O QUE SÓ
PASSARINHO
ENTENDE
(O TEATRO TRANSBORDANDO POESIA E BRASILIDADE.)
Tenho muito a agradecer ao TEATRO, inclusive pelas
dezenas e dezenas de queridos amigos que ele sempre vem colocando no meu
caminho e pelos quais tenho grande carinho e respeito. Por meio de uma querida amiga
comum, AGATHA DUARTE, este ano, incorporei mais dois importantes e
caríssimos nomes ao meu rol de seletas amizades: SAMUEL PAES DE LUNA e THIAGO
BECKER, ambos pertencentes à CIA ARTÍSTICA COBAIA CÊNICA, de Rio
do Sul/SC, a qual já nos brindou, muito recentemente, com o belíssimo
espetáculo “Benjamin, Filho da Felicidade”, no SESC Copacabana,
e, agora nos dá a oportunidade de conhecer “O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE”,
em cartaz no Teatro Cesgranrio (VER SERVIÇO.). Da mesma forma como me
encantei com aquele, agora, vivo o mesmo sentimento, com relação a este.
“O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE” é um espetáculo
teatral de rara beleza e poesia, em que o ator pernambucano SAMUEL PAES
DE LUNA conta a história de uma personagem que vive no Vale do
Jequitinhonha, no interior do estado de Minas Gerais, mesclando a
narrativa com memórias de sua própria história, em sua terra natal, Limoeiro,
interior de Pernambuco. Temas como pertencimento, valor à
terra e amor à natureza são abordados nesta peça. Só pela
temática, já vale a pena assistir a ela. Mas ainda há, como motivação para
isso, o lindo texto, de AGATHA, a boa direção, de THIAGO,
e a ótima interpretação de SAMUEL.
SINOPSE:
“O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE” é um espetáculo que apresenta, de
maneira lúdica e poética, a singularidade de uma mulher, que, apesar de marcada
pelas intempéries da vida, carrega a convicção de que o real valor e beleza
de sua existência estão no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Boa parte da beleza e da leveza do espetáculo reside no
fato de ele amalgamar TEATRO, poesia, depoimento e um intensa e
constante interação com o público.
A dramaturgia, de AGATHA DARTE, apoia-se no
conto “Totonha”, o qual faz parte do livro “Contos Negreiros”, do
autor pernambucano MARCELINO FREIRE, e é inspirada na obra de MANOEL
DE BARROS, questionando "os reais valores do ser humano, aquilo que,
realmente, é necessário para estarmos em harmonia, onde e com quem vivemos, e
faz um contraponto necessário ao comportamento do homem contemporâneo”.
É preciso estar atento aos regionalismos presentes no texto, de fácil alcance, porém, mesmo para os que os ouvem pela primeira vez, já que acabam se tornando
auto-explicáveis, dentro de um contexto maior.
O espetáculo chega ao Rio de Janeiro,
depois de já ter feito muitas apresentações, desde 2018, tendo passado
por Rio do Sul, onde estreou e está situada a sede da CIA., Recife
e por 24 cidades do estado de Santa Catarina, sempre com grande
sucesso de público e crítica.
A montagem é de uma simplicidade, singeleza,
delicadeza e poesia tais, que mexe com a sensibilidade do espectador,
despertando, em muitos, recordações de sua infância e juventude, do que sou um
exemplo. Vendo a movimentação de SAMUEL, em cena, e ouvindo o que ele
dizia, vinham-me, à memória, imagens boas e marcantes da minha vida.
O espetáculo é dirigido por THIAGO BECKER,
que consegue extrair o máximo do ator, “transpondo, para a cena,
um cotidiano simples, explorando a poesia, de uma maneira singela de se viver,
sem deixar de mergulhar fundo numa realidade que diz respeito a toda sociedade,
abordando questões como a solidão, o abandono, a seca e o conhecimento popular,
em contraponto ao erudito” (Trecho extraído do “release”,
que me foi enviado pelo próprio SAMUEL PAES DE LUNA, na pele de
um assessor de imprensa.). Num espaço cênico mínimo, o diretor
utiliza boas marcações, aproveitando-o ao máximo, e propõe uma saudável
integração com o público, seja interpelando-o, do próprio palco, seja representada por uma por duas pessoas, que são
chamadas ao palco, para uma rápida cena com o ator/protagonista - uma, para rer benzida, contra mau-olhado, e outra, para dividir um cafezinho - e, ao
retornar a seus lugares, levam um fio de lã, que sai da roca e lhes é atado, a
um dos punhos, por TOTONHA. É o símbolo da ligação, da simbiose entre
palco e plateia. Detalhe muito interessante da direção.
SAMUEL, ator, bailarino, contador
de histórias e produtor cultural, cujo trabalho de interpretação
eu não conhecia e do qual me tornei grande admirador, revela-se um excelente intérprete, um ator completo, que é capaz de representar uma velha, sem artifícios de maquiagem, utilizando, para isso, apenas seu talento em trabalhar corpo e voz. Suas máscaras faciais são tão perfeitas, que eu "vi" TOTONHA na minha frente. Da mesma forma como nos faz rir, também nos emociona, com suas memórias.
Numa CIA. de pequeno porte, em termos de recursos
financeiros, a atividade teatral se mostra, realmente, como um fazer
coletivo, em que todos dão um pouco de si e jogam em mais de uma posição,
para que o “jogo” aconteça. Sendo assim, em “O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE”, a cenografia também caiu nas mãos de THIAGO
BECKER, que executou uma obra muito criativa, para representar o interior -
um misto de sala/cozinha - de uma humilde casinha, com poucos móveis
e utensílios toscos, apresentando dois destaques: uma roca, no meio do espaço
cênico, muito utilizada, durante a peça e objeto de uma bela e
agradável surpresa, no final, e uma parede, de fundo, com uma janela, perenemente
aberta, feita de “retalhos”, ou melhor, emendas de diversos tipos de texturas e materiais,
um pouco difícil de ser descrita, mas linda de se ver (As fotos não deixarão dúvidas.). Do lado esquerdo, fora
da casa, porém totalmente integrada a ela, uma árvore seca, na qual há um
pequeno oratório e um ninho de pássaro. A seu pé, um monte de folhas secas.
Todo o ambiente passa a ideia de pobreza e agreste.
CISSA GUERRA é responsável por um figurino
simples, porém adequado aos personagens. Disse “personagens”, porque,
antes de se transformar em TOTONHA, SAMUEL se apresenta como ele
mesmo, cena em que traja uma bermuda, de alfaiataria, e uma camisa de linho, de
manga comprida, em tons pastéis. Quando se traveste na velha, agrega, ao figurino,
apenas uma espécie de casacão, feito de retalhos, com alguns bordados em alto
relevo, passando um pouco de mistério e misticismo, a meu juízo. Será que estou
exagerando ou “enxergando” demais?
Como é linda a luz, de THIAGO BECKER (Mais uma e suas funções, na CIA..) com sua variedade de cores e matizes!!! Nem consigo fazer uma análise técnica de sua funcionalidade, que, de qualquer forma, é muito acertada, tão embevecido fiquei com sua beleza plástica.
Uma boa trilha sonora, criada por RODRIGO FRONZA, embala
as cenas, contribuindo para a delicadeza do espetáculo. Música de raiz e sonoplastia para criar os sons do interior.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Agatha Duarte
Conto “Totonha”: Marcelino Freire
Direção: Thiago Becker
Atuação: Samuel Paes de Luna
Cenografia: Thiago Becker
Iluminação: Thiago Becker
Cenotécnico: Edolino Neza Sabino
Figurino: Cissa Guerra
Trilha Sonora: Rodrigo Fronza
Fotos: Thiago Amado
Produção: Cia Cobaia Cênica
SERVIÇO:
Temporada: De 06 a 29 de março de 2020.
Local: Teatro Cesgranrio.
Endereço: Rua Santa Alexandrina, 1011 - Rio Comprido,
Rio de Janeiro - RJ.
Telefone: (21) 2103-9682.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo,
às 19h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia
entrada).
Duração: 70 minutos.
Classificação Indicativa: 10 anos.
Contatos: (21) 979616647 / (47) 996011115.
Gênero: Comédia Dramática.
Depois de ter assistido a “Benjamin, Filho da
Felicidade”, idealização e realização da mesma CIA., e
de, mais uma vez, ter a certeza de que o BOM TEATRO não se restringe ao eixo
Rio-São Paulo e que, por esse Brasil afora, há excelentes companhias de TEATRO,
que merecem ser conhecidas nos grandes centros irradiadores de ARTE,
tomei o rumo do Teatro Cesgranrio, convicto de que reviveria o prazer
daquela noite, há cerca e um mês. E foi, exatamente, o que aconteceu.
Gostaria muito de poder rever a peça, o que acho que
não será possível, em função de uma agenda já saturada, mas a vontade há de
continuar, caso, não consiga, mesmo, realizar meu desejo.
Recomendo, sem pestanejar, “O QUE SÓ PASSARINHO
ENTENDE”, torcendo para que você também entenda e se sinta recompensado,
como eu entendi e me senti.
(FOTOS THIAGO AMADO.)
GALERIA PARTICULAR.
FOTOS: GILBERTO BARTHOLO,
AGATHA DUARTE
e
THIAGO BECKER.)
Com Samuel Paes de Luna.
Com Thiago Becker.
Com Agatha Duarte.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário