“TICK, TICK...
BOOM!”
ou
(UM MUSICAL
DE BOLSO
DE MUITO
BOM GOSTO
E FEITO COM BASTANTE
SERIEDADE.)
Quem
foi que disse que um musical só pode ser montado com um alto orçamento; muito
alto, na grande maioria das vezes? Pois fiquem sabendo que está em cartaz, no Teatro
do Centro Cultural Solar de Botafogo (VER SERVIÇO.) um excelente
musical “de bolso” (Pocket Musical), de produção modesta, que me agradou sobremaneira,
fazendo com que eu deixasse aquele simpático espaço cultural com a alma em
festa, muito feliz pelo que me foi entregue.
Mas o
que se pode chamar de um musical “de bolso”? Trata-se de uma peça de teatro musical, geralmente, com duração reduzida, o que não é o
caso do espetáculo em tela, apresentada em espaços intimistas (teatros pequenos,
por exemplo, como é o caso aqui, e outros locais não convencionais), muitas vezes, com o público bem
próximo ao palco. A proposta é criar uma experiência teatral informal e
direta, com um custo bem franciscano, explorando a música e a interpretação de
forma mais próxima e surpreendente.
Destarte, classifico
“TICK, TICK... BOOM” como um “pocket
musical”. Trata-se de um clássico da Broadway, semiautobiográfico,
que aportou no Rio de Janeiro, em versão inédita em solo nacional, com temas
que permanecem atuais, como saúde mental, diversidade, amizade,
HIV,
busca
por propósito e o medo de não deixar uma marca no mundo.
SINOPSE:
Ambientada em Nova Iorque, nos anos 1990,
a história acompanha Jon (MATHEUS BOA), um jovem compositor, prestes a completar 30
anos, que luta para realizar seu sonho de escrever um grande musical.
Enquanto trabalha como garçom e se
prepara para apresentar sua obra a uma plateia de especialistas da Broadway,
ele enfrenta pressões emocionais, vindas de todos os lados: da namorada Susan
(CAMILLE DUTRA), que deseja uma vida
fora da cidade, e do melhor amigo Michael (DIEGO MONTEZ), o qual opta por estabilidade em um emprego
corporativo.
Entre dúvidas e cobranças, Jon
se vê diante de uma encruzilhada: vale a pena seguir sonhando?
A montagem
foge, completamente, à ideia convencional de musical e tem características
muito próprias. Quem, como eu, já teve a oportunidade de assistir ao musical “Rent”,
do mesmo autor deste, JONATHAN LARSON,
pode estabelecer alguns pontos técnicos em comum entre os dois, na arquitetura dramática, com
destaque para as canções, que ajudam a contar a história e que são bastante
sofisticadas, o que exige muito talento dos atores. Trata-se de uma partitura
dificílima de ser executada, pelos músicos e pelos cantantes, em solos, duos ou
trios.
A SINOPSE
da peça é muito bem desenvolvida, em momentos de alguns poucos solilóquios ou
de quebra da quarta parede, com a predominância de diálogos muito ágeis e
concisos. O roteiro é fácil de ser seguido pelo público e consegue mexer com a
atenção da plateia, a qual vai torcendo por um fim positivo para cada um dos
três personagens.
Jon
e Susan
são um casal de namorados com pretensões bem distintas e opostas, quanto ao futuro.
Enquanto a moça sonha com um novo “way of life”, bem diferente da rotina
de uma metrópole como Nova Iorque, o rapaz se sente
inseguro, sem muita coragem de assumir a sua paixão por escrever para o Teatro,
com dificuldade para alçar voos mais altos. Ele prefere a estabilidade, até a
página 5, de um emprego simples, de garçom, a se lançar ao espaço e
provar ou, pelo menos, testar seu talento. O amigo, Michael, também assume
uma posição de se acomodar, com seu emprego, de executivo, que lhe rende uma
vida bem confortável, a qual ele também desejava para Jon.
Em
termos de plasticidade, a peça conta com uma cenografia (PUGLI) bem simples, porém à altura da
proposta, o mesmo podendo ser dito quanto aos figurinos (LUANA VARGA) e à iluminação (DANS SOUZA).
Sinto
a montagem como um trabalho de difícil execução e um grande desafio para todos
os envolvidos na FICHA TÉCNICA, mormente para quem dirige, atua
e canta
ou os que acompanham, ao vivo, os números musicais, uma notável banda,
formada por THALYSON RODRIGUES (maestro e piano), ANDRÉ BARROS / ANDRÉ
POYART (guitarra), DIÓGENES DE
SOUZA (baixo) e NAIFE SIMÕES
(bateria).
A
equipe de direção (LUIZA LEWICKI,
JÚLIA VARGA e MARCELA PIRES) consegue
encontrar excelentes soluções para dispor o elenco no resumido espaço cênico, pensando
em fazer com que todas as cenas se concluam se o menor embaraço.
O grande ponto alto desta produção recai, indiscutivelmente, sobre o magnífico trio de atores: MATHEUS BOA, CAMILLE DUTRA e DIEGO MONTEZ. Sobre este, tudo o que for dito será redundante, dado seu comprovadíssimo talento, em um sem-número de grandes produções musicais anteriores, como, por exemplo, a mais recente, “Alice de Cor e Salteado”, na mesma linha de musical “de bolso”, a que assisti, há pouco tempo, em São Paulo. Quanto aos outros dois, cujos trabalhos eu desconhecia, confesso, com muita alegria, que se mostraram, para mim, e para toda a plateia, como dois excelentes artistas, talhados para musicais, com um grande potencial de representação, bem como donos de belas e extensas vozes, no canto. Está de parabéns o trio!
Para quem está curioso,
como eu fui ao Teatro, o título, “TICK,
TICK...BOOM!”, reflete bem a angústia do personagem Jon, que se sente
pressionado com o tempo passando, como uma bomba-relógio em sua cabeça, prestes
a explodir, com data marcada para apresentar a obra da sua vida em uma
apresentação decisiva.
FICHA TÉCNICA:
Idealização:
Matheus Boa e Camille Dutra
Libreto,
Música e Letra: Jonathan Larson
Consultor
de Roteiro: Davis Auburn
Arranjos
Vocais e Orquestrações: Stephen Oremus
Versão
Brasileira: Bruno Narchi e Thiago Machado
Direção
Artística: Luiza Lewicki, Júlia Varga e Marcela Pires
Assistência
de Direção: João Ferreira
Direção
Musical: Caio Loureiro
Elenco:
Diego Montez (Michael), Pedro Balu (alternante de Michael), Camille Dutra
(Susan), Luiza Lewicki (cover de Susan), Matheus Boa (Jon) e João Ferreira
(cover de Jon e Michael).
Direção de
Movimento: 53 Produções
Preparação
Vocal: Marta Ávila
Cenografia:
Pugli
Figurino e
Visagismo: Luana Varga
Desenho de
Luz: Dans Souza
Desenho de
Som: Guilherme Benna
Produção:
Play It Produções
Produção
Executiva: Flávio Boa
Direção de
Produção: Gabriel Barbosa
Assistência
de Produção: Layla Santos
Desenho e
Identidade Visual: Beatriz Monken e Daniel Lima
Fotos: Paulo
Aragon
Assessoria
de Imprensa: Mercado.Com (Ribamar Filho e João Agner)
SERVIÇO:
Temporada:
De 07 a 30 de agosto de 2025.
Local:
Teatro Solar de Botafogo.
Endereço:
Rua General Polidoro, nº 180 - Botafogo, Rio de Janeiro.
Dias e
horários: Quarta-feira (13, 20 e 27); quinta-feira (7, 21, 28);
sexta-feira (8, 15 e 29); sábado (23) sessão dupla, às 16h e às 20h; sábado
(30) às 20h.
Valor dos
Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).
Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/108589/d/329179/s/2247038?share_id=1-copiarlink
Duração:
100 minutos.
Classificação
Etária: 14 anos.
Gênero:
Musical.
RECOMENDO, COM
O MAIOR EMPENHO, este espetáculo, ao mesmo tempo que
chamo a atenção dos que me leem para um dado importantíssimo: Toda a FICHA
TÉCNICA desta montagem (ou 90% dela) é formada por artistas
e criativos bastante jovens, o que representa um grande ganho para o TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO.
FOTOS: PAULO
ARAGON
É
preciso ir ao TEATRO, ocupar todas
as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta
crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário