“O ALIENISTA”
ou
(DAS PÁGINAS
DE UM LIVRO,
TRANSPOSTO
PARA
UM PALCO,
UM ESPETÁCULO
DE GABARITO
PROFISSIONAL.)
(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem
escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e
outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à
minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”,
nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa
abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo
normal de espetáculos a serem analisados.)
Ao ler o subtítulo
desta crítica, quem não é “habitué” de TEATRO pode estar
se perguntando o que desejo dizer com ele. É simples: o espetáculo aqui
analisado é feito por atores ainda não profissionais, mas que têm um
comportamento, no palco, como se já o fossem. Faz parte do “UNIRIO TEATRO MUSICADO”,
um projeto acadêmico que existe, e resiste, desde 1995, graças à
coragem e ao talento do professor RUBENS LIMA Jr., seu fundador e
diretor de todos os espetáculos até hoje encenados pelo “Projeto”,
e seus colaboradores.
Rubens Lima Jr.
Sempre é bom lembrar que, pelas mãos do RUBINHO, como o
professor é, carinhosamente, chamado, surgiram alguns dos mais representativos
atores e atrizes do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, hoje, profissionais de
sucesso, como Cristiano Penna, Fabricio Negri, Maria Netto,
Sabrina Korgut, Leo Bahia, Tauã
Delmiro, Victor Maia, Guilherme Borges, Pedro
Henrique Lopes, Aurora Dias, Thadeu Mattos,
Larissa Landim, Rodrigo Naice, Flora Menezes, Hugo Kerth, Rodrigo Morura, Thuany
Scheidegger, Vinicius Teixeira, Vitor Martinez,
Nando Brandão, Carol Pita, Ester Dias,
Robson Lima, Bárbara Sut, Raquel Antunes e
muitos outros, alguns deles já tendo experimentado a posição de
protagonistas.
A cronologia do “Projeto” comportava
dez produções, até a atual montagem de “O ALIENISTA”, a décima primeira,
a saber: “Canções para um Mundo
Novo” (2007); “Canções para um Amor Perdido (2008); “Cambaio” (2009); "The Rock Horror Show" (2010); “Tommy – A Ópera Rock” (2011); “Monty Python’s Spamalot
(2012); "The Book of Mormon" (2013); “O Jovem Frankenstein” (2015); “O Mambembe” (2016); e “O Primo da Califórnia” (2018).
SINOPSE:
A
obra gira em torno da história de Simão Bacamarte, médico
respeitado, que viajou pela Europa e pelo Brasil.
Quando
criou um consultório, na cidade fluminense de Itaguaí, resolveu se casar com
uma viúva, Dona Evarista.
A
relação do casal não era baseada no amor, e sim na possibilidade de ter filhos.
Simão acreditava que Evarista seria
uma boa parceira, para o intuito dele, no entanto, nunca chegaram a ter filhos.
Mais
tarde, ele resolve criar um manicômio na cidade, o qual recebeu o nome de “Casa
Verde”.
Empenhado
em seus estudos voltados para a psiquiatria, Simão começa a ter
muitos internos, que viviam em Itaguaí e arredores.
Isso,
porque o médico começou a enxergar loucura em muitas pessoas.
Costa, um homem que perdeu toda sua herança,
foi considerado louco pelo alienista.
Essas
atitudes começam a deixar os cidadãos da cidade apreensivos, o que gera um
movimento, liderado pelo barbeiro Porfírio.
O
movimento, que ficou conhecido como “Revolta do Canjica”, foi batizado assim porque Canjica era o apelido do barbeiro.
Diante
dos protestos na frente da sua casa, o doutor recebe a massa com indiferença e
retorna aos seus afazeres, no entanto, Porfírio tinha o intuito
de seguir carreira política e, ao chamar Simão para uma reunião,
acaba se aliando a ele.
E
as internações continuam na cidade.
Devido
às internações dos 50 membros que estavam apoiando a revolução de Porfírio,
outro barbeiro da cidade, João Pina, consegue auxiliar na
deposição de Canjica.
Ainda
que todos tentassem lutar para acabar com a “Casa Verde”, o local
se fortalecia, com o passar do tempo.
Até
mesmo Dona Evarista, mulher do Alienista, não
escapou de ser internada, apenas porque tinha tido uma noite mal dormida.
Quando
75% da cidade estava internada, quando Simão resolve
voltar atrás e liberar todos os internos, certo de que sua teoria estava
errada.
Assim,
o Alienista recomeça a internar outras pessoas, agora seguindo
outra teoria.
O
primeiro interno é Galvão, o vereador da cidade.
Tempos
depois, conclui que a sua teoria está errada novamente, por isso libera todos
os pacientes internados na “Casa Verde” e conclui que o louco era
ele.
Então, resolve se trancar na “Casa Verde”, onde morreu, dezessete meses depois.
O livro, mais uma das muitas obras-primas escritas
por Machado de Assis, não mantém seu foco apenas sobre a maneira como o cientificismo foi absorvido na sociedade brasileira; em particular, a
carioca. O original não é um romance, e sim um conto, bem extenso, que também
fala sobre a disputa de poder entre o discurso científico, representado pelo Dr.
Simão Bacamarte, e o discurso religioso, personificado no Padre
Lopes. O confronto entre ciência e religião estando sempre na ordem do
dia. O texto machadiano doi publicado em 1882, entretanto a temática
central ainda é bastante pertinente.
Transpor uma obra de arte, de uma linguagem para outra,
não é para quem quer; é para quem pode. E, se a proposta é adaptar um livro, pertença
ele a este ou aquele gênero literário, para a linguagem teatral, da narrativa
para a dramaturgia, creio que a tarefa não é das mais fáceis. Se, ainda mais, essa
peça de TEATRO for um musical, o talento de quem será o responsável por
tal adaptação, muito contemporânea, é mais cobrado, o que não é problema para ALEXANDRE
AMORIM, que fez o mesmo excelente trabalho, em montagens anteriores do “Projeto”,
sempre com o melhor resultado possível. Depois de ter assistido a “O
ALIENISTA”, percebo ALEXANDRE como uma espécie de “gênio”,
nessa atividade. Os diálogos são riquíssimos e a cronologia dos aconteciomentos,
devidamente encaixados na obra, facilitam muito, para o espectador, o
entedimento da peça. Outro ponto bastante positivo, no texto adaptado, é a
conservação do tom humorístico e extremamente irônico, sarcástico, marca registrada da
genialidade do “Bruxo do Cosme Velho”, assim como a presença de
forte crítica social e análise psicológica dos personagens, com destaque para
comportamentos, atitudes, interesses, relações sociais e o egoísmo humano. ALEXANDRE
manteve-se fiel à visão do contista, quando apresenta a loucura e a sanidade separadas
por uma linha tênue. O mesmo talento empregado na adaptação do texto, demonstrou ALEXANDRE
AMORIM, ao escrever as letras das canções, que ajudam a contar a história, como deve sempre acontecer em musicais. Essaletras receberam o tratamento
musical de GABRIEL GRAVINA, GUILHERME ASHTON, GUILHERME DE MENEZES e
MATHEUS BOECHAT. Ainda com relação à parte musical, GUILHERME
BORGES assina os arranjos e a direção musical, impecáveis, por sinal. Tanto
as letras quanto as melodias são inéditas.
Alexandre Amorim.
A obra tem um narrador onisciente, em terceira pessoa, função que, de forma inteligente e criativa, ALEXANDRE transferiu para o autor, Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS e o médico e cientista Sigmund FREUD, num encontro inusitado, que só a magia do TEATRO permite se tornar concreto.
RUBINHO é um diretor que se prende aos mínimos
detalhes e exige muito de seus dirigidos, de forma obstinada, visando à perfeição,
“comme il faut”. É uma montagem acadêmica, sim, contudo a relação
diretor / elenco se dá num nível muito profissional. A cada nova montagem,
cresce, ainda mais, a minha admiração por seu trabalho de direção.
Lutando contra o terrível “fantasma” da verba
curta – falta de dinheiro, no popular -, o diretor consegue arrebanhar
profissionais gabaritados, seus colegas professores da UNIRIO, para
auxiliá-lo na difícil tarefa de levantar um espetáculo musical, como JANE
CELESTE e MARIANA BALTAR, na assessoria fonoaudiológica, e DORIANA
MENDES, na preparação vocal.
Ainda por conta dos parcos recursos financeiros, a cenografia e os figurinos, que, na produção de um musical, demandam um custo elevado, sempre se destacam pela criatividade e menos pela suntuosidade, se bem que, os trajes dos personagens, aqui, além de bonitos e ajustados à época, são muito criativos e fazem uma bela figura.
ADRIANA MILHOMEM é
a responsável pelo desenho de luz, que também aprovo, não como técnico, mas
como apreciador do belo.
O elenco é formado por 38 atores
(Vide FICHA TÉCNICA.), todos com largos recursos nas esferas da
interpretação, do canto e da dança. A propósito, fiquei muitíssimo
impressionado com as coreografias, criadas por SHANTALA CAVALCANTI e
muito bem executadas pelo homogêneo grupo Há, como sempre – e eu adoro – um número
de sapateado, cuja coreografia é creditada a ALEXEI HENRIQUES.
Alguns atores fazem sempre os mesmos papéis,
porém há outros que são defendidos por duas ou mais pessoas, em sessões
distintas. O todo me agradou sobremaneira, mas me permito destacar alguns
nomes, na sessão a que estive presente: LUCAS RESENDE (Narrador –
Machado de Assis), MIGUEL CONTI (Dr. Sigmund Freud
– uma das melhores coisas que vi, em TEATRO, nos últimos tempos. Quanto talento,
para apenas 21 ou 22 anos de vida!), TIAGO BASTIONE (Dr. Simão
Bacamarte), LENITA MAGALHÃES (Dona Evarista) e RUTH
CIRIBELLI (Madre Lurdes – Como canta esta moça!).
Não pensaria duas vezes, para dizer que o quinteto já está pronto para pisar os
palcos, como profissionais, e tenho plena certeza de que os aplaudirei muitas
vezes, ao lado de nomes consagrados do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Os
demais também mostram que estão no caminho certo, e, aqui, incluo meu
sobrinho-neto, JOÃO BARTHOLO.
Quem é só espectador, muitas vezes, não
tem noção da grande quantidade de pessoas envolvidas num projeto teatral, como no
exemplo da FICHA TÉCNICA abaixo:
Texto Original: Machado de
Assis
Adaptação e Letras: Alexandre Amorim
Direção: Rubens Lima Jr.
ELENCO: Lucas Resende (Narrador - Machado deAssis), Miguel Conti (Sigmund Freud), Tiago Bastione (Dr. Simão Bacamarte), Jude Fontenelle (Dona Evarista/Ensemble), Lenita Magalhães (Donba Evarista/Ensemble), Savico (Crispim Soares), Lohrana Canedo (Cesária/Ensemble), Yasmin Zandonade (Cesária/Ensemble), Carol Coimbra (Madre Lurdes/Ensemble),
Ruth Ciribelli (Madre Lurdes/Ensemble), Daniel de Mello (Porfírio), Luís G. Pirangi (Vereador Freitas), João Bartholo (João Pina), Cadu Chagas (Costa), Beatriz Casarotto (Prima do Costa/Ensemble), Larissa Jansen (Prima do Costa/Ensemble), Luca Santi (Mateus), Tomás Santa Rosa (Martim Brito), André Lopes (Presidente da Câmara), Gabriel Oliveira (Capitão da Guarda/Ensemble), Lorenzo (Capitão da Guarda/Ensemble), Andressa Toledo (Ensemble), Artemio Pereira (Ensemble), Georgius Gabriel (Ensemble), Isabela Gopin (Ensemble), Julia Vasconcelos (Ensemble), Kyara Zenga (Ensemble), Matheus França (Ensemble), Samantha Joshua (Ensemble), Shantala Cavalcanti (Ensemble) e
Thaisa Muniz (Ensemble)
Músicas: Gabriel Gravina, Guilherme Ashton, Guilherme
de Menezes e Matheus Boechat
Direção Musical: Guilherme Borges
Coreografias:Shantala Cavalcanti
Coreografias de Sapateado:Alexei Henriques
Preparação Vocal:Doriana Mendes
Assessoria Fonoaudiológica:Jane Celeste e Mariana Baltar
Cenografia:Gabriel Oliveira
Figurinos: Clara Vasconcellos, Yan Guilherme, Daniel Furtado e Julia Couri
Orientação de Indumentária: Carla Costa
"Design" de Luz: Adriana Milhomem
Caracterização e Visagismo: Everton Cherpinsk
Orientação de Caracterização e Visagismo: Mona Magalhães
Adereços: Chris Eksterman
Direção de Produção: Luís G. Pirangi
Assistente de Direção:Claudio Ribeiro
Assistente de Direção Residente: Carol Pita e Tom Karabachian
Assistente de Direção Musical: Igor Zupo
Assistentes de Preparação Vocal: Carol Vanni, Clara Lira e Alessandra Quintes
Músicos da Banda: Guilherme Borges, Clara Lira, Igor Zupo e Lívia Félix
Arquiteta: Ana Beatriz Lima
Assistentes de Cenografia: Eduarda Brandão e Mariana Faria
Assistentes de Figurinos: Rayane Flaviano, Betina de Bem e Bruna Lima
Assistentes de Caracterização: Beatriz Charles e Beatriz Blois
Assistentes de Produção: Julia Afonso, Lorenzo, Maria Luiza Mattos, Matheus Max
e Savico
Assessoria de Imprensa e Social Media: Cadu Chagas, Larissa Jansen, Lorenzo, Maria
Luiza Mattos, Savico e Tomás Santa Rosa
Estagiária: Bruna Meireles
Operador de Luz: Marcella Amorelli e Lara Aline Pereira
Técnico de Luz:Anderson Ratto e Alexandre Capett
Produção Musical: Tiago Batistone
Técnico de Som:Diogo Sarcinelli (Estúdio Radames Gnattali) e Lívia Félix
(Palcão UNIRIO)
Operadora de Som: Lívia Félix
"Designer" Gráfico: Cadu Chagas
Base do "Design": Vivian de Luna
Fotografias: Carolina Liaño e Maria Luiza Mattos
Cenotécnico UNIRIO: Alexandre Guimarães e Derô Martíns
Costureiras UNIRIO: Katia Salles e Regina Olivia
Camareiro UNIRIO: Jai Gonçalves
Temporada:
De 07 a 30 de abril de 2023.
Local:
Palcão da UNIRIO (Sala Pascoal Carlos Magno).
Endereço:
Avenida Pasteur, 436 – Urca – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Às 4ªs, 5ªs e 6ªs feiras, às 20h30min; aos sábados, às 20h; aos domingos, às 19h30min.
Valor dos
Ingressos: ENTRADA FRANCA, com
distribuição de ingressos uma hora antes das sessões, por ordem de chegada.
Duração:
140 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: COMÉDIA
MUSICAL.
Acompanhei, pelos contatos com o JOÃO BARTHOLO, todo o processo de
criação, que foi iniciado em 2019, com audições, começou a ser ensaiado
lá, entretanto ficou pelo meio do caminho, por causa da epidemia de COVID-19.
Vi o quanto de garra, sacrifício, e amor à ARTE, mormente o TEATRO,
marcou este processo de montagem, que merece os meus mais efusivos aplausos e que eu RECOMENDO MUITO.
FOTOS: CAROLINA LIAÑO
E
MARIA LUIZA MATTOS
GALERIA PARTICULAR:
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS
TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO
BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA
E CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS,
SEMPRE MAIS!!!
COMPARTILHEM
ESTE TEXTO,
PARA QUE,
JUNTOS,
POSSAMOS
DIVULGAR
O QUE HÁ DE
MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário