“CÃO VADIO”
ou
(UM CABARÉ
COMO
EU GOSTO.)
(NOTA: Em função da grande quantidade de
críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL
DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum
tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de
mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o
mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”,
até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos e as análises.)
Uma das melhores
companhias de TEATRO do Brasil – digo
isso sem a menor dúvida – a “TRUPE AVE LOLA”, de Curitiba, onde está
instalada, no “Ave Lola Espaço de Criação”, vem, outra vez, ao
Rio de Janeiro, trazendo mais uma de suas lindas e emocionantes montagens.
Desta vez, em cartaz no SESC Copacabana (Mezanino). O espetáculo
é “CÃO VADIO”, numa viagem ao mundo do realismo fantástico, através da linguagem
do cabaré, apresentando personagens que vivem à margem da sociedade.
Bastante divertida, mas
também lírica e poética, realista e crítica, “CÃO VADIO” é uma das seis
obras da premiada “TRUPE”, uma companhia estável,
há 13 anos em atividade. As outras produções são “O
Malefício da Mariposa”, “Tchekhov”, “Nuon”
(Considero
uma OBRA-PRIMA.), “Manaós - Uma Saga de Luz e Sombra” e “Vira-Lata”. O espetáculo, que, de saída, já
recomendo, com o maior empenho, a quem sabe valorizar um TEATRO de excelente qualidade, conta
com a dramaturgia e direção de ANA ROSA GENARI TEZZA, trazendo, no
elenco, oito magníficos atores: AILÉN
ROBERTO, CESAR MATHEUS,
EDUARDO GIACOMINI, EVANDRO SANTIAGO, HELENA TEZZA, MARCELO
RODRIGUES, OLGA NENEVÊ e REGINA BASTOS, além dos exímios
e criativos músicos ARTHUR JAIME e BRENO MONTE SERRAT, os
quais acompanham os atores nas canções compostas pela dupla, também responsáveis pela direção musical da peça.
(Ensaio.)
SINOPSE:
A ação se passa em um território chamado CÃO VADIO,
ocupado por personagens que se encontram na borda do mundo, um lugar para onde
alguns fogem, outros foram levados à força ou carregados pelo vento do deserto.
Ao longo da peça, estes personagens se encontram e interagem, num ambiente desolado e surreal, expondo as complexidades e desafios que enfrentam em suas vidas.
Quando, recentemente, estive em Curitiba, participando do “31º Festival de Curitiba”, tive a grata satisfação de concretizar um grande sonho, acalentado fazia tempo, de conhecer o “Ave Lola Espaço de Criação”, localizado no Centro da capital paranaense, onde fui acolhido com o maior carinho e atenção. Lá cheguei, no fim de uma manhã de domingo, para conhecer o espaço físico, o trabalho desenvolvido e assistir ao primeiro espetáculo “infantil”, da “TRUPE”, “Vira-Lata”, apresentado no Rio, ao apagar das luzes de 2022, ao qual, infelizmente, não consegui assistir, por estar viajando, e sobre o qual escreverei muito em breve.
(Foto: Maringas Maciel.)
O conteúdo da SINOPSE
supra, parte do “release” que me foi enviado por STELLA
STEPHANY (JSPontes Comunicação), pode não revelar muita coisa,
entretanto tenho a impressão de que ela tenha sido escrita, exatamente, com o objetivo
de motivar quem a lê a assistir à peça, para ver de que se trata, como o que
nela consta é traduzido, teatralmente, num palco. E valhe muito a pena conferir”.
Tudo o que é feito pelo “AVE LOLA”
é fruto de muito trabalho e dedicação, a fim de que que os resultados sejam os
melhores possíveis, como este. Para criar a dramaturgia da peça, por exemplo, ANA
ROSA partiu de uma pesquisa sobre o realismo
fantástico presente na literatura latino-americana, bebendo nas seguintes
fontes: Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e
Mario Vargas Llosa, porém não desprezando outros dois grandes
mestres, que “não fazem parte da mesma bolha em que estão inseridos os três
anteriores”, Shakespeare e Tchekov. Tudo
isso, junto e misturado, só poderia desaguar num texto lindo e muito bem
estruturado, do ponto de vista dramatúrgico, constituindo-se numa obra que
rotulo como universal e atemporal, em função de sua temática, que
mescla problemas inveterados, que atravessaram os tempos e estão, até hoje,
como algo que nos incomoda e contra os quais precisamos lutar, tais como questões
migratórias e de fronteiras; intolerância, de diversos tipos; violência
e dificuldade de comunicação, gerada pelas diferentes realidades sociais; e
personagens que vivem às margens. “Uma reflexão sobre a natureza
humana e suas condições, em um mundo em constante mudança e conflito.”.
Até que ponto essa “mudança” nos atinge, assim como seus
desdobramentos e agravos podem interferir na vida das pessoas e na perpetuação
da raça humana. Isso dá margem a ótimas discussões, pós-sessão, quando nos propomos
a refletir sobre o que vimos encenado.
(Foto: Nanda Rovere.)
(Foto: Nanda Rovere.)
ANA
ROSA também chama a si a responsabilidade da direção do espetáculo,
magnífica, diga-se de passagem, de muita criatividade e apelo para a plasticidade,
sabendo a diretora explorar o tanto de talento de seus atores. ANA optou
por escrever seu texto para ser representado obedecendo à estética de um cabaré,
o que sempre me fascinou, como plateia. Numa classificação ortodoxa, “cabaré”
não seria bem um gênero teatral, como consta na FICHA TÉCNICA,
mas pode conter, em si, o TEATRO. É, mais, uma forma de entretenimento, com música (instrumental ou cantada), dança,
recitação ou "drama", o TEATRO,
nos seus tradicionais “escaninhos” extremos, “tragédia”
e “comédia”, com espaço para o humor e números circenses: uma “salada
artística”. Achei excelente a utilização de “bonecos”,
nesta encenação, item sobre o qual falarei, com mais detalhes, adiante.
(Foto: Nanda Rovere.)
A cenografia e os muitos e interessantíssimos adereços de cenário
foram criados por EDUARDO GIACOMINI, que também se apresenta
como um dos atores da “TRUPE”, com um ótimo rendimento em cena. com
destaque para uma grande escada que tem função múltipla,
transformando-se em portais, torres, abrigos, esconderijos e outros usos, numa
prova da grande criatividade da diretora. GIACOMINI também assina os,
não menos interessantes, figurinos da peça.
(Fotos: Gilberto Bartholo.)
GIACOMINI também assina os irreverente e mais do que criativos figurinos, atribuindo-lhes um ótimo toque de humor. Todos os atorees se apresentam, na maior parte da encenação, com as pernas de fora, contrastando com o que os veste da cintura para cima.
(Foto: Nanda Rovere.)
Para provar que quem é competente se cerca de outros iguais, ANA ROSA contou com o lindo trabalho de iluminação de um dos mais importantes profissionais no ramo, o também paranaense BETO BRUEL. BETO e RODRIGO ZIOLKOWSKI nos brindam com um desenho de luz que "conversa", o tempo todo, com os outros elementos de criação, a cenografia e as indumentárias.
(Ensaio.)
Voltando ao assunto “bonecos”, é importantíssimo, nesta encenação, o trabalho de EDUARDO SANTOS, que os criou. São peças apresentando detalhes anatômicos que as tornam verdadeiras “obras de arte”, a meu juízo. E, aproveitando o ensejo, passo a elogiar o trabalho de manipulação, na pessoa de EVANDRO SANTIAGO, que domina, como poucos, essa técnica, a qual considero, ainda que como leigo, bastante difícil de ser executada.
(Ensaio.)
A parte musical da peça é de total responsabilidade de duas “joias” que o “AVE LOLA” guarda em seu “acervo”: ARTHUR JAIME e BRENO MONTE SERRAT. São dois jovens multi-instrumentistas, que acompanham, ao vivo, o elenco, nas canções originais, compostas por eles mesmos, estas muito agradáveis de se ouvir, além de outras, bem conhecidas, do universo latino-americano. À dupla é creditada a direção musical, que abarca todos os arranjos, musicais e vocais. Detalhe: praticamente, do início ao fim do espetáculo, a música está presente.
Pegando carona no assunto “música”, acho justo
citar o excelente trabalho de preparação vocal, desenvolvido por BABAYA MORAIS e PAOLA PAGNOSI, bem como o de preparação corporal, que
muito exige do elenco, a cargo de ANE ADADE.
Quanto
ao elenco deste “CÃO VADIO”, já conhecia, e sempre admirei, o trabalho
de CESAR MATHEUS, EVANDRO SANTIAGO, EDUARDO GIACOMINI e HELENA
TEZZA, os quatro se superando em suas atuações. Da mesma forma, passo a
admirar e aplaudir também o talento de AILÉN ROBERTO, MARCELO RODRIGUES, OLGA
NENEVÊ e REGINA BASTOS. A direção reserva a todos momentos de
demonstração de um talento individual, e todos se amalgamam, numa interpretação
completamente nivelada por cima. Merece destaque o trabalho corporal de
todo o elenco.
(Foto: Nanda Rovere.)
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Ana Rosa Genari Tezza
Direção: Ana Rosa Genari Tezza
Direção Musical: Arthur Jaime e Breno Monte Serrat
Elenco (por ordem alfabética): Ailén Roberto, Cesar Matheus,
Eduardo Giacomini, Evandro Santiago, Helena Tezza, Marcelo Rodrigues, Olga
Nenevê e Regina Bastos
Músicos: Arthur Jaime e Breno Monte Serrat
Preparação Vocal: Babaya Morais e Paola Pagnosi
Preparação Corporal: Ane Adade
Iluminação: Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski
Figurino: Eduardo Giacomini
Assistente de Figurino: Helena Tezza
Cenografia e Adereços de Cenário: Eduardo Giacomini
Confecção de Bonecos e Adereços: Eduardo Santos
Cenotécnicos: Fabiano Hoffmann, Anderson Purcotes Quinsler e Rene
Augusto Barbosa
Direção de Produção: Dara van Doorn e Elza Forte da Silva Carneiro
Produtor: Carlos Becker
Produção: Entre Mundos Produções Artísticas
Produção Executiva: Laura Tezza
Comunicação: Larissa de Lima
Assessoria de Imprensa local: JSPontes Comunicação - João Pontes e
Stella Stephany
Fotos Oficiais: Rafaela Scremin
Realização: Sesc Rio e Ave Lola e as Meninas Produções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada: De 06 a 30 de abril de 2023.
Local: Sesc Copacabana (Mezanino).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, Nº 160, Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2547-0156.
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, sempre às 20h30min.
Valor dos Ingressos: R$7,50 (associado do Sesc), R$15,00 (meia entrada)
e R$30,00 (inteira).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 9h às 20h;
aos sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h.
Classificação Indicativa: 16 anos.
Duração: 1 hora e 45 minutos.
Capacidade: 61 espectadores.
Gênero: Cabaré.
(Foto: Nanda Rovere.)
"'CÃO
VADIO' é uma encenação repleta de humor, poesia e contundência".
(Foto: Nanda Rovere.)
Apenas como curiosidade, acho
muito interessante o processo de cobrança pelos ingressos para um espetáculo da “TRUPE”,
no “Ave Lola Espaço de Criação”: não é estipulado um valor para se assistir a
qualquer espetáculo, naquele espaço; é praticada, isto sim, a modalidade “pague quanto vale”.
(Ensaio.)
É uma pena que a temporada seja tão curta e eu não tenha a
oportunidade de rever eta montagem.
(Foto: Nanda Rovere.)
FOTOS OFICIAIS:
RAFAELA SCREMIN
GALERIA PARTICULAR:
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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