segunda-feira, 10 de outubro de 2016


A VIDA DE GALILEU

 

 

(A HISTÓRIA NÃO MUDA,

MAS, EM COMPENSAÇÃO,

AS MONTAGENS...)

 

 
 

            “GALILEU GALILEI”, certamente, é uma das peças mais encenadas em todo o mundo. É um dos maiores clássicos do TEATRO universal, fruto da genialidade de um dos mais consagrados dramaturgos que a humanidade conheceu, BETOLT BRECHET (1898 / 1956). Foi escrita entre 1937 e 1938, mas o texto parece, a cada dia, mais atual e relacionado ao mundo de hoje.
BRECHT, além de  dramaturgo, foi, também, poeta e encenador alemão, um dos melhores do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram, profundamente, o TEATRO contemporâneo ocidental, tornando-o mundialmente conhecido e admirado.  

No Brasil, já tive a oportunidade de assistir a quase uma dezena de montagens desse texto, entre profissionais e amadoras, e duas delas me marcaram profundamente.



 
 
 
 
 



A primeira foi a do Teatro Oficina, em 1969 (na verdade, estreou, em São Paulo, em dezembro de 1968), com direção de José Celso Martinez Corrêa, tendo, no elenco, ícones da história do TEATRO BRASILEIRO, como André Valle, Antônio Pedro Borges, Carlos Gregório, Cláudio Corrêa e Castro, Esther Góes, Fernando Peixoto, Flávio São Thiago, Ítala Nandi, Ivan Setta, o próprio José Celso Martinez Corrêa, Margot Baird, Martha Overbeck, Myrian Muniz, Otávio Augusto, Othon Bastos, Pedro Paulo Rangel, Raul Cortez, Renato Borghi e Tessy Calado, dentre outros, a maioria fundadores da companhia, contando, ainda, com gente muito gabaritada, na parte técnica, como Joel de Carvalho, na cenografia e no figurino, e o maestro Júlio Medaglia, na direção musical. Tinha eu apenas vinte anos e uma vontade imensa de mudar o mundo. Aquele espetáculo, como tantos outros do Teatro Oficina, marcou a minha vida.



 


A segunda é atual, à qual assisti em São Paulo, no ano passado e revi, este ano, muito recentemente, no Teatro João Caetano, onde continua em cartaz, até o dia 30 de outubro, com direção de Cibele Forjaz, e um excepcional elenco, com destaque para Denise Fraga, que vive o protagonista - fato inédito, uma mulher interpretando GALILEU - e Ary França, ainda que todo o elenco também esteja muito bem em cena. Essa montagem também é digna dos maiores elogios, por seu ineditismo e pelas ousadias, no melhor dos sentidos, já tão conhecidas, de Cibele.

           


Agora, mais precisamente, a partir do último sábado, 8 de outubro de 2016,  sinto-me no dever de registrar uma terceira versão da peça, como mais uma que ficará, indelevelmente, na minha memória, de amante do TEATRO e de crítico. Refiro-me à montagem dirigida por DANIEL HERZ, com um elenco mais jovem, de primeira linha, fazendo parte de um projeto, reunindo arte e ciência, que merece ser muito divulgado e prestigiado, da FIOCRUZ, por meio do seu MUSEU DA VIDA.
       
Desta vez, o espetáculo, que é realizado dentro de uma enorme e confortável tenda, a TENDA DA CIÊNCIA VIRGÍNIA SCHALL, montada nos aprazíveis jardins daquele paradisíaco local, ganhou o título de “A HISTÓRIA DE GALILEU” e, seguindo a proposta do projeto, é colorido com tintas didáticas, sem ser, nem por um minuto, “chato” ou desestimulante, para o público-alvo, que são estudantes, predominantemente,  principalmente os de ensino médio.

            O texto original é, sabidamente, muito extenso, levando, sua montagem, de três a quatro horas de duração. A brilhante e clássica tradução, de ROBERTO SCHWARZ, foi adaptada e reduzida a 80 minutos, por oito hábeis mãos, as de DANIEL HERZ, DIEGO VAZ BEVILÁQUA, LETÍCIA GUIMARÃES e WANDA HAMÍLTON, sem o mínimo prejuízo da preciosidade do texto e sem que nada de relevante fosse omitido da história desse grande cientista, que revolucionou o mundo de sua época, com suas teorias “ousadas”, severamente combatidas e não reconhecidas pela Igreja Católica.

 
 
 
 

 
UM POUCO SOBRE O PERSONAGEM CENTRAL DA TRAMA (versão Wikepédia, com adaptações):
 
SINOPSE:
 
 
GALILEU GALILEI nasceu na cidade de Pisa, na Itália, em 15 de fevereiro de 1564, e morreu em 8 de janeiro de 1642, em Florença. Ele foi um dos primeiros a defender a teoria heliocêntrica, de Copérnico, segundo a qual “a Terra giraria ao redor do Sol”, que estaria no centro do universo.
 
Contrariou as ideias de uma época em que se acreditava na Terra como centro de tudo. Foi pioneiro em contestar teorias de Aristóteles, que foram as bases da Física, até século XVII. Por isso, as contribuições de GALILEU GALILEI mudaram a ciência e influenciam a Física, a Matemática e a Astronomia, até hoje.
 
A vontade de sua família era que seguisse a carreira de religioso ou comerciante, mas acabou cursando Medicina, na Universidade de Pisa. As aulas de Física, na instituição, o fascinaram. Com isso, decidiu abandonar a universidade, em 1585, para estudar Matemática.
 
GALILEU foi criador do método experimental e dinâmico. Entre suas contribuições para a ciência, está a lei do isocronismo do pêndulo, que, mais tarde, contribuiu para invenção do relógio. Ele, também, provou que o peso não influencia na velocidade de corpos em queda, relação que era defendida por Aristóteles. Outro feito foi o aperfeiçoamento da luneta astronômica, que lhe permitiu observar, com mais detalhes, o espaço e fazer descobertas, como os satélites de Júpiter, as fases de Vênus, os mares da Lua e as manchas do Sol.
 
Com isso, criticou a teoria geocêntrica de Ptolomeu e foi repreendido, formalmente, pelo Tribunal da Santa Inquisição. Mesmo assim, publicou o “Diálogo Sobre Os Dois Maiores Sistemas Do Mundo”, que lhe rendeu ordens, para se apresentar, em Roma, já que fora acusado de heresia.
 
Em 1633, foi obrigado, pela Igreja, a negar suas ideias, teve sua obra proibida, assim como foi condenado à prisão domiciliar perpétua.
 
GALILEU morreu em 8 de janeiro de 1642, condenado pela Igreja. Por 350 anos, seu processo permaneceu arquivado, até que, em 1983, o Papa João Paulo II reconheceu os erros da Igreja e absolveu o cientista.
 
 

 

 
 
 

Extraído, também com ligeiras adaptações, do “release”, gentilmente enviado por GERALDO CASADEI, Produtor Cultural do Museu da Vida, da Fiocruz, e Diretor de Produção do espetáculo:
 
“Um homem, que adorava observar o céu, desafiou a Igreja Católica e acabou enfrentando a Santa Inquisição. A fantástica e emocionante história de GALILEU GALILEI ganha vida, no palco da TENDA DA CIÊNCIA VIRGÍNIA SCHALL, no MUSEU DA VIDA.

O espetáculo é baseado no texto ‘A VIDA DE GALILEU’ (‘LEBEN DES GALILEI’, no título original em alemão), do dramaturgo BERTOLT BRECHT. Estreou em 21 de setembro de 2016 e permanecerá em cartaz até 15 de dezembro do mesmo ano. A ENTRADA, COMO SEMPRE, É GRATUITA! (VER SERVIÇO.)

            ‘O texto de Brecht traz uma reflexão sobre a relação entre ciência e sociedade e mostra o compromisso do cientista com a humanidade. Além disso, a história explora o que pode acontecer com a ciência em regimes autoritários’, explica WANDA HAMILTON, cientista social e atriz do MUSEU DA VIDA, uma das responsáveis pela adaptação do texto original. A encenação, na TENDA DA CIÊNCIA busca associar a questão do autoritarismo da Igreja com o episódio da cassação de cientistas da FIOCRUZ, durante o Golpe Militar. Na época da ditadura, o governo brasileiro cassou os direitos políticos e a aposentadoria de dez pesquisadores do INSTITUTO OSWALDO CRUZ, que foram proibidos de entrar em seus laboratórios, dentro da instituição.


 


Em 2016, completam-se 30 anos da reintegração desses pesquisadores, que puderam retornar à FIOCRUZ, após a injustiça que sofreram.

            ‘A peça discute a relação dos cientistas, enquanto intelectuais de uma sociedade, com a sustentação do autoritarismo ou da democracia e da liberdade. Além disso, aborda, em muitas cenas, por que o cientista deve se aproximar da população. É uma discussão em que a divulgação científica é peça central. Todos esses elementos estão bastante presentes na peça, a partir dos dilemas que o próprio GALILEU enfrentou’, esclarece DIEGO VAZ BEVILÁQUA, Chefe do MUSEU DA VIDA.

            O ator, diretor e dramaturgo DANIEL HERZ está à frente da direção do espetáculo, junto com JOÃO MARCELO PALLOTINO, também ator e diretor. Segundo a direção, a motivação para realizar este trabalho vem da possibilidade de realizar o espetáculo numa instituição que representa a ciência, ‘em sua potência máxima’, e lidar com temas que se mostram ainda atuais. ‘Estamos num momento político em que ciência e arte estão perigosamente sendo deslocadas para um plano de desvalorização e preconceito’, opina.

 


Durante os ensaios, elenco e direção buscaram inserir elementos que podem inovar a montagem e encaram o desafio de contar uma história não apenas para o público adulto, mas também para os jovens, já que muitos alunos dos ensinos fundamental e médio assistirão à peça. ‘A ciência e o teatro precisam dos jovens: a juventude tem a mudança nos seus hormônios. Essa peça une arte e ciência e isso já vale a aventura de abrir o pano’, afirma DANIEL.

DIEGO BEVILÁQUA acrescenta que poucos espaços de educação não formal têm uma tradição tão extensa e ininterrupta de arte e ciência, através do teatro, como o MUSEU DA VIDA. ‘Essa experiência nos permite, hoje, fazer uma produção de alto padrão como essa montagem de ‘GALILEU’ dentro de um museu de ciência’, observa.

            peça está sendo realizada com recursos obtidos por meio de parcerias feitas com o uso da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). Esse projeto conta com patrocínio máster da IBM e copatrocínios da Schottda Janssen.”



 

 
 

 
FICHA TÉCNICA:
 
 
Texto: Bertold Brechet
Tradução - Roberto Schwarz
Adaptação do Texto – Daniel Herz, Diego Vaz Beviláqua, Letícia Guimarães e Wanda Hamílton
Direção Geral - Daniel Herz
Direção - Daniel Herz e João Marcelo Pallottino
Diretor Assistente - Clarissa Kahane
 
Elenco (por ordem alfabética) -  Carol Garcia, Carol Santaroni, Ingra da Rosa, Letícia Guimarães, Lucas Drummond, Pablo Aguilar, Roberto Rodrigues, Sérgio Kauffmann e Tomaz Miranda.
 
Direção Musical e Trilha Sonora - Leandro Castilho
Cenário - Fernando Mello da Costa
Figurino - Carla Ferraz
Luz - Aurélio de Simoni
Direção de Movimento - Janice Botelho
Programação Visual - Alana Moreira
Produção Executiva - Mariluci Nascimento
Direção de produção – Geraldo Casadei
 

 


 


 



Não preciso dizer, em detalhes, por que as duas montagens anteriores me marcaram tanto, já que o alvo desta crítica é a leitura de DANIEL HERZ e sua equipe, para o texto de BRECHT, até porque, já, implicitamente, falei daqueles motivos.

O que importa, agora, é deixar claro o porquê de eu ter saído da FIOCRUZ, naquele início de tarde de um sábado, faminto, porém tão feliz com o que me foi dado ver e admirar, naquela montagem. O corpo estava com fome, mas a alma, mais do que alimentada.

Além do texto, que dispensa qualquer comentário, chamou-me a atenção o fato de terem conseguido contar uma história, que, no fundo, no fundo, é plena de muitas citações e elementos científicos, de uma forma tão clara, criativa e lúdica, fruto da genialidade de DANIEL HERZ e seus colaboradores.
 
 
 



 
Aqui, estou falando, por exemplo, do fantástico cenário, de um craque nisso, FERNANDO MELLO DA COSTA; dos excelentes figurinos, de CARLA FERRAZ, mais leves e com toques mais modernos, guardados os detalhes da época; da linda luz, criada por AURÉLIO DE SIMONI, também alegrando as cenas, com cores claras e coloridas, mesmo nas mais tensas; da direção de movimento, de JANICE BOTELHO, que exige, do elenco, um bom preparo físico e bastante elasticidade; da incrível trilha sonora, de LEANDRO CASTILHO, parceiro de DANIEL em tantos outros sucessos...

 




Fiz referência à “leitura”, de HERZ, sobre o texto, mas preciso me aprofundar, um pouco, nela. DANI fez questão de retirar muito peso do drama, sem descaracterizá-lo, porém adicionando-lhe muitas pitadas de um humor saudável e inteligente, o que, certamente, é um dos grandes e principais ingredientes do sucesso da peça; desta montagem. A cada dia, torno-me, mais e mais, um grande admirador do seu talento criativo.

Com relação ao elenco, formado por atores não tão conhecidos, na mídia, mas familiares a quem frequenta, como eu, quase que diariamente, os teatros, do Rio de Janeiro e de outras praças, nota-se um entrosamento total entre todos, uma grande cumplicidade, aquela que é exigida para que um projeto teatral dê certo, já que é um trabalho de grupo, coletivo. A impressão que passa é a de que todos torcem por todos; todos se doam, ao máximo, a cada cena de que participam.
 
ROBERTO ROFRIGUES pode ser citado, talvez, como um destaque, pelo fato de participar, praticamente, de todas as cenas, já que encarna o protagonista. Por outro lado, todos os outros desenvolvem excelentes atuações, principalmente pelo fato de repreasentarem mais de um personagem. CAROL GARCIA e LUCAS DRUMMOND, em determinadas cenas, arrancam gargalhadas do público, em função de alguns de seus personagens caricatos. Os três apresentam excelentes atuações, embora todos tenham seus momentos de “solo” e sabem aproveitá-los à altura.

 
 




  Estão todos de parabéns e, principalmente, a FIOCRUZ, por tal iniciativa.
 
 

 



 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 21 de setembro a 15 de dezembro de 2016
Local: Tenda da Ciência Virgínia Schall (Museu da Vida) – dentro da FIOCRUZ
Endereço: Avenida Brasil, nº 4365, Manguinhos, Campus da Fiocruz, Rio de Janeiro
Dias e Horários: De 3ª a 5ª feira, às 10h30min e às 13h30min; aos sábados, às 11h (apenas nos dias 8 e 29 de outubro, 12 e 26 de novembro e 10 de dezembro)
Duração: 80 minutos

Informações (21) 2590-6747 - www.museudavida.fiocruz.br
Facebook (/museudavida)
Twitter (@museudavida)
 

 

 


 

            Para finalizar, não poderia omitir o quanto me tocou, profundamente, os depoimentos feitos, individualmente, pelos atores, representando cada um dos cientistas / pesquisadores que sofreram a truculência de um dos fatos “históricos” que mais sujam e envergonham a História do Brasil. Meus olhos marejaram, várias vezes, por aqueles brilhantes e injustiçados BRASILEIROS, com todas as letras maiúsculas.

Assim como GALILEU foi vítima da intolerância, da ignorância, da intransigência e da tortura mental, pela força opressora e dominante, da Igreja Católica, muitos cientistas de renome, mentes brilhantes, que poderiam ter trazido tanto bem à humanidade, foram cassados e tiveram seus direitos de trabalhar proibidos pelos malditos "gorilas" do golpe militar de 1964 (o nome daquilo, sim, era golpe).

 
 




 
 
 
 
 

O perdão para GALILEU tardou 350 anos, mas veio; a reintegração à condição de CIDADÃOS e GÊNIOS, daqueles cientistas / pesquisadores, também aconteceu.


O perdão sempre é bem-vindo, mas as marcas das dores, físicas e morais, jamais se apagam.


 



Viva GALILEU!
Viva cada um daqueles CIENTISTAS!
 
 
Cientistas / Pesquisadores cassados pela
truculência e ignorância do Golpe Militar de 1964,
no dia em que puderam voltar à FIOCRUZ.
(Origem da foto não identificada.)
 

Viva o TEATRO BRASILEIRO!


 


 Aplausos! BRAVO!!!
 
 

(FOTOS: RENATO MANGOLIN)
 


 

 



 





 



 











 












 



 





























 




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário