domingo, 15 de março de 2020

A HORA
E VEZ


(UMA AULA DE
INTERPRETAÇÃO,
PARA O TEXTO DE UM GÊNIO.)





            De estilos completamente diferentes e opostos, porém com igual dose de genialidade, amo, venero, idolatro MACHADO DE ASSIS e JOÃO GUIMARÃES ROSA, nossos maiores escritores brasileiros, de todos os tempos, na minha avaliação, pareando com os mais consagrados escritores universais. Não é ufanismo; é a constatação de uma realidade.

Comecei, muito jovenzinho, a admirar os dois, ainda na adolescência, o que era “incompreensível”, para os da minha idade e os adultos. Sim, para eles, eu era “o maluco”, o “alienado”; nos dias atuais, o “fora da caixinha”, o "lesado", que trocava a pelada, no campinho de várzea, por um mergulho nos livros de ambos. Hoje, com um olhar de fora, distante no tempo, como observador, entendo por que era assim considerado e não guardo mágoa de ninguém, muito menos me arrependo de ter me apaixonado pelos dois grandes mestres da nossa literatura. Muito pelo contrário. Com eles, aprendi a amar e a respeitar a língua portuguesa, em níveis diferentes, a ponto de, paralelamente à atividade teatral, como ator, ter concluído o curso de Letras, na UFRJ, e ter atuado, como professor de língua portuguesa e respectivas literaturas, em todos os níveis, do primeiro grau à universidade, por 47 anos, do que muito me orgulho.

Ainda no último ano do antigo curso clássico, atual nível médio, em 1968, gozando dos meus 18 anos, fui o segundo colocado num concurso nacional sobre a vida e a obra de GUIMARÃES ROSA, cujo prêmio me foi entregue por sua filha, Vilma Guimarães Rosa, também escritora: a obra completa de seu pai e mais o seu próprio livro “Em Memória de João Guimarães Rosa”, “troféus” que guardo, até hoje, como uma inestimável relíquia.









Duas coisas me chamavam mais a atenção em ambos, Machado e ROSA (Este grafado em maiúsculas apenas pelo fato de ter relação com o solo aqui tratado.): a linguagem, magnífica e totalmente diversa e original, uma da outra, e, da mesma forma, formidáveis, e a fértil galeria de personagens. Não vou, porém, falar sobre isso, em detalhes, e focarei, apenas, o espetáculo aqui analisado, “A HORA E VEZ”, baseado na obra “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de GUIMARÃES ROSA (Cordisburgo, 1908 – Rio de Janeiro, 1967), que faz parte do livro de contos “Sagarana”, publicado em 1946.

Além do gênio da pena, que foi, nos contos, nos romances e nas novelas (Gênero literário; não as de TV.) ROSA ainda exerceu a nobre atividade de médico.

Como ocorre no texto em que está calçada a dramaturgia da peça, suas “estórias” – termo (neologismo) cunhado por ROSA, significando uma “narrativa”, para diferençar de “história”, vocábulo que, dependendo de sua vontade, ficaria restrito ao sentido de uma “ciência”, como “História do TEATRO”, por exemplo, mas que acabou não caindo no gosto popular -, quase todas, acontecem no chamado sertão brasileiro, e sua marca primeira, e principal, concentra-se nas inovações de linguagem, marcada pela influência de falares populares e regionais, os quais, somados à sua erudição, formam uma porta para a criação de de um sem-número de novos vocábulos – neologismos -, a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas, fruto de sua observação, quando clinicou, como médico voluntário da Força Pública, atual Polícia Militar, pelos interiores do Brasil, notadamente o de Minas Gerais. 
            Em “Sagarana” e, por extensão, em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, ROSA mescla o real, o imaginário e o lendário. Pode-se dizer que se trata de um livro, ao mesmo tempo, regionalista universalista, uma vez que suas histórias, seus “causos”, localizam-se no sertão de Minas Gerais, no entanto num contexto de questões existenciais universais. Isso foi totalmente respeitado, em “A HORA E VEZ”, na adaptação de RUI RICARDO DIAZ, que também vive o protagonista, NHÔ AUGUSTO, neste solo, também dando vida a outros personagens do conto. 




            Acho curioso, interessante e oportuno fazer uma alusão à etimologia da palavra “Sagarana”, pelo fato de ela ter uma ligação muito direta com o que se vê no palco, nesta montagem. “Saga” é um radical de origem germânica, que significa “canto heroico”, “lenda”; e “rana” é palavra de origem tupi, significando “que exprime semelhança”. Destarte, numa formação híbrida, “Sagarana” significa algo como “próximo ou semelhante a uma saga”. Vendo a peça, estamos assistindo, indubitavelmente, ao desenrolar de uma saga, no sentidos denotativo e conotativo da palavra.
Sempre mantendo sua marca principal e quase inimitável, GUIMARÃES ROSA, uma “fábrica de vocábulos”, cria neologismos, em “Sagarana”, utilizando-se de palavras formadas pelos processos de derivações, prefixal, sufixal e parassintética, além de outros, como a abreviação e a composição, por aglutinação e justaposição. Ele “brinca” de construir palavras, um “arquiteto do léxico”, com uma facilidade tal, que ganhou grande destaque e reconhecimento, internacional, por tal prática. A obra, como todas de sua lavra, é repleta de neologismos, que se sobressaem em composições e derivações novas, além “de novos tipos de construção frasal”, ditos "neologismos sintáticos”, na visão do grande gramático, filólogo e mestre de todos nós, Joaquim Mattoso Câmara. O próprio GUIMARÃES ROSA disse que “as palavras têm canto e plumagem”. Por tal motivo, cada uma delas leva a significados diversos, ainda que essa diversidade possa ser muito sutil e só apreendida em um exercício de interpretação. (Com um pouco de apoio na Wikipédia, incluindo adaptações, supressões e acréscimos.).



  


É interessantíssmo, neste solo, em que RUI RICARDO DIAZ se manteve fidelíssimo ao texto e ao estilo rosiano, como o público consegue decodificar a quase totalidade dos neologismos e, dessa forma, acompanhar a narrativa da saga do protagonista, muito disso em função do contexto e da magnífica interpretação do ator.

O espetáculo chegou ao Rio de Janeiro, via CIA. DO SOPRO, de São Paulo, que eu, infelizmente, ainda não conhecia - e prometo nunca mais deixar de assistir a um de seus trabalhos -, para uma corajosa, arrojada mesmo, ocupação, no Teatro Poeirinha, de terça-feira a domingo, com dois espetáculos, solos: este, em tela, e “Como Todos os Atos Humanos”, ao qual ainda assistirei (VER SERVIÇO.).

“A HORA E VEZ” já vem percorrendo uma longa estrada, desde 2014, tendo sido considerada, por uma das mais conceituadas revistas brasileiras, na sua sessão cultural, como “uma das dez melhores peças em cartaz, em 2014, 2015 e 2016”. Realizou várias temporadas em São Paulo. É o que se pode chamar e aquele “trunfo” da companhia, a “carta tirada da manga”, o espetáculo atemporal, que agrada muito, tanto ao público como à crítica, que é para ser montado sempre, porque jamais faltará plateia para ele.







SINOPSE:

Depois de cair numa emboscada, liderada pelo Major Consilva Quim Recadeiro, seu arqui-inimigo, NHÔ AUGUSTO, AUGUSTO ESTEVES (MATRAGA), nome de pia, é dado como morto.

Socorrido por um casal, consegue sobreviver.

Quando se recupera, vai viver longe do Murici e decide dedicar sua vida ao trabalho, à penitência e à oração.

Depois de anos de reclusão, no povoado do Tombador, decide partir.

O destino leva-o ao Arraial do Rala-Coco, onde o reencontro com o amigo e poderoso cangaceiro, Seu Joãozinho Bem-Bem, provoca nova reviravolta em sua vida.











            Ampliando a sinopse, AUGUSTO MATRAGA, NHÔ AUGUSTO,  “homem duro, doido e sem detença”, é um violento fazendeiro, homem cruel, o qual, além de traído pela esposa, Dinóra (A grafia original, acentuada, não se justifica, uma vez que vocábulos paroxítonos terminados em “-A” não são acentuados. E quem há de discutir com GUIMARÃES ROSA?) foi emboscado por seus inimigos e dado como morto, tendo sido, porém, salvo, por um casal de negros, Mãe Quitéria e Pai Serapião, os quais, além de cuidarem dele, salvando-lhe a vida, ensinaram-lhe a moral cristã, e NHÔ AUGUSTO tomou o caminho da religiosidade. Depois, acabou conhecendo Seu Joãozinho Bem-Bem, cangaceiro, que o fez viver um conflito interno, instigando os instintos violentos de sua personalidade. MATRAGA passou, então, a viver um drama de identidade, oscilando entre seu temperamento agressivo e o misticismo, que não conseguia mais abandonar. 

       Expandindo um pouco mais o enredo, NHÔ AUGUSTO era um homem marcado pela violência, pela vingança e pela realidade dura do sertão de Minas Gerais, o que, de certa forma, “justifica”, ou melhor, explica o seu rude temperamento, de quem arrumava (e vivia à procura de) confusão por onde passava, espalhando violência e medo. Era muito temido por todos. Casado com Dona Dionóra, o casal tinha uma filha, chamada Mimita. Para, ainda, levar o leitor a tentar entender as ações do protagonista, acho considerável saber que NHÔ AUGUSTO perdeu a mãe ainda criança, teve um pai “problemático” e foi criado pela avó, mulher extremamente religiosa, a qual se realizaria se visse o neto ordenado padre.
Nosso “herói” também vivia na dependência de dois perigosos vícios: o jogo e os “rabos de saia”, os quais foram corroendo seu patrimônio. Esbanjador e sem se importar com - ou por não saber administrar - os muitos bens materiais de que era proprietário, NHÔ AUGUSTO foi, paulatinamente, perdendo a fortuna, herdada do pai, ficou em péssima situação financeira, a ponto de deixar de pagar aos seus muitos capangas. Estes, percebendo, claramente, a ruína do patrão, decidiram “pular do barco”, antes da consumação do “naufrágio”, e bandearam-se para o lado de seu pior inimigo, o Major Consilva Quim Recadeiro.
Como uma desgraça nunca vem desacompanhada, sua mulher, farta das traições e não suportando mais os maus tratos do “marido” e “pai” ausente, abandonou-o, fugindo com Ovídio Moura, o qual era perdidamente apaixonado por ela, levando consigo a filha, Mimita, ainda criança.


Além de brutalmente espancado, pelos capangas do Major Consilva, a ponto de ter sido considerado morto, NHÔ AUGUSTO ainda sofreu uma humilhação maior, a de ser queimado, nas nádegas, com ferro quente, usado para marcar gado, com o sinal de posse e domínio de seu maior inimigo (“Porque gado a gente marca, / Tange, ferra, engorda e mata, / Mas, com gente é diferente.”“Disparada” Geraldo Vandré e Théo de Barros.).
Ocorre que, por um “milagre”, graças a uma de suas “sete vidas”, o “gato” sobreviveu, foi encontrado, quase morto mesmo, por Mãe Quitéria e Pai Serapião, um casal de negros, os quais trataram dele e o iniciaram num processo de “recuperação”; “regeneração” seria o termo mais apropriado, contando, para isso, com o concurso de um padre, que passou a ser uma figura muito importante, na vida de AUGUSTO (Até a página 5.). O religioso pregava, ao novo “crente”, a importância da fé, da reza, da caridade e do trabalho duro, impelindo-o a “deixar a vida passada para trás e a construir uma nova, plena de arrependimento, devoção, penitência e trabalho árduo”, a que NHÔ AUGUSTO não se negou, tomado de gratidão, pela acolhida do casal, e por temor a Deus. Uma frase, dita por esse padre, marcou-o profundamente. Dela, ele jamais se esqueceu e o acompanhou, até o fim de sua jornada: Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”.
Um dia, quase seis anos depois de ter conhecido, de perto, a morte, por espancamento, porém, já totalmente restabelecido, curado de corpo e alma (Desta também? Será?), decidiu partir, de madrugada, em direção à única propriedade que ainda lhe restara, com um só objetivo: o de, lá, procurar viver sob uma nova “identidade”, pacífica, com o passado “enterrado”. O “pecado” que ficasse fora do seu alcance. Não mais fumava nem bebia; mulheres não mais lhe interessavam. Nunca mais voltou a provocar arengas ou a se meter nelas. Um “imaculado”, livre das tentações e dos crimes pretéritos. Lá chegando, encontrou-se com Tião, um parente afastado, que o reconheceu e lhe reportou que Dona Dionóra continuava vivendo, em total felicidade, com Ovídio Moura, com planos, inclusive, de se casarem, uma vez que, depois de tanto tempo sem notícias do marido, considerava-se viúva, desimpedida, portanto, para um novo matrimônio, sem o perigo de vir a ser considerada bígama. Diga-se, de passagem, que, para se casar com AUGUSTO, o homem que, depois, viria a desprezá-la, Dona Dinóra havia rompido com toda a sua família, que era contra a união, da qual, uma vez consumida, ela se arrependeu. Mas, aí, já era tarde. Ou não. Acrescentou, ainda, com relação a Mimita, que a filha, negligenciada pelo pai, desde que viera à luz, ainda uma adolescente, enganada por um caixeiro viajante, caíra na vida; prostituíra-se.
NHÔ AUGUSTO, ainda que se sentindo mal, com aquelas revelações, culpando-se por tais desditas, sabia, no fundo, que tudo havia sido obra do destino, que era uma “provação” e que não dependia dele evitá-las, prosseguindo na sua intenção de viver a vida “como Deus gosta”, até a chegada de um certo Seu Joãozinho Bem-Bem, cangaceiro terrível e temido, acompanhado de seu bando. Por “respeito” (Leia-se “medo”, creio eu.) ao forasteiro, AUGUSTO hospedou a todos, agregando-os, tratando-os com a maior fidalguia, além de ter criado, com o grupo, um laço de estima e amizade, chegando a ser convidado, por seu líder, a fazer parte da quadrilha, não aceitando, porém, o “honroso” convite, pela convicção de que sua vida seria dedicada, exclusivamente, à prática do bem.


O bando tomou seu rumo e NHÔ AUGUSTO seguiu, a muito custo, na sua pacata vidinha, ainda que, no fundo, invejasse a lida do pessoal do bando, porque não tinham que pensar na salvação da alma e podiam andar, no mundo, sem vergonha”. Um dia, um bom tempo depois, quis o destino que o protagonista reencontrasse Seu Joãozinho Bem-Bem, no Arraial do Rala-Coco. Lá estavam eles, com o propósito de executar a família inteira de um assassino fugido, do que NHÔ AUGUSTO discordou completamente, entrando em conflito com o carniceiro jagunço. Um dos sentenciados implorava pela vida, clamando por Deus, cena que, por piedade, levou NHÔ AUGUSTO a intervir, pela não execução, alegando que “pedido em nome de Nosso Senhor e da Virgem tinha que ser respeitado”. Isso mexeu com Seu Joãozinho, o qual, por gratidão e amizade, se sentia ligado ao amigo e, por respeito, não sabia o que fazer. O bando, porém, pensava diferente e partiu em ataque a AUGUSTO, no que acabou sendo seguido por seu líder. Essa desavença fez despertar, em AUGUSTO, o seu já conhecido, e adormecido, instinto perverso e de matador. Houve muita discussão e NHÔ acabou por se desentender, severamente, com o bando, matando os capangas e o próprio Seu Joãozinho. Durante a peleja, NHÔ AUGUSTO revelou-se a pessoa que sempre foi. Na briga, o NHÔ AUGUSTO “do mal” ressurgiu e matou a todos, sem exceção.              
Por uma questão de não dar “spoiler” e aguçar a curiosidade de quem me lê, omito, propositalmente, o final da história. Será que os ensinamentos do padre foram totalmente esquecidos, ou em parte e temporariamente, e NHÔ AUGUSTO voltou a ser o valentão, cruel, opressor, criador de casos, ávido de brigas e confusões, temido e odiado, às escondidas, por todos? Vá conferir!
Antes de passar aos comentários sobre a montagem da CIA. DO SOPRO, acho oportuno (Penso que ROSA ficaria feliz, se pudesse ler o que vou escrever agora. Momento pretensão, cabotinismo, embora só esteja ampliando o que encontrei numa pesquisa.) falar sobre a etimologia do nome do protagonista, dado seu papel na história: AUGUSTO MATRAGA. AUGUSTO” é um adjetivo, substantivado, que significa “majestoso”, “imponente”, “grandioso”, “venerável”, “magnífico”, “superior”, “epopeico”, “fabuloso”, “gigantesco”, “heroico” e mais de uma dezena de outros sinônimos, todos revestidos de um sentido de superlatividade. Já o apelido, MATRAGA, carrega, em sua forma estrutural, uma conotação pejorativa (má + traga, de tragar ou do verbo trazer = "o que traz o mal"). Quando li algo sobre isso, a princípio, julguei ser uma “viagem”, da parte de quem chegou a tal conclusão; depois, com o pensamento voltado para ROSA, enxerguei tal possibilidade e ratifico o raciocínio.
Não costumo iniciar as minhas análises técnico-críticas pelo elenco, entretanto sinto-me entusiasmado a fazê-lo pelo que me impressionou o trabalho de interpretação do ator; um grande ator, aliás. O espetáculo, a despeito da maravilha do texto, é, sim, a montagem, um modelo de TEATRO de ator, significando que o que mais sobressai, do trabalho em conjunto, o mais importante de tudo, é a atuação de RUI RICARDO DIAZ, quer na pele do protagonista, quer representando qualquer um dos vários personagens coadjuvantes que fazem parte do universo matraguiano. É impressionante, digna de destaque, a facilidade como, apenas com dois recursos – corpo e voz – o ator se transforma radicalmente, passa de um personagem a outro, por vezes, bem diferentes, como quem se propõem a, simplesmente, colocar apenas um pingo, um pontinho, a caneta, numa folha de papel em branco. Que belo trabalho de corpo e voz, a serviço da composição de vários personagens!!! E tudo isso vindo acompanhando de um texto que, se, para a maioria das pessoas, já é de difícil compreensão, imaginem para decorá-lo e torná-lo o mais claro possível para o público!!!


Não é, absolutamente, minha intenção deixar de valorizar o trabalho de ANTÔNIO JANUZELLI, cuja proposta de direção me pareceu bem correta e apropriada ao texto, de não complicar, não inventar firulas e, somente, partir para algo simples, bem minimalista, dando corda ao ator, para que este definisse o tom da representação. Se eu estiver enganado, peço que me perdoe o diretor, mas foi a impressão com a qual fiquei, o que, de modo algum, faz por desmerecer o seu empenho nesta encenação.

Por mais que eu procurasse, não vi, na ficha técnica, o nome de alguém responsável pelo cenário da peça (Tenho um palpite de que tenha sido criado pelo diretor do espetáculo.), elemento, de certa forma, totalmente desnecessário, suprido pelo texto e pela interpretação. Mas ele existe, na forma de uma mesa tosca e um banquinho idem, ao fundo, no canto esquerdo do palco, com um abajur de pé, ao lado. Sobre a mesa, apenas um livro.

ANTÔNIO JANUZELLI faz dobradinha, se não for, também, o cenógrafo, assinando a direção e o figurino, este traduzido em trajes bem básicos: uma calça e uma camisa de mangas compridas, em tons pastéis, de marrom e cinza, de linho, quero crer, valorizando os elementos da terra.

A luz, de OSWALDO GAZOTTI, em pouca intensidade e pequenas variações, contribui muito para criar uma ambientação de mistério, trabalho excelente com a criação de sombras, mais do que com a preocupação de iluminar, propriamente, o espaço cênico. Um belo trabalho, que enriquece o conjunto!

Outros profissionais também contribuíram, construtivamente, para o resultado final desta montagem, como JOAQUIM DIAS DA SILVA, na pesquisa de vocabulário regional, importantíssimo, e LUÍS LOUIS, com o “Estudo de Teatro Físico”, que, salvo engano, me levou a ser entendido como preparação corporal ou direção de movimento; algo do gênero. Ou não?








FICHA TÉCNICA:

A partir do conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa
Adaptação: Rui Ricardo Diaz
Direção: Antônio Januzelli
Assistência de Direção: Fani Feldman

Atuação: Rui Ricardo Diaz

Cenário: (Nome não divulgado.)
Figurino: Antônio Januzelli
Iluminação: Osvaldo Gazotti
Estudo de Teatro Físico: Luís Louis
Fotos: Bob Sousa
Arte Gráfica: Ideografia Soluções Gráficas
Produção: Fani Feldman – QUINCAS
Idealização: Cia. do Sopro / © Agnes Guimarães Rosa do Amaral, Vilma Guimarães Rosa e Nonada Cultural Ltda.
Assessoria de Imprensa RJ: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany














SERVIÇO:

Temporada: De 28 de fevereiro a 12 de abril de 2020.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h; domingo, às 19h.
Valor dos ingressos: R$60,00 e R$30,00.
Capacidade: 60 lugares.
Duração: 55 minutos.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Drama.









            Dois fatores me chamaram muito a atenção, nesta montagem. Um deles é o contraste, a distância que há entre a opulência, no sentido daquilo que é rico, magnífico, em qualidade, de um texto, que não foi escrito para ser representado, dramaticamente, e a frugalidade, a temperança como foi levado à cena. O outro e, sem dúvida, aquele que mais me leva a recomendar o espetáculo, é a atuação de RUI RICARDO DIAZ, ator bissexto, nos palcos cariocas, mais presente, para nós, na TV e no cinema.

GUIMARÃES ROSA, para mim, e para muita gente, não é nenhuma novidade. Eu já conhecia o texto que veria representado e isso, por si, já me fazia feliz, por mais um contato com a obra, porém ver um ator pleno, representando da forma mais visceral possível, não é evento para todos os dias.

            Creio que, com suas próprias palavras, retiradas do “release” da peça, que me foi enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), RUI justifique, talvez, a qualidade do seu trabalho: GUIMARÃES captou, como ninguém, toda a lógica comportamental e prosódica do homem dos interiores do país. Poder interpretar um dos personagens mais icônicos da nossa literatura é, para mim, mineiro de nascença, migrante, como tantos, a possibilidade de um reencontro com minha origem, minha gênese: o sertão brasileiro.”.

            Tão logo o espetáculo volte ao cartaz, passado este terrível e sombrio momento que estamos vivendo, de quarentena compulsória, por conta de uma pandemia (COVID-19), vá, logo, ao Teatro Poeirinha, para conferir se procede todo este meu entusiasmo. Tenho certeza de que irão concordar comigo.



 



 (FOTOS BOB SOUSA.)



(GALERIA PARTICULAR:
FOTOS JOÃO PEDRO BARTHOLO.)












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