quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 “ACORDEI CANTANDO”

ou

(UM MUSICAL

FEITO EM CASA,

PARA OS DE CASA.)



        Os que têm o hábito de ler as minhas críticas de TEATRO sabem da minha grande preferência por musicais; os bons, de preferência. Também esperam críticas bastantes profundas e detalhadas, o que demanda tempo, exatamente o que me falta neste momento. Assim, vou escrever pouco, procurando comentar, ao máximo, tudo o que me chamou atenção nesta peça.



Estamos acostumados a montar musicais importados, textos e histórias de outras línguas e culturas, devidamente mais menos adaptados para a nossa realidade. É claro que isso muito me agrada, porém confesso que, todas as vezes que tenho a oportunidade de assistir a um musical autoral, escrito por brasileiros, meu prazer é maior, porque nós também sabemos fazer bons musicais.



        Na minha mais recente estada em São Paulo, à cata deles, fui convidado a assistir a um “made in Brazil”. Seu nome: “ACORDEI CANTANDO”, uma produção bem modesta, mas muito bem feita, erguida, com bastante garra e talento, por pessoas que sabem como produzir um.


 


 SINOPSE:

O musical conta a história de uma atriz, no auge da carreira, casada com um importante advogado, o qual parece não ter nenhuma vocação artística nem muito entusiasmo pelo ofício da esposa.

Um dia, porém, com a ajuda de um hilário médico oriental, ele amanhece cantando.

Uma mulher surpreendida pelo despertar tardio de uma aptidão do marido é o ponto de partida da peça. 

Não demora muito para que o novo talento do homem fosse descoberto por um agente, que o leva para a carreira artística, trazendo rivalidade ao casal.

Para apimentar ainda mais esta comédia, entram na história o amante dela, advogados e, acredite se quiser, até um pinguim.

Será o suficiente para “apaziguar” essa divertida crise conjugal?

 

 


   A SINOPSE supra não parece dizer muita coisa, mas é, exatamente, aquilo a que corresponde o enredo da peça, que não apresenta nada além do superficial a que ela se propõe: divertir, de forma leve e agradável. Se isso é atingido perfeitamente, ótimo! O objetivo foi alcançado. Nesta peça, isso acontece.



        Confesso que, a despeito da sua proposta, acredito que o texto pudesse ser mais bem elaborado, alternando bons e razoáveis momentos. Não é uma “Brastemp”, mas satisfaz, “gelando a cervejinha”. Cumpre seu objetivo. As canções, de RICARDO SEVERO, tanto letras como melodias, são ótimas, bem agradáveis e cumprem sua função, num musical: ajudar a contar a história.



   Que sorte poder contar com um profissional do gabarito de JARBAS HOMEM DE MELLO na direção de um musical. JARBAS parece ter nascido num palco e, em vez de chorar, quando levou a tradicional palmadinha, respondeu ao estímulo cantando um “Singing in the Rain”, por exemplo, e, em vez de engatinhar, já saiu rodopiando pelo palco, com direito a muitas piruetas e sapateadas. Brincadeiras à parte, ele sabe tudo sobre musical, o que significa que tem direito a dar "pitacos" em todos os setores da produção de um musical, porque interpreta canta e dança no mesmo ótimo nível de qualidade. Com JARBAS no comando de um musical, o elenco ganha muito, com trocas de todos os lados. Diante de uma realidade que indica falta de dinheiro para grandes “voos”, como numa superprodução, JARBAS soube jogar muito bem com o que tinha à mão e executou uma direção cuidadosa, simples e inteligente.



Jarbas Homem de Mello

(Foto: Fonte desconhecida.)



     No elenco, um quinteto de veteranos em musicais, o que já é o início da garantia de um acerto. Os cinco atores, RACHEL RIPANI, PATRICK AMSTALDEN, RENATA RICCI, UBIRACY BRASIL e FABIO YOSHIHARA, são muito versáteis. “Camaleonicamente”, o trio formado por RENATA, UBIRACY e FABIO vive vários personagens, cada um bem diferente do outro e todos bem engraçados. A dupla de protagonistas corresponde a RACHEL RIPANI e PATRICK AMSTALDEN, ambos num excelente entrosamento em cena. É muito importante salientar que todos sabem explorar seu “timing” para a COMÉDIA.



    Quem não tem condições de bancar uma orquestra, com vários músicos, “se vira” com um trio de ótimos musicistas, os quais produzem um som muito agradável aos ouvidos. Na verdade, para este tipo de musical, nem seria recomendada a utilização de uma banda com muitos músicos e instrumentos. Numa comparação meio esdrúxula, talvez, podemos dizer que, no palco, por trás de um telão meio transparente, há uma configuração de músicos para um “musical de bolso”.



   Sempre lembrando que recursos financeiros foram bastante escassos nesta produção, esta carência é compensada com bom gosto e criatividade, o que é, facilmente, identificável numa cenografia comedida, de FERNANDO OLIVEIRA, que apresenta muitas trocas de cenário, sempre com entrada e saídas de alguns móveis, o suficiente para caracterizar os diversos ambientes, principalmente a sala de estar e o quarto da casa dos personagens Ele e Ela. Essa pouca ocupação de um palco bem grande deixa um amplo espaço para o deslocamento dos atores em cena, gerando bastante dinamismo, em cada cena.



     GRAZIELA BASTOS e RENATA RICCI, a quatro mãos, assinam os muitos figurinos da peça, simples, mas bastante criativos; alguns, com detalhes bem engraçados.



      Não há nada de muito expressivo no desenho de luz, criado por GIULIANO CARATORI, o que não significa, absolutamente, algo negativo. Como não há nenhuma exigência maior, no texto, o iluminador não tinha mesmo nada a fazer, que não fosse procurar iluminar, normalmente, cada cena, sem firulas.



     O dedo de DICKO LORENZO, no visagismo, foi muito importante, para criar, por meio de detalhes, como perucas e acessórios, por exemplo, alguns dos diversos e divertidos personagens.


       

 


 

 FICHA TÉCNICA:

Texto: Ricardo Ripa

Direção Geral: Jarbas Homem de Mello

Direção Musical e Músicas Originais: Ricardo Severo

 

Elenco: Rachel Ripani (Ela); Patrick Amstalden (Ele); Renata Ricci (Assistente do Dr. Tao, Advogada, Candidata, Produtora), Ubiracy Brasil (Amante, Diretor, Oficial de Justiça) e Fabio Yoshihara (Dr. Tao, Advogado, Apresentador, Assistente do Diretor)

 

Banda: Fernando Zuben (pianista, regente e diretor musical assistente); Bruna Barone/Daniel Alfaro (bateria e percussão); e Fábio Martinele (sopros e acordeão)

 

Locuções: Jorge Helal e Ricardo Ripa (Clube da Voz)

 

Cenografia: Fernando Oliveira

Figurino: Graziela Bastos e Renata Ricci

“Designer” de Luz: Giuliano Caratori

Visagismo: Dicko Lorenzo

Assessoria de Imprensa: Flavia Fusco Comunicação

Gerência de Mídias Sociais: Felipe Pirrilo

“Art Design” e Programação Visual: Ton Prado
Caricaturas: Cássio Manga

Fotografia: Heloisa Bortz

Produção de Vídeos: Sagu Filmes

Assistência de Produção: Clarissa Celori

Operador de Som e Vídeo: Edézio Aragão

Operador de Luz: Giuliano Caratori

Direção de Palco: Lucas Andrade

Camareira: Judith Rosa

Peruqueira: Paula Rossi

Contrarregra: Eduardo Lazoti

Direção de Produçã: Henrique Benjamin

Produção Executiva e Assistência de Direção: Lara Paulauskas

  

 

                                   



 SERVIÇO:

Temporada: De 1º de julho a 27 de agosto de 2023.

Local: Teatro Fernando Torres.

Endereço: R. Padre Estevão Pernet, 588 – Tatuapé – São Paulo.

Telefone: (11)2227-1025.

Dias e Horários: Sextas-feiras, às 21h; sábados, às 20h; e domingos, às 19h.

Valor dos Ingresso: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia-entrada).

Bilheteria presencial: De quarta-feira a domingo, das 14h às 19h.

Nos dias de espetáculo, até o horário de início da sessão.

Vendas “On-line”Sympla.

Capacidade de lotação: 685 pessoas.

Recomendação Etária: 10 anos.

Gênero: Musical.

 

 

   


        Reforçando o que escrevi no parágrafo inicial, falta-me tempo, no momento, e sobram-me críticas a serem escritas, o que me obriga a não me aprofundar, como gosto, nos comentários, entretanto fiz questão de escrever sobre este espetáculo, que eu RECOMENDO, para que, conquanto minha opinião possa não ter nenhum grande peso, fique registrada a minha alegria por ter tido a oportunidade de dar boas gargalhadas, num final de domingo.


 

     Por oportuno, registro, aqui, a minha agradabilíssima surpresa, em conhecer um Teatro da capital paulista que, até então, eu não conhecia, o Teatro Fernando Torres, o qual me pareceu muito bem equipado e moderno, além de seu conforto e da atenção que seus funcionários dispensam ao público. A sala de espetáculos foi inaugurada em 19 de agosto de 2012, embora, devido a uma excelente conservação, parece que que recebeu o público, pela primeira vez, ontem. Foi construído pelo Colégio Agostiniano Mendel e batizado em homenagem, muito justa e merecida, ao grande ator, diretor e produtor, morto em 2008.


 


FOTOS: HELOISA BORTZ

 

 

GALERIA PARTICULAR:





Com Renata Ricci, Patrick Amstalden, Ubiracy Brasil e Leonardo Soares Braga.


Bate-papo com o elenco, após a sessão.



 

 

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