“O MÁGICO DI Ó”
ou
(OZ COM CARA
DE ORÓS.)
ou
(É “OBRA-PRIMA”
QUE SE DIZ?)
Fico muito triste, quando só consigo assistir a uma peça no
final da temporada, gosto do espetáculo, mas não tenho tempo hábil para
escrever sobre a montagem. No caso desta, “O MÁGICO DI Ó”, só consegui
ir ao “EcoVilla Ri Happy”, um agradabilíssimo espaço para
crianças, situado dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no
último dia da curtíssima temporada, de três semanas. Só que não gostei, apenas,
do espetáculo. Na verdade, eu ADOREI A PEÇA e,
por conta disso, prometi, aos amigos envolvidos no projeto, que não me
perdoaria se não escrevesse a crítica que ela merecia. Promessa feita, promessa
cumprida, mais de um mês depois daquela deliciosa tarde, de 21 de maio de
2023.
A vontade de gostar, eu sempre a carrego comigo, quando vou ao Teatro, mas já parti para o Jardim Botânico com a certeza de que isso iria acontecer. Não havia como ser ao contrário, pela excelente ideia, pelos
profissionais que, “tijolo a tijolo amarelo”, participaram da
construção do espetáculo e pelo fato de o tema estar relacionado a uma história
que sempre muito me encantou, a da garota Dorothy e seu cãozinho
de estimação, Totó, os quais, levados por um tornado, vão parar
no mundo mágico de Oz. Ainda acrescento que um outro fator era,
também, um indício de que esta crítica iria nascer, não importando quando: o
texto é escrito na forma de literatura de cordel, uma das mais lindas,
simples e “ingênuas” manifestações de ARTE popular.
SINOPSE:
O espetáculo
narra a saga de retirantes nordestinos, a caminho da cidade de São Paulo, e traz um
olhar abrasileirado dos personagens Dorothy, Espantalho,
Leão e Homem de Lata.
A trama
tem, como ponto de partida, o embarque da menina Doróteia (LUIZA
PORTO) e seus tios, em um “pau-de-arara”, clássico veículo de
transporte do nordeste (caminhão), rumo à capital paulista, em busca de uma
vida melhor, fugindo de uma terra sem chuva e sem esperanças – a saga de tantos
nordestinos que construíram São Paulo.
Nesse
grupo, está o cordelista e versador Osvaldo (VITOR ROCHA),
que começa a contar uma história, para distrair os companheiros de viagem.
Os versos
dão asas à imaginação da garota, fazendo com que realidade e fantasia se
misturem.
A longa
jornada, em busca de um poderoso Mágico, ressignifica motivações
e questionamento, explorando diversas formas de expressão, como a dança, a
música, o TEATRO e a literatura.
O espetáculo propõe uma viagem pela cultura nordestina, com as aventuras de Dorotéia (LUIZA PORTO), Mamulengo (ELTON TOWERSEY), Cabra-de-Lata (DANIEL HAIDAR) e Leão (THIAGO SAK), pela estrada de tijolinhos.
A
montagem foi idealizada por dois jovens muito talentosos, e corajosos, VITOR
ROCHA e LUIZA PORTO, e considero muito feliz essa ideia de juntar o
clássico da literatura universal, “O Mágico de Oz” (“The
Wonderful Wizard of Oz”), livro escrito por L. Frank Baum, que foi adaptado para
o cinema, em 1939, alçando ao estrelato Judy Garland, além
de também ter sido transformado em espetáculos teatrais, com a literatura de
cordel, gênero literário genuinamente brasileiro, que precisa ser mais
valorizado entre nós e, mais ainda, conhecido pelos jovens. E é em criança que
se começa o trabalho de aprender a valorizar a ARTE raiz.
A peça
não conta com riqueza e ostentação, nos elementos de criação, entretanto,
dentro dos poucos recursos financeiros de que os idealizadores do projeto
dispunham, para a sua montagem, compensaram o “ter que ser franciscano”
com muita criatividade e bom gosto. Isso está mais que explícito na cenografia
e nos figurinos.
Que VITOR
ROCHA é um jovem “geninho”, quem é ligado em TEATRO já
o sabe, de algum tempo, não tivesse ele, aos 25 anos de idade, já
alcançado tanto sucesso e ganhado vários prêmios de TEATRO. O que me
deixa muito feliz e deslumbrado é a sua capacidade de imaginação e criatividade,
que parecem não conhecer limites, assim como é imensa e pulsante a sua veia
poética. É fascinante a ideia - e, mais ainda, o seu resultado - de escrever
este texto, tão lindo, lírico e engraçado, com uma linguagem palatável a
qualquer idade, partindo de uma história mais que conhecida e já tão explorada,
em várias mídias. Nem todos os metais respondem bem, quando submetidos a um
processo de amálgama. Da mesma forma, “amalgamar” elementos bem
díspares, como se vê, nesta peça, poderia ter resultado num estrondoso
fracasso, todavia, o “alquimista” de plantão, VITOR ROCHA,
é uma espécie de “Midas”, com uma radical diferença. É que,
enquanto, na mitologia grega, o rei da Frígia, pediu para ter o poder de transformar em
ouro tudo aquilo em que tocasse, por ambição, sem perceber que aquele poder o
levaria à morte, VITOR consegue “transformar em ouro”
todos os seus projetos, por uma questão única de mérito; puro mérito. E
com mais um detalhe, que só merece os maiores elogios, extensivos a LUIZA
PORTO também, já que os dois
são os idealizadores do projeto, que é o fato de a proposta de
apresentar o agreste nordestino globalizado.
Do “release”,
que recebi de RIBAMAR FILHO (MercadoCom – Assessoria de Imprensa),
extraí um trecho em que VITOR explica a real intenção de ter encabeçado
este projeto, ao lado de LUIZA: “É uma
história clássica, cheia de magia e cor, e tivemos essa ideia de colocar o
imaginário brasileiro e a cultura nordestina nesse mesmo lugar. Mostrar que o
nosso sertão pode ser, e é, tão mágico quanto a terra de Oz. Essa mistura
trouxe uma maior proximidade com o público e reforça a importância de darmos
protagonismo para nossa cultura.”. Mais não seria necessário
para justificar a importância desta peça.
E LUIZA, no mesmo “release”, completa: “O filme clássico
é famoso por uma fala eternizada em muitos corações: ‘NÃO HÁ LUGAR COMO O NOSSO
LAR’. Na nossa versão, a mensagem se altera, sem perder a rima: ‘NÃO HÁ LUGAR
COMO ONDE A GENTE ESTÁ’. ("O melhor lugar do mundo é aqui e agora." - "Aquie Agora" - Gilberto Gil.) É uma história sobre fazer e ver o mundo não como ele
é, mas como nós somos.”.
Outro “dedinho
de Midas” é o de MARCO FRANÇA, sempre valorizando, com seu
trabalho de direção musical e composição de canções, qualquer
musical. Neste, MARCO contou com a colaboração de VITOR ROCHA,
autor de todas as letras, e do elenco, na criação das músicas, todas de
excelente qualidade. DIEGO RODDA também comparece, satisfatoriamente, na
parte musical, criando uma boa trilha sonora incidental. As canções que
permeiam a peça são apresentadas em diversos ritmos, típicos do nordeste, como frevo,
baião, xaxado e xote. A riqueza de uma brasilidade musical.
IVAN
PARENTE e DANIELA STIRBULOV conseguiram “embarcar,
“com mala e cuia”, nas reais intenções do dramaturgo e nos entregaram uma
direção, a quatro mãos, que valoriza o que está no papel e traduz todos os
sentimentos e sonhos dos personagens.
Já tive a
oportunidade de tocar, de leve, nas rubricas cenografia e figurinos,
que, aparecem, na FICHA TÉCNICA, reunidas numa só, direção de arte,
e que, agora, recebem os comentários cabíveis. JULIANA
PORTO e SILVIA FERRAZ, que respondem pelos cenários e por
todas as peças que os atores usam, em cena, alguns dos quais em duplos papéis,
apostaram no simples e prático, e bem fiéis às peculiaridades que o texto
apresenta. E os resultados são fantásticos.
Creio
que dois fatores foram determinantes, para que as duas artistas realizassem seu
trabalho como ele nos é apresentado: um deles, indubitavelmente, foi a
limitação de verba; o segundo é que, via de regra, os espetáculos ditos
infantojuvenis são representados à tarde, no mesmo palco em que, à noite,
chegam ao público as peças do chamado “TEATRO de adulto”, no “horário
nobre” (Isso é muito relativo. Para mim, todo horário é “nobre”,
na dependência da “nobilidade” do produto servido.), que merece, por
parte dos gestores dos Teatros, um tratamento “diferenciado”;
no “português bem claro, deixando de lado os eufemismos”, as
peças para adultos são prioridade para eles, o que implica dizer que, para as
produções “menos importantes”, na visão deles, costumam ser colocados obstáculos
para a montagem dos cenários, o que leva os cenógrafos a criar elementos
cenográficos de pequeno porte e fáceis de serem colocados no palco e retirados,
ao final de cada sessão. É importante realçar que, no início da possível
segunda justificativa, fiz questão de utilizar a locução adverbial de modo “via
de regra”, por haver, felizmente, exceções. Ainda bem!
E o que fizeram JULIANA e SILVIA? Apostaram num palco o mais livre possível, com alguns painéis, pintados, ao fundo, que sobem e descem, de acordo com a necessidade das cenas, e poucas peças cenográficas em “3D”, como mandacarus, por exemplo, para compor a ambientação do sertão nordestino. E, nos figurinos, "gastaram boa parte de suas munições de criatividade".
FRAN
BARROS criou um desenho de luz com cores “quentes”,
como o sertão nordestino, as quais põem em relevo tudo o que há de importante
em cada cena, num ótimo trabalho de iluminação.
]
Para
representar os personagens desta “fábula fabulosa”, foi escalado
um elenco muito homogêneo, de gente com competência e amor ao ofício, todos
merecendo aplausos, no mesmo nível de intensidade. O texto propicia, a cada
ator / atriz, oportunidades de destaque, o que todos aproveitam, com garras e
dentes. E muito talento! E quem ganha, com isso, é o público. O hepteto é muito convincente em
suas atuações. Por ordem alfabética, DANIEL HAIDAR (Cabra-de-Lata), DIEGO
RODDA (Tio / Bruxa Má), ELTON TOWERSEY (Mamulengo),
LUIZA PORTO (Dorotéia), RENATA VERSOLATO (Tia / Bruxa Boa),
THIAGO SAK (Leão) e VITOR ROCHA (Osvaldo). Atentem
para a criatividade na escolha dos nomes para os personagens! Além de atuar,
bem, cantar, idem, e executar uma coreografia, tão “tímida”, em
se tratando de um musical, quanto justa e necessária, todos os atores tocam
algum instgrumento, com destaque, a meu juízo, para ELTON TOWERSEY. Eles,
na verdade, “são a banda do espetáculo, usando de diversos ritmos e
versos, para acessar o lúdico e convidar o público a uma vivência desse
universo”.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Luiza Porto e
Vitor Rocha
Texto: Vitor Rocha
Direção: Ivan Parente e
Daniela Stirbulov
Direção Musical: Marco França
Letras: Vitor Rocha
Músicas: Marco França e Elenco
Elenco (em ordem alfabética): Daniel Haidar
(Cabra-de-Lata), Diego Rodda (Tio / Bruxa Má), Elton Towersey (Mamulengo), Luiza
Porto (Dorotéia), Renata Versolato (Tia / Bruxa Boa), Thiago Sak (Leão), Vitor
Rocha (Osvaldo)
Trilha Incidental: Diego Rodda
Treinamento de Prosódia: Marco França
Assistente de Direção Musical: Elton Towersey
Direção de Arte (Cenário e Figurino): Juliana Porto
e Silvia Ferraz
Desenho de Luz: Fran Barros
Operação de Luz: Marina Gatti e Felipe Magalhães
Desenho de Som: Paulo Altafim
Operação de Som: Thiago Venturi
Produção: Luiza Porto e Vitor Rocha
Assistente de Produção: Victor
Miranda
Fotografia: João Caldas e Victor
Miranda
Mídias Sociais: Victor Miranda
Assessoria de Imprensa: MercadoCom (Leonardo Minardi e Ribamar Filho)
É evidente que, pelo fato de o espetáculo não estar mais em
cartaz, infelizmente, torna-se, completamente, desnecessária a indicação do “SERVIÇO”.
Foi uma passagem “meteórica”, essa da curtíssima
temporada do espetáculo, pelo Rio de Janeiro, porém tenho a certeza de que
marcou, indelevelmente, os corações dos que tiveram a grata oportunidade de ter
assistido a ele, principalmente porque produções de qualidade – esta foi de
EXTREMA QUALIDADE -, voltadas para os pequenos, são uma raridade, nesta cidade,
que, um dia, já foi “Maravilhosa” (É a minha opinião.).
Fiz questão de escrever sobre "O MÁGICO DI Ó", para que fique o
registro de como o musical me agradou, me marcou e foi muito aplaudido pela criança
que habita em mim. E pelo adulto também.
FOTOS: JOÃO CALDAS
E
VICTOR MIRANDA
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