AS
COMADRES
(PARA FAZER RIR E REFLETIR.
ou
UM GRANDE ATO DE CORAGEM.)
Antes
de mais nada, uma reverência toda especial a um grupo de mulheres, da melhor
estirpe, corajosas, audaciosas, guerreiras, que se juntaram para erguer um espetáculo que não julgávamos ser
possível acontecer nos dias de hoje, nas trevas em que estamos vivendo, por
conta do descaso e da tentativa de desmonte da ARTE e da CULTURA, no
nosso país, por parte de um tríplice (des)governo (federal, estadual e
municipal), formado por gente ignorante e insensível. BURROS resume tudo!!! Não é nada fácil montar um espetáculo de qualidade com 20 (ISSO MESMO: 20!!!) atrizes no elenco,
revezando-se, em vários papéis, por sessão. MAS ELES NÃO NOS VENCERÃO!!!
A
peça em questão chama-se “AS COMADRES”, espetáculo musical, que traz a primeira
direção da grande encenadora ARIANE
MNOUCHKINE, fora do Théâtre du
Soleil, que ela fundou e lidera, desde 1964.
Extraído do “release”, enviado por PEDRO
NEVES (FACTORIA COMUNICAÇÃO): “‘AS
COMADRES’ é um projeto que nasce marcado por encontros e
reencontros. Após quase 30 anos no Théâtre
du Soleil, JULIANA CARNEIRO
DA CUNHA desejava retornar aos palcos nacionais e trazer para cá
toda a bagagem e o processo de criação da lendária companhia francesa. Com o
auxílio de FABIANNA DE MELLO E
SOUZA e JÚLIA CARRERA,
ela convidou ARIANE MNOUCHKINE (...)
para assumir a empreitada brasileira. A ideia inicial da encenadora foi montar ‘AS COMADRES’, inspirada em ‘Les Belle-Soeurs’, peça do dramaturgo
canadense Michel Tremblay (texto original),
escrita em 1965 e considerada o primeiro drama quebequense, pelo fato de o
texto utilizar o ‘ojoual’, dialeto usado pela classe
trabalhadora da cidade. Após virar um ícone e ser traduzido em mais de 25
idiomas, ele chega ao Brasil, na versão musical do diretor francês René Richard Cyr (de 2010, autor, também da adaptação para musical, que é a base para a encenação brasileira). Dessa maneira, o
projeto marca a confluência de uma dramaturgia canadense com encenação
francesa e equipe brasileira.”.
Quando
encenado, no Canadá, um país de
primeiríssimo mundo, a meu juízo, o espetáculo
ganhou grande destaque, por conta de provocar muitas discussões acerca da
situação das mulheres canadenses, que não é muito diferente do que enfrentam as de
quase todo o planeta. O texto foi
escolhido por ARIANE, por ter
reconhecido nele, uma dramaturgia,
no fundo, feminista, muita relação com as mulheres brasileiras, principalmente
no momento atual.
SINOPSE:
A ação acompanha um dia na
vida de GERMANA (FLÁVIA SANTANA, no dia em que assisti à peça), moradora de um bairro
periférico, que ganha um milhão de selos premiados e reúne amigas e familiares,
para colar os selos, em cartelas, e jogar conversa fora.
Convidadas por GERMANA, para lhe ajudar a colar um
milhão de selos e, assim, a sortuda poder ganhar tudo o que é preciso,
para mobiliar sua casa, LINDA, MARIÂNGELA, BRANCA, ROMILDA, LISA, ROSA, IVETE, LISETE, ANGELINA, TERESA, PIETRA, GABRIELA, OLIVINA e GINETE... são personagens que podem
estar reunidas, neste momento, na periferia de São Paulo, no subúrbio do Rio
ou à margem de qualquer grande cidade do mundo. Mulheres que trabalham, cuidam
de seus filhos e marido, que traem e são traídas, que rezam. São amigas,
cunhadas e vizinhas, “comadres” as
quais, reunidas na cozinha, colando os selos, falam dos seus sonhos e
dissabores, desejos e medos, anseios e frustrações.
Com o passar da tarde,
diversas situações dramáticas se desenrolam e envolvem, como pano de fundo,
questões contemporâneas, como opressão, repressão e desvalorização da mulher,
além de falar sobre os desejos e frustrações da classe média.
Embora
tenha declarado que sua encenação seria
fiel ao que fizeram Tremblay e Richard, aquele escrevendo, este dirigindo, ARIANE
conseguiu dar um toque de brasilidade ao espetáculo,
muito por conta, quero crer, da colaboração de tantas excelentes atrizes brasileiras, as quais levaram,
para o palco, suas próprias vivências e as de pessoas próximas a elas. Dá para
enxergar, em cena, um subúrbio carioca, paulista ou de outra parte do Brasil, que eu não conheça. Diz a diretora que a montagem à qual assistiu em Paris
a levou ao riso e às lágrimas, ao mesmo tempo, o que também ocorre por
aqui. Diversão a perder de vista; emoção na mesma proporção, bastando, para
isso, o exercício da empatia.
O
inusitado maior do espetáculo, que acontece, pela primeira vez, no Brasil, é que
ele tem um elenco que conta com 20 mulheres, todas excelentes atrizes, que se revezam, nas sessões, em 20 personagens, a cada dia, como acontecia, somente nos ensaios, no Théatre Du Soleil,
e cada atriz pode se desdobrar em
mais de uma personagem. É uma
tentação, para o público, o qual costuma assistir à peça mais de uma vez, e um problema, para os críticos e jurados de prêmios de TEATRO,
já que só podem julgar o que viram, como é o meu caso. Gostaria de ter condições de assistir ao espetáculo outras vezes,
embora saiba ser impossível ver a todas as combinações. Satisfaço-me,
portanto, com o que vi e de que gostei bastante.
Segundo
JÚLIA CARRERA, que traduziu o texto e é uma das produtoras da montagem, “Diferentes atrizes atuam em diferentes
personagens, guardando suas particularidades, sem qualquer tipo de
hierarquização ou julgamento de valor. Ganham as atrizes, que se multiplicam em
cena; ganha o público, que assiste a diversas versões de um mesmo espetáculo;
ganha o TEATRO BRASILEIRO, que vê suas possibilidades ampliadas com a passagem
de ARIANE MNOUCHKINE pelos
palcos do país.”. Ter, realmente, essa mulher, ARIANE, à frente de um projeto
teatral brasileiro é um luxo incomensurável.
“Ariane potencializa tudo isso, porque
o fazer teatral, para ela, é baseado na força do coletivo”,
completa FABIANNA DE MELLO E SOUZA, que esteve no Théatre du Soleil, por mais de uma década, e também atua no espetáculo e
também o produz.
É impressionante perceber como o texto tem tudo a ver com a nossa
brasilidade, ainda que o hábito de colecionar selos promocionais esteja bem
distante da realidade brasileira. Mas o colar selos é só o pretexto, para que
as mulheres se reúnam, a fim de juntar forças e se ajudarem, mutuamente, a
despeito de um final nada ético, o que vem a provar que a falibilidade do ser
humano, a distorção de caráter não distingue sexo, cor, classe social... É
muito fácil, para nós, identificar, em cada uma daquelas mulheres, com suas
histórias de vida, suas inquietações, desejos e sonhos uma “Maria, Maria”, de Milton
Nascimento: “Uma mulher que merece
viver e amar / Como outra qualquer do planeta (...) / É o som, é a cor, é o
suor / É a dose mais forte e lenta / De uma gente que ri, quando deve chorar. /
E não vive, apenas aguenta. / Mas é preciso ter força, / É preciso ter raça, / É
preciso ter gana sempre. / Quem traz no corpo a marca / Maria, Maria / Mistura
a dor e a alegria. / Mas é preciso ter manha, / É preciso ter graça, / É
preciso ter sonho sempre. / Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha
mania / De ter fé na vida.”.
Não tenho condições de analisar, uma a uma, as atuações das atrizes
e, para não cometer nenhuma injustiça, destacando um detalhe ou outro, no
trabalho desta ou daquela, prefiro dizer que o conjunto da obra é ótimo,
o que não poderia ser de outra forma, já que, misturadas, estão em cena, atrizes
com mais ou menos tempo de profissão, porém todas, sem exceção, com grande
talento e muito boas interpretações.
Só uma profissional do gabarito de ARIANE MNOUCHKINE, para
posicionar 20 atrizes num palco, sem que ninguém se atropele e de modo que
cada uma assuma um protagonismo, quer quando está diretamente fazendo parte
da cena, quer quando “apenas” ajuda a compor o ambiente e a cena. Por que não?
Uma produção levantada com muito sacrifício, quase na base da “ação
entre amigos”, não poderia ostentar riqueza no cenário e no figurino.
Mas também não era necessário. O importante é que ambos os elementos técnicos
estivessem inseridos nas exigências do texto. Isso os responsáveis pelos
dois trabalhos souberam fazer com competência. A cozinha, que compõe a cenografia,
criada por MINA QUINTAL, reproduz, com riqueza de detalhes, aquele cômodo
da maior importância nas casas brasileiras, que serve para agregar, em volta de
uma mesa. Nas laterais do palco e numa espécie de jirau, ficam cadeiras, para
as atrizes que não estão atuando ou fazendo coro. O figurino, assinado
por TIAGO RIBEIRO, deixa a impressão de que cada uma das atrizes
trouxe o seu de casa, peças que fazem parte do seu próprio guarda-roupa. Todas
se vestem da forma mais condizente com sua personagem.
HUGO MERCIER foi discreto e preciso na iluminação.
Fez uma luz quase “de salão”, para iluminar bem um cômodo da casa, de
uma forma geral, não apresentando muitas variações, porém ocupou-se de, em
poucas cenas, enfatizar certos personagens e suas ações, que bem mereciam esses destaques.
É alvo de um aplauso especial WLADIMIR
PINHEIRO, pelo difícil e complicado trabalho de direção musical, um
verdadeiro desafio. Nesta seara, um crédito positivo vai para as canções
originais, compostas por DANIEL BÉLANGER, com letras de
WLADIMIR e SÔNIA DUMONT. As canções são executadas ao vivo, contando com o acompanhamento de duas excelentes musicistas: CATHERINE HENRIQUES e KARINA NEVES.
FICHA TÉCNICA:
Texto Original: Michel Tremblay
Versão Musical Original: René Richard Cyr
Músicas Originais: Daniel Bélanger
Supervisão Artística: Ariane Mnouchkine
Direção Musical: Wladimir Pinheiro
Tradução: Julia Carrera
Elenco: Ana Achcar, Anna Paula
Secco, Ariane Hime, Beth Lamas, Fabianna
de Mello e Souza, Flávia Santana, Gabriela
Carneiro da Cunha, Gillian Villa, Iza
Eirado, Janaína Azevedo, Júlia Carrera, Júlia
Marini, Juliana Carneiro da Cunha, Laila
Garin, Leda Ribas, Lilian Valeska, Maria
Ceiça, Sirléa Aleixo, Sônia Dumont e
Thallyssiane Aleixo.
Musicistas: Catherine Henriques e Karina Neves
Figurino: Tiago Ribeiro
Cenário: Mina Quental
Iluminação: Hugo Mercier
Preparação Vocal: Sônia Dumont
Letras: Wladimir Pinheiro e Sônia Dumont
Assistente de Direção: Hélène Cinque e Tomaz Nogueira da Gama
Cenotécnico: André Salles
Camareira: Ana Flávia Massadas
Assessoria De Imprensa: Factoria Comunicação
Projeto Gráfico: Bruno Dante
Fotógrafo: Guga Melgar
Coordenação de Produção: Ariane Mnouchkine, Fabiana De Mello e Souza,
Julia Carrera e Juliana Carneiro Da Cunha
Direção de Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda
Pascoal - Pagu Produções Culturais
Produtor Executivo e Diretor de Palco: Fernando Queiroz
Assistente de Produção: Luciano de Lima Pinto
Realização: FMS Produções
SERVIÇO:
Temporada Rio de
Janeiro: De 11 de abril a 02 de junho.
Local: Teatro SESC
Ginástico.
Endereço: Avenida Graça aranha, 187 – Castelo - Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª
feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia entrada) e R$7,50
(associado SESC)
Vendas na bilheteria do Teatro, de 3ª feira a domingo, das 13h às 20h.
Vendas na bilheteria do Teatro, de 3ª feira a domingo, das 13h às 20h.
Informações: (21) 2279-4027.
Duração: 90 minutos.
Classificação Etária: 12 anos
Gênero: Comédia Dramática
Uma
das atrizes da peça me confidenciou que considerava a montagem como um “marco histórico”,
para o TEATRO BRASILEIRO, o que
cheguei a repetir, para duas ou três outras, depois, dando o crédito a quem me
dissera aquilo. Na sua euforia, ao confraternizar comigo, após a sessão, achei
interessante a sua colocação, na hora. Refletindo sobre aquela assertiva, de
volta para casa, cheguei a considerá-la, talvez, um certo exagero, levando em
conta o seu grande entusiasmo e alegria por estar participando do projeto. Não demorou muito, porém,
para, considerando vários componentes, eu concordar, completamente com aquela atriz e amiga, em gênero (masculino e
feminino) e número (singular e plural) (Nada
concorda em grau – normal, comparativo e superlativo -; é um equívoco de quem
faz uso da expressão “Concordo em gênero,
número e grau”.).
Recomendo bastante o espetáculo, o qual,
pelo grande sucesso que vem fazendo, com relação ao público e à crítica, com casas LOTADAS, uma raridade, hoje, no Rio de Janeiro, teve sua temporada esticada até o dia 2 de junho,
o que me dará a oportunidade de revê-lo.
(FOTOS: GUGA MELGAR,
LINA SUMIZONO - esta no
Festival de Curitiba -
e DIVULGAÇÃO)
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
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