O MAMBEMBE
(“O
QUE FALTA, NO BRASIL, O TEATRO PODE ENSINAR”.
ou
“O
TEATRO VAI ESTAR SEMPRE PRONTO, PARA QUEM QUISER
SE
APAIXONAR POR ELE”.
–
ARTHUR AZEVEDO / JOSÉ PIZA.)
Falar
do vitorioso Projeto de Pesquisa em TEATRO MUSICADO, do professor RUBENS LIMA JÚNIOR, que vem sendo
desenvolvido, desde 2009, na UNIRIO, torna-se totalmente
desnecessário, em função de seu grande sucesso e de já fazer parte da vida e da
rotina dos amantes do TEATRO MUSICAL,
os quais ficam ávidos de curiosidade, para saber, e ver, qual será o próximo
projeto do RUBINHO, no ano seguinte,
mal se encerra a sequência de temporadas de um sucesso em cartaz.
Depois
de “O Jovem Frankenstein”, que
marcou o ano de 2015, e dos anteriores, com destaque para o fenômeno “The Book of Mormon” (55.000 espectadores), o espetáculo
mais discutido e elogiado em 2014, no Rio de Janeiro, agora, é a vez de “O MAMBEMBE”, um clássico da
dramaturgia brasileira, de ARTHUR
AZEVEDO, tendo como coautor JOSÉ PIZA, peça que já era um musical,
mas que foi transformado em outro, dentro da concepção moderna desse gênero teatral, tendo estreado no
último dia 28 de abril e que já me levou a querer revê-lo.
É
o primeiro musical brasileiro a ser montado pelo RUBINHO, dentro do Projeto
já mencionado. Trata-se de mais um imperdível e irretocável espetáculo,
dirigido pelo mestre da UNIRIO,
tendo, como matéria-prima, alunos dos cursos de Teatro e Música da
própria universidade, alguns já se encaminhando para o profissionalismo. Aqui,
utilizo o termo “profissionalismo”,
reportando-me a uma atividade remunerada, exercida em teatro, cinema e TV. Para
mim, tecnicamente falando, vejo, no palco da Sala Paschoal Carlos Magno (o “Palcão”), dentro da própria UNIRIO, muitos jovens talentos,
praticamente, prontos para o exercício, com profissionalismo e dignidade, do
nobre ofício de representar, mormente em musicais,
sendo que alguns, até, já o fazem, e muito bem.
A
maioria dos que formam o elenco
é constituída por alunos da UNIRIO,
mas, como ocorreu nas últimas montagens, dentro do Projeto, foram dadas oportunidades para que alunos de outras
universidades federais participassem das audições e também pudessem trabalhar
na peça. Assim, em cena, também há alunos da Universidade Federal Fluminense, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e, até mesmo, da Universidade Federal da Bahia.
Para
conseguir erguer este espetáculo, mais uma vez, RUBINHO e sua produção
tiveram de contar com o luxuoso e indispensável patrocínio da Fundação Cesgranrio, na figura do
grande mecenas das artes, o Professor
Carlos Alberto Serpa, sem cujo apoio e colaboração, tenho lá minhas dúvidas
de que poderíamos nos deliciar com esta montagem universitária.
No armazém.
SINOPSE:
Pode-se dizer que a trama
de "O MAMBEMBE", escrita
em 1904, é centrada em três figuras:
LAUDELINA, a mocinha da história,
que deseja ser atriz; um ator fracassado, FRAZÃO,
que resolveu virar empresário (Grande
Companhia Dramática Frazão); e o “coronel” PANTALEÃO, que
financia as despesas de viagem da trupe, com o objetivo de ganhar o coração da
jovem atriz, por quem se encantara.
Como o grande objetivo da
personagem central é ser uma atriz consagrada, ela acaba por se envolver com um
grupo teatral mambembe, que faz paródias de melodramas e crítica às relações
sociais.
Uma das principais críticas verificadas
na peça diz respeito ao descaso dos governantes, para com as artes, em geral,
principalmente com relação à arte dramática, e conta, ainda, as dificuldades e contrariedades de um
grupo de artistas, para atrair público às suas apresentações.
Uma verdadeira sátira dos costumes
interioranos, o espetáculo traz, ao palco, tipos cômicos irresistíveis e
números musicais, dentro de uma linguagem circense, culminando com um final surpreendente,
para poucos, e, ao mesmo tempo, não, para a maioria.
Bruno Nunes, Giuliana Farias e Flora
Menezes.
O texto é construído sobre uma grande alegoria em forma de metalinguagem, já que tudo gira em
torno do TEATRO, e o que vemos é o TEATRO dentro do próprio TEATRO. E, pelo que se pode observar,
nos dias de hoje, muito pouco mudou, em termos de falta de incentivo, por parte
das “autoridades” responsáveis pela cultura, e das “pedreiras” que os que se
dedicam a tão nobre arte têm de carregar, todos os dias, “matando um leão”, a
cada minuto, até ver o pano abrir e um novo espetáculo surgir.
Não se pode
negar que, sob esse aspecto, o texto
é bem atual. Vejamos, por exemplo, uma fala do personagem FRAZÃO, quando tenta convencer a jovem LAUDELINA a fazer parte de sua trupe: “Como a senhora sabe, a vida do
ator, no Rio de Janeiro, é cheia de incertezas e vicissitudes. Nenhuma garantia
oferece. Por isso, resolvi fazer-me, como antigamente, empresário de uma
companhia ambulante, ou, para falar com toda franqueza, de um mambembe”.
Eu apenas ampliaria a geografia, dentro da fala: em vez de “Rio de Janeiro”, diria “Brasil”.
Infelizmente!
Quem, como eu,
viveu a feliz oportunidade de estudar um pouco, na universidade, no curso de Letras da UFRJ, a obra de ARTHUR AZEVEDO sabe que, em “O MAMBEMBE”, o dramaturgo presta uma
singela homenagem a um de seus mais queridos amigos, um ator/empresário,
chamado, simplesmente, de Brandão,
que, no texto, teve seu nome trocado
para FRAZÃO, retratado como um homem
de ilibado comportamento, no campo pessoal e empresarial, capaz de enfrentar e
suportar os maiores sacrifícios, para manter acesa a chama do TEATRO e não deixar de pagar aos seus
atores. Ele convida uma jovem e sonhadora amadora, para ser sua “primeira dama”, como eram chamadas as
atrizes principais das companhias, fato que pode ser decodificado como já o
início de uma crise na área artística da representação. Deve vir de lá a já tão
“batida” frase “O TEATRO está morrendo”.
Na falta de uma boa atriz profissional, o jeito era investir numa jovem amadora,
na esperança de que seu talento pudesse salvar as finanças da empresa, a Grande Companhia Dramática Frazão.
Para quem
ainda não sabe (Será que ainda há alguém?!), “mambembe” é o termo empregado a um tipo de TEATRO em que as companhias, quase sem recursos financeiros, viajavam
- e ainda o fazem - em carroças ou trens, pelo interior do Brasil (raramente,
passavam por capitais ou cidades mais prósperas), apresentando espetáculos, em
sua maioria, bem populares, quase sempre pertencentes a um repertório. Uma das
marcas desses grupos é a paixão comum pela arte de representar, que os une,
como se uma família fosse; não a de sangue, mas a que se escolhe.
Flora Menezes (no chão),
Giuliana Farias e Rodrigo Naice.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Arthur Azevedo e José Piza
Adaptação e Letras: Alexandre Amorim
Direção: Rubens Lima Júnior.
Adaptação e Letras: Alexandre Amorim
Direção: Rubens Lima Júnior.
Assistência de Direção: Júlio Ângelo
Direção Musical: Guilherme Menezes
Direção Musical: Guilherme Menezes
Assistência de Direção Musical: Maíra Garrido
Elenco (por ordem de entrada):
Dona Rita: Flora Menezes
Eduardo: Robson Lima
Laudelina: Giuliana Farias / Roberta Monção
Frazão: Rodrigo Naice
Dona Vidinha / Dona Bertoleza: Ingrid Klug
Pantaleão: Joaz Perez
Chico Inácio: João Saraiva
Madama: Talita Silveira
Coro: Adriana Dehoul, Alessandra Quintes, Alexandre Neves, Bárbara Sut, Bruno Nunes, César Viggiani, Diego Bastos, Edmundo Vítor, Felipe Carreiro, Guilherme Neto, Isabela Quadros, João Dabul, Júlia Nogueira, Lucas Baptista, Maicon Lima, Maria Penna Firme, Marina Paiva, Pedro Ruivo, Rayza Noia, Victor Zott.
Dona Rita: Flora Menezes
Eduardo: Robson Lima
Laudelina: Giuliana Farias / Roberta Monção
Frazão: Rodrigo Naice
Dona Vidinha / Dona Bertoleza: Ingrid Klug
Pantaleão: Joaz Perez
Chico Inácio: João Saraiva
Madama: Talita Silveira
Coro: Adriana Dehoul, Alessandra Quintes, Alexandre Neves, Bárbara Sut, Bruno Nunes, César Viggiani, Diego Bastos, Edmundo Vítor, Felipe Carreiro, Guilherme Neto, Isabela Quadros, João Dabul, Júlia Nogueira, Lucas Baptista, Maicon Lima, Maria Penna Firme, Marina Paiva, Pedro Ruivo, Rayza Noia, Victor Zott.
BANDA:
Bateria: Raphael Dias e Pedro Prata
Piano: Victor Brum e Victor Camelo
Baixo: Fabio Rocco e Guilherme Ashton
Guitarra: Guilherme Menezes
Flauta: Erick Soares e Gabriel Ferrante
Coreografia: Gabriel Demartine
Assistência de Coreografia: Isabela Vieira
Direção de Arte e Cenografia: Cris de Lamare
Assistentes de Cenografia: Camilla Camu Muniz e Silas Pinto
Figurino: Rick Barboza
Assistente de Figurinos: Nanda Gomides
Caracterização / Visagismo: Vítor Martinez
Assistente de Caracterização: Lucas Drigues
Iluminação: Paulo César Medeiros
Desenho de Som: Leandro Lobo e André Breda
Produção Musical: Gabriel Gravina
Assistência de Produção Musical: Alexandre Seabra
Arranjos: Guilherme Menezes
Músicas originais: Gabriel Gravina, Guilherme Menezes e Guilherme
Ashton*
(*As canções “O Armazém”, “Festa de Pantaleão” e “Laudelina e Pantaleão”)
Preparação Vocal: Doriana Mendes
Assistência de Preparação Vocal: Alessandra Quintes
Orientadora de Caracterização: Mona Magalhães
Assessoria Técnica: Prof. Ângela Reis
Direção de Produção: Marcus Brandão
Equipe:
Adereços de Figurinos: Edjane Guimas
Ilustrações: Camilla Camu Muniz
Produção Executiva (UNIRIO): Clara Costa, Giovana Abreu, Stephany Lins
e Thayana Blois
Produção Executiva (Fundação Cesgranrio): Bruno Torquato e Urbano Lopes
Assessora de Imprensa: Amanda Barros
Programação Visual: Gabriella da Rocha
Fotografia: Bianca Oliveira
Equipe de caracterização: Adriana Dehoul, Bárbara Sut, Carolina
Coimbra, Ingrid Klug, Lucas
Baptista e Marianna Chaves
Postiços / Barbas: Vicente Baptista
Perucas da Abertura: Rick Barboza
Cabeleireira: Kátia Marques
Operador de Som: Alexandre Seabra e Filipe Cretton
Técnico de Som: Leo Maia, Jorginho e Nathan dos Santos Nascimento
Sonorização: Quintal da Ideia e MDM Sonorizações
Estagiários de Produção: Luiz Felipe Manso, Marianna Chaves e Tadeu
Fernandes
Estagiários de Som: Alex Faria, Amanda Brasil, Eugênio Moreira,
Gabriella Adami e Júlia Drummond
Estagiário de Recepção: João Manoel
Estagiários de Cenografia: Fernanda Correia e Pedro Luiz de Azevedo
Estagiários de Iluminação: Caroline Dias, Paulo Coquito e Victor Bueno
Passemos, então, aos comentários
específicos sobre esta montagem.
O
primeiro impacto que o espectador tem, ao adentrar a Sala Paschoal Carlos Magno, se dá com relação ao imponente cenário, de CRIS DE LAMARE, até então, parcial, visto que muitas surpresas
cenográficas ficam reservadas para o decorrer da peça. Guardadas as devidas
proporções, lembrou-me o cenário de “Ralé”,
um clássico texto de Máximo Gorki, na montagem que inaugurou
o extinto Teatro Novo, onde, hoje,
funcionam as instalações da TV-Brasil,
na Rua Gomes Freire. Aquele cenário era obra de um dos mais geniais
artistas da cenografia: Gianni Ratto, a quem o TEATRO BRASILEIRO muito deve.
Parte do cenário.
Ao
contrário do cenário de Ratto, que era fixo, aqui, temos
andaimes, em dois níveis, de madeira e ferro, sobre rodinhas, para que possam dar
origem a diferentes configurações, com muitas escadas. Depois, com o acréscimo
de alguns móveis, vão sendo formados outros espaços, como uma sala de visita,
um armazém, o “hall” de um hotel... Predomina, em todo o cenário, o tom bege,
neutro, que combina com todas as mudanças de luz, do mago PAULO CÉSAR MEDEIROS, ex-aluno da UNIRIO, que, num gesto de extrema generosidade, participou do Projeto, com seu invejável trabalho.
Sobre ele, falaremos mais tarde.
O
ponto alto do cenário está na cena
final, quando se presta uma grande e merecida homenagem aos artistas
brasileiros, representados, em painéis, por algumas de nossas mais representativas
atrizes, como Fernanda Montenegro, Dercy Gonçalves, Marília
Pêra, Eva Tudor, Bibi Ferreira, Suely Franco, Dina Sfat, Tônia Carrero, Alda Garrido, Cacilda Becker, Dulcina de Moraes e Cleyde Yáconis.
As canções da peça, belíssimas e com letras muito interessantes, foram
todas compostas, exclusivamente, para esta montagem, por GABRIEL GRAVINA (produção musical) e GUILHERME MENEZES (direção musical), uma vez que, segundo consta, muito das
partituras originais se perderam no tempo. Das letras, muito pouco foi
aproveitado. Apenas a de uma valsa, sobre a personagem LAUDELINA, que é cantada pela atriz FLORA MENEZES, foi mantida na íntegra, por ser um clássico dentro
da peça. GUILHERME ASHTON colaborou
na composição de três das canções que estão na trilha do espetáculo: “O Armazém” “Festa de Pantaleão” e
“Laudelina e Pantaleão”.
Com relação à
parte musical, destaco a canção inicial, que, de uma certa forma, apresenta o
espetáculo, e uma outra, em que o personagem FRAZÃO explica o que significa “MAMBEMBE”.
Mas não há uma, sequer, que não seja de ótima qualidade. Aqui, pode ser
encaixado um elogio ao ótimo trabalho da banda.
Quanto ao texto, folgo em ver um clássico da
dramaturgia brasileira, com mais de cem anos, tão bem adaptado para os dias de
hoje, sem perder sua essência, resguardado em suas formas clássicas, tornado, ligeiramente,
mais acessível ao público comum, pelo ótimo trabalho de ALEXANDRE AMORIM, que fez questão de manter, na íntegra, um belo “bife” (uma fala muito longa), dito
pelo personagem FRAZÃO, por meio do
qual ele exalta o ofício de representar. O texto
é muito bonito, comovente e de fazer umedecer os olhos.
Mas é claro
que não faltam referências (críticas) a fatos recentes. O personagem FRAZÃO, por exemplo, em certo momento,
sai-se com um “NÃO SOU CAPAZ DE OPINAR!”,
fazendo lembrar a atuação de uma famosa atriz de TV, ao tentar “comentar” a
mais recente cerimônia do Oscar, sem
ter conhecimento de causa para fazê-lo.
Muito pouco há
para ser dito, sobre a direção de RUBENS LIMA JÚNIOR, nada diferente dos
comentários sobre as montagens anteriores, todos elogiosos e justos, para um
homem que se dedica ao TEATRO, como
diretor e professor, como poucos profissionais, principalmente ao Projeto que criou na UNIRIO.
Lutando contra
um turbilhão de adversidades, ele consegue, com uma equipe fiel, amiga e
competente, tomar um desafio e levá-lo até o fim, resultando num espetáculo
digno de ser apresentado em qualquer palco.
Dirigir um musical é uma tarefa especial, para um diretor, pois, por mais que conte com auxiliares no campo da música e da dança, é dele a responsabilidade maior pelo produto final. E
trabalhar com muita gente, cerca de 30 atores, fora os técnicos, não é para
qualquer amador.
O espetáculo é
muito movimentado e, apesar de um pouco longo (não para os padrões dos musicais), não dá a oportunidade de um
cochilo, pois o que não falta é ação, movimento, mudanças de cenários,
deslocamentos dos atores, excelentes marcações, sem falar na direção de atores, que RUBINHO sabe fazer como ninguém.
Percebe-se o dedo do diretor em cada
composição de personagem.
A direção optou por uma interpretação
voltada para as tintas do farsesco, às
vezes com um certo exagero, o que é muito bom e combina muito bem com o texto. As soluções para as cenas são
bem simples e inteligentes, como, por exemplo, as sombras utilizadas, para
mostrar as viagens da trupe, num trem e numa carroça, e a hilária cena que
inicia o 2º ato, quando a tosca e bizarra população do vilarejo de Tocos entra no teatro e se acomoda, na
primeira fila, interagindo com a plateia, todos prontos para assistir à
encenação da peça “A Passagem do Mar
Amarelo”, escrita pelo CORONEL
PANTALEÃO, um verdadeiro fracasso em 12 atos.
Das cenas mais
belas ou hilárias e, tecnicamente, interessantes, por difíceis de serem feitas,
destaco a da tentativa de sedução de PANTALEÃO,
sobre LAUDELINA; toda a sequência do
armazém, principalmente pela coreografia;
a do solo musical da dona do armazém (INGRID
KLUG); a da Festa do Divino, com
o número da mulher do Rei do Divino,
uma “ex-atriz”, que resolve relembrar os velhos tempos e mostrar, aos
presentes, seus “predicados artísticos”. Tudo isso, sem falar na genial ideia
de introduzir, no espetáculo um toque de “Stomp”,
com batuques nas mesas e produção de sons, incrivelmente sincronizados.
A cena final é apoteótica e muito
emocionante, quando se presta uma grande reverência ao TEATRO, como veículo de cultura e entretenimento.
RUBINHO faz milagres, num palco tão
pequeno e com poucos recursos técnicos. Quando os espetáculos são levados para
outros teatros, como aconteceu nas duas últimas montagens, ganham, ainda, mais
brilho, por serem representados em palcos de maior área e mais bem equipados,
tecnicamente falando.
Mais um dos
grandes acertos de direção de RUBENS LIMA JÚNIOR!
Mas a grande
atração dessas montagens universitárias
são os atores, pelo que surpreendem
o público, com suas atuações, quando se sabe que ainda estão em fase de
conclusão de seus cursos. A cada ano, surpresas novas e deliciosas. Acho que
seria difícil, ou impossível, falar de todos, até porque não os conheço, à
exceção de uma meia dúzia. Então, para fazer justiça, digo que todos, sem a menor exceção, cumprem, com
perfeição, a tarefa que lhes foi confiada, inclusive os que fazem “apenas”
parte do coro. Mas não posso deixar
de tecer comentários a alguns trabalhos, dos atores que representam os
principais personagens.
O papel de LAUDELINA é dividido, em revezamento,
entre as atrizes GIULIANA FARIAS e ROBERTA MONÇÃO. Na sessão em que estive
presente, foi GIULIANA quem atuou.
Muito bem, aliás! A moça não deixa a desejar na interpretação, nem no canto,
nem na dança. Sua personagem não demanda muita dificuldade, em sua composição,
mas, não sendo representada por alguém de comprovada competência, poderia levar
a uma caricatura, o que não ocorre em cena; mérito da atriz. Gostaria muito,
também, de poder ver a personagem representada pela ROBERTA.
Giuliana Farias.
Que bela e acertada escolha
de RODRIGO NAICE, para o papel de FRAZÃO! Além de ótimo ator, o rapaz é
dono de um potencial vocal esplêndido, tanto no alcance das notas quanto na
afinação, sem falar no seu belo timbre. Brilha em todos os seus solos e é
aplaudido em cena aberta, principalmente naquela em que faz um discurso,
emocionado, sobre a importância do ofício de ator, que vale por todo o
espetáculo.
Rodrigo Naice.
FLORA MENEZES, DONA RITA,
a madrinha que criou LAUDELINA, já
está mais que formada. Brilhou, na montagem passada (“O Jovem Frankenstein”) e não faz nada diferente agora. Seu papel
não tem um grande destaque, mas sua personagem cresce, no decorrer do
espetáculo, graças ao talento de FLORA,
que tem uma voz belíssima e emociona, sempre que sola, com especial destaque
numa valsa, cuja letra fala de sua relação com a afilhada.
Para mim, uma das
maiores surpresas deste ano cabe ao jovem ROBSON
LIMA (não sei a sua idade, mas deve ser um dos mais jovens do grupo), que
interpreta EDUARDO, um ator
apaixonado por LAUDELINA e que sofre
por ver o assédio de outros homens sobre a pretendida.
Flora Menezes e Robson Lima.
ROBSON sabe, como ninguém, trabalhar as máscaras faciais, por meio
das quais fala mais, muitas vezes, do que pelas falas que lhe cabem. Logo no
início do espetáculo, o rapaz tem um solo muito bom, no qual atinge uma nota
altíssima e a sustenta, por um longo tempo, abusando do fôlego. A cena provoca
agitação na plateia.
Há uma atriz, no
elenco, INGRID KLUG, responsável por
duas personagens, DONA VIDINHA e DONA BERTOLEZA, ambas excelentes
composições. Encantou-me o trabalho de INGRID.
Como DONA VIDINHA, a dona do armazém,
tem um ótimo solo, um “jazz”,
marcante, no espetáculo. Na pele de DONA
BERTOLEZA, esposa de PANTALEÃO,
é responsável por muitas gargalhadas, em função dos tiques nervosos de sua
personagem e da voz que a atriz encontrou para ela. Domina o “timing” da comédia,
assim como outros do elenco.
Joaz Perez e Ingrid Klug.
JOAZ PEREZ faz um CORONEL
PANTALEÃO digno de todos os elogios.
Irreconhecível, por trás de uma formidável caracterização, o ator jamais
passaria por um neófito, na arte de representar, por passar muita experiência,
que, na verdade, ainda não tem, por ser muito jovem. É inCipiente, mas não inSipiente.
A despeito do asco que causa, na plateia, o seu visual, ao mesmo tempo, cada
sua aparição se constitui num deleite para o espectador, que já fica aguardando
uma boa cena, por conta do talento do ator, que, além de tudo, executa um ótimo
trabalho de corpo, na composição do seu personagem.
Joaz Perez / Coronel Pantaleão.
CHICO INÁCIO, o “manda-chuva” da localidade conhecida como Pito Aceso, representado por JOÃO SARAIVA, e MADAMA, sua esposa, feita por TALITA
SILVEIRA, também fazem parte do grupo dos que se destacam e também executam
um bom trabalho.
João Saraiva e Talita Silveira.
Faltou falar de BRUNO NUNES, mais que profissional, um dos principais nomes da montagem
de “O Jovem Frankenstein”, agora
vivendo o personagem VIEIRA, o
cômico da companhia, o palhaço, que, por ironia da vida (ou do destino, sei lá),
fora do palco, tem um comportamento oposto ao de quando está em cena: é triste,
melancólico, macambúzio, casmurro, com um pensamento fixo na morte e nas coisas
do além, talvez por já não ter mais esperança de ser feliz e reconhecido na
profissão. O personagem não tem a mesma importância do seu Igor (ou “ÁIGOR”, como
gostava de ser chamado), de “O Jovem
Frankenstein”; em compensação, o talento de um ator amplia o brilho de seu
personagem, e VIEIRA é consagrado
pelo público, porque BRUNO é muito
bom naquilo a que se propõe fazer. O personagem reforça, no seu texto, as dificuldades enfrentadas na
vida de artista, principalmente quando este é um cômico. Também tem um belo
momento de solo, quando não desperdiça a oportunidade de mostrar seu potencial
para o canto.
Bruno Nunes.
Se o diretor
“se vira nos trinta”, para pôr tanta gente em cena, num espaço reduzido, o que
dizer do trabalho do coreógrafo? As coreografias de “O MAMBEMBE”, assinadas por GABRIEL
DEMARTINE, a Criatura do Dr. Frankenstein,
no espetáculo de 2015, são de um bom gosto indiscutível, alegres e muito
criativas.
Um dos grandes destaques do espetáculo é uma
sequência de números, baseada no trabalho do grupo inglês Stomp, que faz percussão com objetos do cotidiano e utilizando os
próprios corpos. Foi uma ideia do coreógrafo,
segundo ele, logo que leu a cena do armazém. Apresentou-a a GUILHERME MENEZES, o excelente diretor musical do espetáculo, o qual
compôs uma canção especial para essa coreografia,
baseada na variação de timbres e ritmos que a cena permitia. Um trabalho de mestres! Outra coreografia que se destaca é da dança
do cateretê.
Segundo informação que obtive
do próprio DEMARTINE, “o processo de criação das coreografias, neste musical, foi bem
diferente. Como as músicas são autorais, começamos o processo, sem saber como
elas seriam. Tínhamos uma ideia do estilo e de como gostaríamos que fosse, mas
não exatamente o que era. Então, como o processo seria longo, por volta de sete
meses, comecei com aulas de dança, de diversos estilos. Era preciso preparar o
corpo dos atores, para a minha linguagem e a linguagem do espetáculo, de forma
que eles assimilassem as coreografias mais rapidamente, ao final do processo. À
medida que as músicas iam chegando, as ideias iam surgindo, e com total
abertura, para sugestões, com os compositores. Os números eram idealizados na
minha cabeça. Quando comecei, efetivamente, a montar os números com o elenco,
as cenas já estavam, praticamente, montadas. Então, eu já sabia a necessidade
de cada cena, o que foi muito bom, pois prezo muito as coreografias cênicas. Para
mim, todo movimento tem que estar a favor da cena e em função da história que
está sendo contada; não dança por dança. Usei, também, muito dos atores, dos
personagens que já estavam bem estruturados, e, junto com minha assistente, ISABELA
VIEIRA, tentamos dar uma cara de Brasil, que não fosse muito óbvia. Buscamos
influências, desde o clássico, no “jazz dance”, valsas e, até, em percussão
corporal e danças folclóricas”.
Pois bem, é exatamente isso o que se vê em cena, e
muito bem executado. Parabéns, GABRIEL
DEMARTINE!
De passagem, já falei de PAULO CÉSAR MEDEIROS, um dos melhores
profissionais da iluminação do TEATRO BRASILEIRO, “cria” da UNIRIO, que assina a luz deste espetáculo. Ainda que a peça trate
de um tema um tanto triste, falando de fatos relativos às dificuldades por que
passam os artistas, no Brasil, a mensagem que fica é de alegria e otimismo, fé
numa mudança no panorama artístico brasileiro. A peça conta, também, com
grandes momentos de festa e alegria. É preciso que a luz, um dos elementos fundamentais do TEATRO, que pode elevar ou destruir um espetáculo, funcione muito
bem. Aqui, ela precisa de um olhar atento de quem a desenha, para ajudar a dar
veracidade às cenas. Essa dosagem, de cores e intensidades, sabe fazer o PAULINHO, como ninguém. Como, no cenário (já foi dito), predomina a cor
bege, neutra, a iluminação se
destaca e põe em destaque elementos cenográficos e as cores dos figurinos, matéria do próximo
comentário.
São belíssimos e muito ajustados à época em
que se passa a peça os figurinos, de
RICK BARBOZA, todos muito alegres,
coloridos, bem confeccionados e uma atração à parte, neste espetáculo.
Variadíssimo e em grande quantidade, fico imaginando como acomodar tantas peças
numa coxia acanhada, como a da Sala
Paschoal Carlos Magno. Sei que tiveram de utilizar uma sala contígua ao
fundo do palco, para que todos pudessem se trocar sem atropelos.
Um grande aplauso deve ser conferido ao
criador da caracterização / visagismo,
VÍTOR MARTINEZ. Ele abusou nas
tintas, denotativa e conotativamente falando, e criou tipos interessantíssimos,
com o auxílio de perucas e elementos postiços, além de máscaras. O resultado é
impecável.
Um detalhe da caracterização / visagismo.
Como um competente timoneiro, guiando o
barco, na direção de produção, não
posso deixar de render uma homenagem a MARCUS
BRANDÃO, também ator, que, desta vez, passou para os bastidores, com a
árdua tarefa de fazer com que tudo possa correr bem, antes, durante e depois de
cada apresentação. E é exatamente assim que acontece. E, também, devo agradecer
a AMANDA BARROS, da assessoria de imprensa, que me forneceu
muitas das informações aqui contidas, uma vez que o programa da peça não ficou
pronto para o dia da estreia.
Para finalizar, quero apenas falar da minha
grande alegria de estar, todos os anos, na primeira fila, prestigiando esse
belíssimo trabalho, e do meu prazer de cumprimentar, um a um, os envolvidos no Projeto, além de constatar o seu
amadurecimento, inquestionável, a cada nova produção.
SERVIÇO:
Temporada:
De 28 de abril a 15 de maio de 2016.
Local:
Teatro Paschoal Carlos Magno – Palcão - da UNIRIO.
Endereço:
Avenida Pasteur, 436, Fundos – Urca - Rio de Janeiro.
Telefone:
(21)2542-2205.
Dias
e Horários: De 5ª feira a sábado, e 2ª feira, às 21h; domingo, às 20h.
Entrada
Gratuita.
Senhas
distribuídas uma hora antes do início do espetáculo.
Assessoria
de Imprensa: Amanda Barros (amandabmatos@gmail.com
(21)
97969-1693
Lembrança da peça: cada espectador recebe
um bilhete de
passagem do trem que transporta a trupe
mambembe.
“Selfie” em dia de estreia.
Com o querido amigo e grande diretor
Rubens Lima Júnior (Rubinho)
– Foto: Marisa Sá.
Completamente apaixonada pelo O MAMBEMBE!
ResponderExcluirParabéns pela belíssima e super completa crítica!