sábado, 15 de junho de 2019


DISTORÇÕES

(UMA ALEGORIA,
MAIS QUE UM CONJUNTO DE METÁFORAS,
A SERVIÇO DO BOM 
TEATRO BRASILEIRO.)


            TEATRO já é bom, por natureza; quando a peça agrada, melhor ainda; quando é ótima, alegria total. Foi assim que deixei o Teatro I do SESC Tijuca (VER SERVIÇO.), há alguns dias, depois de ter assistido a “DISTORÇÕES”, uma excelente montagem de um texto idem.

            A dramaturgia, um verdadeiro primor, é inédita, escrita pelo jovem e talentoso dramaturgo FABRÍCIO BRANCO, premiado na 8ª edição do Prêmio, de dramaturgia, “Seleção Brasil em Cena”, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil, com a peça “Solo”, que esteve em cartaz neste ano.

            A encenação é o resultado de um longo processo, de mais dois anos, a partir do momento em que as duas atrizes da peça, CARMEN FRENZEL e MARIANA CONSOLI, “perceberam que o humor cotidiano havia dado lugar para uma sensação coletiva de tristeza, em uma sociedade bombardeada por notícias capazes de tirar o sono. Foi nesse momento que, a convite das atrizes, FABRÍCIO foi convocado a participar do processo, na tentativa de sintetizar as questões propostas e criar uma dramaturgia em que realidade e imaginação pudessem ser misturadas, tal qual uma centrifugação de ideias.”. (Texto extraído do “release”, enviado por FERNANDA MIRANDA (DOIS PONTOS ASSESSORIA).







SINOPSE:

Uma frase, em uma etiqueta, altera a rotina de duas funcionárias de uma lavanderia.

A mesmice do dia a dia das duas protagonistas é quebrada, quando ambas se deparam com uma etiqueta de roupa, solta no fundo de um cesto.

Elas percebem a existência de uma frase, que desenrola toda a conotação de uma sequência de histórias: “Bem aqui, descobri a tua história.”.

A etiqueta deixa as duas mulheres intrigadas sobre a procedência do pequeno pedaço de pano e, imaginando de onde o pedacinho de pano saiu, UMA (CARMEN FRENZEL / MARIANA CONSOLI) e OUTRA (MARIANA CONSOLI / CARMEN FRENZEL) – elas trocam de “personalidade”, no decorrer da peça - mergulham em águas profundas de um mundo imaginário, metaforicamente falando, onde “pedaço de roupa é pedaço de gente”.

É pelas mãos dessas mulheres que histórias de vida são passadas a limpo, torcidas e distorcidas.








            Realidade e imaginação se misturam, são distorcidas, giram, convulsivamente, dentro do tambor de uma máquina de lavar roupas, metáfora maior da nossa vida.

            O texto, que, de certa forma, flerta bastante com o teatro do absurdo, é uma pérola de dramaturgia, muito bem construído, do ponto de vista arquitetônico, estrutural, com diálogos inteligentes, ágeis e mergulhados em imagens metafóricas interessantíssimas.

            Também extraído do já referido “release”: “‘DISTORÇÕES’ é uma comédia dramática onde (sic) o riso e o choro se misturam em um ciclo de água, que vira ciclo de vida.”. E eu acrescento: “O que dá pra rir dá pra chorar / Questão só de peso e medida / Problema de hora e lugar / Mas tudo são coisas da vida”.

            De acordo com a visão do diretor, “O artefato (a etiqueta, desprendida de uma peça de roupa, encontrada no fundo de um cesto) serve de motivador para as personagens desenrolarem um cobertor de histórias individuais e coletivas, em um exercício lúdico de provocação pessoal”. É exatamente isso o que acontece, atraindo o público a entrar naquele jogo e se divertir muito, apesar de não se tratar de uma comédia pura, e sim de um misto de comédia e drama, abrindo-se a proposta de reflexão sobre nossas ações e reações, diante de tudo aquilo e todos aqueles com que, ou quem, nos deparamos, e convivemos, ao longo de nossas vidas.

            Acho muito interessante um trecho, também extraído do “release”, que merece um comentário: “Segundo o diretor, a teatralidade é algo que sempre guiou seus trabalhos como artista. Aliada à teatralidade está sempre a ludicidade, ou a capacidade de transformar a vida em jogo, em brincadeira, montando e desmontando situações, pessoas, lugares etc.. O texto proposto por FABRÍCIO é um convite a tudo isso. Como fazer deste espaço-tempo, onde surgem estas duas personagens, chamadas, pelo autor, de UMA e OUTRA; um grande tabuleiro, um playground, um terreno baldio onde se joga, se brinca, se transforma a partir das palavras, das roupas, das imagens.”.






            Podemos entender por “teatralidade” a “qualidade daquilo que é teatral ou tem condições para ser representado em cena”, ou seja, o mesmo que “qualidade daquilo que tem condições cênicas para se representar”. Não passa de algo que existe para gerar um efeito. É uma condição a ser descoberta por uma pessoa que propõe um processo de representação de uma realidade, ainda que absurda ou de importância pouco relativa, mesmo que a visão de quem “teatralizou” possa ser lida, e relida, sob diversas óticas, pelo público a quem se destina; no caso, um espetáculo teatral. Segundo Patrice Pavis, um grande teórico contemporâneo do TEATRO, em seu “Dicionário do Teatro”, “a teatralidade seria aquilo que, na representação ou no texto dramático, é especificamente teatral (ou cênico) (...).”.

O espetáculo é lúdico, porque a vida também o é, quando aceitamos participar dos jogos que ele nos oferece.

EDUARDO VACCARI conseguiu enxergar, no brilhante texto de FABRÍCIO BRANCO, uma possibilidade de ir além do que o texto, aparentemente, propõe e diz, e encontra possibilidades mil de fazer com que cada espectador possa se identificar com todas as situações que desfilam em cena, a partir dos relatos que envolvem o surrealismo de “roupas que ganhavam vida em uma lavanderia, a partir das mãos de duas mulheres”. Não é por acaso que as personagens são anônimas, identificadas apenas como UMA e OUTRA, alternando-se nas identificações. Todos nós somos UMA ou OUTRA (pessoa).

Ainda que o texto, o bom texto – sempre repetirei – seja considerado a espinha dorsal de um espetáculo, podendo inviabilizá-lo ou ser o vetor de uma grande montagem, ele não se basta para que seja alcançado um produto final de qualidade, um espetáculo que faz o espectador feliz e o leva a recomendá-lo. Em “DISTORÇÕES”, a ficha técnica reúne nomes de profissionais de renomada competência, totalmente aplicados à proposta da encenação.

Assim, temos a potência de duas grandes atrizes, CARMEN FRENZEL e MARIANA CONSOLI, mergulhadas, profundamente, em suas personagens, dando-nos uma excelente aula de interpretação, numa química nem sempre vista num palco. Há uma indiscutível cumplicidade entre as duas, numa atuação em que UMA não se destaca, em relação à OUTRA, e vice-versa.

Um destaque deve ser atribuído ao criativo cenário, de CARLOS ALBERTO NUNES, que conseguiu criar a ambientação de uma lavanderia, com elementos próprios de uma, porém de uma forma superlativa.

NÍVEA FASO foi muito feliz nos figurinos e nas transformações por que eles passam, assim como ANA LUZIA DE SIMONI acertou, na iluminação, e MARCELLO H, na trilha sonora.








FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Fabrício Branco
Direção: Eduardo Vaccari

Elenco: Carmen Frenzel e Mariana Consoli

Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Cenógrafa Assistente: Arlete Rua
Figurino: Nívea Faso
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Trilha Sonora: Marcello H
Visagismo e Maquiagem: Diego Nardes
Assistente de Visagismo e Cabelos: Lucas Souza
Fotos de Divulgação: Flávia Paulo
Design Gráfico: Marcello Queiroz
Produção: Carmen Frenzel e Mariana Consoli
Produção Executiva: Ludmyla Arêas
Assessoria de Imprensa: Dois Pontos Assessoria
Idealização: Carmen Frenzel, Fabrício Branco e Mariana Consoli
Realização: Sesc Rio e Falantes Produções Artísticas










SERVIÇO:

Temporada: Dias 06, 07, 08, 09, 20, 21, 22, 23, 27, 28, 29 e 30/06. 
Local: SESC Tijuca - Teatro I.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 - Andaraí, Rio de Janeiro.
Capacidade: 228 lugares.
Telefone: (21) 3238-2139.
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 20h.

ATENÇÃO: Nos dias 13, 14, 15 e 16/06 não haverá apresentação.

Valor dos Ingressos: R$7,50 (habilitado Sesc), R$15,00 (meia-entrada), R$30,00 (inteira).
*Levando 1kg de alimento não perecível o ingresso também sai no valor da meia- entrada (R$ 15,00).
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia Dramática. 
Duração: 75 minutos.




(Foto: Gilberto Bartholo.)


            A peça exige que o espectador não se permita uma distração, o que o fará correr o risco de deixar de saborear algum detalhe bem temperado do texto ou ficar meio perdido, a partir de quando se religar à encenação.

Além de ter gostado muito da peça, eu me identifiquei bastante com o que vi, muito ligado a um momento pelo qual venho passando, à guisa de não sei o quê. O fato é que, ultimamente, venho pondo em prática uma observação, à distância, das pessoas - as que não conheço, de preferência - e fico a imaginar quem são elas, que tipo de vida levam, quem habita o seu universo, o que pode justificar seus atos... É um comportamento meu, que, que passei a desenvolver e até chegou a me preocupar um pouco; não mais hoje. Penso – pode ser que esteja errado - que não há nada de patológico nisso e que, ao contrário, é um bom exercício de, até mesmo, autoconhecimento, a partir das histórias que crio, mas, logo, logo, delas me desfaço, esqueço-as na primeira esquina.

Acho que todos os que se propuserem a seguir a minha recomendação, para ver a peça, passarão por uma experiência inesquecível, além de assistir a um excelente espetáculo teatral.



(As atrizes e o autor da peça.)



E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!


(FOTOS: FLÁVIA PAULO.)










































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