementos técnico-cênicos vai para o criativo figurino, de CRISTINA CORDEIRO, a qual concebeu peças que se transformam em outras e que vão ajudando a compor os personagens, principalmente a de SOL, durante a passagem do tempo. Desatam-se nós, dão-se outros, estica-se daqui, puxa-se de lá, vira-se ao contrário, e um novo visual surge diante dos nossos olhos. Essa prática não é nova, inédita, no palco, mas, sempre que posta em prática, com qualidade, é boa e valoriza o personagem e a cena.
            O texto, para quem me parece debutante no ramo, é de uma excelente qualidade. Agradaram-me bastante os cortes das cenas, assim como suas ligações e passagens de tempo. Os autores utilizam uma linguagem simples, do dia a dia, entre os casais, que atinge, em cheio, qualquer espectador, do mais intelectualizado ao de menor formação acadêmica. É um texto “democrático”, alcançando todas as camadas sociais, as quais, afinal de contas, independentemente de suas diferenças socioeconômicas e culturais, passam, todas, pelos mesmos problemas desfilados no palco. É preciso, portanto, falar a todos, atingir todos, convocar todos a uma reflexão.


                            


            O texto fala de escolhas e suas consequências. Somos todos postos à prova, durante toda a nossa existência, sempre diante da bifurcação de uma estrada, que nos obriga a pegar, ora o caminho da direita, ora o da esquerda, sem saber o que está por trás da próxima curva. Mas é preciso arriscar. A vida é um eterno risco, desde o primeiro choro do bebê até o suspiro final. As únicas possibilidades que não podem ser consideradas são o parar ou o andar para trás.
            O casal se conhece, ainda na adolescência, passa a se relacionar, contra a vontade da mãe do rapaz. A moça engravida, eles vão morar, de favor, na casa da mãe dele. Têm o bebê, depois o segundo filho; dois meninos. Passam por vários percalços, que vão da falta de emprego ao alcoolismo do homem. Separam-se, mas reatam, num momento de fragilidade emocional dos dois, quando duas fraquezas podem gerar uma resistência.
Os filhos crescem e vão construir seus caminhos, dar sequência às suas vidas, no que poderia ser considerado, por alguns, um abandono aos pais, à família. Ou seria uma atitude normal? Fico com esta, já que existe uma ordem natural das coisas, que nos obriga, como filhos, a também fazer a nossa escolha, que, regra geral, é construir a própria família.
O alzheimer bate à porta de LÍVIA. Ela perde o controle sobre seus atos, distancia-se do mundo real e isso provoca muita dor em FELIPE, que se vê impotente, diante das armadilhas que a vida nos reserva. LÍVIA escolheu ficar com FELIPE; FELIPE escolheu cuidar de LÍVIA, até a sua morte. Isso demanda perdas e ganhos.



                 



            Sem a ajuda de um profissional de direção de movimento, na ficha técnica, os diretores da peça tomaram a si tal tarefa e foram muito felizes, no que diz respeito à movimentação harmoniosa do par de atores no palco. Os diálogos são de dois tipos: feito entre palavras/palavras e gestos/gestos. Em algumas cenas, há uma espécie de um delicado balé entre o casal, criando uma aura de harmonia e felicidade. São lindos esses momentos. Bela direção!


                          


            Senti-me bastante gratificado com o correto trabalho de SOL e LICÍNIO, ambos bem identificados com seus personagens. Para quem, praticamente, se inicia no ofício de representar, ambos demonstram segurança em cena, além de serem duas belas presenças físicas, de forte personalidade e vozes marcantes, bem naturais.
            O melhor do trabalho de ambos está nas posturas corporais e mudanças vocais, que vão assumindo, de acordo com o passar do tempo, visto que, como já foi dito, eles percorrem, em pouco mais de uma hora, uma vida, que vai da adolescência à velhice, utilizando, basicamente, o mesmo figurino e sem qualquer maquiagem.
Grande é o mérito da dupla, por conseguir passar, ao público, essa evolução temporal, sem recursos outros, a não ser por meio natural da utilização de suas ferramentas de trabalho, seus corpos.
            O espetáculo, que, infelizmente, está em final de temporada, já tem estreia prevista para São Paulo, onde também deverá ser bem acolhido pelo público, como tem acontecido no Rio de Janeiro. Gostaria, no entanto, de que a peça pudesse ganhar uma nova pauta, num teatro carioca, a fim de que mais pessoas que gostam de assistir a bons espetáculos teatrais pudesse ter a oportunidade que eu tive, ontem, de aplaudir o talento de SOL MENEZZES e LICÍNIO JANUÁRIO.       



                       






FICHA TÉCNICA:

Texto: Licínio Januário e Sol Menezzes
Direção: Drayson Menezzes e Orlando Caldeira
Supervisão: André Monteiro

Elenco: Licínio Januário e Sol Menezzes

Cenário: Lorena Lima
Figurino: Cristina Cordeiro
Luz: Gabriel Prieto
Direção Musical: Douglas Adelino
Trilha Sonora: Douglas Adelino, Pedro Prata e Zé Ricardo
Produção Executiva: Heder Braga
Assistente de Produção: Aiana Queiroz
Diretora de Palco: Ty Prieto
Operação de Som: Matheus Corcione
Operação de Luz: Ramon Alcântra
Fotografia: Amanda França
Programação Visual: Lucas Schinkoeth
Direção de Produção: Licínio Januário e Sol Menezzes




                           




SERVIÇO:

Temporada: De 10 de maio a 7 de Junho de 2017.
Local: Teatro Eva Herz (dentro da Livraria Cultura – Centro).
Endereço: Rua Senador Dantas, 45 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: às 3ªs e 4ªs feras, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Indicação Etária: 12 anos.




 




(FOTOS: AMANDA FRANÇA.)





























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