sábado, 5 de março de 2022

 “A HORA

DA ESTRELA

ou

O CANTO

DE MACABÉA”

ou

(SERÁ QUE TUDO,

NA VIDA,

É QUEDA?)

ou

(A DOR DA

INVISIBILIDADE.)









   A trégua que a pandemia de COVID-19 nos vem dando, caminhando, com a graça de Deus, para que possamos voltar a levar uma vida “quase normal”, está fazendo com que o TEATRO se comporte como uma Fênix, renascendo das cinzas em que foi transformado, por conta de um vírus. Isso significa que estamos sendo contemplados com muitas estreias e reestreias, neste mês de março, incluindo o espetáculo ora, aqui, analisado.



        Não consegui assistir a ele, quando estreou, em 2020, no CCBB – Rio de Janeiro, porque estava agendado, com a assessoria de imprensa, para a semana seguinte àquela da fatídica notícia da pandemia, no dia 13 de março, o que fez com que todos os Teatros interrompessem suas atividades. O espetáculo só conseguiu cumprir uma semana em cartaz. O que julguei que não passaria de uma quinzena transformou-se nesta situação, de dois anos, para a qual não encontro um substantivo que a nomeie e, menos ainda, um adjetivo, para qualificá-la.



     Foi ótima a iniciativa de terem filmado o espetáculo e tê-lo apresentado, “on-line”, num determinado momento da pandemia. Foi muito bom mesmo e fiquei bastante feliz com o resultado, entretanto muito distante do que senti, na última quinta-feira, dia 3 de março de 2022, quando pude assistir à montagem, como TEATRO, de verdade, numa sala de espetáculos, o Teatro Firjan Sesi Centro, e, o mais importante, com plateia. TEATRO presencial. TEATRO na acepção total de seu significado. Uma temporada, de apenas um mês (Merecia muito mais.), 16 apresentações, que servirá como motivo, também, para o lançamento de um álbum, gravado por CHICO CÉSAR, autor de todas as músicas da peça, e LAILA GARIN, sua protagonista, com as canções do espetáculo, que é uma versão musical do clássico de CLARICE LISPECTOR, seu último livro lançado em vida, com direção adaptação de ANDRÉ PAES LEME e direção musical de MARCELO CALDI, o qual também é responsável pela produção musical e os arranjos do disco, com 16 faixas



 

 

SINOPSE:

A adaptação para o palco não difere muito do original, do livro, que conta a história de MACABÉA (LAILA GARIN), uma migrante nordestina, de 19 anos, que sai do interior de Alagoas, para tentar uma nova vida no Rio de Janeiro.  

MACABÉA, franzina, órfã de pai, mãe e da tia que a criou, migra para a cidade grande, a fim de ser datilógrafa e “ser alguém na vida”, cheia de sonhos e ilusões, alimentando-se de cachorros-quentes e se deliciando, ouvindo, na madrugada, sem sono, a Rádio Relógio, que, além de informar a hora certa, minuto a minuto, “ensina muita cultura”, num rádio de pilha emprestado por uma das amigas de quarto.

Ela mora numa pensão “chinfrim”, dividindo o quarto com mais quatro amigas, todas balconistas das Lojas Americanas, batizadas, na pia, as quatro, com o nome de Maria (Maria da Penha, Maria das Graças, Maria José e uma “Maria só”.), e tem uma vida sem muitas emoções, pois é indiferente a estas.

Conhece OLÍMPICO DE JESUS (CLÁUDIO GABRIEL) e os dois começam a namorar, porém a relação não se sustenta e OLÍMPICO acaba trocando MACABÉA por GLÓRIA (CLÁUDIA VENTURA), colega de trabalho da ex-namorada, que, por recomendação de sua cartomante, rouba o namorado de MACABÉA.

MACABÉA consegue um emprego simples, que lhe rende um mísero salário, mas que a ajuda a se manter nos primeiros meses, sofrendo as maiores humilhações, que partem de seu chefe, o SEU RAIMUNDO (CLÁUDIO GABRRIEL), o qual vivia comparando seu trabalho “sujo” com a perfeição do desempenho de GLÓRIA, que, além de tudo, era um “peixão”, como diria Nelson Rodrigues.

No decorrer da trama, torna-se muito fácil entender o comportamento da pobre jovem, a sua visão de mundo, todas as agruras por que passa e, por mais trágico que seja o desenlace da história (Sem “spoiler”.), paradoxalmente, o espectador, ao invés de sofrer, parece não feliz, mas se sentir aliviado, por ver a protagonista “liberta” de uma vida de tanto sofrimento e humilhações.

 

 



CLARICE LISPECTOR, uma espécie de unanimidade, de paixão nacional, como escritora, sabia como denunciar o lado torto dos seres humanos, com muito lirismo, “sem perder a ternura”. Ela cutuca, sem piedade, as feridas, porém tem sempre, às mãos, meios de amenizar as dores, com o que é necessário para os “curativos”, por meio de sua linguagem particular, poética e criativa, embora as cicatrizes jamais desapareçam. Na adaptação para o TEATRO, ANDRÉ PAES LEME foi de uma felicidade ímpar, pois soube manter e respeitar o estilo de CLARICE, fazendo, cirurgicamente, o que era necessário para transformar um texto narrativo, um romance, numa dramaturgia genial, da mesma forma como se houve na direção da peça, para o que foi cercado de uma equipe formada por alguns dos melhores artistas de criação do TEATRO BRASILEIRO.



No original, a história é contada por RODRIGO S. M, um homem que não aparece na história, embora possa ser considerado um narrador-personagem. Ele observa a jovem, percebe a sua “existência” (?) e, de longe, conta, sob o seu ponto de vista, os dramas que MACABÉA enfrenta, ao se mudar para uma cidade grande. No palco, essa narração é feita pelos próprios atores, que se dividem entre esse condutor do fio da meada e os personagens que representam. Sim, “os personagens”, já que CLÁUDIO e CLÁUDIA vivem mais de um.



A peça agrada ao público e atinge-o, profundamente, porque este se vê diante de um triste cotidiano que todos conhecemos, que não aprovamos, porém – e aqui faço, também, a “mea culpa” pouco, ou nada, fazemos, para que desapareçam, de vez, todas as “macabéas” que existem neste país, desgorvernado, sem um rumo desejável pela grande maioria dos seus mais de duzentos milhões de habitantes, uma boa parte dos quais escolheu entregar as rédeas da Nação à última pessoa da face da Terra que teria condições de conduzi-la a um bom caminho, um verdadeiro artífice, na “fabricação de macabéas”.



O público se vê diante de dramas reais e comuns, da luta, pelo menos, pela sobrevivência, o que já seria lucro, para alguém, representando milhões de brasileiros, os quais, como ela, parecem, ao nascer, ter ouvido o que Carlos Drummond de Andrade escreveu, em seu “Poema de Sete Faces”: Quando nasci, um anjo torto, / Desses que vivem na sombra, / Disse: ‘Vai, Carlos! Ser ‘gauche’ na vida!’”. Vai, MACABÉA, ser “gauche” na vida!



MACABEA lida com frustrações cotidianas e desesperanças, com relação ao amor e tudo mais, da mesma forma como, em graus diferentes, lidamos todos nós. Cada um, sentado, confortavelmente, em sua poltrona, de um Teatro refrigerado, é “projetado para o palco” e, à sua maneira, tenta ajudar MACABÉA a se erguer e continuar a seguir em frente, em seu calvário, com sua pesada cruz às costas. Somos todos, no fundo, um pouco, uma “macabéa”, mas não A MACABÉA, uma pessoa simples, com pouca consciência de si, uma entre as muitas mulheres nordestinas que saíram do sertão para a cidade. Sozinha, em uma grande capital, a personagem exibe uma inocência e ingenuidade que chegam a incomodar. Ela parece não ter consciência de seu próprio sofrimento e, por conta dessa “alienação de si”, acaba tendo um destino trágico.




A peça, embora, em determinados momentos, consiga fazer com que o público ensaie um riso, de culpa, constrangimento ou impotência, por algumas falas e ações que demonstram o grau de ingenuidade e credulidade da pobre protagonista, em relação aos que a cercam, não é uma história que termine com o tradicional “E foram felizes para sempre...”; não há, e assim tinha mesmo que ser, um “happy end”, exatamente para que cada um que assiste a ela possa sair do Teatro mexido, sacudido, desafiado,  desperto de um marasmo e arregace as mangas, para evitar que surjam outras “macabéas” e para salvar as que já circulam, pelo Brasil a fora, mormente no eixo Rio-São Paulo, perambulando, “zumbificadas”, pelas ruas das grandes metrópoles. A protagonista é uma mulher, sozinha no mundo, que, a despeito de ser, ainda, muito jovem, deixa bem claro que “não existe”; apenas “passa pela vida”, invisível a todos, menos para um homem, que se propõe a abrir nossos olhos para uma realidade que não querermos perceber. MACABÉA é real. MACABÉA é gente. MACABÉA é uma mulher brasileira.



A idealização do projeto é de ANDRÉA ALVES (SARAU AGÊNCIA DE CULTURA BRASILEIRA), assim como sua produção, e a peça foi pensada para ser encenada em 2020, quando se comemorava o centenário de uma ucraniana que escolheu o Brasil, para viver e desenvolver seu talento de escritora.  A montagem chegou a estrear, no CCBB do Rio de Janeiro, porém não por mais de uma semana, interrompida que foi pela pandemia de COVID-19, como já foi dito. Antes desta reestreia, no Rio de Janeiro, que soa como a verdadeira estreia, em terra carioca, o espetáculo pôde ser visto e aplaudido no CCBB Brasília, no Sesc SP e no CCBB BH. Devemos o prazer de poder aplaudir esta OBRA-PRIMA a ANDRÉA, que faz o seguinte depoimento, extraído do “release”, que me foi enviado por PEDRO NEVES (Assessoria de Impensa): “O romance veio para a minha estante, através da minha professora, que, por coincidência, se chamava Laila. Ainda no percurso de “Gota D`Água”, tive a ideia de propor o projeto para a LAILA GARIN protagonizar, com a direção do ANDRÉ, que é meu parceiro teatral, há 30 anos, e as músicas do CHICO CÉSAR, que tinha feito as canções originais do ‘Suassuna – O Auto do Reino do Sol’”. Combinação perfeita. Mais que perfeita!!!




        O espetáculo ganha uma dimensão maior, num palco, quando, além de se tornar uma peça de TEATRO, esta é apresentada na forma de um musical, no qual “as músicas pontuam toda a dramaturgia e aparecem para ilustrar o estado emocional e o interior de cada personagem. Ao longo da montagem, as canções servem, ainda, para detalhar algum acontecimento e, também, para tirar as personagens do sofrido estágio em que se encontram, trazendo alguma fantasia para existências tão opacas”. (Trecho estraído do já citado “releasae”.) E como todas elas funcionam em cena, fazendo o espectador se desprender das poltonas, “flutuar”, durante suas execuções, cada uma mais linda que a outra, pujantes! Muitos aplausos para CHICO CÉSAR, responsável por toda a, indiscutivemente, excelente, trilha sonora!



Um dos pontos mais importantes da peça, garantidor da qualidade do texto, é que ela se presta a uma denúncia social, ao abordar a miserabilidade que tantos migrantes brasileiros encontram, quando decidem buscar melhores condições de vida em cidades grandes. Isso acontece, principalmente com os nordestinos, como é o caso da protagonista, e tal fluxo migratório, até hoje, é um fato frequente, assim como suas desastrosas consequências, na maioria das vezes.




            O texto de “A HORA DA ESTRELA ou O CANTO DE MACABÉA” pode ser considerado uma “metaficção”, uma vez que temos um ser real que representa um segmento representativo da nossa sociedade.



Explorado o que achei de interessante falar sobre o texto, vamos aos demais elementos da montagem, a começar pela excelente direção, acho que, de certa forma, facilitada, pelo fato de o diretor ser a mesma pessoa que adaptou o texto para ser encenado: ANDRÉ PAES LEME. Creio que, ao fazer o “trabalho de mesa”, ao computador, à medida que ia transformando o texto narrativo num dramático, ANDRÉ já estava pensando em como chegar a certas configurações, marcações e criação das cenas, “desenhando”, “rascunhando” o que queria, tudo feito com a maior criatividade e mergulho na psique de cada um dos três personagens principais. Seria injusto não dizer que, nessa impecável direção, no seu produto final, também deve ser creditado um nome importantíssimo, que é o de TONI RODRIGUES, responsável pela fantástica direção de movimento, que “suga” as energias físicas do elenco, durante duas horas de espetáculo. Tudo por uma boa causa. Boa, não! Ótima! O trabalho de direção de movimento, muitas vezes, não muito observado ou reconhecido pelo público e, até mesmo, pela crítica, não pode, aqui, ser colocado em segundo plano. Muito pelo contrário; é um dos pontos altos desta encenação.



Quando eu digo que tudo o que vi, durante a pandemia, e continuo vendo, não é TEATRO, tenho meus motivos para defender minha tese, mas não vou perder meu tempo, voltando a bater numa tecla, que, de tão acionada, já está desgastada. Uma avaliação do espetáculo, de uma montagem teatral só pode ser feita ao vivo. Pela tela, perde-se muita coisa, ou muita coisa deixa de ser notada; ou até pode vir a ser, porém fica na base do “assim é, se lhe parece”. Em TEATRO, não pode “parecer”; tem que “SER”. O cenário deste espetáculo, por exemplo, me causou uma boa impressão, pela versão “on-line”, mas não era o que eu vi anteontem. Que cenografia fantástica, de ANDRÉ CORTEZ!!! Ao mesmo tempo que serve para sugerir as “locações” das cenas, parece que cada peça do cenário é mais um personagem e dialoga com os verdadeiros. ANDRÉ abusou do direito de ser criativo e de pôr em prática seu lado esteta. Muitas mesas quadradas, cadeiras e bancos, do que se vê em botequins, empilhados e espalhados pelo espaço cênico, e dependurados, os quais, ao longo da montagem, vão sendo movimentados, pelo elenco e até pelos músicos e por um casal, cujos nomes não aparecem na ficha técnica: PATY RIPOLI, camareira e contrarregra, e JÚNIOR BRASIL, diretor de palco, cujo trabalho requer total atenção, para fazer as movimentações nos momentos certos. E são muitas. Incluem-se, aí, outros elementos cênicos, também dependurados, que sobem e descem, de acordo com a necessidade de cada cena. Os personagens, por concepção do diretor, se espremem sobre/sob/entre esses móveis de cena, como se estivessem dentro de um labirinto sem saída.




KIKA LOPES, sempre presente nas produções de ANDRÉA ALVES, assina os figurinos, que levam a sua digital, ou seja, são práticos e criativos, confeccionados em tecidos especiais, servindo para, além de vestir os personagens, estar sempre a serviço deles, usados para criar formas e situações. É como se ambos, figurinos e atores, dialogassem, em cena. O elenco tira partido das vestes, para criar. Quem assistiu, por exemplo, a “Auê”, “Gota D’Água [A Seco]” e “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, pode avaliar o que estou dizendo. Lembro-me de cada detalhe dos figurinos de todos os personagens, porque não há como não se apaixonar por eles. Para mim, torna-se difícil descrever, com precisão, os figurinos desta peça, pelo fato de fugirem, alguns, aos padrões convencionais. O que posso afirmar é que, mais uma vez, KIKA se revelou uma das melhores profissionais do ramo.



A luz é outra atração à parte, e não se poderia esperar menos, quando quem a assina é RENATO MACHADO. Precisa, para cada cena, harmoniosa, na intensidade e na paleta de cores, variando, “comme il faut”, a partir da necessidade de cada cena. Esse desenho de luz é um deleite para os espectadores, um elemento que, de forma alguma, poderia ser avaliado e, muito menos, valorizado, naquela transmissão pela tela. Destaco a iluminação feita para as cenas em que há chuva, trabalho executado em consonância com a cenografia. Uma beleza!!!




E o que dizer do elenco? Tudo o que aqui for dito será, ainda, muito pouco, para avaliar a preciosidade do trabalho de LAILA GARIN, CLÁUDIA VENTURA E CLÁUDIO GABRIEL. Com a maior sinceridade, abrindo meu coração, estou falando a mais pura verdade. Que interpretações magníficas e como o trio troca passes e chuta a gol!!!



O que falar sobre LAILA? Acompanho sua carreira, desde seus primeiros trabalhos, no Rio de Janeiro, e bato o martelo: trata-se de uma atriz completa, uma das mais significativas do TEATRO BRASILEIRO, mormente o MUSICAL. Em “Gota D’Água [A Seco]”, achei que LAILA já havia atingido sua plenitude, completado seu ciclo de maturação, como cantriz, mas eu não me lembrava, nas tantas vezes em que assisti à peça, que o ator é um ser sempre insatisfeito, querendo, e devendo, mesmo, se aperfeiçoar, cada vez mais, estudar sempre, mergulhar fundo, nas profundezas de um oceano, às vezes, escurecido pela noite, sempre que se vê diante do desafio de um novo trabalho. Nem todos, infelizmente, agem assim, porém LAILA é dessas, das que se entregam, totalmente, de corpo e alma, na composição de cada nova personagem, de uma forma tão visceral, que nos emociona profundamente, que é impossível não chegar às lágrimas. Quando vi a montagem “on-line”, isso ocorreu. E se, naquele momento, eu precisava de um lenço, anteontem, um lençol tamanho “king” talvez fosse insuficiente. Que voz! Que expressividade! Que agilidade e facilidade de trabalhar o corpo! Quanta energia e entrega podem ser percebidos naquela MACABÉA! Na “mentirinha” do TEATRO, LAILA é uma grande “mentirosa”, porque nos convence de que estamos diante da personagem criada por CLARICE LISPECTOR. Por conta da pandemia, os prêmios de TEATRO foram suspensos ou, alguns, sofreram mudanças em seus regulamentos e formas, entretanto, sem a menor sombra de dúvidas, numa situação “normal”, como era antes da pandemia, LAILA merecia o prêmio de melhor atriz, em todos eles.






CLÁUDIA VENTURA é outra atriz, já veterana em musicais, que mostrou a que veio, desde quando a conheci, em seus primeiros trabalhos. Como é normal, a atriz vem, a cada dia, num crescendo, em termos de aproveitamento de seu imenso talento, interpretando, cantando e dançando. Cada vez melhor, CLÁUDIA nos brinda com duas belíssimas interpretações, perfeitas, em duas personagens totalmente diferentes. A sua composição para a GLÓRIA, que “rouba”, de MACABÉA, a esperança de ser feliz (Será que a moça, feia e invisível aos olhos e corações alheios, um dia, chegaria lá?), é excelente. Sentindo-se mal, por ter roubado o namorado da colega, GLÓRIA passa a ajudar a coitada e lhe oferece dinheiro emprestado, para ela visitar uma cartomante, sem imaginar o mal que estava causando à colega de trabalho.



 O vocábulo “PROTAGONISTA” tem sua etimologia no grego, em que “PROTOS” significa “primeiro”, “o que vai à frente”, mais “AGONISTES”, “ator, competidor”, que, por sua vez, provém de “AGON”, “competição”. A rigor, seria considerado um pleonasmo dizer que “alguém é o principal protagonista”, porém, na minha visão, pode haver mais de um protagonista, num enredo, e, talvez, uma das maiores provas disso sejam Romeu e Julieta, ambos protagonistas de uma tragédia. É óbvio que, em “A HORA DA ESTRELA ou O CANTO DE MACABÉA”, esta é a protagonista, porém, ainda que, tecnicamente, a personagem GLÓRIA seja uma antagonista, uma vez que se opõe às ações e desejos da protagonista, por seu brilhante trabalho, eu diria que CLÁUDIA VENTURA poderia ser, também, considerada uma “segunda protagonista”, num nível um pouco abaixo de MACABÉA. Estou falando de duas coisas: do papel das personagens, na trama, e do trabalho das duas atrizes.



Todo o comentário final, feito sobre CLÁUDIA VENTURA, no que se refer à questão de protagonismo, estendo a CLÁUDIO GABRIEL, que mais atua em espetáculos “tradicionais”, não musicais. Como ator, já o aplaudi muito, em peças anteriores, mas CLÁUDIO me surpreendeu bastante como cantor. Aprecio, profundamente, o seu trabalho e, mais ainda, agora, depois de tê-lo visto na pele de OLÍMPICO DE JESUS, seu personagem de destaque, na peça. CLÁUDIA e CLÁUDIO levantam a bola, para LAILA “cortar”, mas, às vezes, não se sabe quem, realmente, marcou o ponto. Que felicidade e que prazer ver esses três em cena!!!  

         


 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Da obra de Clarice Lispector

Adaptação e Direção: André Paes Leme

Assistente de Direção: Anderson Aragón
Idealização e Direção de Produção: Andréa Alves
Trilha Sonora Original: Chico César
Direção Musical e Arranjos: Marcelo Caldi

Elenco: Laila Garin, Cláudia Ventura e Cl
áudio Gabriel

sicos: Fábio Luna, Ajurinã Zwang, Pedro Aune e Pedro Franco

Figurinos: Kika Lopes
Cenário: André Cortez
Iluminação: Renato Machado

Desenho de Som: Gabriel DAngelo

Preparação Corporal: Toni Rodrigues

Fotos: Ariel Cavotti

Coordenação de Produção: Rafael Lydio
Produção Executiva: Felipe Valle
Produtor Assistente: Matheus Castro
Produção: Sarau Cultura Brasileira e Ágapa Criação e Produção Cultural 

 

 


 




 

 

SERVIÇO:

 

Temporada: De 03 a 27 de março de 2022

Local: Teatro Firjan Sesi Centro

Endereço: Avenida Graça Aranha, nº 1, Centro – Rio de Janeiro

Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h

Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada)

Link de vendas: https://bit.ly/MacabeaSESI

Classificação Etária: 16 anos

Duração: 120 minutos

Gênerto: Drama

 

 



É pertinente lembrar que o livro também ganhou uma versão cinematográfica, em 1985, o primeiro longa-metragem da consagrada diretora Suzana Amaral, tendo sido considerado "um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos". É um clássico da filmografia brasileira, brilhantemente, estrelado por Marcélia Cartaxo, em seu primeiro trabalho para as telas, contando, ainda, no elenco, com nomes consagrados como, entre outros, Fernanda Montenegro e José Dumont. O filme conquistou vários prêmios, nos mais conceituados festivais de cinema do mundo, como o “Urso de Prata”, em 1986, no “Festival de Berlim”, de melhor atriz, para Marcélia.



       Muita gente não consegue compreender o título original do livro. Fica, então, lançado, aqui, um desafio: explicar a que se refere a autora da obra, ao batizá-la como “A HORA DA ESTRELA”.



     Tão logo cheguei a casa, anteontem, fiz uma postagem, numa rede social, em que dizia que havia deixado o Teatro Firjan Sesi Centro “em total estado de graça”, chamando a atenção, nessa mesma postagem, para o fato de CLARICE LISPECTOR ter escrito uma crônica chamada “Estado de Graça”, um das minhas preferidas, na qual ela explica o que entende por tal sentimento. Aconselhei, na ocasião, a todos, que lessem essa crônica. Abaixo, transcrevo seus dois primeiros parágrafos, que atestam como me senti naquela noite do dia 3 de fevereiro de 2022.



         “Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial, que, tantas vezes, acontece aos que lidam com arte.

O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que, realmente, se existe. Neste estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve, porque, na graça, tudo é tão, tão leve. É uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não perguntem o quê, porque só posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.”.



        Daqui a alguns dias, estarei revendo essa OBRA-PRIMA.





 

FOTOS: ARIEL CAVOTTI

 

 


E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

 

 

 


















































































































































































 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Concordo com vc quando fala que a atriz merece todos os prêmios! Quanto a hora da estrela, ela pode ter sido sarcástica, no final ela é abraçada pelo cara da Mercedes, lembra?

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