sexta-feira, 15 de agosto de 2014


ELZA & FRED
 
 
(“O AMOR NÃO TEM IDADE”.  MAS HAVERÁ IDADE PARA SE AMAR?)
 
 
 
 
 
            ELZA & FRED não foi escrito para os palcos.  O que se pode ver em cartaz, no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea – Rio de Janeiro), é uma adaptação teatral do roteiro homônimo de um filme hispano-argentino, escrito, a seis mãos, por Lily Ann Martin, Marcela Guerty e Marcos Carnevale, com direção do último, e com versão, para o TEATRO, de MARCELA GUERTY e MARCOS CARNEVALE, com tradução de RODRIGO PAZ. 
São muitos nomes para se chegar a um roteiro um pouco interessante, lírico, divertido, entretanto completamente nada original e previsível, da primeira à última cena.  Previsibilidade em excesso não faz muito a minha cabeça. 
Isso não desabona, no geral, a montagem, dirigida por ELIAS ANDREATO, a qual conta com SUELY FRANCO e UMBERTO MAGNANI, como protagonistas.
            No programa da peça, o diretor afirma não ter visto o filme, até receber o convite para dirigir o espetáculo, e continuou sem vê-lo.  Não sei se ainda continua.  Eu também não vi o filme, e não pretendo vê-lo.
 
 
 
RIO Elza e Fred-5
Suley Franco e Umberto Magnani.
 
 
            Ocorrem, com frequência, dois fenômenos curiosos, com relação a uma obra de arte que dá origem a outra, em mídia diferente.  Quando, por exemplo, uma pessoa gosta muito de um livro, que, posteriormente, ganha sua versão para as telas, procura assistir ao filme prontamente, achando que vai gostar tanto, ou mais, do que o livro.  É comum, porém, que a opinião do leitor seja mais favorável à obra do que a do espectador. 
Em outras palavras, quando se lê um romance, por exemplo, vai-se fazendo o próprio “filme” na cabeça, imaginando-se tudo o que o escritor transformou em palavras e transpôs para o papel.  Ocorre que, na tela, não está o “filme” que se esperava ver, mas, sim, a concretização que o diretor da película deu ao “filme” que ele também fez, quando leu o livro.  São dois “filmes” diferentes.
            Por outro lado, quando se dá o oposto, alguém comprar o livro no qual foi baseado o filme que acabou de ver e do qual tanto gostou, via de regra, o interesse pela leitura vai perdendo força, à medida que as páginas vão sendo digeridas, pelo simples fato de que, em vez de imaginar, fazer o próprio “filme”, exercitando sua imaginação, o leitor não consegue deixar de ver o anterior, o “de verdade”, o que já vira na tela.  Perde bastante a graça.  Muitos nem conseguem chegar ao final da leitura.
            Como não havia lido o livro antes, fui ao teatro totalmente virgem de ELZA & FRED.  Ou quase: sabia apenas, como sugere o subtítulo (O AMOR NÃO TEM IDADE), que deveria se tratar de um romance surgido entre pessoas de idades avançadas, também a julgar pelo par de atores protagonistas.
            Na verdade, fui mais para ver, em cena, mais uma vez – e espero ver tantas outras mais - uma dama do TEATRO BRASILEIRO, SUELY FRANCO, e o trabalho de um diretor que admiro bastante – também gosto dele como ator -, ELIAS ANDREATO.  E não me arrependi, embora não tivesse saído do teatro em “estado de graça” (adoro a expressão).  Para mim, quanto a esses dois nomes, o jogo foi 1x1.  Pelo time de SUELY, saí gratificado; pelo da direção, confesso que fiquei frustrado.  Já vi muitas excelentes direções de ANDREATO.
 
 
 
 
Elza e Fred
 
 
A peça é uma comédia romântico-dramática, que pode ser assim resumida:
 
           
 
Sete meses após perder sua companheira, com quem fora casado por 48 anos, ALFREDO/FRED (UMBERTO MAGNANI), por decisão de sua filha CUCA (MAYARA MAGRI), muda-se para um prédio, onde também mora a extrovertida ELZA (SUELY FRANCO).  Passam a ser vizinhos de porta, ambos próximos a octogenários.  
O encontro entre os dois se dá por acaso, após ELZA ter dado uma leve batida no automóvel, estacionado, de CUCA, fato testemunhado pelo filho desta, um menino, e, consequentemente, neto de FRED, DAVI (ANTÔNIO HADDAD). 
CUCA fica indignada com o fato de ELZA não apenas ter fugido da “cena do crime”, como também ter ameaçado seu filho, uma criança, e decide, ao lado de PACO (EDUARDO ESTRELA), seu marido, ir ao apartamento da infratora, para lhe cobrar a dívida.
ELZA é mãe de dois filhos completamente diferentes em termos de comportamento: GABRIEL (FERNANDO PETELINKAR), um homem centrado, bem-sucedido na vida e uma espécie de provedor da mãe, e ALEXANDRE (LUCIANO SCHWAB), o mais novo, meio desajustado e que precisa de dinheiro para montar uma exposição de seus quadros.
ELZA é surpreendida com as acusações da família de FRED e, diante daquela situação constrangedora, seu filho mais velho, que estava em visita à mãe, decide pagar a dívida.  No entanto, após receber o cheque das mãos de GABRIEL, para ressarcir os prejuízos sofridos por CUCA, ELZA se penaliza com o filho mais jovem e, quando vai levar o cheque a FRED, mente para o vizinho, dizendo-lhe que precisa sustentar os filhos, um deles viúvo e desempregado, e netos.
Condoído, FRED resolve não aceitar o cheque e, do próprio bolso, paga à filha, sem lhe dizer nada do que ocorrera entre a conversa dele com ELZA.  A partir daí, os dois velhos desenvolvem uma relação de carinho, amizade e muitas investidas da desinibida ELZA sobre o tímido e hipocondríaco FRED, no sentido de conquistá-lo.
Os temperamentos dos dois são completamente opostos.  Enquanto ele é muito “para dentro”, ou "para baixo", ela esbanja alegria e vontade de viver, fazendo questão de aproveitar intensamente o momento presente, alimentando um sonho, o de conhecer a Itália, para ir à Fontana de Trevi, o que sempre lhe fora “negado” pelo marido.  
FRED não sabe, porém, que toda aquela euforia é um pouco de “fachada”, já que ELZA esconde uma doença grave, sem se deixar abalar por isso.  Em vez de confessar que vai a consultas médicas, por exemplo, ela mente, dizendo que vai ao encontro das amigas.
 
 
O final parece já ser do conhecimento de todos.  É muito previsível para o meu gosto.  
 
 
RIO Elza e Fred-3
Os protagonistas.
 
 
            Vamos a alguns breves comentários sobre a ficha técnica:

            Quanto ao texto, nada mais a acrescentar.

            Não posso avaliar a adaptação para o palco, pois não conheço o roteiro original, para o cinema.

            Menos ainda tenho a falar sobre a tradução.

            No que diz respeito ao elenco, além do domínio total das cenas da magnífica SUELY FRANCO e do bom trabalho do veterano ator UMBERTO MAGNANI, MAYARA MAGRI, FERNANDO PETELINKAR e EDUARDO ESTRELA coadjuvam melhor que os demais.  Um aplauso especial vai para a graciosidade do ator mirim ANTÔNIO HADDAD.

            Não esperava um cenário tão franciscano, de FÁBIO NAMATAME, extremamente pobre e sem-graça.  Nos figurinos, ele se saiu melhor.

            A iluminação, de WAGNER FREIRE, não oferece motivos para grandes comentários.  Acho que não tem grande peso no espetáculo, nem positiva, nem negativamente.

            JONATHAN HAROLD, ao teclado, ao vivo, é o responsável por uma trilha sonora original que agrada, sublinhando bem, e no volume adequado, as cenas da peça, com destaque para alguns momentos.

ELZA & FRED não é nenhuma oitava maravilha, mas é um espetáculo bonito, lírico, divertido, reúne, no geral, um bom elenco e, só para ver uma excelente interpretação da diva SUELY FRANCO, já vale a ida ao Teatro das Artes, no Shopping da Gávea.
Trata-se de um espetáculo para a família e é indiscutível que o otimismo e a vontade de viver de ELZA, além da tentativa de contagiar seu companheiro, deixa, concede ao espetáculo, um saldo bem positivo.
Não vá esperando uma geladeira daquela marca famosa, mas, certamente, encontrará uma outra, que vai refrescar, de forma satisfatória, o seu verão interior.
É o que temos para hoje.
 
(FOTOS RETIRADAS DA PÁGINA DO FACEBOOK, RELACIONADA AO ESPETÁCULO.  NÃO CONSEGUIMOS, INFELIZMENTE, FOTOS DE CENA.)
 

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com a sua CRÍTICA. Fui ver esse espetáculo aconvite do meu amigo Humbero Magnani. Não gostei especialmente da direção, nem do texto. Gostei do seu cuidado crítico com toda a ficha técnica. Parabéns. Acho ótima idéia visualizar suas criticas antigas.

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