quarta-feira, 19 de abril de 2023

 

“31º FESTIVAL

DE CURITIBA”

“SQUARE / PRAÇA”

ou

(A PRAÇA É MEU PAÍS.)

ou

(MEXE COM OS CINCO SENTIDOS, MEXE COM O CORAÇÃO.)


 

(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.

 

 

        “A Praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião.” (Caetano Veloso). Da mesma forma, a Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba, pertence aos curitibanos. E por que não, também, “ao mundo”?



        Durante o “31º FESTIVAL DE CURITIBA”, aquele lindo espaço público, extremamente bem cuidado, pela Prefeitura local, com o suntuoso prédio da Universidade Federal do Paraná, num dos seus extremos, e, no outro, um dos maiores motivos de orgulho daquela cidade, o Teatro Guaíra, carinhosamente chamado de “Guairão”, com 2173 lugares, foi palco de alguns trabalhos que faziam parte do “FESTIVAL”. No perímetro da Praça, alguns restaurantes, lojas comerciais, o Hotel Mabu, que serviu de sede para o “FESTIVAL”, a sede dos Correios e Telégrafos e alguns prédios comerciais.



Aquele logradouro público recebe, diariamente, um grande fluxo de transeuntes, muitos dos quais passam longo tempo sentados nos bancos da Praça, onde podem sentir o grande e delicioso “astral” que aquele ambiente oferece. Também, quem desejar, pode prestar atenção em outras pessoas à sua volta e, até mesmo, fazer um exercício de imaginação, sobre quem são elas, o que fazem ali e chegar a outras ilações. Pelas quatro ruas que dão acesso a ela (XV de Novembro, a mais importante, Alfredo Bufren, João Negrão e Conselheiro Laurindo), muitos automóveis e algumas linhas de transporte público trafegam dia e noite.



  Esse aprazível local público foi o escolhido, pela companhia holandesa “ACTEURSGROUEP WUNDERBAUM”, para apresentar sua produção, SQUARE/PRAÇA”, uma estreia nacional de um espetáculo internacional. Para isso, os membros da trupe responsável por esta “performance” contaram com a valiosíssima colaboração de dois atores brasileiros, MONIQUE VAILLÉ e PEDRO UCHÔA, funcionando como intermediários entre os holandeses, que não falam português, com os artistas e as pessoas locais que participariam do evento.




  A relação de MONIQUE e PEDRO com os artistas holandeses já vem de seis anos, quando, em 2016, conheceram o trabalho da companhia durante a realização de “Tempo Festival” ou “Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio De Janeiro”, uma mostra que consegue reunir excelentes trabalho teatrais. O espetáculo de então era “Vamos Fazer Nós Mesmos”, apresentado, posteriormente, em 2018, no “FESTIVAL DE CURITIBA”, já contando com os dois artistas brasileiros.






 Depois, VAILLÉ e UCHÔA participaram de uma oficina, ministrada pelos atores do grupo, no OI Futuro, Rio de Janeiro. Daí, os laços foram se estreitando, cada vez mais, e chegaram a criar um trabalho “on-line”, durante a pandemia de Covid-19. Muito interessados naquela ARTE holandesa, os dois, em janeiro de 2019, passaram quinze dias em Rotterdam, na Holanda, onde fica a sede da companhia, para conhecer melhor o seu trabalho e já pensar numa nova produção, para 2020, que seria exatamente “SQUARE/PRAÇA”, projeto, infelizmente, abortado, por motivos que dispensam explicações.




  Para montar a estrutura desta experiência, no “FESTIVAL”, MONIQUE e PEDRO passaram quatro dias em Curitiba, arrebanhando pessoas que se dispusessem a participar do evento, contando, ainda, com outras, que chegaram aos dois por conta de um convite público, feito pelo próprio “FESTIVAL”, para o mesmo fim. Foram muitas entrevistas, até que se fechasse o “elenco”. Também fizeram contato com músicos locais, para que formassem uma enorme banda, dividida em duas, nas apresentações, procurando abranger um bom recorte social bem diverso. 



  

 

SINOPSE:

É muito difícil criar uma SINOPSE deste espetáculo.

Não se trata, propriamente, de uma peça teatral; “SQUARE/PRAÇA” é uma “performance” que envolve artistas e pessoas do povo.

Trata-se de uma experiência sensorial e sonora ao ar livre.

A proposta procura saber o que é uma praça ideal.

Um local de passagem ou, também, paragem para muitos encontros ou desencontros do dia a dia, trocas de experiências, início de relacionamentos...?

No fundo, a experiência pode ser classificada, também, em função das reações de quem participa dela, como actante ou espectador, como uma “comédia musical” (?). 

 




  Assistindo a alguns espetáculos dentro do “FESTIVAL DE CURITIBA”, fui tomado de grande emoção, conseguindo conter as lágrimas, entretanto – estou, até agora, tentando entender o porquê –, quando participei do segundo dia de apresentação de “SQUARE/PRAÇA”, em 1º de abril próximo passado, não consegui dominar a vontade de chorar, o que fiz, até de forma meio compulsiva, entre momentos de risos e gargalhadas também. Acho que se passou, na minha cabeça, um filme de quando eu era jovem, estudante de Letras, da UFRJ. Enquanto esperava o ônibus que me levaria para casa, fiquei, muitas vezes, sentado no Passeio Público do Rio de Janeiro, no Centro Histórico da cidade, observando os animais silvestres e o movimento dos passantes e de quem ocupava outros bancos daquela praça. Era ali também que eu me questionava se deveria abandonar a faculdade e me dedicar, unicamente, ao TEATRO, como ator, ou se tentava conciliar as duas coisas, o que fiz, até onde consegui. O magistério me “ganhou”, porque garantia a minha barriga cheia e minhas contas pagas. Em compensação, eu também “ganhei”... ...frustação. Mas isso é fruto de uma divagação que vivenciei agora, enquanto pressionava as teclas do computador.




  A sensação de liberdade que se sente, numa experiência como esta, é indescritível, como “sair das nossas próprias bolhas” e dividir o espaço com outros semelhantes, de variadas idades, gêneros, crenças, posições políticas, interesses... Uma “Babel antropológica”.  




“SQUARE/PRAÇA” provoca muitas e variadas reflexões acerca do ser humano, do “de onde vim, para onde vou”, do papel de uma sociedade nos dias modernos, suas dificuldades, esperanças e idiossincrasias.




Na Santos Andrade, o Homem se confunde com a “urbis”, num “amálgama resgatador”. A Praça se transforma num “palco”, porque a vida pode ser levada como um grande TEATRO. É só querer.




 “A praça é o espaço mais democrático possível. É onde a gente se cruza, sem saber em quem votou, quem conhece o quê. A praça é de todo mundo”, ouvi da boca de MONIQUE VAILLÉ, atriz brasileira incorporada ao projeto, durante uma entrevista coletiva, programada pelo “FESTIVAL”. Afirmações semelhantes fizeram os artistas estrangeiros, durante aquele encontro.



  O “modus operandi” da experiência reúne quatro atores vindos da Holanda - JENS BOUTERRYN, “a música em forma de gente” (este, belga; os demais holandeses.), MAARTJE REMMERS, WALTER BART e MARLEEN SCHOLTEN -; uma parafernália eletrônica "de fazer inveja"; os dois atores brasileiros, MONIQUE VAILLÉ e PEDRO UCHÔA; e várias pessoas da cidade – não sei exatamente quantas, talvez de 30 a 40 -; contatadas, previamente, e que se propuseram a aceitar o desafio de “ser artista por um dia”, numa representação, embora dirigida, de si mesmas. Eram, por exemplo, uma travesti, que recordava a flor dos seus 18 anos, quando, voltando das "baladas", quase ao amanhecer, fazia um "pit stop" ali e uma mulher que se lembrava de, quando criança, pobre, ser levada até ali por uma tia e que, hoje, socióloga, salvo engano, leva a filha, pequena, até a Praça.



  O excepcional multi-instrumentista JENS BOUTERRY, em todo o decorrer da experiência, é o “maestro” de tudo, ainda que as instruções sejam passadas pela diretora, LINDA VISSER, as quais eu ouvia, em função de estar, por engano, mas graças aos DEUSES DO TEATRO, com um fone de ouvido que recebia os seus comandos: “Fulano, go (vá)! Beltrano, run (corra)! Cicrano, stop (pare)!”. Ela observava tudo do alto da escadaria do prédio da UFPR. Não sei o que os demais espectadores ouviam nos seus “headphones”. Não havia, ainda, passado a informação de que cada espectador, que chegasse cedo ao local, recebia um par de fones de ouvido, para acompanhar a experiência (Eram em número limitado), o que não quer dizer que os que não conseguissem o seu não pudessem participar da experiência, porém de outra forma, mais “limitada”, digamos, ou “menos completa”.


(Foto: Monique Vaillé)


  Também não havia escrito que BOUTERRY tinha uma grande quantidade de fios e microfones presos ao corpo, para que pudessem captar toda sorte de sons, inclusive o de suas baquetas batucando, literalmente, na Praça, ou seja, provocando sons e ritmos, “tocando” em tudo o que lhe aparecesse pela frente. Os outros atores também portavam microfones escondidos.



  É interessante acrescentar que o público que assistia a tudo, por vezes, ficava sem entender se o que estavam vendo foi ensaiado ou é “real”, se as pessoas que desfilavam diante dos seus olhos eram “da peça” ou, simplesmente, “pessoas do povo, na Praça”, incluindo um gari, que varria sempre no mesmo lugar.


(Foto: Monique Vaillé)


  Um dos mais marcantes momentos da experiência se deu quando um artista de rua, de Curitiba, muito conhecido por lá, que atende pelo apelido de Plá, chegou à Praça, em sua bicicleta ”especial”, integrando-se ao grupo e fazendo um dueto com JENS BOUTERRY.  Num determinado momento, Plá cantou o refrão de uma de suas músicas – “Mais bicicletas, menos carros”” -, no que foi seguido, e muito aplaudido, pela assistência.




  Para mim, aquele experimento não apresentou um único clímax. Era tudo tão relevante, tão verdadeiro, tão lírico, tão ingênuo, que o coração era mexido, minuto a minuto. 


(Foto: Monique Vaillé)


  E, ao final de 75 minutos, aproximadamente, tudo terminou num grande “happening”, com todos, artistas, “artistas” e público se abraçando, dançando e cantado, ao som de músicos que iam chegando, como num bloco de carnaval. O suprassumo da delícia e da felicidade! E não é que eu chorei mais ainda?!


(Foto: Monique Vaillé)



FICHA TÉCNICA: 

Companhia Wunderbaunm

 

Elenco (Criação e “Performance”): Maartje Remmers, Marleen Scholten, Monique Vaillé, Pedro Uchoa e Walter Bart

Música ao vivo: Jens Bouttery

 

Som: Jens Bakker

Produção Brasil: Monique Vaillé, Pedro Uchoa, Lud Picosque e Corpo Rastreado

Direção de Produção: Linda Visser

Realização: Acteursgrouep Wunderbaum

Correalização: Theater Rotterdam

Fotos Curitiba: Daniel Sorrentino

Consultoria de Figurino: Lotte Goos

Apoio Cultural: Fonds Podiumkunsten e Consulado dos Reinos dos Paises Baixos

Banda Convidada: Audryn Souza, Luís Fernando Diogo, Emilyn Shayane trombone, Menandro Souza, David Santos, Marcela Zanette, Silvia Rolim, Levi, Vinicius Pinheiro, Halana Aguiar, Thata, Gabriela Bruel, Denusa Castellain, Kauhana Aguiar, Dharma Jhaz, Dayane Naeser, Welington Miranda, Abdiel Freire, Victor Estevão e Ricardo Salmazo

Participantes Curitiba: Alessandra Costa, Alessandra Gabriel, Amanda Soares, Bruna Danyella, Bruno Sanctus, Chico Pennafiel, Danille Avelleda, Dekka Santos, Ellen Borgo, Erê, Gabbiel, Gil Alves, Glayson Cintra, Guima Guimarães, Luca Ramos, Luce Scettro, Rafa, Marianna Holtz, Marina Gobetti, Matheus Bertucci, Patty Sozzi, Renata Castro, Renata Ingrata, Salomão Azevedo, Selene Cristina, Telma Mello, Will Amaral

Participação Especial: Elisama Koppe e Plá

Técnica de Som Brasil:  Jo Mistinguett

Figurinista Curitiba: Daniela Carvalho

Assistente de Figurino em Curitiba: Lucí Guerra

Production Local: Vida Santos

 

 


(Foto: Monique Vaillé)


          Depois de Curitiba, a experiência será apresentada em outras ”squares”, pelo mundo, sendo que já está agendada um exibição, em setembro próximo, no conhecido “Festival de TEATRO de Rotterdam”.





     Talvez seja até difícil, para quem me lê, “visualizar” essa experiência, e eu até entendo, porque “SQUARE/PRAÇA” é algo quase indescritível, e não é para ser visto; é para ser sentido. Rendo toda a minha admiração a esses fantásticos e talentososs artistas e, considerando o Brasil como “minha casa”, digo-lhes que as portas estão abertas para outras visitas.







 

FOTOS: GILBERTO BARTHOLO

 

 

VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!! 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

















































































Nenhum comentário:

Postar um comentário