LUZ
NAS
TREVAS
(UM BRECHT SERÁ,
PARA SEMPRE,
UM BRECHT.)
Apesar da falta de tempo e do excesso de trabalho,
consegui encontrar uma oportunidade para escrever umas rápidas impressões sobre
o espetáculo “LUZ NAS TREVAS”, que muito me agradou, em cartaz no Armazém
da Utopia (Armazém 6, da zona portuária do Rio de Janeiro (VER SERVIÇO).
A peça é mais uma montagem da COMPANHIA
ENSAIO ABERTO, que costuma ocupar locais não convencionais, para exibir
seus trabalhos, e foi escrita há exatos 100 anos, em 1919, pelo
consagrado dramaturgo alemão BERTOLT BRECHT, sempre tão atual. O texto
surgiu sob a influência de “that great Munich clown Karl Valentin”.
A peça
foi escrita num período de grande recessão econômica, na Alemanha, pós-Primeira
Guerra, mas seu tema, além de muito atual, pode, também, ser considerado
universal.
SINOPSE:
A narrativa
apresenta PADUK (LEONARDO HINCKEL), um antigo cliente do bar da SRA.
HOGGE (TUCA MORAES), que, um dia, foi expulso do bordel, por não ter
dinheiro para pagar a conta.
Indignado com o
ocorrido, ele decide ganhar dinheiro, arruinando a prostituição local,
iluminando a rua do prostíbulo, para afastar os clientes.
Depois de algumas contendas, o texto nos revela uma surpresa em seu final.
Uma sinopse tão curta, extraída do “release”
da peça, enviado por FLÁVIA TENÓRIO (LEAD COMUNICAÇÃO),
extrapolando o sentido do vocábulo “sinopse” (resumo, relato breve),
não é suficiente para o leitor ter uma ideia real do espetáculo a que
assistirá, entretanto, por outro lado, estimula o espectador em potencial a
procurar conferir, logo, a encenação, a qual, fugindo à formatação do TEATRO
tradicional, do palco italiano, traz a atmosfera dos cabarés alemães do início
do século XX. Isso, porque o Armazém da Utopia foi transformado
num cabaré, no qual o público (máximo de 100 pessoas), é convidado, pela
produção, a chegar uma hora antes do início da ação e fica acomodado no
meio, enquanto as cenas se dão à sua volta, em pequenos palcos, praticáveis ou
em passarelas. Essa ideia é muito interessante, uma vez que os espectadores vivem
a experiência de, também, participar do espetáculo, sem que este seja
interativo, o que é muito desagradável, na grande maioria das vezes, a meu
juízo, mas que, aqui, só não é mais agradável, por causa do desconforto das
cadeiras. Para mim, pelo menos. Mas é por pouco tempo e por uma boa causa.
O
bar, que faz parte do cenário, desenvolvido por LUIZ FERNANDO LOBO,
o qual também dirige o espetáculo e tem uma pequena participação,
como um “barman”, é verdadeiro e atende aos “clientes”, serviço
feito por atrizes / garçonetes, que, ao mesmo tempo, são as “meninas” do bordel. “A
ideia é transportá-los (o público) para o bordel da SRA. HOGGE”,
diz o diretor, objetivo, certamente, atingido. Isso, também de certa
forma, paradoxalmente, porém funcionando bem, vai de encontro ao método
proposto por BRECHT, do “distanciamento”, segundo o qual “o
objetivo é tornar claro, ao espectador, que ele está frente a uma obra de arte,
de que a representação teatral é uma ilusão”. Mas, no final, tudo dá
certo.
Extraído
do já citado “release”: “Em ‘LUZ NAS TREVAS’, BRECHT cria
uma parábola, denunciando as articulações contraditórias do sistema
capitalista: através da prostituição e das doenças venéreas, o que está em jogo
é a exploração”. A exploração do homem pelo homem, aliás, é um tema frequente
nas obras do consagrado dramaturgo.
O
espectador atento perceberá, no protagonista, relações estreitíssimas
com “autoridades” muito próximas a nós, não só no Brasil, mas também em
outras partes do mundo. Quantas pessoas como ele, PADUCK, não surgem, às
vezes, de um ostracismo abissal, para se revelarem, ou se dizerem ser, “paladinos
da justiça”, com discursos bem elaborados, porém totalmente mentirosos, “fakes”,
para sermos bem modernos, com a promessa de, no papel de “salvadores da pátria”,
acabar com tudo o que há de errado, no país, com verdadeiras “fórmulas
mágicas”, consertá-lo, livrar a sociedade do mal que a corrompe, moralizar e
defender os bons costumes da família brasileira, com “Deus acima de todos”,
sem esquecer “O Brasil acima de tudo.”? Como um visionário, BRECHT
nos mostra exatamente isso, a triste realidade que estamos vivendo no Brasil
de hoje.
PADUCK age, aparentemente, por vingança, pelo fato
de ele, um freguês tão antigo, ter sido exposto à sociedade, quando do momento
de sua expulsão do cabaré, por não pagar o que devia. Pensa numa estratégia, em
princípio – repito: aparentemente -, para se vingar, instalando, na rua da casa
de tolerância, bem próximo a ela, um grande refletor. Iluminando a via pública
- pensava ele -, os clientes não iriam querer mais ir lá, por medo de serem
vistos naquele antro. Isso estava levando os negócios da SRA. HOGGE (TUCA
MORAES) à ruína.
Enquanto
isso, para completar, PADUCK monta, com o apoio e o patrocínio da Prefeitura
local, bem em frente ao cabaré, uma barraca, onde exibia uma exposição sobre
doenças venéreas, obviamente “contraídas nas relações promíscuas com
aquelas mulheres impuras”, as mesmas com as quais, antes, ele se
relacionava. Assim, ele vai ganhando muito dinheiro, cobrando ingressos de quem
se interessava em ver a tal exposição, contando com um ajudante, anônimo, salvo
engano, (JOÃO RAPHAEL ALVES).
Seria, ao que tudo leva a crer uma mera vingança, porém,
acima disso, estava o interesse em ganhar dinheiro, renegando o seu passado, o
que fazia antes.
O que deseja, na verdade, BRECHT, com este texto,
é provocar reflexões, no público, acerca do que pode ser considerado moral,
imoral ou amoral, de acordo com um determinado ponto de vista e considerando os
interesses próprios dos indivíduos, colocados acima dos que seriam de uma
coletividade.
Primeiro, a SRA HOGGE parte para uma briga contra
o desafeto, que não se deixa abater e continua na sua luta de "salvação" do povo
daquela cidade (Não há uma localização exata, na peça.). E a cafetina,
só perdendo, só levando prejuízo, até o momento em que dá o troco, com uma
proposta, digamos, “indecente”, porém, "lógica", propondo, ao homem, que ele desista daquele
negócio, uma vez que já enriquecera, liberando sua volta, como frequentador
assíduo da “casa de prazeres” e sócio. Antes, porém, fê-lo entender que,
chegaria um momento em que, sem o cabaré, terminaria a motivação e o interesse
das pessoas pela exposição. E ele percebe que, já rico, pode deixar de lado
seus mais “moralizadores objetivos” e voltar à esbórnia, o que seria, uma outra
forma de lucro, além, é claro, de aumentar seu patrimônio, como um dos donos do
local.
Há,
visivelmente, no título da peça, uma intenção do autor de, por
meio de uma dupla metáfora. Em primeiro lugar, a luz é para clarear as
mentes dos que vivem nas trevas. E essa
decodificação é bem ampla. Também pode receber a leitura de que a luz,
instalada por PADUCK, pode revelar quem, realmente, ele é, o tipo de
oportunista e explorador, personagem tão às fartas na nossa sociedade, principalmente na política.
Moral
e lucro rimam? Nem na poesia nem nesta história.
Confesso
que o espetáculo superou as minhas expectativas. O texto, que,
infelizmente, não conhecia, ainda, é excelente, assim como a direção e a
atuação do elenco, com realce para o protagonista, PADUCK,
vivido por LEONARDO HINCKEL, e TUCA MORAES (SRA. HOGGE). Ainda se
destaca, no papel de uma jornalista, LUIZA MORAES, também uma
das “meninas” do bordel. Completam o elenco, em participações menores,
porém corretas, GILBERTO MIRANDA (PÁROCO) e ANA MOURA, LETÍCIA
VIANA, NATÁLIA GADIOLLI, NADY OLIVEIRA e TAYARA MACIEL, as prostitutas,
além, como já disse, de LUIZ FERNANDO LOBO (BARMAN).
Colaboram
para a boa montagem a cenografia (espaço cênico), de LUIZ
FERNANDO LOBO; os figurinos, de BETH FILIPECKI e RENALDO
MACHADO; a iluminação, de CÉSAR DE RAMIRES; e a maquiagem e
preparação corporal, de LUIZA MORAES.
Há
de se louvar o grande esforço físico do elenco, para grandes
deslocamentos, em cena, assim como para projetar a voz, num espaço imenso, sem
tratamento acústico. De qualquer local em que o espectador esteja alocado,
consegue ouvir, com nitidez, todas as falas dos atores.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Bertolt
Brecht
Tradução: Geir
Campos
Direção Artística:
Luiz Fernando Lobo
Assistente de
Direção: Anna Carolina Magalhães
Elenco (por ordem
alfabética): Gilberto Miranda, João Raphael Alves, Leonardo Hinckel, Letícia
Viana, Luiz Fernando Lobo, Luiza Moraes, Nady Oliveira, Natália Gadiolli,
Tayara Maciel e Tuca Moraes.
Espaço Cênico:
Luiz Fernando Lobo
Iluminação: César
de Ramires
Figurino: Beth
Filipecki e Renaldo Machado
Maquiagem e
Preparação Corporal: Luiza Moraes
Direção de
Produção: Tuca Moraes
Produção
Executiva: Cida de Souza
Ciência do Novo
Público: João Raphael Alves e Agnes de Freitas
Programação
Visual: Marcos Apóstolo e Marcos Becker
Cenotécnico: Dodô
Giovenetti
Gerente
Operacional: Roberta Mello
SERVIÇO:
Temporada: De 27
de abril a 30 de junho de 2019.
Local: Armazém da Utopia
(Armazém 6, Cais do Porto do Rio de Janeiro).
Telefones: (21) 2516-4893
/ (21) 98909-2402 (WhatsApp) 📲📞.
VLT: Parada Utopia
/ AquaRio.
Dias e Horários:
6ªs feiras e sábados, às 20h30min; domingos, às 19h30min.
Abertura da casa e
do bar às 19h30min (às 6ªs feiras e sábados) e às 18h30min (aos domingos).
Valor dos Ingressos:
www.sympla.com.br/CompanhiaEnsaioAberto R$40,00 (inteira) / R$20,00 (meia
entrada).
Ingressos
antecipados: R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia entrada)*- desconto para compras
com até 72h de antecedência ou até acabar a cota.
*POLÍTICA DE
TROCAS DE DATAS DE INGRESSOS ANTECIPADOS: Trocas de datas são aceitas somente
até 48 horas antes da sessão. Não realizamos troca de ingressos com data de
sessão vencida.
Para agendamento
de grupos (escolas, projetos sociais, associações etc.) entre em contato
através do WhatsApp (21) 98909-2402.
Classificação
Etária: 14 anos.
Capacidade: 100 lugares.
Duração: 60
minutos.
Gênero: Comédia
dramática.
ASSESSORIA DE
IMPRENSA: LEAD Comunicação - Flávia Tenório e Karine Santos
(21) 2222-9450 |
(21) 99348-9189
leadcom@terra.com.br / leadcomunicacao.com
Recomendo o espetáculo. Primeiro, porque BRECHT
sempre será BRECHT e, em segundo lugar, porque a montagem é muito bem
cuidada.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE,
JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: FRANCISCO PRONER,
CHICO LIMA, VÍTOR VOGEL e
RENAM BRANDÃO.)
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