“SORRISO
DE MÃE”
ou
(BOM É BEM
SIMPLES E BELO.)
ou
(REMINICÊNCIAS
Por conta da boa trégua que nos vem dando a pandemia de COVID-19,
QUE NÃO TERMINOU, AINDA, COMO, INFELIZMENTE, PENSA
MUITA GENTE, as peças
de TEATRO estão voltando ao cartaz, e o Rio de Janeiro está vendo,
neste primeiro trimestre de 2022, grandes espetáculos sendo
encenados, para atrair o público, ainda um pouco incrédulo quanto à segurança
que representa, hoje, sair de casa e ir ao TEATRO. Respeito o ponto de
vista de todos, mas asseguro-lhes, pelo que tenho testemunhado, que, se as
regras impostas pelas autoridades sanitárias, não as dos (des)governantes,
nas três esferas, e, principalmente, cada um de nós pondo em prática seus cuidados
pessoais e o bom senso, está valendo, sim, a pena voltar ao TEATRO.
De uma enxurrada de espetáculos em cartaz, no Rio
de Janeiro, temos algumas peças estreando, outras reestreando
e algumas em novas montagens, a grande maioria merecedora da minha
modesta recomendação, com a que estou analisando. No rol das que fazem seu “debut”,
apresentadas, pela primeira vez, a uma plateia, está “SORRISO DE MÃE”,
uma montagem que, segundo FERNANDO PHILBERT, seu diretor, “é
uma peça simples, para voltar ao TEATRO”.
Fiquei meio intrigado com aquelas palavras, tentando entender
o que ele estava querendo dizer com elas, mas acho que consegui atingir a
intenção de PHILBERT, ao dizê-las para mim, fora do Teatro dos Quatro
(Shopping da Gávea (VER SERVIÇO), pós-sessão, no último domingo, 13 de
março de 2022. "Simples" não é ruim, e isso afirmo eu, com a maior
convicção. "SORRISO DE MÃE" uma peça simples, porque se trata de um monólogo – e
é bem mais fácil, e prudente, em tempos de pandemia, trabalhar com um único
ator, esquecendo, por enquanto os grandes elencos. Também pode ser simples,
porque o texto de GABRIEL CHALITA não obriga o público a
partir para elocubrações profundas, reflexões de difícil acesso e conclusão.
O
lindo e comovente texto foi escrito antes da
pandemia, e não durante ela, como até eu cheguei a pensar, partindo da solidariedade,
da parte do dramaturgo, a um amigo que havia perdido sua mãe. Aquele foi
o ponto de partida da ideia para uma peça que tratasse da relação mãe
e filho, de uma maneira singular. Hoje, a dramaturgia de CHALITA
“ganha novos contornos, ao estrear num tempo em que as relações
familiares e amorosas nunca foram tão importantes”. (Trecho extraído do
“release”, que me foi enviado por MÁRIO CAMELO (PRISMA
COLAB – ASSESSORIA DE IMPRENSA).
SINOPSE:
O espetáculo narra as lembranças
de um filho, diante de sua mãe.
Esse encontro seria um sonho?
Realidade?
Ele revive momentos marcantes de sua
trajetória, ao lado dessa mãe amorosa, trazendo, à tona, diversos personagens
que acompanharam sua trajetória de vida.
Essa tal “simplicidade”
também pode ser atribuída a todos os elementos que envolvem a montagem,
incluindo a direção, sem, entretanto, fugir a uma extrema dose de beleza
e mexendo bastante com a emoção dos espectadores, porque envolve uma
imensa dose de cumplicidade, entre o ator em cena e a mãe “invisível”,
e entre ambos e o público. Valendo-me, mais uma vez, do já
referido “release”, “Se existe um vínculo que é único para
cada um, repleto de nuances, infinito, quando se trata de amor, e universal, é
o vínculo entre mãe e filho”. Ou pode haver alguma dúvida quanto a
isso?
Da forma mais delicada possível, e envolto em muita sensibilidade, o espetáculo
mostra, em cena, as memórias da união entre CÍCERO, o filho (JOELSON
MEDEIROS), e sua mãe, MARIA, a “ausente”. Seria esse
encontro um sonho ou fruto de delírios de um filho órfão, que tenta, num surto, resgatar um
vínculo de união impossível, entre a vida e morte? Poderia ser a realidade,
entre um dileto filho e uma amorosa mãe, que padece de Mal de Alzheimer,
embora a interlocutora não esteja, materialmente, em cena? CHALITA parece,
propositalmente, deixar a critério de cada espectador chegar às suas
ilações, pondo o protagonista “narrando e revivendo lembranças,
causos, personagens e amigos que ambos conheceram pelo caminho, costurando uma
narrativa que enfatiza aspectos emocionais dessa relação e, consequentemente, a
necessária valorização dos afetos familiares”.
O texto, no fundo, é uma “colcha de retalhos” de
momentos de um passado, do mais distante ao mais próximo, com predominância
daquele, todas as narrativas bem “costuradas”, uma servindo de
gancho para a próxima. Isso leva o ator a fazer um ótimo trabalho de interpretação,
já que ele faz, ou tenta – e isso é proposital – imitar os personagens envolvidos
nas aventuras que os dois viveram juntos, homens ou mulheres, de qualquer idade, um, como a sombra do outro. E são
muitas as vozes e as posturas que JOELSON teve de criar. Passa, sim, a
impressão de que sempre foram muito unidos, mãe e filho, ligados por um cordão umbilical invisível.
Percebe-se uma grande simbiose entre ambos.
A solidão do ator, num solo, se, por um lado, faz, desse trabalho,
algo de mais difícil realização, é compensada pela troca de energia que JOELSON
consegue com a plateia, atraindo-a para bem perto de si. A conversa com
a mãe é ampliada e, mesmo quando as situações envolvem situações engraçadas ou,
pelo menos, pitorescas, o público não ri tanto, parecendo estar um pouco
tenso ou hipnotizado pela condução do fio narrativo.
Creio valer a pena transcrever um depoimento de GABRIEL CHALITA, no
corpo do “releasae”: “Fui atingido pela tristeza daquela
despedida. Fiquei pensando em tantas histórias como aquela e isso me inspirou a
falar da celebração dos momentos que eles viveram juntos e de homenagear não
somente esse vínculo, mas todos os vínculos humanos. Não de um jeito triste. Ao
contrário. Com muita verdade e sensibilidade”. Saí do Teatro
como que revivendo a experiência de GABRIEL, pensando, bastante, na
minha mãe, já falecida, que, este ano, estaria completando 103 anos, e nos
incomensuráveis momentos que dividimos, juntos, alegrias e dores, demos grandes
gargalhadas e choramos, um amparado no outro. Penso que isso ocorre com muita
gente que assiste à peça.
Como já tive a oportunidade de dizer, trata-se de um espetáculo
simples: simples, para se ver, para se ouvir, para se entender, para
se digerir, para se deixar tocar. Além da grande importância do texto e
da ótima atuação de JOELSON MEDEIROS, há um artífice,
atento aos dois e que está acostumado a trabalhar com uma equipe de criadores
da maior competência, que soube atingir, na minha modesta visão, o tom certo
que o espetáculo pedia. FERNANDO PHILLBERT trabalha bem as
marcações, para que um solo não se torne monótono, da mesma forma como orienta
o ator a olhar para um ponto fixo, onde estaria a mãe, e, em outros momentos, para o público,
como se questionando se nós estávamos sendo testemunhas daquele colóquio.
Pareceu-me que, bastante confiante no material humano que tinha às mãos, o diretor deve tê-lo deixado bem à vontade, em cena, de modo a que a simplicidade
e a naturalidade sejam bem visíveis aos olhos do espectador.
Tudo bem simples!
Vivemos um momento de “vacas magras”, no TEATRO, o
que não permite, às produções, gastar muito com os elementos que dão suporte à
montagem, como cenografia, figurinos e luz, por
exemplo. Orçamentos curtos que têm de gerar grandes espetáculos. Assim se
dá em “SORRISO DE MÃE”.
NATÁLIA LANA consegue, com pouco dinheiro e muito
talento e sensibilidade, criar um ambiente mais do que propício àquela
conversa, que se dá numa modesta, porém bastante “clean”, sala de
estar, com predominância do tom rosa, bem claro, no sofá e nos dois bancos que
ladeiam uma espécie de aparador, sobre o qual há objetos como fotografias, um
porta-retratos, uma jarra com água, copos e uma jarra com flores. Tudo bem
delicado, encontrado muito na década de 1950, incluindo-se aí o estilo
do mobiliário, com “pés palitos”, tão usados nas casas daquela
época, inclusive na minha e de boa parte da minha família. Estilo próprio de
uma época que já ficou para trás, na memória, e que a cenógrafa resgata.
O ambiente se abre em “V”, com duas paredes, com enormes janelões e
cortinas, em tons claros. Repetindo, há um universo “clean”, no cenário.
Foto: Gilberto Bartholo.
TIAGO RIBEIRO assina o único figurino da peça,
bastante adequado ao personagem, um homem de meia idade, mas que guarda
bastantes traços da juventude. Ali está o “casual”, na forma de
uma calça “chino”, uma camisa polo, uma camisa de botões, por
cima, sempre aberta, e um sapatênis. Tudo para dar, ao personagem, uma
postura de quem segue a moda, porém com moderação, adequada à sua idade.
VILMAR OLOS criou uma luz bem descomplicada – olha o “simples” aí outra vez –, clara, que sofre, vez por outra, pequenas modulações, concentrando-se mais sobre o personagem, principalmente quando ele se senta no sofá ou em um dos dois banquinhos. Chamou-me muito a atenção um foco que incide sobre um delicado par de chinelos, colocado quase no proscênio. Pensei que, no encerramento da peça, quando a luz vai diminuindo, até atingir o “blackout”, ficaria muito bonito deixar, antes do breu total, por alguns segundo, apenas aquele foco sobre o par de chinelos, forrado de cetim cor de rosa.
MAÍRA FREITAS é responsável pela trilha sonora
da peça, que não é muita, em quantidade, porém é grande em qualidade. As
canções originais ajudam a compor a ambientação para cada uma das
narrativas, ou partes daquele conversa.
FICHA TÉCNICA:
Autor: Gabriel Chalita
Direção: Fernando Philbert
Ator: Joelson Medeiros
Cenografia: Natália Lana
Figurino: Tiago Ribeiro
Iluminação: Vilmar Olos
Trilha Sonora: Maíra Freitas
Programação Visual: Victor Bittow
Costura: Ateliê das Meninas
Cenotécnico: André Salles
Costureira de Cenário: Nice Tramontin
Produção Executiva: Silvia Rezende
Direção de Produção: Roberto Monteiro e
Fernando Cardoso
Coordenadora Administrativa: Cenne Gots
Assessoria de Imprensa: Mário Camelo
Fotos de Divulgação: Nil Caniné
Realização: Mesa2 Produções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada: de 11 de março a 03 de abril de 2022
Local: Teatro
dos Quatro
Endereço:
Shopping da Gávea, 2º piso – Rua Marquês de São Vicente, nº 52, Gávea, Rio de
Janeiro
Dias e Horários:
sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h
Bilheteria Oficial:
Teatro dos Quatro – de segunda-feira a sábado, das 10h às 22h; domingo, das 15h
às 22h
Telefone: (21)
2239-1095
Valores dos
Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada)
Duração: 60 minutos
Capacidade do Teatro: 402 lugares
Indicação Etária: Livre
Ingressos no
link: https://bit.ly/3szm0Ff
Para finalizar, novamente, recomendo este delicado espetáculo, na
certeza de que estou fazendo uma boa indicação, amparado pelas palavras do diretor:
“Todo mundo, em algum momento, é impactado pelo texto e pelas questões
que ele traz. Além disso, ‘SORRISO DE MÃE’ aborda essa relação pelo cotidiano,
e o cotidiano tem uma força imensa. Ainda mais nos dias de hoje. É importante
lembrar que ficamos dois anos isolados, em casa, e que muita gente ficou
exilada do seu próprio cotidiano. Assim, a peça usa o dia a dia, para
comunicar, trazendo uma delicadeza que vai atravessar as pessoas com muita potência.
A gente aprende, sobre a vida, ouvindo e vendo os nossos pais. O TEATRO
também é isso. Ele acontece desse encontro com o público, é uma ação de ouvir.
Tanto o ator ouve a plateia, quanto o contrário. Muita gente vai se
identificar, vai ouvir as histórias e pensar na própria vida. Parece bobeira
falar isso, mas quem fala em amor, hoje em dia, é julgado, apedrejado.
Infelizmente, é esse o tempo que estamos vivendo. ‘SORRISO DE MÃE’ vem na
contramão disso. Aqui, o importante é o amor, a preocupação com o outro. É o
que esse filho vai mostrar ao público”, conclui PHILBERT.
Assino embaixo de tudo o que disse FERNANDO PHILBERT e acrescento
que “muito mais do que uma peça sobre mãe e filho, ‘SORRISO DE MÃE’ é
sobre o afeto”.
FOTOS:
NIL CANINÉ
GALERIA PARTICULAR:
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário