quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 

“TERRA DESCE”

ou

(UMA ODE AO AMOR POR UM 

NOBRE OFÍCIO.)

 





Encerrou temporada no último dia 17 de setembro de 2023, no Teatro do “Futuros Flamengo” (OI Futuro), o espetáculo “TERRA DESCE”. Como não tive a oportunidade de assistir a ele antes, só pude fazê-lo no seu antepenúltimo dia em cartaz, mas, para que fique registrada a minha humilde avaliação do espetáculo, que me causou uma ótima impressão, resolvi escrever esta “pseudo” crítica.





Um motivo muito especial me faz discorrer sobre o espetáculo: ele reúne uma dupla de grandes artistas, com mais de 40 anos dedicados aos palcos: GUIDA VIANNA e RICARDO KOSOVSKI, “dois irmãos de profissão”, desde a década de 70.





Escrito por PEDRO KOSOVSKI e dirigido por MARCO ANDRÉ NUNES, a montagem segue a mesma linha estrutural e estética de “Caranguejo Overdrive” e “Guanabara Canibal”, dois grandes sucessos anteriores da mesma companhia responsável por esta montagem, a “AQUELA CIA.”.  

 





SINOPSE:

A história de “TERRA DESCE” acompanha, no século XVI, o marinheiro português João Lopes (RICARDO KOSOVSKI) exilado no Brasil, como punição, por traficar machados para indígenas e considerado um traidor dos europeus.

João é considerado o primeiro homem europeu a assumir a paternidade de um filho gerado com uma indígena Maracajá, Joãozinho (GUIDA VIANNA), às margens da Baía de Guanabara, na região onde, hoje, se situa a Ilha do Governador.

Esse fato é considerado o primeiro registro de mestiçagem entre um homem europeu e uma indígena brasileira.

Não que não tivesse havido milhões de estupros antes disso, violência do colonizador branco sobre as mulheres dos povos originais, no entanto esse é o primeiro registro de um “carioca”.

Quatro anos depois, uma embarcação espanhola chega ao Brasil, rouba toda madeira (pau-brasil) e leva João Lopes com eles.

O marinheiro volta para a Europa, mas, depois, tenta retornar ao Brasil, para rever o filho que aqui havia deixado.

João consegue retornar ao Brasil nas caravelas de Fernão de Magalhães, sabedor de que a expedição passaria por aqui.

Convence a expedição a parar no Rio de Janeiro, para abastecer, pegar mantimentos, mesmo depois de ter parado em Salvador, e ficam, por duas semanas, na cidade.

Nessa parada, ele reencontra o filho e resolve levá-lo para a Europa.

O espetáculo se inicia com GUIDA e RICARDO interpretando dois atores que, havia 40 anos, vinham tentando realizar uma peça de TEATRO

Eles estão em uma sala de ensaio, fazia quatro décadas, ensaiando o mesmo texto.

Ao mesmo tempo, a obra é uma oportunidade de narrar a história do Brasil, a partir do olhar de dois atores mais velhos, inclusive sobre si próprios, quase como antropólogos de si mesmos, como se o TEATRO fosse uma aldeia.






       Segundo o diretor do espetáculo, MARCO ANDRÉ NUNES, “Diferentemente do padrão reproduzido ao longo da colonização, no qual a mestiçagem se originou do estupro e violência europeia, a trajetória de João Lopes aponta para uma excepcionalidade: para além das relações de dominação, o afeto entre pai e filho.”





         Autor do texto, diz PEDRO KOSOVSKI: “A criação tem como ponto de partida as narrativas da colonização do Brasil, posicionando, crítica e poeticamente, personagens e acontecimentos históricos à luz da atualidade, com uma dramaturgia tensionada entre a fabulação e a memória histórica e uma encenação em que a fisicalidade dos intérpretes e a ‘performance musical e visual’ têm primazia”.





         É dessa forma que se apresenta a dramaturgia, a qual segue as digitais de seu autor, sem uma obediência severa à cronologia dos fatos, alternando cenas da peça que estava sendo ensaiada e diálogos entre os dois atores, fora de seus personagens, discutindo e avaliando a pertinência do que estavam insistindo em fazer.





         Assisti à peça tão logo retornei de uma viagem ao exterior e estava extremamente cansado. Creio que, “em melhores condições climáticas”, eu teria aproveitado mais o espetáculo, entretanto não quis deixar de registrar o quanto ele me agradou. Estou, no momento, bastante carente de tempo para escrever e, na esperança de que a montagem consiga uma segunda temporada, ou mais outras, espero ter a oportunidade de revê-lo e, talvez, vir a escrever uma segunda crítica (Não considero estes escritos como tal.), com mais detalhes, como ela se faz merecedora.





         Por ora, digo que os fatos históricos abordados na encenação, ainda que importantes e merecedores de atenção, além de terem sido muito bem documentados pelo dramaturgo, ficaram, para mim, em segundo plano, uma vez que o que me emocionou extremamente foi estar diante de dois grandes artistas, que eu tanto admiro, numa aula de atuação e demonstração de amor a uma profissão. E, mais ainda, sentir a cumplicidade, a profunda amizade e o respeito mútuo que há entre GUIDA VIANNA e RICARDO KOSOVSKI. Que coisa linda, tocante!!! É até difícil descrever a minha emoção, depois de testemunhar aquela demonstração do que é o “fazer teatral” entre amigos.



        É claro que as participações da atriz indígena (Não sei com qual das duas alternantes eu assisti à peça, visto que não conheço nenhuma das duas.) e dos dois músicos que executam a trilha sonora, ao vivo, XAINÃ TUPINAMBÁ, outro representante dos povos originais, e PEDRO NÊGO, também são de grande relevância, mas, com todo o devido respeito, parafraseando o “Poetinha”, os demais do elenco que me perdoem, mas GUIDA E RICARDO são fundamentais. Outrossim, não posso deixar de registrar um elogio à ideia de levar para o palco dois artistas representantes do indígenas brasileiros.



         Fazendo parte do conjunto de “artífices” da peça, “cada um no seu quadrado”, como artistas criativos, merecem aplausos AURORA DOS CAMPOS e MARCO ANDRÉ NUNES, pela cenografia, e este também pela direção; FERNANDA GARCIA, pelos figurinos; e RENATO MACHADO, pela iluminação.  






 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Pedro Kosovski 

Direção: Marco André Nunes 

Assistência de Direção: Carolina Lavigne 

 

Elenco: Guida Vianna, Ricardo Kosovski, Raynna e Julia Tupinambá

 

Músicos: Xainã Tupinambá e Pedro Nêgo

 

Direção Musical: Felipe Storino 

Cenografia: Aurora dos Campos e Marco André Nunes 

Figurino: Fernanda Garcia 

Iluminação: Renato Machado 

Direção de Movimento: Paula Águas e Toni Rodrigues 

“Design” Gráfico: Igor Gouvea 

Fotos: João Júlio Mello

Consultoria de Texto: Rayana

Consultoria Artística: Xainã Tupinambá

Operação de Luz: Juju Moreira e Felipe Medeiros

Vídeo: Isabela Raposo e Igor Medeiros

Direção de Palco: Elquires Sousa

Estagiário: Igor Orlando

Assessoria de Imprensa:  Alessandra Costa 

Produção Executiva: Thaís Venitt e Isadora Frucchi 

Direção de Produção: Gabi Gonçalves 

Realização: Aquela Cia e Corpo Rastreado

 



         “TERRA DESCE” mereceu ocupar o palco do OI Futuro, local de ARTE, conhecido pela qualidade de tudo o que por lá passa, em TEATRO ou na forma de outras manifestações artísticas, a partir da administração, como gerente executivo de CULTURA, do saudoso Roberto Guimarães.

Que venham outras temporadas!

 

 

 

 

FOTOS: JOÃO JÚLIO MELLO

 


GALERIA PARTICULAR:

(Fotos: Guilherme de Rose.)

 

 

Com Ricardo Kosovski.


Com Guida Vianna.


 

 

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