“TERRA DESCE”
ou
(UMA ODE AO AMOR POR UM
NOBRE OFÍCIO.)
Encerrou
temporada no último dia 17 de setembro de 2023, no Teatro
do “Futuros
Flamengo” (OI Futuro), o espetáculo “TERRA DESCE”. Como não tive a oportunidade de assistir a ele antes,
só pude fazê-lo no seu antepenúltimo dia em cartaz, mas, para que fique
registrada a minha humilde avaliação do espetáculo, que me causou uma ótima
impressão, resolvi escrever esta “pseudo” crítica.
Um motivo
muito especial me faz discorrer sobre o espetáculo: ele reúne uma dupla de
grandes artistas, com mais de 40 anos dedicados aos palcos:
GUIDA VIANNA e RICARDO KOSOVSKI, “dois irmãos de profissão”, desde a década
de 70.
Escrito por PEDRO KOSOVSKI e dirigido por MARCO ANDRÉ NUNES, a montagem segue a
mesma linha estrutural e estética de “Caranguejo Overdrive” e “Guanabara
Canibal”, dois grandes sucessos anteriores da mesma companhia
responsável por esta montagem, a “AQUELA
CIA.”.
SINOPSE:
A história de “TERRA DESCE” acompanha, no século XVI, o marinheiro português João
Lopes (RICARDO KOSOVSKI)
exilado no Brasil, como punição, por traficar machados para indígenas e
considerado um traidor dos europeus.
João é considerado
o primeiro homem europeu a assumir a paternidade de um filho gerado com uma
indígena Maracajá, Joãozinho (GUIDA VIANNA), às margens
da Baía
de Guanabara, na região onde, hoje, se situa a Ilha do Governador.
Esse fato é considerado o primeiro
registro de mestiçagem entre um homem europeu e uma indígena brasileira.
Não que não tivesse havido milhões de estupros
antes disso, violência do colonizador branco sobre as mulheres dos povos originais, no
entanto esse é o primeiro registro de um “carioca”.
Quatro anos depois, uma embarcação
espanhola chega ao Brasil, rouba toda madeira (pau-brasil) e leva João
Lopes com eles.
O marinheiro volta para a Europa,
mas, depois, tenta retornar ao Brasil, para rever o filho que aqui
havia deixado.
João consegue
retornar ao Brasil nas caravelas de Fernão de Magalhães, sabedor de que
a expedição passaria por aqui.
Convence a expedição a parar no Rio
de Janeiro, para abastecer, pegar mantimentos, mesmo depois de ter
parado em Salvador, e ficam, por duas semanas, na cidade.
Nessa parada, ele reencontra o filho
e resolve levá-lo para a Europa.
O espetáculo se inicia com GUIDA e RICARDO interpretando dois atores que, havia 40 anos, vinham tentando
realizar uma peça de TEATRO.
Eles estão
em uma sala de ensaio, fazia quatro
décadas, ensaiando o mesmo texto.
Ao mesmo
tempo, a obra é uma oportunidade de narrar a história do Brasil, a partir do olhar de dois atores mais velhos,
inclusive sobre si próprios, quase como antropólogos de si mesmos, como se o TEATRO fosse uma aldeia.
Segundo o diretor
do espetáculo, MARCO ANDRÉ NUNES, “Diferentemente do padrão reproduzido ao
longo da colonização, no qual a mestiçagem se originou do estupro e violência
europeia, a trajetória de João Lopes aponta para uma excepcionalidade: para
além das relações de dominação, o afeto entre pai e filho.”.
Autor do texto, diz PEDRO KOSOVSKI: “A criação tem como ponto de partida as narrativas da colonização do
Brasil, posicionando, crítica e poeticamente, personagens e acontecimentos
históricos à luz da atualidade, com uma dramaturgia tensionada entre a fabulação
e a memória histórica e uma encenação em que a fisicalidade dos intérpretes e a
‘performance musical e visual’ têm primazia”.
É dessa forma que se apresenta a dramaturgia, a qual segue as digitais de seu autor, sem uma obediência severa à cronologia dos fatos,
alternando cenas da peça que estava sendo ensaiada e diálogos entre os dois atores,
fora de seus personagens, discutindo e avaliando a pertinência do que estavam
insistindo em fazer.
Assisti à peça tão logo retornei de uma
viagem ao exterior e estava extremamente cansado. Creio que, “em
melhores condições climáticas”, eu teria aproveitado mais o espetáculo,
entretanto não quis deixar de registrar o quanto ele me agradou. Estou, no
momento, bastante carente de tempo para escrever e, na esperança de que a
montagem consiga uma segunda temporada, ou mais outras, espero ter a oportunidade
de revê-lo e, talvez, vir a escrever uma segunda crítica (Não considero estes escritos
como tal.), com mais detalhes, como ela se faz merecedora.
Por ora, digo que os fatos históricos
abordados na encenação, ainda que importantes e merecedores de atenção, além de
terem sido muito bem documentados pelo dramaturgo, ficaram, para
mim, em segundo plano, uma vez que o que me emocionou extremamente foi
estar diante de dois grandes artistas, que eu tanto admiro, numa aula de
atuação e demonstração de amor a uma profissão. E, mais ainda, sentir a
cumplicidade, a profunda amizade e o respeito mútuo que há entre GUIDA VIANNA e RICARDO KOSOVSKI. Que coisa linda, tocante!!! É até
difícil descrever a minha emoção, depois de testemunhar aquela demonstração do
que é o “fazer teatral” entre amigos.
É claro que as participações da atriz
indígena (Não sei com qual das duas alternantes eu assisti à peça, visto que não
conheço nenhuma das duas.) e dos dois músicos que executam a trilha
sonora, ao vivo, XAINÃ TUPINAMBÁ,
outro representante dos povos originais, e PEDRO
NÊGO, também são de grande relevância, mas, com todo o devido respeito,
parafraseando o “Poetinha”, os demais do elenco que me perdoem, mas GUIDA
E RICARDO são fundamentais.
Outrossim, não posso deixar de registrar um elogio à ideia de levar para o
palco dois artistas representantes do indígenas brasileiros.
Fazendo parte do conjunto de “artífices”
da peça, “cada um no seu quadrado”, como artistas criativos, merecem
aplausos AURORA DOS CAMPOS e MARCO ANDRÉ NUNES, pela cenografia,
e este também pela direção; FERNANDA GARCIA,
pelos figurinos; e RENATO
MACHADO, pela iluminação.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Pedro Kosovski
Direção: Marco
André Nunes
Assistência de Direção: Carolina Lavigne
Elenco: Guida
Vianna, Ricardo Kosovski, Raynna e Julia Tupinambá
Músicos: Xainã Tupinambá
e Pedro Nêgo
Direção Musical: Felipe Storino
Cenografia: Aurora dos Campos e Marco André
Nunes
Figurino: Fernanda
Garcia
Iluminação: Renato Machado
Direção de Movimento: Paula Águas e Toni Rodrigues
“Design” Gráfico: Igor Gouvea
Fotos: João Júlio Mello
Consultoria
de Texto: Rayana
Consultoria
Artística: Xainã Tupinambá
Operação de
Luz: Juju Moreira e Felipe Medeiros
Vídeo:
Isabela Raposo e Igor Medeiros
Direção de
Palco: Elquires Sousa
Estagiário:
Igor Orlando
Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
Produção Executiva: Thaís Venitt e Isadora Frucchi
Direção de Produção: Gabi Gonçalves
Realização: Aquela Cia e Corpo Rastreado
“TERRA DESCE” mereceu ocupar o palco do
OI
Futuro, local de ARTE, conhecido
pela qualidade de tudo o que por lá passa, em TEATRO ou na forma de outras manifestações artísticas, a partir da administração, como gerente executivo de CULTURA, do saudoso Roberto Guimarães.
Que venham outras
temporadas!
FOTOS: JOÃO
JÚLIO MELLO
GALERIA PARTICULAR:
(Fotos: Guilherme de Rose.)
Com Ricardo Kosovski.
Com Guida Vianna.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
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PARA QUE, JUNTOS,
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