domingo, 5 de fevereiro de 2023

“GREASE, 

O MUSICAL”

ou

(UM ÓTIMO MUSICAL

“DIGESTIVO”).

ou

(SEMPRE 

“CABE MAIS UM”, QUANDO SE TRATA DE

“GREASE, 

 O MUSICAL.”.)





     Inicio esta crítica já com um esclarecimento: o adjetivo entre aspas, no seu primeiro subtítulo, pode levar algumas pessoas a decodificá-lo com um valor pejorativo e esperar que eu não tenha gostado do musical e, por conseguinte, que vá falar mal dele e desfiar um rosário de erros. NÃO É NADA DISSO!!! ABSOLUTAMENTE!!! Se não tivesse sido do meu agrado, não perderia meu precioso tempo para escrever sobre a peça. Os que estão acostumados à minha maneira de trabalhar sabem, muito bem, que, quando não gosto de alguma montagem, me recolho ao silêncio, pois, de uma forma ou de outra, acho que não tenho o direito de causar algum prejuízo a quem deu tudo, o melhor, de si, com os maiores sacrifícios e a melhor das intenções, para erguer um espetáculo teatral, o que, neste Brasil, é um ato merecedor de todos os aplauso e, cada vez mais, difícil de se conseguir realizar, ainda que bons ventos possam estar pela frente, para apagar quatro anos de “trevas”. Não me tomem como pretensioso, todavia sei que muita gente resolve assistir a um espetáculo de TEATRO depois da leitura das minhas críticas. Como tenho essa certeza? Pelos retornos que me chegam, por meio das mais diversas vias. Tomo em consideração, também, o fato de que, por eu não ter gostado de uma peça, isso não quer dizer que todos tenham a obrigação de concordar comigo e que não possam ter gostado. Não sou o dono da verdade. É uma questão de gosto, que é pessoal, e, assim como respeito a opinião de qualquer pessoa, sempre espero que respeitem a minha. Uma leitura atenta de tudo o que escreverei deixará bem claro que gostei deste espetáculo, dentro daquilo a que ele se propõe. E isso basta! Esse detalhe é muito importante, quando alguém se presta a criticar um espetáculo de TEATRO. O que essa gente, no palco, está objetivando, com a montagem que apresentam?





        Quando fui, na noite do último dia 28 de janeiro, ao Teatro Claro SP – a terceira peça naquele dia -, já sabia o que iria ver lá, ou seja, já conhecia o musical, de tê-lo visto na Broadway, numa montagem em Toronto, Canadá, em duas amadoras, no Rio de Janeiro, além do filme, baseado na peça. Quem já passou por alguma dessas experiências não pode deixar de concordar comigo: não se trata de um texto que pretenda abalar estruturas, fazer denúncias, polemizar ou provocar reflexões. É, antes de tudo, um espetáculo para alegrar e divertir. Esse é o propósito maior de “GREASE, O MUSICAL”, que, no Brasil, antes, no cinema, recebeu um adendo, ao título: “NOS TEMPOS DA BRILHANTINA”, em alusão a “brilhantina”, um cosmético apresentado na forma de pomada, utilizada para modelar o cabelo, em cuja composição, basicamente, entram parafina líquida, vaselina, essências e óleo mineral, produto muito usado, nas décadas de 40 a 60, pelos rapazes de então, para sustentar seus vastos topetes. “Brilhantinei” muito (Entreguei a idade. Momento descontração.).




      Não consigo enxergar nada muito além disso, o que, de forma alguma, faz desmerecer o musical. Penso que, quando se resolve montar um espetáculo teatral, as pessoas envolvidas no projeto têm que ter muito claro, em suas mentes, o objetivo do produto que estão oferecendo ao público. Quanto a esse aspecto, o produtor, o diretor e todos os que fazem parte da FICHA TÉCNICA tinham certeza do que desejavam, sabiam como atingir o público, e foram muito honestos e competentes no seu propósito. 



O musical foi escrito por JIM JACOBS e WARREN CASEY, em 1971. A história se passa em 1959, na fictícia “Rydell High School”, baseado nas experiências dos autores na “William Taft High School”, em Chicago, e segue a vida de dez adolescentes e sua realidade de namoros, amores, carros e "drive-ins". A montagem original da peça, na Boadway, em 1972, depois de uma outra, a de estreia, realmente, em Chicago, em 1971, quebrou todos os recordes de longevidade, tornando-se um estrondoso sucesso de público, tanto nos palcos quanto na adaptação cinematográfica. Ao encerrar sua carreira nos teatros nova-iorquinos, em 1980, depois de 3338 apresentações“GREASE, O MUSICAL” havia se tornado o musical de maior duração da história da Broadway, até então, recorde que viria a perder, três anos depois, suplantado por "A Chorus Line". Ainda teve mais dois “revivals” na “meca” dos musicais, em 1994 e 2007, uma montagem em Londres, no West End, versões várias ao redor do mundo, transformou-se num filme campeão de bilheteria, estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John, infelizmente, recém-falecida, e virou “arroz de festa” de centenas de representações, em grupos de TEATRO amador, escola secundárias e estudantes de arte dramática, em universidades americanas e por todo o mundo. Vale dizer, também, que a montagem de lançamento, na Broadway, recebeu nomeações para sete prêmios“Tony”, incluindo melhor musical, melhor ator e melhor coreografia. Adrienne Barbeau ganhou o "Theatre World Award" , de melhor atriz coadjuvante, e o musical mereceu, ainda, o "Drama Desk Award", de melhor coreografia e melhor vestuário.







 

 


SINOPSE (bem simplificada): 

No palco, um retrato da revolução sexual e comportamental do jovem norte-americano da década de 1950 (Ou seria do mundo inteiro, ou de boa parte dele?).

Na Califórnia, de 1959, a popular Sandy Olsson (LULI), uma jovem imigrante australiana, e o “metido” Danny Zuko (TI DUCATTI) se apaixonam e aproveitam um verão inesquecível na praia, durante as férias de verão.

Quando voltam às aulas, os dois descobrem que, coincidentemente, frequentam a mesma escola.

Danny lidera a gangue dos “Burguer Palace Boys”, um grupo “exótico”, que gosta de jaquetas de couro e muito gel no cabelo, e Sandy passa seu tempo com as “Pink Ladies”, lideradas pela firme e sarcástica Rizzo (ALICE ZAMUR).

Quando os dois se reúnem, Sandy percebe que Danny não é o mesmo por quem se apaixonou e, por isso, ambos precisam mudar, caso queiram ficar juntos. 

 

 


Lançado há mais de 50 anos, “GREASE, O MUSICAL” atravessou gerações, sempre com grande sucesso, e tem um público cativo, sempre pronto a conferir uma nova montagem do musical. É interessante ver gente jovem acompanhada de seus pais e, até mesmo, avós, ocupando as poltronas dos Teatros em que esteja sendo apresentada uma nova versão desta peça. A trilha sonora é deliciosa e vem deleitando nossos ouvidos com canções do tipo “chiclete”, como “Summer Nights”, “Morning – From”, “We Go Togheter”, “Sandy”, “Those Magic Changes” e, como não podia deixar de ser, “Grease”, a música-tema.

    



      Os temas musicais procuram seguir os sons dos primórdios do universo "rock and roll", do mais agitado às baladas românticas. Além das canções originais da trilha, houve o acréscimo de algumas inéditas. Nesta versão brasileira, todas as músicas são cantadas com letras em português, mas, no final, o elenco volta ao palco para um “mix” com as canções originais em inglês. É um momento de maior explosão, no palco e na plateia. Uma verdadeira catarse!




 O título da peça vem de uma subcultura de jovens trabalhadores norte-americanos, conhecidos como “greasers”, gangues de rua existentes nonordeste e no sudeste dos Estados Unidos, na década de 1950. O estilo de vida daqueles jovens tornou-se popular entre a juventude americana, devido ao seu aspecto de rebelião aos modos e costumes. Poderia ser considerada uma versão mais “light” dos que militaram na chamada “juventude transviada”, como nos mostra o célebre filme “Rebel Without a Cause”, que, no Brasil, recebeu o título de “Juventude Transviada”, estrelado por James Dean. O enredo de “GREASE, O MUSICAL” nos põe em contato com questões sociais diversas, tais como gravidez adolescente e violência entre gangues, amor, amizade, rebelião, descobertas sexuais e conflito de classes. Aqui, talvez, algumas pessoas poderiam estar questionando: “Então, isso não é político? É só uma obra “água com açúcar”? Pensando bem, ao abordar esses problemas e se propor a mostrar o “modus vivendi” de uma camada da sociedade norte-americana, podemos enxergar, no musical, mais do que, apenas, estar voltado para o lazer.




  Esta releitura do consagrado musical, em 2023, com roupas do século XXI, é apresentado por 4ACT ENTRETENIMENTO, a mesma produtora conhecida por encenações vitoriosas, no Brasil, como “Ghost, o Musical”, “A Era do Rock” e “Castelo Rá-Tim-Bum, o Musical”, numa iniciativa, muito corajosa e arrojada, de RICARDO MARQUES, vencedor, em 2022, do conceituado prêmio “Oliver Awards”, na Inglaterra, pela produção de “De Volta para o Futuro,  O Musical”, a estrear, na Broadway, em 2023. Depois do sucesso das três produções, no Brasil, RICARDO decidiu se aventurar no berço do gênero teatral, o West End de Londres, num voo mais arrojado. Aliás, arrojadíssimo. Com um sonho a ser realizado, começou a trabalhar em dois projetos, para estrearem nos palcos da Inglaterra: “De Volta para o Futuro, o Musical”, em 2021, no Adelphi Theatre, que lhe concedeu a já referida premiação, e “GREASE, O MUSICAL”, em 2022, no Dominion Theatre.



Ricardo Marques
(Foto extraída de sua página, no Facebook.
Autoria descohecida.


 Comparado a outros musicais, montados em esquema de superproduções, este não é dos mais ricos, o que pode justificar algumas coisas - na verdade, apenas uma - em cena, entretanto, mesmo sob restrições, quero crer que tenham existido, na verba de produção, nota-se que houve apuro e preocupação em apresentar um espetáculo bonito, “limpo” e bastante “honesto”. Creio que o único detalhe que merecia uma melhor atenção diz respeito à cenografia, a despeito de estar nas mãos de um dos mais competentes profissionais do ramo, no Brasil, J. C. SERRONI. São várias locações (12 ambientes), o que dificulta muito o trabalho de criação do cenógrafo, mormente se não há tantos recursos financeiros à sua mão. Não sei se foi esse o caso, mas assim me pareceu. De qualquer forma, as soluções encontradas por SERRONI atendem, satisfatoriamente, à encenação. Mesmo assim, a produção chegou até a comprou a carcaça de um carro de verdade, para transformá-lo em um Ford Custom, de 1951.




 A luz do espetáculo, criada por ROGÉRIO CÂNDIDO, é muito bonita e bem operada, acompanhando o termômetro de cada cena, sempre a favor de um enriquecimento plástico do espetáculo.




 Um dos pontos altos do musical se concentra nos muitos figurinos – cerca de 90 -, desenhados por MÁRCIO VINÍCIUS, todos de época, o que proporciona, aos mais velhos, uma viagem no tempo. Lembrei-me de que, além do topete, também me vi vestido com algumas peças daquele acervo de roupas.




Considero, também, um bom diferencial para a peça o conjunto de coreografias, criadas por ELCIO BONAZZI. Há muitos números musicais, todos servindo a excelentes bailados, muito bem executados por todo o grupo do numeroso elenco.



 Por ser uma obra de época, era necessário que um profissional muito importante, no TEATRO, o visagista, trabalhasse em conjunto com o figurinista, para deixar o elenco com ares de gente da década de 1950, para o que ANTONIO VANFILL tem uma importância muito grande, no seu trabalho minucioso de visagismo, no qual foram utilizadas 40 perucas, além de apliques e afins.



 Quando analiso um musical, sempre faço questão de enaltecer o trabalho de quem é responsável pelo desenho de som, o qual, se não for bem feito, “derruba” qualquer produção. É muito difícil fazer a correta equalização entre vozes humanas e sons instrumentais, para que o público possa ouvir, com nitidez, o que se fala ou se canta, no palco. Aplausos para um veterano e competentíssimo profissional do ramo, TOCHO MICHELAZZO, sempre muito requisitado pelas produções.



 O elenco é formado por jovens atores e atrizes, alguns conhecidos meus, por seus trabalhos anteriores, entretanto a maioria creio ter visto, pela primeira vez, no palco. Gostei de todos, nas três funções de um(a) artista, num musical: interpretando, cantando e dançando. Destaco, sem desmerecer quaisquer outros, o par de protagonistas, TI DUCATTI e LULI, NATHAN LEITÃO, SOFIE ORLEANS, CAMILA BRANDÃORAFAEL DIVERSE, CAROL PITA, RUY BRISSAC (Saudade daquele divertidíssimo e “subversivo” Dinho, de “Mamonas, o Musical!”), ALICE ZAMUR e JÚLIO OLIVEIRA.

 

 

 


 FICHA TÉCNICA:

Texto Original: JIM JACOBS e WARREN CASEY

Versão Brasileira: SILVANO VIEIRA e SOFIA BRAGANÇA

Adaptação e Direção: RICARDO MARQUES

Assistência de Direção: IGOR PUSHINOV

Direção Musical: PAULO NOGUEIRA

 

Elenco: TI DUCATTI (Danny); LULI (Sandy); ALICE ZAMUR (Rizzo); NATHAN LEITÃO (Kenickie); SOFIE ORLEANS (Frenchy); CAROL PITA (Marty); CAMILA BRANDÃO (Jan); JULIO OLIVEIRA (Sonny); PEDRO NASSER (Doody); RAFA DIVERSE Roger); JULIA PRONIO (Patty); VICKY MAILA (Cha Cha); CELSO TILL (Eugene); TALIHEL (Johnny Casino); RUY BRISSAC (Vince Fontaine / Officer Maiale); NICK VILA MAIOR (Teen Angel); CARLA HOSSRI (Miss Lynch); LARISSA FERNANDES, YASMIN LIFER e JULIO FELIX (Ensamble); VINICIUS COSANT (“Dance Captain”); e JOSEMARA MACEDO e ANDRÉ GOMES (Swing)

 

Orquestra: Maestro/Pianista1: PAULO NOGUEIRA; Pianista 2: ANDRÉ REPIZO; Reed: CHIQUINHO DE ALMEIDA; Trombonista: DOUGLAS FREITAS; Trompetista: BRUNO BELASCO; Baterista: DOUGLAS ANDRADE; Baixista: MAURO DOMENECH; Guitarrista: THIAGO LIMA; Pianista (ensaio): RONIEL DE SOUZA e ANDRÉ LUZ COLETTI

 

Coreografia: ELCIO BONAZZI

Assistência de Coreografia: VICTORIA ARIANTE

Cenografia: J. C. SERRONI

Figurinos: MÁRCIO VINÍCIUS

Visagismo: ANTONIO VANFILL

Desenho de Som: TOCKO MICHELAZZO

Desenho de Som Associado: GABRIEL BOCUTTI

Desenho de Luz: ROGÉRIO CÂNDIDO

Desenho de Luz Associado: GUILHERME PATERNO

Produção de Objetos: CLAU CARMO

“Production Stage Manager” (PSM): ESTEBAN GROSSY

“Stage Manager”: TATAH CERQUINHO e VIVIAN RODRIGUES

Gerência de Produção: BIA IZAR

Assistência de Produção: CLAYTON EPFANI

Produção Administrativa: JULIANA LORENSSETO

Assessoria de Imprensa: POMBO CORREIO – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

Fotos: Caio Gallucci

Comunicação Visual: AR PROPAGANDA

Produção de Conteúdo: MARILIA DI DIO 

 


 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 05 de janeiro a 05 de março de 2023.

Local: Theatro Claro SP.

Endereço: Rua Olimpíadas, nº 360 (Shopping Vila Olímpia) – Vila Olímpia – São Paulo.

Telefone: (11)3448-5061.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; e aos domingos, às 19h. Sessões extras às quintas, às 17h, e aos sábados, às 17h30min.

Valor dos Ingressos: De R$80,00 a R$200,00, dependendo da localização dos assentos.

Venda online (com taxa de serviço): https://bileto.sympla.com.br/event/78529/d/168923

Funcionamento da Bilheteria (sem taxa de serviço): De 2ª feira a sábado, das 10h às 22h, e, aos domingos e feriados, das 12h às 20h.

Mais informações: http://teatroclarosp.com.br/

Capacidade: 799 pessoas.

Acessibilidade: Acessível a pessoas com deficiências e mobilidade reduzida.

Classificação Etária: 12 anos.

Duração: 144 minutos.

Produção: 4ACT ENTRETENIMENTO.

Gênero: Musical. 

 


 



        Como disse, no início desta crítica, no dia em que assisti a este musical, um sábado, estava dando prosseguimento a uma verdadeira “maratona teatral”: às 12h, um belo musical infantil, seguido de outro musical, às 17h. Ainda assim, fiz questão de assistir a mais uma montagem de “GREASE, O MUSICAL”, com o maior desejo de sair gratificado do Teatro. E foi o que aconteceu, motivo que me leva a recomendar este trabalho. Não me arrependi de ter ido.

 

 



 



FOTOS: CAIO GALLUCCI

 

 

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