“REPÚBLICA LEE
– UM MUSICAL
AO SOM DE RITA”
ou
(UM MUSICAL
“BESTEIROL”
DA MELHOR
QUALIDADE.)
Gosto mesmo é de TEATRO, de todos os gêneros. O importante é
que seja feito com competência e bom gosto. Duas modalidades da arte de representar
que sempre me agradam, com efeito, são o musical e o besteirol. Aquele, cada
vez mais potente, entre nós, a ponto de colocar o Brasil na terceira
posição, com relação aos países que mais produzem e consomem o gênero. Este,
infelizmente, perdeu um pouco a sua potência, entre nós, mas, vez por outra,
surge alguma produção de valor. “REPÚBLICA
LEE – UM MUSICAL AO SOM DE RITA” reúne os dois gêneros e é levado ao palco com
muita seriedade - Olha o paradoxo aí, gente! – e bom gosto, além de ser uma
bela e merecida homenagem à eterna Rita Lee, que entra na história
apenas com muitas de suas excelentes canções, formando uma magnífica trilha
sonora de primeira e para nomear uma república de cinco jovens, fãs da
cantora. Não! Não se trata de nenhuma história sobre a Rita.
SINOPSE:
O musical irreverente acompanha a história de cinco
jovens, moradores de uma república na cidade de São Paulo, entre os anos
de 1968
e 1969.
O grupo está engajado em produzir, dentro do
apartamento onde mora, um curta-metragem de ficção científica, com baixo
orçamento.
A trama dentro da trama é baseada em
longas-metragens de “science-fiction” dos anos 1950, como “O dia em que a Terra Parou”,
“A
invasão dos discos voadores” e “O Ataque da Mulher de 15 Metros”.
Acrescento eu à SINOPSE
supra: Os cinco amigos tentam sobreviver, com suas ideias, ao terror da ditadura
militar, instaurada no Brasil, de 1964 a 1985, 21
anos de uma “página infeliz da nossa História”, que destruiu tantos lares,
arrasou com o sonho de muita gente e matou e fez com que desaparecessem dezenas
de oponentes ao cruel regime.
O espetáculo chega ao Rio
de Janeiro, muito esperado por mim, depois de uma consagração em São Paulo,
onde foi sucesso absoluto, com casas lotadas e indicações a prêmios de Teatro,
sagrando-se vencedor em algumas categorias; muito merecidamente, aliás.
Embora tenha recebido a
minha classificação como um musical “besteirol”, o adjetivo grifado se
aplica mais sobre a estrutura, a arquitetura cênica da montagem, uma vez que a
peça tem um bom enredo a ser desenvolvido e o é muito bem executado. Amores não
resolvidos, resistência a um regime de exceção, sonhos a serem concretizados e
traição (por um “bom” motivo) são alguns dos ingredientes da trama, muito bem
explorados pelo dramaturgo, TAUÃ DELMIRO,
que acumula mais duas funções no espetáculo: é o diretor e um
dos cinco intérpretes.
Ainda sobre a denominação
que atribuí à peça, também merece uma pequena ressalva com relação ao termo “musical”.
O espetáculo está mais para um TEATRO “musicado”, visto que as
letras das canções não se prestam a contar também a história, além dos
diálogos. Na verdade, as músicas têm alguma relação com as cenas e entram muito
bem na “urdidura” da trama, mas sem fazer parte do corpo do texto. Mas
isso é o de menos! Vou continuar achando que é um TEATRO “musical besteirol”.
Confiram!
Eu teria muitos motivos
para recomendar a montagem, mas vou me ater a apenas alguns, todos da maior
importância. Normalmente, reservo para o final os comentários sobre o elenco,
no entanto serei diferente aqui. Assisti à peça com o elenco original e sobre
ele só tenho a desfiar os maiores elogios. Há uma química fantástica entre o
quinteto, os "cinco cavaleiros do após calipso", e todos têm seus momentos de um brilho maior e, o mais importante: absolutamente
todos sabem como aproveitar tais oportunidades.
Começo por CAIO NERY, que conheci ainda moleque,
protagonizando uma linda versão do infantil “Mogli, O Menino Lobo”,
nos idos de 2016, salvo engano. CAIO,
embora jovem, já pode ser considerado um veterano em musicais, emendando,
praticamente, um em outro, porém sempre em papéis de pouco destaque, que ele
sabe muito bem valorizar, como é o caso do musical “Hair”, em cartaz, no
momento, no Rio de Janeiro. Ainda que seu papel lá seja o de membro da tribo,
indiscutivelmente, CAIO se destaca,
principalmente na dança, que ele domina, com sua versatilidade corporal. Em “REPÚBLICA LEE...”, podemos perceber
quão ótima é sua “performance” como cantor e intérprete também. O futuro a ele
pertence, quando o assunto é TEATRO MUSICAL.
Parece-me que INGRID KLUG seja a atriz talhada para a
personagem que representa. Conhecia muito pouco do seu trabalho no palco, em
uma ou duas peças, porém é aqui que ela escancara a sua porção cômica, o seu sensacional
tempo para a COMÉDIA, e arrasa, merecendo, em várias cenas, muitos aplausos em
cena aberta, inclusive os meus.
TAUÃ DELMIRO é um dos meus “geninhos preferidos”, quando o
assunto é fazer rir. Ele o consegue escrevendo, dirigindo e interpretando. É
outro que, a despeito da pouca idade, já pode ser considerado um veterano em
musicais, sempre em papéis que abraça com todo o seu talento e sua ótima
veia cômica. Todos os elogios a ele cairiam como redundância.
HUGO KERT é meu velho conhecido, desde 2013, quando foi um dos
protagonistas do musical “The Book of Mormon”, numa montagem
acadêmica, na UNIRIO. De lá, quando, ainda estudante de TEATRO, já se mostrava um
grande artista, já o vi atuando em grandes produções, sempre com um
ótimo rendimento. Não é diferente agora. Seu humor é mais contido, mais
clássico, e assim ele se apresenta na montagem em tela. Faz uma bela composição
de seu personagem e também agrada à plateia, com seu ótimo trabalho, reservando
uma surpresa, que já começa a se delinear a partir do início do segundo ato.
A grande e agradabilíssima
surpresa, para mim, repousa em CELLA
BÁRTHOLO, uma possível parenta distante minha, com uma prosódia diferente:
sou paroxítono e ela, proparoxítona. Brincadeiras à parte, fiquei muito encantado
com a doçura de sua voz, quando apresenta seus solos, e a firmeza em sua interpretação.
Para mim, pelo menos, uma gratíssima revelação, visto que nunca havia visto a
moça pisando as tábuas, se não me equivoco.
TAUÃ DELMIRO executa uma segura e criativa direção. Como autor,
também tem seu valor, enriquecendo o texto com muitas citações de época, que
passam despercebidas pelos espectadores mais jovens, mas que causam uma lembrança
gostosa, um delicioso saudosismo, em alguns casos – menos no que diz respeito à
ditadura - nos mais velhos, como eu, que vivi, antenada e vigorosamente,
como um ativista, a época em que se passa a história.
A montagem é de baixo
orçamento, a despeito de utilizar bastante a tecnologia, que não falha
em momento algum, com toda a sincronia que as cenas exigem: imagens ao vivo,
projetadas e sons. De qualquer forma, atendem bem à realização da obra, de
forma modesta, os detalhes de cenografia, figurinos e iluminação.
Um detalhe muito
importante nesta montagem é o fato de ela reunir, no palco, TEATRO e cinema. Na
verdade, a peça vai construindo um filme, na presença do público, com cenas pré-gravadas e outras
filmadas ao vivo. “A partir do universo lúdico e disruptivo da lírica
de Rita, a narrativa aborda a rebeldia de uma juventude que rompeu paradigmas e
quer ser fonte de inspiração para os espectadores.”
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Cella Bártholo
Texto: Tauã Delmiro
Direção Geral: Tauã Delmiro
Assistência
de Direção e Direção Residente: Manu Hashimoto
Direção
Musical: Hugo Kerth
Coreografia:
Débora Polistchuck
Elenco: Cella Bártholo (Jullie Jones), Caio
Nery (Caio Laranjeiras), Tauã Delmiro (Danilo Norway), Ingrid Klug (Sarah
Laranjeiras), Hugo Kerth (Darín Gonzalez), Patrick Salerno (alternante Danilo
Norway) e Luiza Cesar (swing e cover Sarah Jones)
Piano: Lucas
Paixão
Direção Artística: Cella Bártholo
Assistência
de Direção Artística: Patrício Terry
Cenografia: Glauce Carvalho e Vinícius
Pugliese
Figurinos: Vinícius Coguiar
Iluminação: Livs
Visagismo: Lívia Rezen
Direção de Produção: Ludmyla Areas
Produção
Executiva: Patrício Terry
Direção de "Marketing" e Comercial: Lívia Rezen
Direção Financeira: Camila Biasi
Assistência Direção Financeira: Vanessa Lopes
Assistência de Produção: Luciana Gomes
Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação e Três Comunicação
Fotos: Paulo Aragon, Bianca Tatamya e Gabé
“Desig”: Júlia Tavares
SERVIÇO:
Temporada: De 05 de agosto a 10 de
setembro de 2025.
Local: Teatro dos 4.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 2°
Andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2239-1095.
Lotação: 402 lugares.
Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60
(meia-entrada).
Venda de ingressos: no “site”
Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/107786) e
na bilheteria do teatro (atendimento
de segunda-feira a sábado, de 14h às 20h; domingos e feriados, de 14h às 20h.
Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da
apresentação.
Duração: 120 minutos (com intervalo).
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Musical.
Por fim, cabe um robusto
elogio à “In Cena Casa de Artes e Produções”, braço do grupo aberto
em janeiro de 2022, focada em produções culturais das mais diversas áreas,
abrangendo musicais, audiovisuais, peças, monólogos e “stand-ups”. Organiza shows,
festas, saraus, festivais, eventos corporativos e beneficentes; elabora e
realiza projetos autorais; e oferece assistência completa e abrangente a
atores, cantores, técnicos, músicos e bailarinos. Em 2024, a produtora estreou
o espetáculo “REPÚBLICA LEE – UM MUSICAL
AO SOM DE RITA”, recebendo indicações a importantes prêmios de TEATRO em São
Paulo. Este ano, a “In Cena Produções” se fundiu com a “R+Marketing”,
para a criação da “In Cena +”, “hub” que tem como foco a
valorização de projetos inéditos e nacionais e que promete movimentar o cenário
cultural.
Parabéns pela coragem de ter bancado este projeto,
que merece ser prestigiado por quem admira o bom TEATRO. Desnecessário
seria dizer que RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO.
FOTOS: PAULO ARAGON,
BIANCA TATAMYA
e
GABÉ.
É
preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e
constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica,
para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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