VERTIGEM DIGITAL
(QUEM OU O QUE SE ESCONDE POR TRÁS DO
MUNDO VIRTUAL? QUEM É QUEM NESSE
UNIVERSO?)
Os deuses do TEATRO, vez por outra, nos reservam
agradáveis surpresas, como a que tive, recentemente, ao assistir ao espetáculo VERTIGEM DIGITAL, em cartaz no Tetro do Jockey, de 6ª a domingo,
sempre às 21h, em temporada até 25 de maio.
Mas
onde está a grata surpresa?
ALEXANDRE ELIAS sempre mereceu meu
respeito e admiração como um profissional ligado à música, responsável por
direções musicais, trilhas, arranjos e preparação vocal em vários espetáculos
de grande monta, como, por exemplo, para citar apenas os mais recentes, TIM MAIA, VALE TUDO – O MUSICAL e GONZAGÃO, A LENDA, este que lhe rendeu o
Prêmio Shell de Teatro, em 2013, na
categoria Direção Musical, embora já
tenha recebido inúmeros outros prêmios e indicações.
Mas ainda não
apareceu a surpresa.
Esta se faz
presente, quando ALEXANDRE ELIAS
resolve enveredar na dramaturgia e escrever uma peça para TEATRO e dirigir seu próprio texto.
Sim, ele
escreveu o texto de VERTIGEM DIGITAL,
baseado, livremente, no livro do mesmo nome, cujo título original é DIGITAL VERTIGO, do sociólogo Andrew Keen, segundo o qual o lado
social das redes ditas “sociais” é uma ilusão.
"O que acontece
quando se opta por divulgar, nas redes sociais, cada um dos passos que damos no
dia a dia? As pessoas estariam fadadas a
viver uma existência compartilhada, em que centenas de pessoas podem opinar
sobre suas escolhas e acompanhar o desenvolvimento de suas vidas? Na opinião do autor desta obra, as pessoas
acreditam que suas identidades só se realizam pela internet. Escrevo nas mídias sociais, logo existo."
E, ainda por
cima, ELIAS assina a direção do espetáculo, começando com pé
direito nas duas funções.
"A peça conta a
história de cinco pessoas que se encontram no momento em que os relacionamentos
humanos estão mudando constantemente, devido ao advento das novas tecnologias e
da supervalorização das redes sociais e do culto às celebridades."
Mudando, para
melhor ou para pior? O texto propõe
exatamente uma reflexão sobre isso.
Trata-se de um divertido, ainda que sério, questionamento sobre a
dependência que adquirimos da vida virtual – especialmente em se tratando das
redes sociais.
A cada dia -
não há como contestar - o homem, principalmente o da “urbis”, no afã de se
comunicar, enclausura-se, cada vez mais, num mundo virtual, em que a realidade é
sempre um faz-de-conta, que ele crê verdadeiro.
Infelizmente (É UM ABSURDO!),
até mesmo em restaurantes, auditórios, cinemas e TEATROS, as pessoas perderam a noção de respeito ao próximo e à
privacidade e não se desgrudam de seus computadores, “iphones”, “tablets”, “notebooks”
e de outros representantes da parafernália midiática do computador e seus
filhotes.
A internet e,
como consequência, as redes sociais, estão levando o ser gregário, que sempre
fomos, a um isolamento crescente e assustador.
Até quando
iremos conseguir sustentar essa situação ilusória de “aldeia global”? Até quando
suportaremos viver sem o abraço presencial, o incentivo e o conforto do cara a cara,
a palavra dita ao pé do ouvido, com direito a “bafinho quente”? Até quando irá
o prazo de validade dos amigos do Facebook ,
dos nossos seguidores no Twitter?
Elenco
Em cena, um
quinteto de bons atores (IVAN MENDES,
como DOM COSTA; LETÍCIA CANNAVALE, como DULCE
MACHADO; FERNANDA GABRIELA, como
ELISA BRAGA; LÍGIA FAGUNDES, como EVA
HARRINGTON; e FRANCISCO SALGADO,
como WIKIPÉDIA) se reveza em alguns
personagens, vivendo situações que levam o espectador a refletir sobre o
verdadeiro papel das redes sociais, até que ponto poderemos sobreviver sem elas,
numa sociedade que fomenta, insistentemente, a nossa inclusão nesse mundo
maravilhoso da internet, sob pena de perdermos o bonde do tempo. Nessa altura, falar em “bonde” já é um sacrilégio.
Melhor seria dizer o “supersônico
de fabricação mais moderna”. Ou será
que até eu já “morri e me esqueci de deitar”?
Não é à toa
que o livro que deu origem à peça traz, na capa, uma espécie de subtítulo: POR QUE AS REDES SOCIAIS ESTÃO NOS DIVIDINDO, DIMINUINDO E DESORIENTANDO?
Não é de hoje, que o tema “solidão, isolamento”
vem sendo tratado por consagrados escritores, como é o caso de Fernando Sabino, em sua fantástica crônica
OITO MILHÕES DE SOLITÁRIOS, na qual
fala da solidão dos passageiros, como “sardinhas em latas”, dentro de vagões do
metrô, no horário de “rush”. Não
estariam sozinhas, fisicamente, mas solitárias nas suas almas .
Quem é quem no mundo virtual?
Sair sem o seu celular (perdão, IPHONE de última geração),
conectado à internet e às redes sociais, parece causar a sensação de nudez, diante
das outras pessoas. Assim como eu mesmo
dizia, há tempos, que me sentia nu, no meio da rua, quando esquecia o meu relógio,
outro objeto escravizante, hoje, o mesmo se dá com muitas pessoas, ao esquecer
o celular em casa, o qual serve para tudo, “inclusive como telefone” (piada
infame).
Segundo o programa do
espetáculo, a peça “fala de medos, paixões,
sonhos, frustrações, através desse mundo paralelo em que vivemos e nos
relacionamos. Os diálogos reafirmam o
encontro entre realidade e ficção e nos fazem acreditar, ainda mais, que não há
apenas uma verdade.”
Trata-se de um espetáculo
simples, produção despretensiosa, no sentido de uma ostentação plástica e
tecnológica, com cenários, figurinos e iluminação parcimoniosos, entretanto a
boa ideia do tema, sua contemporaneidade, assim como uma direção aplicada e o
bom trabalho feito pelos atores justificam uma ida ao Teatro do Jockey.
Acima de tudo, vale o espetáculo como uma sucessão de alertas às pessoas:
1) Há um outro mundo, além do virtual.
2) Há uma outra realidade, ou a verdadeira realidade,
do lado de cá da telinha.
3) Avance e progrida, sem tirar os pés do chão,
porque, se isso não ocorrer, uma reversão poderá ser impossível de ser atingida. Poderá ser uma ida sem volta .
E por que não uma reflexão
acerca do vocábulo “amigo”? Parece
que, no mundo moderno, três categorias – conhecido,
colega e amigo – se fundiram nesta. Não
seria, no mínimo, estranho chamar de “amigo
no Face” a pessoas que nem conhecemos, que apenas adicionamos (não
agregamos) por serem amigas do amigo do amigo do amigo do amigo…?
Isso me faz lembrar uma
charge, de autor desconhecido, que andou circulando, recentemente, no próprio
FACEBOOK, relacionada ao enterro de um usuário, digamos, compulsivo dessa rede
social. Na hora do sepultamento do
falecido, a viúva se faz acompanhar de apenas uma meia dúzia de pessoas. Então um dos AMIGOS diz à viúva: “Pena que só tenham vindo poucas pessoas ao
enterro do Fulano”. E ela completa: “Pois é!
E ele, no Face, tinha mais de mil “amigos”.
Outra, bastante interessante e, ao mesmo tempo, bem
ingênua, é a que reproduzo abaixo, retirada da internet, com o crédito na
própria imagem:
Reforço,
aqui, a recomendação de que assistam a este espetáculo e, mais do que isso,
tirem suas conclusões a respeito da importância da tecnologia, do universo virtual
e das redes sociais no mundo moderno, contudo sem exageros nem prejuízos à vida
e à relação entre seres HUMANOS.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção:
ALEXANDRE ELIAS
Elenco:
IVAN MENDES - DOM
COSTA
LETÍCIA CANNAVALE -
DULCE MACHADO
FERNANDA GABRIELA -
ELISA BRAGA
LÍGIA FAGUNDES - EVA
HARRINGTON
FRANCISCO SALGADO -
WILKIPÉDIA
Assistente de Direção: FLÁVIO PARDAL
Direção Musical:
ALEXANDRE ELIAS
Direção de Produção: ALEXANDRE LINO
Figurinos: ESPETACULAR
PRODUÇÕES ARTÍSTICAS NEY MADEIRA - DANI VIDAL - PATI FAEDO
Cenário: KARLLA
DE LUCA
Iluminação: HUGO
MERCIER
Preparação Corporal: GISELDA FERNANDES
Produção Executiva: BRENO LIRA GOMES
Produtores Assistentes: DANIEL PORTO, PAULO AMARO E BRUNO IMENES
Contrarregra: VICTOR
HUGO RODRIGUES
Operador de Som:
DIOGO PIVARI
Operador de Luz:
CARINA D’ÁVILA
Fotografia Artística: JANDERSON PIRES
Visagismo: NILTON
MARQUES
Design Gráfico:
GUILHERME LOPES MOURA
Webdesigner: MARIANA
MARTINS
Videografismo: MARCIO
THEES
Assessoria Jurídica: ANDRÉ SIQUEIRA
Contabilidade:
ALEXANDRE BASTOS
Coordenação Administrativa-financeira: ALEXANDRE LINO
Coordenação Geral: LÍGIA FAGUNDES
Realização: LÍGIA
FAGUNDES e CINETEATRO PRODUÇÕES
Site:
www.vertigemdigital.com.br
Alexandre Elias
Eu e Alexandre Lino (diretor de produção), em noite de estreia.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)
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