quarta-feira, 19 de abril de 2023


“CÃO VADIO”

ou

(UM CABARÉ

COMO

EU GOSTO.)

 

(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos e as análises.)


 

       Uma das melhores companhias de TEATRO do Brasil – digo isso sem a menor dúvida – a “TRUPE AVE LOLA”, de Curitiba, onde está instalada, no “Ave Lola Espaço de Criação”, vem, outra vez, ao Rio de Janeiro, trazendo mais uma de suas lindas e emocionantes montagens. Desta vez, em cartaz no SESC Copacabana (Mezanino). O espetáculo é “CÃO VADIO”, numa viagem ao mundo do realismo fantástico, através da linguagem do cabaré, apresentando personagens que vivem à margem da sociedade.



        Bastante divertida, mas também lírica e poética, realista e crítica, “CÃO VADIO” é uma das seis obras da premiada “TRUPE”, uma companhia estável, há 13 anos em atividade. As outras produções são O Malefício da Mariposa”, “Tchekhov”, “Nuon” (Considero uma OBRA-PRIMA.), “Manaós - Uma Saga de Luz e Sombra” e “Vira-Lata”. O espetáculo, que, de saída, já recomendo, com o maior empenho, a quem sabe valorizar um TEATRO de excelente qualidade, conta com a dramaturgia e direção de ANA ROSA GENARI TEZZA, trazendo, no elenco, oito magníficos atores: AILÉN ROBERTO, CESAR MATHEUS, EDUARDO GIACOMINI, EVANDRO SANTIAGO, HELENA TEZZA, MARCELO RODRIGUES, OLGA NENEVÊ e REGINA BASTOS, além dos exímios e criativos músicos ARTHUR JAIME e BRENO MONTE SERRAT, os quais acompanham os atores nas canções compostas pela dupla, também responsáveis pela direção musical da peça.




(Ensaio.)


 

SINOPSE:

A ação se passa em um território chamado CÃO VADIO, ocupado por personagens que se encontram na borda do mundo, um lugar para onde alguns fogem, outros foram levados à força ou carregados pelo vento do deserto.

Ao longo da peça, estes personagens se encontram e interagem, num ambiente desolado e surreal, expondo as complexidades e desafios que enfrentam em suas vidas.

 



 

         Quando, recentemente, estive em Curitiba, participando do “31º Festival de Curitiba”, tive a grata satisfação de concretizar um grande sonho, acalentado fazia tempo, de conhecer o “Ave Lola Espaço de Criação”, localizado no Centro da capital paranaense, onde fui acolhido com o maior carinho e atenção. Lá cheguei, no fim de uma manhã de domingo, para conhecer o espaço físico, o trabalho desenvolvido e assistir ao primeiro espetáculo “infantil”, da “TRUPE”, “Vira-Lata”, apresentado no Rio, ao apagar das luzes de 2022, ao qual, infelizmente, não consegui assistir, por estar viajando, e sobre o qual escreverei muito em breve.


(Foto: Maringas Maciel.)


        O conteúdo da SINOPSE supra, parte do “release” que me foi enviado por STELLA STEPHANY (JSPontes Comunicação)pode não revelar muita coisa, entretanto tenho a impressão de que ela tenha sido escrita, exatamente, com o objetivo de motivar quem a lê a assistir à peça, para ver de que se trata, como o que nela consta é traduzido, teatralmente, num palco. E valhe muito a pena conferir”.



        Tudo o que é feito pelo “AVE LOLA” é fruto de muito trabalho e dedicação, a fim de que que os resultados sejam os melhores possíveis, como este. Para criar a dramaturgia da peça, por exemplo, ANA ROSA partiu de uma pesquisa sobre o realismo fantástico presente na literatura latino-americana, bebendo nas seguintes fontes: Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Mario Vargas Llosa, porém não desprezando outros dois grandes mestres, que “não fazem parte da mesma bolha em que estão inseridos os três anteriores”, Shakespeare e Tchekov. Tudo isso, junto e misturado, só poderia desaguar num texto lindo e muito bem estruturado, do ponto de vista dramatúrgico, constituindo-se numa obra que rotulo como universal e atemporal, em função de sua temática, que mescla problemas inveterados, que atravessaram os tempos e estão, até hoje, como algo que nos incomoda e contra os quais precisamos lutar, tais como questões migratórias e de fronteiras; intolerância, de diversos tipos; violência e dificuldade de comunicação, gerada pelas diferentes realidades sociais; e personagens que vivem às margens. “Uma reflexão sobre a natureza humana e suas condições, em um mundo em constante mudança e conflito.”. Até que ponto essa “mudança” nos atinge, assim como seus desdobramentos e agravos podem interferir na vida das pessoas e na perpetuação da raça humana. Isso dá margem a ótimas discussões, pós-sessão, quando nos propomos a refletir sobre o que vimos encenado. 




(Foto: Nanda Rovere.)


(Foto: Nanda Rovere.)

 

        ANA ROSA também chama a si a responsabilidade da direção do espetáculo, magnífica, diga-se de passagem, de muita criatividade e apelo para a plasticidade, sabendo a diretora explorar o tanto de talento de seus atores. ANA optou por escrever seu texto para ser representado obedecendo à estética de um cabaré, o que sempre me fascinou, como plateia. Numa classificação ortodoxa, “cabaré” não seria bem um gênero teatral, como consta na FICHA TÉCNICA, mas pode conter, em si, o TEATRO. É, mais, uma forma de entretenimento, com música (instrumental ou cantada)dança, recitação ou "drama", o TEATRO, nos seus tradicionais “escaninhos” extremos, “tragédia” e “comédia”, com espaço para o humor e números circenses: uma “salada artística”. Achei excelente a utilização de “bonecos”, nesta encenação, item sobre o qual falarei, com mais detalhes, adiante.




(Foto: Nanda Rovere.)


        A cenografia e os muitos e interessantíssimos adereços de cenário foram criados por EDUARDO GIACOMINI, que também se apresenta como um dos atores da “TRUPE”, com um ótimo rendimento em cena. com destaque para uma grande escada que tem função múltipla, transformando-se em portais, torres, abrigos, esconderijos e outros usos, numa prova da grande criatividade da diretora. GIACOMINI também assina os, não menos interessantes, figurinos da peça. 




(Fotos: Gilberto Bartholo.)


          GIACOMINI também assina os irreverente e mais do que criativos figurinos, atribuindo-lhes um ótimo toque de humor. Todos os atorees se apresentam, na maior parte da encenação, com as pernas de fora, contrastando com o que os veste da cintura para cima.


(Foto: Nanda Rovere.)


        Para provar que quem é competente se cerca de outros iguais, ANA ROSA contou com o lindo trabalho de iluminação de um dos mais importantes profissionais no ramo, o também paranaense BETO BRUEL. BETO e RODRIGO ZIOLKOWSKI nos brindam com um desenho de luz que "conversa", o tempo todo, com os outros elementos de criação, a cenografia e as indumentárias.   


(Ensaio.)


     Voltando ao assunto “bonecos”, é importantíssimo, nesta encenação, o trabalho de EDUARDO SANTOS, que os criou. São peças apresentando detalhes anatômicos que as tornam verdadeiras “obras de arte”, a meu juízo. E, aproveitando o ensejo, passo a elogiar o trabalho de manipulação, na pessoa de EVANDRO SANTIAGO, que domina, como poucos, essa técnica, a qual considero, ainda que como leigo, bastante difícil de ser executada.


(Ensaio.)


        A parte musical da peça é de total responsabilidade de duas “joias” que o “AVE LOLA” guarda em seu “acervo”: ARTHUR JAIME e BRENO MONTE SERRAT. São dois jovens multi-instrumentistas, que acompanham, ao vivo, o elenco, nas canções originais, compostas por eles mesmos, estas muito agradáveis de se ouvir, além de outras, bem conhecidas, do universo latino-americano. À dupla é creditada a direção musical, que abarca todos os arranjos, musicais e vocais. Detalhe: praticamente, do início ao fim do espetáculo, a música está presente.



      Pegando carona no assunto “música”, acho justo citar o excelente trabalho de preparação vocal, desenvolvido por BABAYA MORAIS e PAOLA PAGNOSI, bem como o de preparação corporal, que muito exige do elenco, a cargo de ANE ADADE.



        Quanto ao elenco deste “CÃO VADIO”, já conhecia, e sempre admirei, o trabalho de CESAR MATHEUS, EVANDRO SANTIAGO, EDUARDO GIACOMINI e HELENA TEZZA, os quatro se superando em suas atuações. Da mesma forma, passo a admirar e aplaudir também o talento de AILÉN ROBERTO, MARCELO RODRIGUES, OLGA NENEVÊ e REGINA BASTOS. A direção reserva a todos momentos de demonstração de um talento individual, e todos se amalgamam, numa interpretação completamente nivelada por cima. Merece destaque o trabalho corporal de todo o elenco.




(Foto: Nanda Rovere.)

 

 

FICHA TÉCNICA:


Dramaturgia: Ana Rosa Genari Tezza

Direção: Ana Rosa Genari Tezza

Direção Musical: Arthur Jaime e Breno Monte Serrat

 

Elenco (por ordem alfabética): Ailén Roberto, Cesar Matheus, Eduardo Giacomini, Evandro Santiago, Helena Tezza, Marcelo Rodrigues, Olga Nenevê e Regina Bastos

 

Músicos: Arthur Jaime e Breno Monte Serrat

 

Preparação Vocal: Babaya Morais e Paola Pagnosi

Preparação Corporal: Ane Adade

Iluminação: Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski

Figurino: Eduardo Giacomini

Assistente de Figurino: Helena Tezza

Cenografia e Adereços de Cenário: Eduardo Giacomini

Confecção de Bonecos e Adereços: Eduardo Santos

Cenotécnicos: Fabiano Hoffmann, Anderson Purcotes Quinsler e Rene Augusto Barbosa

Direção de Produção: Dara van Doorn e Elza Forte da Silva Carneiro

Produtor: Carlos Becker

Produção: Entre Mundos Produções Artísticas

Produção Executiva: Laura Tezza

Comunicação: Larissa de Lima

Assessoria de Imprensa local: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

Fotos Oficiais: Rafaela Scremin 

Realização: Sesc Rio e Ave Lola e as Meninas Produções Artísticas

 

 



 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 06 a 30 de abril de 2023.

Local: Sesc Copacabana (Mezanino).

Endereço: Rua Domingos Ferreira, Nº 160, Copacabana – Rio de Janeiro.  

Telefone: (21)2547-0156.

Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, sempre às 20h30min.

Valor dos Ingressos: R$7,50 (associado do Sesc), R$15,00 (meia entrada) e R$30,00 (inteira).

Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 9h às 20h; aos sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h.

Classificação Indicativa: 16 anos.

Duração: 1 hora e 45 minutos.

Capacidade: 61 espectadores.

Gênero: Cabaré.

 

 


(Foto: Nanda Rovere.)


 


        "'CÃO VADIO' é uma encenação repleta de humor, poesia e contundência".


(Foto: Nanda Rovere.)


        Apenas como curiosidade, acho muito interessante o processo de cobrança pelos ingressos para um espetáculo da “TRUPE”, no “Ave Lola Espaço de Criação”: não é estipulado um valor para se assistir a qualquer espetáculo, naquele espaço; é praticada, isto sim, a modalidade “pague quanto vale”.


(Ensaio.)


        É uma pena que a temporada seja tão curta e eu não tenha a oportunidade de rever eta montagem.



(Foto: Nanda Rovere.)

 

 

FOTOS OFICIAIS:

 RAFAELA SCREMIN



GALERIA PARTICULAR:








 


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Foto: Maringas Maciel















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