JANIS
(UM VULCÃO, QUE PARECIA
ADORMECIDO, PARA SEMPRE, DESPERTA NO FLAMENGO.)
Que
me perdoem os fãs da cantora, mas nunca me deixei encantar por JANIS JOPLIN!
Eufemismos
servem para não ser preciso dizer, diretamente, algo indesejável, impublicável,
grosseiro ou que possa não agradar a outrem.
Na verdade, sem eufemismos, nunca
gostei de JANIS JOPLIN, nunca me interessei por ela.
E estou eu,
cá, escrevendo uma crítica sobre um espetáculo
teatral, cujo título é “JANIS” e,
obviamente, gira em torno daquela que abalou o universo musical, em sua época
e, tendo morrido, precocemente, aos 27
anos, de overdose, deixou uma
legião de fãs e seguidores, os quais, até hoje, lhe têm carinho e lhe prestam
fiel devoção, dentre os quais CAROL FAZU,
idealizadora do projeto e intérprete única deste monólogo musical, em cartaz no Teatro OI Futuro Flamengo (Ver SERVIÇO.)
Mas
por que, então, estou escrevendo? Escrevo, sim, e com muito prazer! Não sou
crítico musical; não vou, portanto, falar da cantora. Minha “praia’ é o TEATRO e é sobre uma peça teatral que
estou jogando palavras no ar, para quem se dispuser a colhê-las, para dizer o
quanto o espetáculo me agradou e como me surpreendi com o que me foi permitido
ver em cena.
Ainda
que, repito, não me atraísse a arte de JANIS,
conhecia, muito vagamente, é verdade, sua obra e sabia dos detalhes mais divulgados
de sua conturbada vida, culminando com sua trágica morte. Confesso que nunca
havia pensado que a vida dessa cantora de “blues”
pudesse render um bom espetáculo teatral, talvez por preguiça de pensar; mais
por desinteresse mesmo.
De
repente, comecei a ver, nas mídias sociais, chamadas para um espetáculo sobre JANIS JOPLIN. Interesse pouco, além da
curiosidade e da obrigação de ver, em função do ofício de crítico
e jurado de um Prêmio de TEATRO. Espetáculo dirigido
por SÉRGIO MÓDENA: o interesse
começou a surgir. Texto escrito por DIOGO LIBERANO: aumentou o interesse.
Tudo interpretado por uma desconhecida, para mim: CAROL FAZU, cujo talento lamento, profundamente, não ter conhecido
há mais tempo.
Do
“release” (adaptado), enviado pela assessoria de imprensa (MARY DEBS): “A
peça vai mostrar a trajetória de JANIS JOPLIN, a cantora
com voz forte e marcante,
lembrada pela atitude rebelde da geração ‘beat’, os temas de dor e perda de
suas músicas, que transformaram a menina que cantava no coro local de
sua cidade, no Texas, na principal voz branca de ‘rockblues’ de
todos os tempos. (...) “JANIS” traz uma dramarurgia que mistura aspectos
biográficos e ficcionais e texto entremeado de canções, em que a
atriz vai à essência e às emoções do personagem, sem reproduzir nem imitar a
cantora.
Em cena, uma trama inédita e original, inspirada na vida e obra de JANIS
JOPLIN, personagem intensa, contestadora, que não abriu concessões e foi um
retrato de sua geração e da contracultura dos anos 60. Está lá o universo da cantora, sua vida, as emoções que experimentou pela vida e suas refexões sobre
solidão, ambição, sucesso, amor, sexo, culpa, rejeição e família. Sentimentos
atemporais, comuns a todos nós hoje”.
Neste monólogo musical, CAROL FAZU apresenta um
preito à sua “ídola”, contando e interpretando fatos ligados à vida de JANIS, em meio a 14 de seus grandes sucessos, dentre os quais fazem parte do “set list” “Cry
Baby”, “Little Girl Blue”, “Kozmic
Blues”, Maybe”, “Me
& Bobby McGee”, “Piece of My Heart”, “Mover
Over”, “Mercedez Benz” (uma espécie de carro-chefe), “Tell Mama” e “Try
(Just a Little Bit Harder)”.
Não faltou, também, o clássico “Summertime”,
que eu adoro, de Ira Gershwin, George Gershwin e DuBose Heyward, única canção, interpretada por JANIS, que me emociona, mas que, infelizmente, na peça, fica um pouco descaracterizada e não
é, salvo engano, interpretada na íntegra.
Ainda,
extraído do “release” (com pequenas supressões): “JANIS
JOPLIN cresceu no Texas, ouvindo músicos de ‘blues’ e cantando no coro local. Fez, de sua voz, a sua caracterísitca mais marcante, tornando-se um dos
ícones do ‘rock psicodélico’ e dos anos 60, todavia os problemas com drogas
encurtaram sua carreira. Morta em 1970, aos 27 anos, de uma overdose de heroína,
possivelmente combinada com os efeitos do álcool, JANIS cultivou uma atitude
rebelde e se vestia como os poetas da geração ‘beat’.
O sucesso veio depois de
suas apresentações no ‘Festival Pop de Monterey’, em 1967, quando se transformou numa
estrela. Mais. Provou que branco podia cantar ‘blues’. Também exibiu outro tipo
de beleza e sensualidde, que nada tinham a ver com as mocinhas bem-comportadas.
Enquanto cantava, virava a cabeça, como se estivesse chicoteando com os
próprios cabelos. O público se apaixonou por ela e JANIS, mais do que uma
cantora, se transformava no símbolo feminino do ‘rock’.
Seu quarto, e último, álbum, ‘Pearl’, foi lançado seis meses após sua morte e alcançou o
primeiro lugar nas paradas com ‘Me and Bobby McGee’. E o sucesso
continuou. JANIS JOPLIN passou à condição de mito.
Solitária, no meio da
multidão, frustrada no auge do sucesso, JANIS, a menina do Texas, não conseguiu
sobreviver às pressões da vida. Mas sua fulminante trajetória bastou, para
trazer, para o ‘rock’, definitivamente, a emoção do ‘blues’, sem meias
palavras, a sensualidade explícita, a tristeza cortante. E a sensação de que
viver é correr todos os riscos”.
Abusei bastante da
apropriação de texto alheio, na
reprodução de grande parte do “release”,
porque julgo importante que as pessoas das gerações pós-JANIS fiquem sabendo de sua treajetória e, até, se interessem
por assistir à peça.
SINOPSE:
“JANIS” é um monólogo
musical, que evoca a
emblemática figura da cantora norte-americana JANIS JOPLIN, falecida em
1970, aos 27 anos.
Em cena, a atriz CAROL FAZU, dirigida por SÉRGIO MÓDENA, numa dramaturgia
original de DIOGO LIBERANO, se
apresenta numa trama, que combina as canções mais icônicas
de JOPLIN, fatos de sua biografia e
o encontro com o público presente.
Nesse encontro, temas,
como a fama e o sucesso, família, liberdade, amor e solidão, abrem uma reflexão
sobre o ser humano, o seu estar no mundo e a importância de ser quem se é.
Vamos, agora, ao que interessa e a
que me proponho: falar do espetáculo
teatral.
Comecemos pelo texto. Poderíamos considerar uma tarefa bem fácil pegar biografias
da cantora e fazer, simplesmente, uma colagem, contudo não é bem isso o que
contém o texto da peça. Aliás, não é apenas isso. É evidente que DIEGO LIBERANO não poderia partir totalmente para
a ficção e inventar uma JANIS que não
existiu. Ele teve de se alimentar dos fatos reais, que marcaram a vida da
cantora, entretanto acrescentou, à receita do “mexido”, o seu tempero especial
de dramaturgo e fez um ótimo
trabalho de costura das várias partes selecionadas, passando-nos a ideia de uma
sequência sem cortes, como se fosse uma vida contada em 80 minutos.
Não poderiam faltar pitadas de sua marca pessoal de grande dramaturgo, não tivesse ele, em sua
bagagem profissional, quase 30 peças
escritas e encenadas, muitas delas tendo-lhe rendido prêmios e indicações
a. O resultado foi muito bom.
Tenho a impressão de que SÉRGIO MÓDENA "suou a camisa", para
conter a energia descomunal de CAROL
FAZU em cena. Creio, também, que seu “feeling”
de diretor, tantas vezes premiado,
por grandes trabalhos, foi capaz de fazer-lhe ver que CAROL parece não precisar muito de quem a dirija, quando encarna
sua cantora preferida. De qualquer maneira, não posso omitir que é ótimo o
trabalho de direção, que conduziu a
trajetória de JANIS sem vitimizá-la
e fazendo saltar aos olhos o seu empoderamento, pelo menos aparente, embora, no
fundo, fora das luzes, se mostrasse tão fragilizada. Gostei muito das marcações,
que não poderiam ser deixadas de lado, uma vez que se trata de TEATRO e é preciso gerar efeitos posturais
e de ocupação territorial, no palco, que funcionem, do ponto de vista plástico.
E o que falar de CAROL FAZU? Ou gastar muitos parágrafos,
ou resumir tudo em duas, três ou quatro palavras: FANTÁSTICA, FENÔMENO, VULCÃO, ÚNICA!!!
Nem uma coisa, nem outra. Ficarei no
meio termo. CAROL não é só a voz de JANIS, sem tentar imitá-la. Que isso
fique bem claro! CAROL é o corpo de JANIS, é a alma de JANIS. É JANIS em sua
plenitude. Se fechamos os olhos, a imagem da cantora se forma na nossa mente;
se os mantemos abertos, assusta-nos aquela presença física, a poucos metros de
nós, dominando o palco, cabelos ao vento, gestos largos, interpretando cada
verso das canções; não apenas cantar por cantar. Cantar, sentindo a emoção da
letra e fazendo com que seu conteúdo chegue a cada espectador, passando por uma
ponte que ela constrói, entre si e o público. Não há como ficar disperso um
momento sequer, durante todo o espetáculo. Ela nos fisga, desde sua primeira
aparição, e nos mantém cativos, até deixar o placo, no último “blackout”. Sua
energia, física e emocional, não conhece limites.
CAROL tem formação musical, tendo estudado
música na Escola de Música de Brasília.
E eu me pergunto – e não me perdoo – como, até hoje, eu não conhecia o talento
dessa mulher? Como costumo postar, numa rede social, quando me encanto pelo
trabalho de algum(a) artista, não posso deixar de registrar que estou “num relacionamento sério (seriíssimo) com CAROL
FAZU”, que merece todo o meu reseito e aplauso.
JANIS, ou melhor, CAROL não canta “a capella”. É muito
bem acompanhada por uma banda,
formada por excelentes músicos; ANTÔNIO
VAN AHN (teclado), ARTHUR MARTAU (guitarra),
EDUARDO RORATO (bateria), GILSON FREITAS (saxofone) e MARCELO MÜLLER (contrabaixo).
Merecem destaque, ainda, no espetáculo, a ótima direção musical, de RICCO
VIANA ("Mercedes Benz", cantada, apenas com o acompanhamento do estalar de dedos, da banda e da plateia, é um achado); a cenografia e os figurinos, de MARCELO MARQUES; a frenética e bem apropriada luz, de FERNANDA MANTOVANI
e TIAGO MANTOVANI; o projeto de som, de BRANCO FERREIRA; a preparação
vocal, de PATRÍCIA MAIA; e o visagismo, fundamental, de MÁRCIO MELLO.
“JANIS” é um projeto que há
de marcar o ano teatral de 2017, no Rio de Janeiro, infelizmente, tão
carente de bons musicais, neste primeiro semestre, com raras e honrosas exceções.
FICHA
TÉCNICA:
Idealização e interpretação: Carol Fazu
Dramaturgia: Diogo Liberano
Direção Geral: Sérgio Módena
Assistência de Direção: Celso André
Direção Musical: Ricco Viana
Assistência de Direção Musical: Marcelo Müller
Banda: Marcelo Müller (baixo), Arthur Martau (guitarra), Eduardo Rorato
(bateria), Gilson Freitas (saxofone) e Antônio Van Ahn (teclado)
Cenografia e Figurinos: Marcelo Marques
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago Mantovani
Projeto de Som: Branco Ferreira
Preparação Vocal: Patrícia Maia
Visagismo: Márcio Mello
Fotos: Manuela Abdala e Lúcio Luna
Programação Visual: Cacau
Gondomar e Bruno Sanches
Assessoria de Imprensa: Debs Comunicação
Mídias Sociais: André Mizarela
Registro Videográfico: Chamon Audiovisual
Direção de Produção: Alice Cavalcante e Ana Velloso
Produção Executiva: Alice Cavalcante, Ana Velloso e Vera Novello
Produção e Realização: Sábios Projetos e Lúdico Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 26 de maio
a 16 de julho de 2017.
Local: Teatro Oi Futuro Flamengo.
Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3131-3060.
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, às 20h.
Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Duração: 80 minutos.
Capacidade: 63 lugares.
Classificação: 14 anos.
Gênero: Monólogo Musical.
(FOTOS:
MANUELA ABDALA
E
LÚCIO
LUNA.)
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