segunda-feira, 26 de junho de 2023

 “O MÁGICO DI Ó”

ou

(OZ COM CARA

DE ORÓS.)

ou

(É “OBRA-PRIMA”

QUE SE DIZ?)

 



 

      Fico muito triste, quando só consigo assistir a uma peça no final da temporada, gosto do espetáculo, mas não tenho tempo hábil para escrever sobre a montagem. No caso desta, “O MÁGICO DI Ó”, só consegui ir ao “EcoVilla Ri Happy”, um agradabilíssimo espaço para crianças, situado dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no último dia da curtíssima temporada, de três semanas. Só que não gostei, apenas, do espetáculo. Na verdade, eu ADOREI A PEÇA e, por conta disso, prometi, aos amigos envolvidos no projeto, que não me perdoaria se não escrevesse a crítica que ela merecia. Promessa feita, promessa cumprida, mais de um mês depois daquela deliciosa tarde, de 21 de maio de 2023.




       A vontade de gostar, eu sempre a carrego comigo, quando vou ao Teatro, mas já parti para o Jardim Botânico com a certeza de que isso iria acontecer. Não havia como ser ao contrário, pela excelente ideia, pelos profissionais que, “tijolo a tijolo amarelo”, participaram da construção do espetáculo e pelo fato de o tema estar relacionado a uma história que sempre muito me encantou, a da garota Dorothy e seu cãozinho de estimação, Totó, os quais, levados por um tornado, vão parar no mundo mágico de Oz. Ainda acrescento que um outro fator era, também, um indício de que esta crítica iria nascer, não importando quando: o texto é escrito na forma de literatura de cordel, uma das mais lindas, simples e “ingênuas” manifestações de ARTE popular.





      

    SINOPSE:

O espetáculo narra a saga de retirantes nordestinos, a caminho da cidade de São Paulo, e traz um olhar abrasileirado dos personagens Dorothy, Espantalho, Leão e Homem de Lata.

A trama tem, como ponto de partida, o embarque da menina Doróteia (LUIZA PORTO) e seus tios, em um “pau-de-arara”, clássico veículo de transporte do nordeste (caminhão), rumo à capital paulista, em busca de uma vida melhor, fugindo de uma terra sem chuva e sem esperanças – a saga de tantos nordestinos que construíram São Paulo.

Nesse grupo, está o cordelista e versador Osvaldo (VITOR ROCHA), que começa a contar uma história, para distrair os companheiros de viagem.

Os versos dão asas à imaginação da garota, fazendo com que realidade e fantasia se misturem. 

A longa jornada, em busca de um poderoso Mágico, ressignifica motivações e questionamento, explorando diversas formas de expressão, como a dança, a música, o TEATRO e a literatura.

O espetáculo propõe uma viagem pela cultura nordestina, com as aventuras de Dorotéia (LUIZA PORTO), Mamulengo (ELTON TOWERSEY), Cabra-de-Lata (DANIEL HAIDAR) e Leão (THIAGO SAK), pela estrada de tijolinhos. 

 

 




A montagem foi idealizada por dois jovens muito talentosos, e corajosos, VITOR ROCHA e LUIZA PORTO, e considero muito feliz essa ideia de juntar o clássico da literatura universal, “O Mágico de Oz” (“The Wonderful Wizard of Oz”), livro escrito por  L. Frank Baum, que foi adaptado para o cinema, em 1939, alçando ao estrelato Judy Garland, além de também ter sido transformado em espetáculos teatrais, com a literatura de cordel, gênero literário genuinamente brasileiro, que precisa ser mais valorizado entre nós e, mais ainda, conhecido pelos jovens. E é em criança que se começa o trabalho de aprender a valorizar a ARTE raiz.




A peça não conta com riqueza e ostentação, nos elementos de criação, entretanto, dentro dos poucos recursos financeiros de que os idealizadores do projeto dispunham, para a sua montagem, compensaram o “ter que ser franciscano” com muita criatividade e bom gosto. Isso está mais que explícito na cenografia e nos figurinos.




Que VITOR ROCHA é um jovem “geninho”, quem é ligado em TEATRO já o sabe, de algum tempo, não tivesse ele, aos 25 anos de idade, já alcançado tanto sucesso e ganhado vários prêmios de TEATRO. O que me deixa muito feliz e deslumbrado é a sua capacidade de imaginação e criatividade, que parecem não conhecer limites, assim como é imensa e pulsante a sua veia poética. É fascinante a ideia - e, mais ainda, o seu resultado - de escrever este texto, tão lindo, lírico e engraçado, com uma linguagem palatável a qualquer idade, partindo de uma história mais que conhecida e já tão explorada, em várias mídias. Nem todos os metais respondem bem, quando submetidos a um processo de amálgama. Da mesma forma, “amalgamar” elementos bem díspares, como se vê, nesta peça, poderia ter resultado num estrondoso fracasso, todavia, o “alquimista” de plantão, VITOR ROCHA, é uma espécie de “Midas”, com uma radical diferença. É que, enquanto, na mitologia grega, o rei da Frígia, pediu para ter o poder de transformar em ouro tudo aquilo em que tocasse, por ambição, sem perceber que aquele poder o levaria à morte, VITOR consegue “transformar em ouro” todos os seus projetos, por uma questão única de mérito; puro mérito. E com mais um detalhe, que só merece os maiores elogios, extensivos a LUIZA PORTO também, já que os dois são os idealizadores do projeto, que é o fato de a proposta de apresentar o agreste nordestino globalizado.





Do “release”, que recebi de RIBAMAR FILHO (MercadoCom – Assessoria de Imprensa), extraí um trecho em que VITOR explica a real intenção de ter encabeçado este projeto, ao lado de LUIZA: É uma história clássica, cheia de magia e cor, e tivemos essa ideia de colocar o imaginário brasileiro e a cultura nordestina nesse mesmo lugar. Mostrar que o nosso sertão pode ser, e é, tão mágico quanto a terra de Oz. Essa mistura trouxe uma maior proximidade com o público e reforça a importância de darmos protagonismo para nossa cultura.”. Mais não seria necessário para justificar a importância desta peça.




E LUIZA, no mesmo “release”, completa: “O filme clássico é famoso por uma fala eternizada em muitos corações: ‘NÃO HÁ LUGAR COMO O NOSSO LAR’. Na nossa versão, a mensagem se altera, sem perder a rima: ‘NÃO HÁ LUGAR COMO ONDE A GENTE ESTÁ’. ("O melhor lugar do mundo é aqui e agora." - "Aquie Agora" - Gilberto Gil.) É uma história sobre fazer e ver o mundo não como ele é, mas como nós somos.”.




Outro “dedinho de Midas” é o de MARCO FRANÇA, sempre valorizando, com seu trabalho de direção musical e composição de canções, qualquer musical. Neste, MARCO contou com a colaboração de VITOR ROCHA, autor de todas as letras, e do elenco, na criação das músicas, todas de excelente qualidade. DIEGO RODDA também comparece, satisfatoriamente, na parte musical, criando uma boa trilha sonora incidental. As canções que permeiam a peça são apresentadas em diversos ritmos, típicos do nordeste, como frevo, baião, xaxado e xote. A riqueza de uma brasilidade musical.




IVAN PARENTE e DANIELA STIRBULOV conseguiram “embarcar, “com mala e cuia”, nas reais intenções do dramaturgo e nos entregaram uma direção, a quatro mãos, que valoriza o que está no papel e traduz todos os sentimentos e sonhos dos personagens.




Já tive a oportunidade de tocar, de leve, nas rubricas cenografia e figurinos, que, aparecem, na FICHA TÉCNICA, reunidas numa só, direção de arte, e que, agora, recebem os comentários cabíveis. JULIANA PORTO e SILVIA FERRAZ, que respondem pelos cenários e por todas as peças que os atores usam, em cena, alguns dos quais em duplos papéis, apostaram no simples e prático, e bem fiéis às peculiaridades que o texto apresenta. E os resultados são fantásticos.




Creio que dois fatores foram determinantes, para que as duas artistas realizassem seu trabalho como ele nos é apresentado: um deles, indubitavelmente, foi a limitação de verba; o segundo é que, via de regra, os espetáculos ditos infantojuvenis são representados à tarde, no mesmo palco em que, à noite, chegam ao público as peças do chamado “TEATRO de adulto”, no “horário nobre” (Isso é muito relativo. Para mim, todo horário é “nobre”, na dependência da “nobilidade” do produto servido.), que merece, por parte dos gestores dos Teatros, um tratamento “diferenciado”; no “português bem claro, deixando de lado os eufemismos”, as peças para adultos são prioridade para eles, o que implica dizer que, para as produções “menos importantes”, na visão deles, costumam ser colocados obstáculos para a montagem dos cenários, o que leva os cenógrafos a criar elementos cenográficos de pequeno porte e fáceis de serem colocados no palco e retirados, ao final de cada sessão. É importante realçar que, no início da possível segunda justificativa, fiz questão de utilizar a locução adverbial de modo “via de regra”, por haver, felizmente, exceções. Ainda bem!





E o que fizeram JULIANA e SILVIA? Apostaram num palco o mais livre possível, com alguns painéis, pintados, ao fundo, que sobem e descem, de acordo com a necessidade das cenas, e poucas peças cenográficas em “3D”, como mandacarus, por exemplo, para compor a ambientação do sertão nordestino. E, nos figurinos, "gastaram boa parte de suas munições de criatividade".




FRAN BARROS criou um desenho de luz com cores “quentes”, como o sertão nordestino, as quais põem em relevo tudo o que há de importante em cada cena, num ótimo trabalho de iluminação.



]

Para representar os personagens desta “fábula fabulosa”, foi escalado um elenco muito homogêneo, de gente com competência e amor ao ofício, todos merecendo aplausos, no mesmo nível de intensidade. O texto propicia, a cada ator / atriz, oportunidades de destaque, o que todos aproveitam, com garras e dentes. E muito talento! E quem ganha, com isso, é o público. O hepteto é muito convincente em suas atuações. Por ordem alfabética, DANIEL HAIDAR (Cabra-de-Lata), DIEGO RODDA (Tio / Bruxa Má), ELTON TOWERSEY (Mamulengo), LUIZA PORTO (Dorotéia), RENATA VERSOLATO (Tia / Bruxa Boa), THIAGO SAK (Leão) e VITOR ROCHA (Osvaldo). Atentem para a criatividade na escolha dos nomes para os personagens! Além de atuar, bem, cantar, idem, e executar uma coreografia, tão “tímida”, em se tratando de um musical, quanto justa e necessária, todos os atores tocam algum instgrumento, com destaque, a meu juízo, para ELTON TOWERSEY. Eles, na verdade, “são a banda do espetáculo, usando de diversos ritmos e versos, para acessar o lúdico e convidar o público a uma vivência desse universo”.






 FICHA TÉCNICA:

Idealização: Luiza Porto e Vitor Rocha

Texto: Vitor Rocha

Direção: Ivan Parente e Daniela Stirbulov

Direção Musical: Marco França

Letras: Vitor Rocha

Músicas: Marco França e Elenco

 

Elenco (em ordem alfabética): Daniel Haidar (Cabra-de-Lata), Diego Rodda (Tio / Bruxa Má), Elton Towersey (Mamulengo), Luiza Porto (Dorotéia), Renata Versolato (Tia / Bruxa Boa), Thiago Sak (Leão), Vitor Rocha (Osvaldo)

 

Trilha Incidental: Diego Rodda

Treinamento de Prosódia: Marco França 

Assistente de Direção Musical: Elton Towersey

Direção de Arte (Cenário e Figurino): Juliana Porto e Silvia Ferraz

Desenho de Luz: Fran Barros

Operação de Luz: Marina Gatti e Felipe Magalhães 

Desenho de Som: Paulo Altafim

Operação de Som: Thiago Venturi 

Produção: Luiza Porto e Vitor Rocha

Assistente de Produção: Victor Miranda

Fotografia: João Caldas e Victor Miranda

Mídias Sociais: Victor Miranda

Assessoria de Imprensa: MercadoCom (Leonardo Minardi e Ribamar Filho)

 

 

 




     É evidente que, pelo fato de o espetáculo não estar mais em cartaz, infelizmente, torna-se, completamente, desnecessária a indicação do “SERVIÇO”.




      Foi uma passagem “meteórica”, essa da curtíssima temporada do espetáculo, pelo Rio de Janeiro, porém tenho a certeza de que marcou, indelevelmente, os corações dos que tiveram a grata oportunidade de ter assistido a ele, principalmente porque produções de qualidade – esta foi de EXTREMA QUALIDADE -, voltadas para os pequenos, são uma raridade, nesta cidade, que, um dia, já foi “Maravilhosa” (É a minha opinião.).




     Fiz questão de escrever sobre "O MÁGICO DI Ó", para que fique o registro de como o musical me agradou, me marcou e foi muito aplaudido pela criança que habita em mim. E pelo adulto também.

 

 


 

 




FOTOS: JOÃO CALDAS

E

VICTOR MIRANDA

 

 

 

 

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