JUVENAL,
PITA
E O
VELOCÍPEDE
(UM MERGULHO NA INFÂNCIA
É SEMPRE MUITO BOM!)
Apesar
de não ser muito presente nas plateias de espetáculos infantis, o que não
depende da minha vontade, mas é algo que está atrelado à falta de tempo,
procuro selecionar aqueles que me interessam mais, pelo tema, pelas companhias
que os montam ou, principalmente, por indicações de amigos que se dedicam a
esse nicho do TEATRO.
Foi
assim, pelo último motivo citado, que cheguei a “JUVENAL, PITA E O VELOCÍPEDE”, também atendendo a um convite da produção e do autor do texto. E não me arrependi.
Eduardo Almeida / Juvenal.
O espetáculo, que teria sua temporada encerrada no próximo
domingo, dia 26, teve a data de término prorrogada para 24 de julho,
graças aos resultados que vem obtendo na atual passagem pelo Teatro Cândido Mendes.
A primeira
temporada ocorreu no ano passado, com bastante sucesso, no Centro Cultural da Justiça Federal. Depois, foi para o Teatro Maria Clara Machado / Centro de
Referência Cultura Infância, participou do SESI Cultural 2016 e tem circulado por várias unidades da Rede Sesc Rio. Em abril deste ano,
esteve no Galpão Gamboa e, a partir
de maio, passou a fazer parte da programação do Projeto Plateias Hospitalares do Grupo Doutores da Alegria. Em
abril próximo passado, o espetáculo foi levado a Lima, no Peru, no IV Congresso de Literatura Infantil e
Juvenil e no 1º Festival do Livro
e das Ideias, promovidos pela Casa da Literatura Peruana e pelo Ministério da Cultura do Peru. Foi,
ainda, apresentado na Faculdade de Artes
Cênicas, da Pontifícia Universidade
Católica do Peru.
Para completar
a vitoriosa carreira da peça, ela foi indicada, em diversas categorias, a
prêmios, voltados para produções infantojuvenis, tendo conquistado o de Melhor Ator, para EDUARDO ALMEIDA, no 2º
Prêmio CBTIJ/ASSITEJ Brasil de Teatro para Crianças, e Melhor Texto, para CLEITON
ECHEVESTE, e Melhor Iluminação,
para RICARDO LYRA JR., no 10º Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro
Infantil. Querem melhor cartão de
visitas que esse?
A peça foi escrita
por CLEITON ECHEVESTE e o texto, muito bom, por sinal, procura resgatar as memórias da
infância dos pais de hoje. É, portanto, um espetáculo para todas as idades. Nos
mais velhos, mexe com o imaginário coletivo, levando os adultos a um mergulho
no passado. Ao mesmo tempo, suscita, nas crianças, a curiosidade por saber como
se brincava antigamente. Ou melhor, como era possível alguma criança se
divertir, sem a parafernália eletrônica de hoje? Como era possível sobreviver
sem a informática, por exemplo?
SINOPSE:
JUVENAL tinha cinco anos de idade e adorava brincar com o seu
velocípede.
Um dia, descansando embaixo
de um cajueiro, ele conheceu uma menina chamada PITA.
Eles se tornam amigos
inseparáveis e viveram grandes aventuras, a bordo de um velocípede, costumizado,
diferente de todos os outros modelos, construído por um tio.
No monólogo “JUVENAL, PITA E O VELOCÍPEDE”, o ator EDUARDO ALMEIDA empresta as próprias
lembranças da infância para contar as histórias do menino JUVENAL.
EDUARDO ALMEIDA atua sob a direção de CADU CINELLI, integrante do grupo “OS TAPETES CONTADORES DE HISTÓRIAS”.
Trata-se da
quarta produção – criação coletiva – da PANDORGA
COMPANHIA DE TEATRO.
O projeto
partiu de uma vontade de EDUARDO ALMEIDA,
a de fazer uma montagem sobre as memórias da infância, e o processo de criação
surgiu de um mergulho nas histórias pessoais e da equipe, além de uma pesquisa no
livro “Os Fantásticos Livros Voadores de
Modesto Máximo”, de William Joyce, que foi uma das obras
usadas durante o processo de pesquisa e de criação do espetáculo. Dessa
miscelânea, surgiu a peça.
Já comecei a
achar interessante o texto, no
momento em que se fica sabendo, logo no início da peça, que um teatro fora o lugar escolhido por PITA, para reencontrar o amigo de
infância, que ela não via havia 30 anos, hoje, na casa dos 40. Que moça
inteligente e de bom gosto essa PITA!
Enquanto
espera a amiga chegar ao local marcado para o reencontro, ele relembra diversas
histórias dos tempos de criança, como, por exemplo, a maneira como foi batizado
como JUVENAL, que, convenhamos, é um
nome bem antigo, “do século passado”; o dia em que ganhou o velocípede do tio;
a paixão pelo personagem japonês Ultraman,
o super-herói de sua época; como ele conheceu a amiga PITA, entre outras. Tudo isso de maneira muito lúdica e
interagindo, na dose certa com a plateia. Curioso é que os adultos também
participam bastante dessa interação.
Para viver o
personagem, EDUARDO ALMEIDA passou
por uma transformação física nos últimos meses: raspou a cabeça, deixou a barba
crescer e furou as orelhas. Em cada sessão, o ator usa tatuagens temporárias,
espalhadas pelo pescoço, os braços, as mãos e os dedos. Na verdade, a pessoa
construiu um personagem, para poder interpretar outro. Reveladas, aos poucos,
durante a “performance”, essas imagens na pele fazem referências ao mundo do JUVENAL e da própria infância do ator,
como a tatuagem com o rosto do Ultraman
e o nome do personagem, escrito em japonês.
O
espetáculo conta com uma interessante trilha
sonora original, criada por RUDI
GARRIDO, que também assina a direção
musical, totalmente inspirada no tema do seriado “Ultraman”, que marcou a infância do ator.
A direção fez uma das mais acertadas
opções, quando se trata de um espetáculo para crianças: sugeriu mais do que
mostrou. Há muito mais de abstrato que de concreto em cena, o que considero
excelente, para estimular a criatividade dos pequenos e ativar-lhes o sentido
da imaginação. Afinal de contas, o que de melhor a criança sabe fazer, que não
seja imaginar, viajar pelo mundo que elas mesmas criam. Assim, o ator vai
contando, sugerindo, e a garotada vai embarcando na “viagem”. Eu,
adulto/criança, confesso que também viajei, com bastante gosto.
É excelente a
interpretação do ator EDUARDO ALMEIDA,
que sabe equilibrar o nível de interpretação, para se comunicar com as crianças,
sem tratá-las como imbecis, como, infelizmente, ainda se vê bastante em
produções infantis. Também me chamou a atenção sua técnica de domínio do
público, pois sabemos que a imprevisibilidade nas relações com o público
infantil precisam ser muito bem administradas, para não prejudicar o andamento
do espetáculo, Nisso, EDUARDO é
mestre. Merece um destaque o seu domínio de corpo, fruto da própria competência
do ator, contando com o trabalho de preparação
corporal e direção de movimento,
ambas assinadas por JAN MACEDO.
A personagem PITA, que não aparece em cena, fica na
imaginação de cada espectador. Ao meu lado, por exemplo, havia uma jovem mãe,
acompanhada do marido e de dois filhinhos, para a qual olhei algumas vezes e
pensei: Ela tem a cara da PITA. O VELOCÍPEDE, por sua importância na vida
daquele adulto/criança, JUVENAL,
também pode ser considerado um outro personagem da história. Não é mesmo para
se fazer de conta que...?
Os elementos plásticos do espetáculo, como
cenário e figurino, ambos de DANIELE
GEAMMAL, e a iluminação, a cargo
de RICARDO LYRA JR, são bem
satisfatórios e ajudam na construção de um bom espetáculo, que recomendo, sem restrições. Para crianças e
adultos, relembrando.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Cleiton Echeveste
Direção:
Cadu Cinelli
Elenco:
Eduardo Almeida
Figurino
e Cenário: Daniele Geammal
Iluminação:
Ricardo Lyra Jr.
Direção
Musical: Rudi Garrido
Direção
de Movimento e Preparação Corporal: Jan
Macedo
Visagismo:
Francisco Leite
Construção
do Velocípede: Garlen Bikes e Marcelo Huguenin
Pintura
de Arte do Velocípede: Renato
Marques
Design
Gráfico: Fernando Nicolau
Fotografia:
Renato Mangolin
Assistência
de Produção: Lucimar Ferreira
Produção:
André Roman e Eduardo Almeida
Realização:
Pandorga Companhia de Teatro, Pita
Produções e AR Produções
SERVIÇO:
Temporada: de 4 de junho a 24 de julho.
Local: Teatro Cândido Mendes.
Endereço: Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Lotação: 102 lugares.
Informações: (21) 2523-3663.
Dias e Horários: Aos sábados e domingos, às 16h.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia-entrada).
Duração do Espetáculo: 55 minutos.
Classificação Etária: Livre, recomendado para crianças acima de 6 anos.
A transformação em...
ULTRAMAN!!!
(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)
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