quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 

“NOEL ROSA:

COISA NOSSA”

ou

(UM É BOM.

DOIS? 

AINDA MELHOR.)

ou

(NÃO IMPORTA

COM QUE ROUPA

EU FUI.)

ou

(UM MUSICAL

“BREJEIRO”.)

 

 


         Não consigo entender por que, ainda hoje, alguns diretores insistem em querer “inventar a roda” e a conduzir seus trabalhos de direção de uma forma equivocada, valorizando o que não precisa ficar sob o foco dos refletores, esquecendo-se de que, em TEATRO, pode muito bem funcionar a teoria do “menos é mais”, principalmente porque está ficando cada vez mais difícil erguer um espetáculo, por falta de produtores, patrocínios e apoios, principalmente. Com uma verba, muitas vezes, curta ou não muito elástica, a solução é apelar para o trabalho em conjunto e explorar, ao máximo, a criatividade e o bom gosto. Por que complicar? Para que tanto rebuscamento, quando, com poucos elementos, de comprovada qualidade, se pode conseguir erguer uma peça de TEATRO, bastante ao gosto do grande público?





         Não pensem que o parágrafo que inicia esta crítica faz referência a “NOEL ROSA: COISA NOSSA”, espetáculo a que tive o imenso prazer de assistir na noite do último sábado (16 de setembro de 2023), no Teatro Prudential, já na reta final de um temporada de grande e merecido sucesso. Foi intencional a sua escrita, para lhes chamar a atenção para este delicioso musical, escrito por GERALDO CARNEIRO, dirigido por CACÁ MOURTHÉ e com um ótimo quinteto de atores/cantores/musicistas: ALFREDO DEL-PENHO, FÁBIO ENRIQUEZ, DANI CÂMARA, JULIE WEIN e MATEHEUS PESSANHA.





Nada contra as superproduções. Muito pelo contrário! Quem não gosta delas? Fico extremamente feliz, quando vejo um super musical montado, que faz com que eu me sinta na Broadway, provando que os artistas brasileiros não ficam nada a dever aos estrangeiros, mas também fico com o coração massageado de alegria, depois de ter assistido a um musical como o que está sendo alvo destes escritos, “BREJEIRO”, como escrevi num dos subtítulos acima, num sentido mais ampliado e, até mesmo, metafórico do adjetivo; simples, que atinge, facilmente, qualquer pessoa da plateia, diverte, emociona, encanta, tornando-se merecedor de muitos aplausos.





         O autor do texto, um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras (ABL), GERALDO CARNEIRO, para comemorar suas “bodas de ouro”, de uma bela trajetória artística, resolveu homenagear um dos mais consagrados nomes da Música Popular Brasileira, mais propriamente, do samba, NOEL ROSA, o “Poeta da Vila”, cujo talento é indiscutível, a ponto de, a despeito de ter morrido aos 27 anos de idade, incompletos, de tuberculose, nos ter legado alguns dos maiores clássicos da MPB, mais de 200 músicas, como “Com que Roupa”, “Fita Amarela”, “Gago Apaixonado”, “Palpite Infeliz”, “Até Amanhã”, “Último Desejo”, “Conversa de Botequim”, “Feitio de Oração”, “Três Apitos” e tantos outros sucessos.





         As letras escritas por NOEL atingiam qualquer classe social, embora fossem mais voltadas para o popular, alternando lirismo e poesia com humor e ironia. É fácil detectar nelas seu senso lúdico e humor anárquico. Durante 47 anos, trabalhei em sala de aula, como professor de língua portuguesa, da segunda fase do primeiro grau até o nível superior, e sempre me utilizei de muitas das letras do compositor, para fazer análise e interpretação de textos, o que era muito bem recebido pelos alunos, principalmente depois de terminada a tarefa, quando ouvíamos as canções.

 





SINOPSE:

O espetáculo reconta episódios divertidos, boêmios e trágicos da vida meteórica do “Poeta da Vila”, de seu nascimento até sua morte, sendo que esta é abordada de forma suave, leve e delicada.

Recheada de som, humor e poesia, a montagem é caracterizada pelas noitadas em bares e a luta de NOEL contra a tuberculose.

O Rio de Janeiro, o Brasil, os marginalizados e as “dores de cotovelo” embalam canções clássicas do autor, presentes em qualquer “playlist” que se propõe a mostrar o que é o “samba de raíz”.

A peça revela, ao público, os momentos mais divertidos e emocionantes da vida de NOEL ROSA, bem como alguns casos curiosos que deram origem à obra do artista.

 





         NOEL é a grande estrela do espetáculo, mas quem brilha mesmo é a dupla de atores/cantores/musicistas ALFREDO DEL-PENHO e FÁBIO ENRIQUEZ, os quais interpretam o protagonista de forma impecável. Considero genial a ideia de o personagem ser vivido por duas pessoas, tão diferentes do homenageado quanto entre si. ALFREDO e FÁBIO são muito diferentes, fisicamente, contudo essa solução, no palco, tem a ver com a personalidade plural do protagonista”. Noel é tão amplo e diverso, que é capaz de ser representado por dois atores muito diferentes fisicamente”, nas palavras da diretora do espetáculo. E lhes garanto que o resultado é o melhor possível. Já aproveito, aqui, para louvar essa iniciativa, que partiu dela, em comum acordo com um dos produtores, EDUARDO BARATA. Originalmente, o texto fora escrito para que o personagem NOEL fosse representado por um único ator. Essa iniciativa de CACÁ MOURTHÉ concede à encenação um extraordinário dinamismo, ainda ampliado pelo ótimo trabalho de direção de movimento, dividido entre ela e RENATO VIEIRA, este também responsável pelas coreografias.







     Em personagens coadjuvantes, mas nem por isso menos importantes, os personagens e os trabalhos, DANI CÂMARA, JULIE WEIN e MATEHEUS PESSANHA garantem o apoio de que os dois atores protagonistas necessitam, para que, ao final da encenação, o trabalho dos cinco possa merecer os efusivos aplausos e o merecido reconhecimento do público. DANI, cantora, percussionista e compositora, interpreta a mãe de NOEL, Dona Rosa, e Ceci, considerada a verdadeira paixão do “Poeta da Vila”. JULIE, cantora, musicista e doutora em neurociências, é Lindaura, a esposa de NOEL, com quem ele foi obrigado a casar, por pressão da mãe da moça, depois de tê-la engravidado, quando ainda era uma adolescente, de 13 anos, 10 a menos que ele. Eles viveram uma vida precária, dormindo em vagões de trem e passando as noites em bares. Lindaura perdeu o filho meses após o casamento. MATHEUS PESSANHA, amigo de rodas de samba de ALFREDO DEL-PENHO, faz sua estreia no TEATRO, e o faz com o pé direito, interpretando o compositor Nássara, amigo de NOEL. Cada um dos cinco entendeu, perfeitamente, como colocar os “tijolinhos” necessários para a construção deste espetáculo.







         A trilha sonora, apenas com grandes sucessos da carreira do compositor, é excelente e foi selecionada pelo dramaturgo, pelo pesquisador CARLOS DIDIER e por ALFREDO, que assina a correta direção musical da peça. Gostei muito dos arranjos, tanto os musicais quanto os vocais, de todas as canções, com destaque para alguns andamentos que fogem às gravações originais, feitas por alguns dos maiores intérpretes da nossa música.







         Sendo um musical biográfico, o texto obedece à estrutura padrão para esse tipo de espetáculo, seguindo, cronologicamente, os fatos mais importantes da curta vida de NOEL. GERALDO CARNEIRO demonstra ser um notável conhecedor da vida e da obra do homenageado como também, de posse de todas as informações que julgou necessárias passar para o público, soube apresentá-las na forma de ágeis diálogos. Não vou comentar essas passagens, uma vez que espero, com esta crítica, despertar o interesse dos que a leem, de modo a conferir estas minhas palavras com uma ida ao Teatro Prudential, nesta última semana da temporada. Apenas adianto que NOEL era bastante negligente com sua saúde, o que fez com que sua passagem por aqui tenha sido muito meteórica mesmo. Ele morreu no dia 4 de maio de 1937. Seu espírito anárquico e gozador levava-o a fazer graça de sua desgraça e, pelo que pude perceber, ele era um praticante da teoria do “Carpe Diem!”.







     Um único artista de criação, de comprovada competência, RONALD TEIXEIRA, ficou com a tripla responsabilidade de assinar a cenografia, os figurinos e a direção de arte desta montagem, e cumpriu, à altura, suas atribuições. RONALD optou por um palco vazio, que permite, facilmente, aos atores, o deslocamento em cena e a execução das coreografias. Poucos elementos cenográficos são levados, pelos próprios atores, para o palco, quando uma determinada cena os exige. Ao fundo, um enorme telão, no qual são projetadas “lembranças imagéticas” da vida de NOEL: seus amores, lugares que ele frequentou e citações visuais de suas músicas. Os figurinos são datados, da década de 1920, entretanto trazem “gotas” e "frescor" de contemporaneidade, “trazendo para o nosso tempo essa lembrança do que era o compositor”. Ótima combinação!





 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Eduardo Barata e Marcelo Serrado

Texto: Geraldo Carneiro
Direção: Cacá Mourthé

Assistência de Direção: Marcelo Cavalcanti

Direção Musical: Alfredo Del-Penho

Assistência de Direção Musical: Matheus Pessanha

Direção de Movimento: Renato Vieira e Cacá Mourthé

Coreografia: Renato Vieira



Elenco: Alfredo Del-Penho, Fábio Enriquez, Julie Wein, Dani Câmara e Matheus Pessanha



Direção de Arte: Ronald Teixeira

Cenografia: Ronald Teixeira

Figurinos: Ronald Teixeira

Iluminação: Rodrigo Belay

"Design" de Som: Júnior Brasil

Visagismo: Fernando Ocazione

Assessoria de imprensa: Barata comunicação e Dobbs Scarpa

Fotos: Cris Granato e Priscila Prade

Direção de Produção: Denise Escudeiro e Elaine Moreira

Produção Executiva: Roy D'Peres

Realização: Barata Produções  e Rio MS

 








 

SERVIÇO:

Temporada: De 31/08 a 24/09 de 2023.

Local: Teatro Prudential.

Endereço: Rua do Russel, 804 – Glória – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)35533557.

Lotação: 359 lugares (com acessibilidade).

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 17h.

Valor dos Ingressos: R$90,00 (5ª e 6ª feira) e R$100,00 (sábado e domingo)

Indicação Etária: 12 anos.

Gênero: Musical.

OBSERVAÇÃO: Nos sábados, 02/09 e 23/09, sessões extras, às 17h.

 





         Parabéns a EDUARDO BARATA e MARCELO SERRADO pela iniciativa de montar este espetáculo! Oxalá o façam muitas outras vezes!





         “NOEL ROSA: COISA NOSSA” é uma prova inconteste de que, acima de tudo, para que uma produção teatral seja bem aceita pelo público, fazem-se necessários um bom texto, desenvolvendo uma boa história; uma boa leitura de uma competente direção e um elenco bem preparado e cônscio de sua perícia artística. Não é à toa que, ao final de cada sessão, os 359 espectadores, que lotam o Teatro Prudential, aplaudam, DE PÉ, durante um bom tempo, o espetáculo, sendo que testemunhei depoimentos de gente da plateia, confessados a mim e a outras pessoas, que estavam assistindo ao musical pela segunda ou terceira vez. Também eu o faria, se tivesse oportunidade e tempo hábil para isso. É claro que RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!

 

 





FOTOS: CRIS GRANATO

e

PRISCILA PRADE



GALERIA PARTICULAR:


Com Cacá Mourthé.


Com Cacá Mourthé e Fábio Enriquez.


Com Matheus Pessanha e Alfredo Del-Penho.


Com Julie Wein.


 

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