“A HORA
DA ESTRELA
ou
O CANTO
DE MACABÉA”
ou
(SERÁ QUE TUDO,
NA VIDA,
É QUEDA?)
ou
(A DOR DA
INVISIBILIDADE.)
A trégua que a pandemia de COVID-19
nos vem dando, caminhando, com a graça de Deus, para que possamos voltar
a levar uma vida “quase normal”, está fazendo com que o TEATRO
se comporte como uma Fênix, renascendo das cinzas em que foi
transformado, por conta de um vírus. Isso significa que estamos sendo
contemplados com muitas estreias e reestreias, neste mês de março,
incluindo o espetáculo ora, aqui, analisado.
Não consegui assistir a ele, quando estreou, em 2020,
no CCBB – Rio de Janeiro, porque estava agendado, com a assessoria de
imprensa, para a semana seguinte àquela da fatídica notícia da pandemia, no
dia 13 de março, o que fez com que todos os Teatros interrompessem
suas atividades. O espetáculo só conseguiu cumprir uma semana em
cartaz. O que julguei que não passaria de uma quinzena transformou-se nesta
situação, de dois anos, para a qual não encontro um substantivo que a nomeie e, menos ainda,
um adjetivo, para qualificá-la.
Foi ótima a iniciativa de terem filmado o espetáculo e
tê-lo apresentado, “on-line”, num determinado momento da pandemia.
Foi muito bom mesmo e fiquei bastante feliz com o resultado, entretanto muito distante
do que senti, na última quinta-feira, dia 3 de março de 2022, quando
pude assistir à montagem, como TEATRO, de verdade, numa
sala de espetáculos, o Teatro Firjan Sesi Centro, e, o mais
importante, com plateia. TEATRO presencial. TEATRO na acepção
total de seu significado. Uma temporada, de apenas um mês (Merecia muito
mais.), 16 apresentações, que servirá como motivo, também, para o
lançamento de um álbum, gravado por CHICO CÉSAR,
autor de todas as músicas da peça, e LAILA GARIN, sua protagonista,
com as canções do espetáculo, que é uma versão musical do clássico
de CLARICE LISPECTOR, seu último livro lançado em vida, com direção e adaptação
de ANDRÉ PAES LEME e direção musical de MARCELO CALDI, o
qual também é responsável pela produção musical e os arranjos do disco,
com 16 faixas.
SINOPSE:
A adaptação para o palco não difere muito do original, do
livro, que conta a história de MACABÉA (LAILA GARIN), uma migrante
nordestina, de 19 anos, que sai do interior de Alagoas, para
tentar uma nova vida no Rio de Janeiro.
MACABÉA, franzina, órfã de pai, mãe e da tia que a criou, migra para a cidade
grande, a fim de ser datilógrafa e “ser alguém na vida”, cheia de
sonhos e ilusões, alimentando-se de cachorros-quentes e se deliciando, ouvindo,
na madrugada, sem sono, a Rádio Relógio, que, além de informar a hora
certa, minuto a minuto, “ensina muita cultura”, num rádio de
pilha emprestado por uma das amigas de quarto.
Ela
mora numa pensão “chinfrim”, dividindo o quarto com mais quatro amigas,
todas balconistas das Lojas Americanas, batizadas, na pia, as
quatro, com o nome de Maria (Maria da Penha, Maria das Graças,
Maria José e uma “Maria só”.), e tem uma vida sem muitas emoções,
pois é indiferente a estas.
Conhece
OLÍMPICO DE JESUS (CLÁUDIO GABRIEL) e os dois começam a namorar, porém a
relação não se sustenta e OLÍMPICO acaba trocando MACABÉA por
GLÓRIA (CLÁUDIA VENTURA), colega de trabalho da ex-namorada, que, por
recomendação de sua cartomante, rouba o namorado de MACABÉA.
MACABÉA consegue um emprego simples, que lhe rende um mísero salário, mas que a
ajuda a se manter nos primeiros meses, sofrendo as maiores humilhações, que
partem de seu chefe, o SEU RAIMUNDO (CLÁUDIO GABRRIEL), o qual vivia
comparando seu trabalho “sujo” com a perfeição do desempenho de GLÓRIA,
que, além de tudo, era um “peixão”, como diria Nelson
Rodrigues.
No decorrer da trama, torna-se muito fácil entender o
comportamento da pobre jovem, a sua visão de mundo, todas as agruras por que
passa e, por mais trágico que seja o desenlace da história (Sem “spoiler”.),
paradoxalmente, o espectador, ao invés de sofrer, parece não feliz, mas
se sentir aliviado, por ver a protagonista “liberta” de
uma vida de tanto sofrimento e humilhações.
CLARICE LISPECTOR, uma espécie de unanimidade, de paixão
nacional, como escritora, sabia como denunciar o lado torto dos seres
humanos, com muito lirismo, “sem perder a ternura”. Ela cutuca,
sem piedade, as feridas, porém tem sempre, às mãos, meios de amenizar as dores,
com o que é necessário para os “curativos”, por meio de sua
linguagem particular, poética e criativa, embora as cicatrizes jamais
desapareçam. Na adaptação para o TEATRO, ANDRÉ PAES LEME foi
de uma felicidade ímpar, pois soube manter e respeitar o estilo de CLARICE,
fazendo, cirurgicamente, o que era necessário para transformar um texto
narrativo, um romance, numa dramaturgia genial, da mesma
forma como se houve na direção da peça, para o que foi cercado de
uma equipe formada por alguns dos melhores artistas de criação do TEATRO
BRASILEIRO.
No original, a história é contada por RODRIGO S. M, um homem que não aparece na história, embora possa ser considerado um narrador-personagem. Ele observa a jovem, percebe a sua “existência” (?) e, de longe, conta, sob o seu ponto de vista, os dramas que MACABÉA enfrenta, ao se mudar para uma cidade grande. No palco, essa narração é feita pelos próprios atores, que se dividem entre esse condutor do fio da meada e os personagens que representam. Sim, “os personagens”, já que CLÁUDIO e CLÁUDIA vivem mais de um.
A peça agrada ao público e atinge-o,
profundamente, porque este se vê diante de um triste cotidiano que todos
conhecemos, que não aprovamos, porém – e aqui faço, também, a “mea culpa”
– pouco, ou nada, fazemos, para que desapareçam, de vez, todas as “macabéas”
que existem neste país, desgorvernado, sem um rumo desejável pela grande
maioria dos seus mais de duzentos milhões de habitantes, uma boa parte dos
quais escolheu entregar as rédeas da Nação à última pessoa da face da Terra
que teria condições de conduzi-la a um bom caminho, um verdadeiro artífice, na “fabricação
de macabéas”.
O público se vê diante de dramas reais e
comuns, da luta, pelo menos, pela sobrevivência, o que já seria lucro, para
alguém, representando milhões de brasileiros, os quais, como ela, parecem, ao
nascer, ter ouvido o que Carlos Drummond de Andrade escreveu, em
seu “Poema de Sete Faces”: “Quando nasci, um anjo torto, / Desses que vivem na sombra, / Disse: ‘Vai, Carlos! Ser ‘gauche’ na vida!’”. Vai, MACABÉA, ser “gauche”
na vida!
MACABEA lida com
frustrações cotidianas e desesperanças, com relação ao amor e tudo mais, da
mesma forma como, em graus diferentes, lidamos todos nós. Cada um, sentado,
confortavelmente, em sua poltrona, de um Teatro refrigerado, é “projetado
para o palco” e, à sua maneira, tenta ajudar MACABÉA a se erguer
e continuar a seguir em frente, em seu calvário, com sua pesada cruz às costas.
Somos todos, no fundo, um pouco, uma “macabéa”, mas
não A MACABÉA, uma pessoa
simples, com pouca consciência de si, uma entre as muitas mulheres nordestinas
que saíram do sertão para a cidade. Sozinha, em uma grande capital, a personagem
exibe uma inocência e ingenuidade que chegam a incomodar. Ela
parece não ter consciência de seu próprio sofrimento e, por conta dessa “alienação
de si”, acaba tendo um destino trágico.
A peça, embora, em determinados
momentos, consiga fazer com que o público ensaie um riso, de culpa,
constrangimento ou impotência, por algumas falas e ações que demonstram o grau
de ingenuidade e credulidade da pobre protagonista, em relação aos que a
cercam, não é uma história que termine com o tradicional “E foram felizes
para sempre...”; não há, e assim tinha mesmo que ser, um “happy
end”, exatamente para que cada um que assiste a ela possa sair do Teatro
mexido, sacudido, desafiado, desperto de
um marasmo e arregace as mangas, para evitar que surjam outras “macabéas”
e para salvar as que já circulam, pelo Brasil a fora, mormente no eixo
Rio-São Paulo, perambulando, “zumbificadas”, pelas ruas das
grandes metrópoles. A protagonista
é uma mulher, sozinha no mundo, que, a despeito de ser, ainda, muito jovem, deixa
bem claro que “não existe”; apenas “passa pela vida”,
invisível a todos, menos para um homem, que se propõe a abrir nossos olhos para
uma realidade que não querermos perceber. MACABÉA é real. MACABÉA é gente. MACABÉA
é uma mulher brasileira.
A idealização do projeto é de
ANDRÉA ALVES (SARAU AGÊNCIA DE CULTURA BRASILEIRA), assim como sua produção,
e a peça foi pensada para ser encenada em 2020, quando se
comemorava o centenário de uma ucraniana que escolheu o Brasil, para
viver e desenvolver seu talento de escritora. A montagem chegou a estrear, no CCBB
do Rio de Janeiro, porém não por mais de uma semana, interrompida
que foi pela pandemia de COVID-19, como já foi dito. Antes desta
reestreia, no Rio de Janeiro, que soa como a verdadeira estreia, em
terra carioca, o espetáculo pôde ser visto e aplaudido no CCBB Brasília, no Sesc
SP e no CCBB BH. Devemos o prazer de poder aplaudir esta OBRA-PRIMA
a ANDRÉA, que faz o seguinte depoimento, extraído do “release”,
que me foi enviado por PEDRO NEVES (Assessoria de Impensa): “O
romance veio para a minha estante, através da minha professora, que, por coincidência, se chamava Laila. Ainda
no percurso de “Gota D`Água”, tive a ideia de propor o projeto para a LAILA
GARIN protagonizar, com a
direção do ANDRÉ, que é meu parceiro teatral, há 30 anos, e as músicas do CHICO CÉSAR, que tinha feito as canções originais do ‘Suassuna – O Auto
do Reino do Sol’”. Combinação
perfeita. Mais que perfeita!!!
O espetáculo
ganha uma dimensão maior, num palco, quando, além de se tornar uma peça de
TEATRO, esta é apresentada na forma de um musical, no qual “as músicas pontuam toda a dramaturgia e aparecem para
ilustrar o estado emocional e o interior de cada personagem. Ao longo da montagem, as canções servem, ainda, para detalhar algum acontecimento e,
também, para tirar as personagens do sofrido estágio
em que se encontram, trazendo alguma fantasia para existências tão opacas”. (Trecho estraído do já citado “releasae”.)
E como todas elas funcionam em cena, fazendo o espectador se desprender
das poltonas, “flutuar”, durante suas execuções, cada uma mais
linda que a outra, pujantes! Muitos aplausos para CHICO CÉSAR, responsável
por toda a, indiscutivemente, excelente, trilha sonora!
Um dos pontos mais importantes da peça, garantidor da qualidade do texto, é que ela se presta a uma denúncia
social, ao abordar a miserabilidade que tantos migrantes brasileiros encontram, quando
decidem buscar melhores condições de vida em cidades grandes. Isso acontece,
principalmente com os nordestinos, como é o caso da protagonista, e tal fluxo
migratório, até hoje, é um fato frequente, assim como suas desastrosas
consequências, na maioria das vezes.
O texto de “A HORA DA ESTRELA ou O CANTO DE MACABÉA” pode ser considerado uma “metaficção”, uma vez que temos um ser real que representa
um segmento representativo da nossa sociedade.
Explorado o que achei de interessante falar sobre o texto, vamos
aos demais elementos da montagem, a começar pela excelente direção,
acho que, de certa forma, facilitada, pelo fato de o diretor ser a mesma
pessoa que adaptou o texto para ser encenado: ANDRÉ PAES LEME.
Creio que, ao fazer o “trabalho de mesa”, ao computador, à medida
que ia transformando o texto narrativo num dramático, ANDRÉ
já estava pensando em como chegar a certas configurações, marcações e criação
das cenas, “desenhando”, “rascunhando” o que
queria, tudo feito com a maior criatividade e mergulho na psique de cada um dos
três personagens principais. Seria injusto não dizer que, nessa impecável
direção, no seu produto final, também deve ser creditado um nome
importantíssimo, que é o de TONI RODRIGUES, responsável pela fantástica
direção de movimento, que “suga” as energias físicas do elenco,
durante duas horas de espetáculo. Tudo por uma boa causa. Boa, não!
Ótima! O trabalho de direção de movimento, muitas vezes, não muito
observado ou reconhecido pelo público e, até mesmo, pela crítica,
não pode, aqui, ser colocado em segundo plano. Muito pelo contrário; é
um dos pontos altos desta encenação.
Quando eu digo que tudo o que vi, durante a pandemia, e continuo vendo, não é TEATRO, tenho meus motivos para defender minha tese, mas não vou perder meu tempo, voltando a bater numa tecla, que, de tão acionada, já está desgastada. Uma avaliação do espetáculo, de uma montagem teatral só pode ser feita ao vivo. Pela tela, perde-se muita coisa, ou muita coisa deixa de ser notada; ou até pode vir a ser, porém fica na base do “assim é, se lhe parece”. Em TEATRO, não pode “parecer”; tem que “SER”. O cenário deste espetáculo, por exemplo, me causou uma boa impressão, pela versão “on-line”, mas não era o que eu vi anteontem. Que cenografia fantástica, de ANDRÉ CORTEZ!!! Ao mesmo tempo que serve para sugerir as “locações” das cenas, parece que cada peça do cenário é mais um personagem e dialoga com os verdadeiros. ANDRÉ abusou do direito de ser criativo e de pôr em prática seu lado esteta. Muitas mesas quadradas, cadeiras e bancos, do que se vê em botequins, empilhados e espalhados pelo espaço cênico, e dependurados, os quais, ao longo da montagem, vão sendo movimentados, pelo elenco e até pelos músicos e por um casal, cujos nomes não aparecem na ficha técnica: PATY RIPOLI, camareira e contrarregra, e JÚNIOR BRASIL, diretor de palco, cujo trabalho requer total atenção, para fazer as movimentações nos momentos certos. E são muitas. Incluem-se, aí, outros elementos cênicos, também dependurados, que sobem e descem, de acordo com a necessidade de cada cena. Os personagens, por concepção do diretor, se espremem sobre/sob/entre esses móveis de cena, como se estivessem dentro de um labirinto sem saída.
KIKA LOPES, sempre presente nas produções de ANDRÉA ALVES, assina os
figurinos, que levam a sua digital, ou seja, são práticos e criativos,
confeccionados em tecidos especiais, servindo para, além de vestir os personagens,
estar sempre a serviço deles, usados para criar formas e situações. É como se
ambos, figurinos e atores, dialogassem, em cena. O elenco
tira partido das vestes, para criar. Quem assistiu, por exemplo, a “Auê”,
“Gota D’Água [A Seco]” e “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”,
pode avaliar o que estou dizendo. Lembro-me de cada detalhe dos figurinos
de todos os personagens, porque não há como não se apaixonar por eles. Para
mim, torna-se difícil descrever, com precisão, os figurinos desta peça,
pelo fato de fugirem, alguns, aos padrões convencionais. O que posso afirmar é
que, mais uma vez, KIKA se revelou uma das melhores profissionais do
ramo.
A luz é outra atração à parte, e não se
poderia esperar menos, quando quem a assina é RENATO MACHADO. Precisa,
para cada cena, harmoniosa, na intensidade e na paleta de cores, variando, “comme
il faut”, a partir da necessidade de cada cena. Esse desenho de luz
é um deleite para os espectadores, um elemento que, de forma alguma, poderia
ser avaliado e, muito menos, valorizado, naquela transmissão pela tela. Destaco a iluminação feita para as cenas em que há chuva, trabalho executado em consonância com a cenografia. Uma beleza!!!
E o que dizer do elenco? Tudo o que aqui for
dito será, ainda, muito pouco, para avaliar a preciosidade do trabalho de LAILA
GARIN, CLÁUDIA VENTURA E CLÁUDIO GABRIEL. Com a maior
sinceridade, abrindo meu coração, estou falando a mais pura verdade. Que
interpretações magníficas e como o trio troca passes e chuta a gol!!!
O que falar sobre LAILA? Acompanho sua
carreira, desde seus primeiros trabalhos, no Rio de Janeiro, e bato o
martelo: trata-se de uma atriz completa, uma das mais significativas do TEATRO
BRASILEIRO, mormente o MUSICAL. Em “Gota D’Água [A Seco]”,
achei que LAILA já havia atingido sua plenitude, completado seu ciclo de
maturação, como cantriz, mas eu não me lembrava, nas tantas vezes em que
assisti à peça, que o ator é um ser sempre insatisfeito,
querendo, e devendo, mesmo, se aperfeiçoar, cada vez mais, estudar sempre,
mergulhar fundo, nas profundezas de um oceano, às vezes, escurecido pela noite,
sempre que se vê diante do desafio de um novo trabalho. Nem todos, infelizmente,
agem assim, porém LAILA é dessas, das que se entregam, totalmente, de
corpo e alma, na composição de cada nova personagem, de uma forma tão visceral,
que nos emociona profundamente, que é impossível não chegar às lágrimas. Quando
vi a montagem “on-line”, isso ocorreu. E se, naquele momento, eu
precisava de um lenço, anteontem, um lençol tamanho “king” talvez
fosse insuficiente. Que voz! Que expressividade! Que agilidade
e facilidade de trabalhar o corpo! Quanta energia e entrega podem ser
percebidos naquela MACABÉA! Na “mentirinha” do TEATRO,
LAILA é uma grande “mentirosa”, porque nos convence de que
estamos diante da personagem criada por CLARICE LISPECTOR. Por
conta da pandemia, os prêmios de TEATRO foram suspensos ou, alguns,
sofreram mudanças em seus regulamentos e formas, entretanto, sem a menor sombra
de dúvidas, numa situação “normal”, como era antes da pandemia, LAILA
merecia o prêmio de melhor atriz, em todos eles.
CLÁUDIA VENTURA é outra atriz, já veterana em musicais,
que mostrou a que veio, desde quando a conheci, em seus primeiros trabalhos.
Como é normal, a atriz vem, a cada dia, num crescendo, em termos de
aproveitamento de seu imenso talento, interpretando, cantando e dançando. Cada
vez melhor, CLÁUDIA nos brinda com duas belíssimas interpretações,
perfeitas, em duas personagens totalmente diferentes. A sua composição
para a GLÓRIA, que “rouba”, de MACABÉA, a esperança
de ser feliz (Será que a moça, feia e invisível aos olhos e corações alheios,
um dia, chegaria lá?), é excelente. Sentindo-se
mal, por ter roubado o namorado da colega, GLÓRIA passa a ajudar a
coitada e lhe oferece dinheiro emprestado, para ela visitar uma cartomante, sem
imaginar o mal que estava causando à colega de trabalho.
O vocábulo “PROTAGONISTA”
tem sua etimologia no grego, em que “PROTOS”
significa “primeiro”, “o que vai à frente”, mais “AGONISTES”,
“ator, competidor”, que, por sua vez, provém de “AGON”, “competição”.
A rigor, seria considerado um pleonasmo dizer que “alguém é
o principal protagonista”, porém, na minha visão, pode haver mais de um
protagonista, num enredo, e, talvez, uma das maiores provas disso
sejam Romeu e Julieta, ambos protagonistas de uma
tragédia. É óbvio que, em “A HORA DA ESTRELA ou O CANTO DE MACABÉA”,
esta é a protagonista, porém, ainda que, tecnicamente, a personagem GLÓRIA
seja uma antagonista, uma vez que se opõe às ações e desejos da
protagonista, por seu brilhante trabalho, eu diria que CLÁUDIA VENTURA
poderia ser, também, considerada uma “segunda protagonista”, num
nível um pouco abaixo de MACABÉA. Estou falando de duas coisas: do papel
das personagens, na trama, e do trabalho das duas atrizes.
Todo o comentário final, feito sobre CLÁUDIA VENTURA, no que se refer à questão de protagonismo, estendo a CLÁUDIO GABRIEL, que mais atua em espetáculos “tradicionais”,
não musicais. Como ator, já o aplaudi muito, em peças
anteriores, mas CLÁUDIO me surpreendeu bastante como cantor.
Aprecio, profundamente, o seu trabalho e, mais ainda, agora, depois de tê-lo
visto na pele de OLÍMPICO DE JESUS, seu personagem de
destaque, na peça. CLÁUDIA e CLÁUDIO levantam a bola, para
LAILA “cortar”, mas, às vezes, não se sabe quem, realmente,
marcou o ponto. Que felicidade e que prazer ver esses três em cena!!!
FICHA TÉCNICA:
Da obra de Clarice Lispector
Adaptação e Direção: André Paes Leme
Assistente de
Direção: Anderson Aragón
Idealização e Direção de Produção: Andréa
Alves
Trilha Sonora Original: Chico César
Direção Musical e Arranjos: Marcelo Caldi
Elenco: Laila Garin, Cláudia Ventura e Cláudio Gabriel
Músicos: Fábio Luna, Ajurinã
Zwang, Pedro Aune e Pedro Franco
Figurinos: Kika Lopes
Cenário: André Cortez
Iluminação: Renato Machado
Desenho de Som: Gabriel D’Angelo
Preparação Corporal: Toni Rodrigues
Fotos: Ariel Cavotti
Coordenação de Produção: Rafael
Lydio
Produção Executiva: Felipe Valle
Produtor Assistente: Matheus
Castro
Produção: Sarau Cultura Brasileira e Ágapa Criação e
Produção Cultural
SERVIÇO:
Temporada: De
03 a 27 de março de 2022
Local: Teatro
Firjan Sesi Centro
Endereço:
Avenida Graça Aranha, nº 1, Centro – Rio de Janeiro
Dias e
Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h
Valor do
Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00
(meia entrada)
Link de
vendas: https://bit.ly/MacabeaSESI
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 120 minutos
Gênerto: Drama
É
pertinente lembrar que o livro também ganhou uma versão cinematográfica,
em 1985, o primeiro longa-metragem da consagrada diretora Suzana Amaral, tendo sido considerado "um
dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos". É um clássico da
filmografia brasileira, brilhantemente, estrelado por Marcélia
Cartaxo, em seu primeiro trabalho para as telas, contando, ainda, no elenco,
com nomes consagrados como, entre outros, Fernanda Montenegro e José
Dumont. O filme conquistou vários prêmios, nos mais conceituados
festivais de cinema do mundo, como o “Urso de Prata”, em 1986, no
“Festival de Berlim”, de melhor atriz, para Marcélia.
Muita gente não consegue
compreender o título original do livro. Fica, então, lançado, aqui, um desafio:
explicar a que se refere a autora da
obra, ao batizá-la como “A HORA DA ESTRELA”.
Tão logo cheguei a casa, anteontem, fiz
uma postagem, numa rede social, em que dizia que havia deixado o Teatro
Firjan Sesi Centro “em total estado de graça”, chamando a
atenção, nessa mesma postagem, para o fato de CLARICE LISPECTOR ter
escrito uma crônica chamada “Estado de Graça”, um das minhas
preferidas, na qual ela explica o que entende por tal sentimento. Aconselhei,
na ocasião, a todos, que lessem essa crônica. Abaixo, transcrevo seus dois primeiros
parágrafos, que atestam como me senti naquela noite do dia 3 de fevereiro
de 2022.
“Quem já conheceu o estado de graça
reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça
especial, que, tantas vezes, acontece aos que lidam com arte.
O
estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para
que se soubesse que, realmente, se existe. Neste estado, além da tranquila
felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de
leve, porque, na graça, tudo é tão, tão leve. É uma lucidez de quem não adivinha
mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não perguntem o quê, porque só
posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.”.
Daqui
a alguns dias, estarei revendo essa OBRA-PRIMA.
FOTOS: ARIEL CAVOTTI
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS,
SEMPRE MAIS!!!
Concordo com vc quando fala que a atriz merece todos os prêmios! Quanto a hora da estrela, ela pode ter sido sarcástica, no final ela é abraçada pelo cara da Mercedes, lembra?
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