ELZA
& FRED
(“O AMOR NÃO TEM IDADE”. MAS
HAVERÁ IDADE PARA SE AMAR?)
ELZA & FRED não foi escrito para os
palcos. O que se pode ver em cartaz, no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea – Rio
de Janeiro), é uma adaptação teatral do roteiro homônimo de um filme hispano-argentino,
escrito, a seis mãos, por Lily Ann Martin, Marcela Guerty e Marcos Carnevale, com direção do último, e com versão, para
o TEATRO, de MARCELA GUERTY e MARCOS
CARNEVALE, com tradução de RODRIGO PAZ.
São muitos
nomes para se chegar a um roteiro um pouco interessante, lírico,
divertido, entretanto completamente nada original e previsível, da primeira à
última cena. Previsibilidade em excesso
não faz muito a minha cabeça.
Isso não
desabona, no geral, a montagem, dirigida por ELIAS ANDREATO, a qual conta com SUELY FRANCO e UMBERTO
MAGNANI, como protagonistas.
No
programa da peça, o diretor afirma não ter visto o filme, até receber o convite
para dirigir o espetáculo, e continuou sem vê-lo. Não sei se ainda continua. Eu também não vi o filme, e não pretendo
vê-lo.
Suley Franco e Umberto Magnani.
Ocorrem, com frequência,
dois fenômenos curiosos, com relação a uma obra de arte que dá origem a outra,
em mídia diferente. Quando, por exemplo,
uma pessoa gosta muito de um livro, que, posteriormente, ganha sua versão para
as telas, procura assistir ao filme prontamente, achando que vai gostar tanto,
ou mais, do que o livro. É comum, porém,
que a opinião do leitor seja mais favorável à obra do que a do espectador.
Em outras
palavras, quando se lê um romance, por exemplo, vai-se fazendo o próprio “filme”
na cabeça, imaginando-se tudo o que o escritor transformou em palavras e transpôs
para o papel. Ocorre que, na tela, não
está o “filme” que se esperava ver, mas, sim, a concretização que o diretor da
película deu ao “filme” que ele também fez, quando leu o livro. São dois “filmes” diferentes.
Por
outro lado, quando se dá o oposto, alguém comprar o livro no qual foi baseado o
filme que acabou de ver e do qual tanto gostou, via de regra, o interesse pela
leitura vai perdendo força, à medida que as páginas vão sendo digeridas, pelo
simples fato de que, em vez de imaginar, fazer o próprio “filme”, exercitando
sua imaginação, o leitor não consegue deixar de ver o anterior, o “de verdade”,
o que já vira na tela. Perde bastante a
graça. Muitos nem conseguem chegar ao final
da leitura.
Como
não havia lido o livro antes, fui ao teatro totalmente virgem de ELZA & FRED. Ou quase: sabia apenas, como sugere o subtítulo
(O AMOR NÃO TEM IDADE), que deveria
se tratar de um romance surgido entre pessoas de idades avançadas, também a
julgar pelo par de atores protagonistas.
Na
verdade, fui mais para ver, em cena, mais uma vez – e espero ver tantas outras
mais - uma dama do TEATRO BRASILEIRO, SUELY FRANCO, e o trabalho de um
diretor que admiro bastante – também gosto dele como ator -, ELIAS ANDREATO. E não me arrependi, embora não tivesse saído
do teatro em “estado de graça” (adoro a expressão). Para mim, quanto a esses dois nomes, o jogo
foi 1x1. Pelo time de SUELY, saí gratificado; pelo da direção,
confesso que fiquei frustrado. Já vi
muitas excelentes direções de ANDREATO.
A peça é uma
comédia romântico-dramática, que pode ser assim resumida:
Sete meses após perder sua companheira,
com quem fora casado por 48 anos, ALFREDO/FRED
(UMBERTO MAGNANI), por decisão de sua filha CUCA (MAYARA MAGRI), muda-se para um prédio, onde também mora a
extrovertida ELZA (SUELY FRANCO). Passam a ser vizinhos de porta, ambos próximos
a octogenários.
O encontro entre os dois se
dá por acaso, após ELZA ter dado uma
leve batida no automóvel, estacionado, de CUCA,
fato testemunhado pelo filho desta, um menino, e, consequentemente, neto de FRED, DAVI (ANTÔNIO HADDAD).
CUCA
fica indignada com o fato de ELZA
não apenas ter fugido da “cena do crime”, como também ter ameaçado seu filho, uma
criança, e decide, ao lado de PACO
(EDUARDO ESTRELA), seu marido, ir ao apartamento da infratora, para lhe cobrar
a dívida.
ELZA
é mãe de dois filhos completamente diferentes em termos de comportamento: GABRIEL (FERNANDO PETELINKAR), um homem
centrado, bem-sucedido na vida e uma espécie de provedor da mãe, e ALEXANDRE (LUCIANO SCHWAB), o mais
novo, meio desajustado e que precisa de dinheiro para montar uma exposição de
seus quadros.
ELZA
é surpreendida com as acusações da família de FRED e, diante daquela situação constrangedora, seu filho mais
velho, que estava em visita à mãe, decide pagar a dívida. No entanto, após receber o cheque das mãos de GABRIEL, para ressarcir os prejuízos
sofridos por CUCA, ELZA se penaliza com o filho mais
jovem e, quando vai levar o cheque a FRED,
mente para o vizinho, dizendo-lhe que precisa sustentar os filhos, um deles viúvo
e desempregado, e netos.
Condoído, FRED resolve não aceitar o cheque e, do próprio bolso, paga à filha,
sem lhe dizer nada do que ocorrera entre a conversa dele com ELZA.
A partir daí, os dois velhos desenvolvem uma relação de carinho, amizade
e muitas investidas da desinibida ELZA
sobre o tímido e hipocondríaco FRED,
no sentido de conquistá-lo.
Os temperamentos dos dois são
completamente opostos. Enquanto ele é
muito “para dentro”, ou "para baixo", ela esbanja alegria e vontade de viver, fazendo questão de
aproveitar intensamente o momento presente, alimentando um sonho, o de conhecer
a Itália, para ir à Fontana de Trevi, o que sempre lhe fora “negado” pelo
marido.
FRED
não sabe, porém, que toda aquela euforia é um pouco de “fachada”, já que ELZA esconde uma doença grave, sem se
deixar abalar por isso. Em vez de
confessar que vai a consultas médicas, por exemplo, ela mente, dizendo que vai ao
encontro das amigas.
O final parece
já ser do conhecimento de todos. É muito
previsível para o meu gosto.
Os
protagonistas.
Vamos
a alguns breves comentários sobre a ficha
técnica:
Quanto
ao texto, nada mais a acrescentar.
Não
posso avaliar a adaptação para o
palco, pois não conheço o roteiro original, para o cinema.
Menos
ainda tenho a falar sobre a tradução.
No
que diz respeito ao elenco, além do
domínio total das cenas da magnífica SUELY
FRANCO e do bom trabalho do veterano ator UMBERTO MAGNANI, MAYARA
MAGRI, FERNANDO PETELINKAR e EDUARDO ESTRELA coadjuvam melhor que os
demais. Um aplauso especial vai para a
graciosidade do ator mirim ANTÔNIO
HADDAD.
Não
esperava um cenário tão franciscano,
de FÁBIO NAMATAME, extremamente
pobre e sem-graça. Nos figurinos, ele se saiu melhor.
A
iluminação, de WAGNER FREIRE, não oferece motivos para grandes comentários. Acho que não tem grande peso no espetáculo,
nem positiva, nem negativamente.
JONATHAN HAROLD, ao teclado, ao vivo, é
o responsável por uma trilha sonora
original que agrada, sublinhando bem, e no volume adequado, as cenas da
peça, com destaque para alguns momentos.
ELZA &
FRED não é nenhuma oitava maravilha, mas é um espetáculo bonito, lírico,
divertido, reúne, no geral, um bom elenco e, só para ver uma excelente
interpretação da diva SUELY FRANCO,
já vale a ida ao Teatro das Artes,
no Shopping da Gávea.
Trata-se de um espetáculo para a família e é indiscutível
que o otimismo e a vontade de viver de ELZA,
além da tentativa de contagiar seu companheiro, deixa, concede ao espetáculo, um
saldo bem positivo.
Não vá esperando uma geladeira daquela marca famosa,
mas, certamente, encontrará uma outra, que vai refrescar, de forma satisfatória,
o seu verão interior.
É o que temos para hoje.
(FOTOS RETIRADAS DA PÁGINA DO
FACEBOOK, RELACIONADA AO ESPETÁCULO. NÃO
CONSEGUIMOS, INFELIZMENTE, FOTOS DE CENA.)
Concordo plenamente com a sua CRÍTICA. Fui ver esse espetáculo aconvite do meu amigo Humbero Magnani. Não gostei especialmente da direção, nem do texto. Gostei do seu cuidado crítico com toda a ficha técnica. Parabéns. Acho ótima idéia visualizar suas criticas antigas.
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