quarta-feira, 13 de agosto de 2025

“REPÚBLICA LEE

– UM MUSICAL

AO SOM DE RITA”

ou

(UM MUSICAL

“BESTEIROL”

DA MELHOR

QUALIDADE.)

 

 


 

         Gosto mesmo é de TEATRO, de todos os gêneros. O importante é que seja feito com competência e bom gosto. Duas modalidades da arte de representar que sempre me agradam, com efeito, são o musical e o besteirol. Aquele, cada vez mais potente, entre nós, a ponto de colocar o Brasil na terceira posição, com relação aos países que mais produzem e consomem o gênero. Este, infelizmente, perdeu um pouco a sua potência, entre nós, mas, vez por outra, surge alguma produção de valor. “REPÚBLICA LEE – UM MUSICAL AO SOM DE RITA” reúne os dois gêneros e é levado ao palco com muita seriedade - Olha o paradoxo aí, gente! – e bom gosto, além de ser uma bela e merecida homenagem à eterna Rita Lee, que entra na história apenas com muitas de suas excelentes canções, formando uma magnífica trilha sonora de primeira e para nomear uma república de cinco jovens, fãs da cantora. Não! Não se trata de nenhuma história sobre a Rita.



 

 

SINOPSE:

O musical irreverente acompanha a história de cinco jovens, moradores de uma república na cidade de São Paulo, entre os anos de 1968 e 1969.

O grupo está engajado em produzir, dentro do apartamento onde mora, um curta-metragem de ficção científica, com baixo orçamento.

A trama dentro da trama é baseada em longas-metragens de “science-fiction” dos anos 1950, como “O dia em que a Terra Parou”, “A invasão dos discos voadores” e “O Ataque da Mulher de 15 Metros”.


 

 

         Acrescento eu à SINOPSE supra: Os cinco amigos tentam sobreviver, com suas ideias, ao terror da ditadura militar, instaurada no Brasil, de 1964 a 1985, 21 anos de uma “página infeliz da nossa História”, que destruiu tantos lares, arrasou com o sonho de muita gente e matou e fez com que desaparecessem dezenas de oponentes ao cruel regime.



       O espetáculo chega ao Rio de Janeiro, muito esperado por mim, depois de uma consagração em São Paulo, onde foi sucesso absoluto, com casas lotadas e indicações a prêmios de Teatro, sagrando-se vencedor em algumas categorias; muito merecidamente, aliás.



         Embora tenha recebido a minha classificação como um musical “besteirol”, o adjetivo grifado se aplica mais sobre a estrutura, a arquitetura cênica da montagem, uma vez que a peça tem um bom enredo a ser desenvolvido e o é muito bem executado. Amores não resolvidos, resistência a um regime de exceção, sonhos a serem concretizados e traição (por um “bom” motivo) são alguns dos ingredientes da trama, muito bem explorados pelo dramaturgo, TAUÃ DELMIRO, que acumula mais duas funções no espetáculo: é o diretor e um dos cinco intérpretes.



         Ainda sobre a denominação que atribuí à peça, também merece uma pequena ressalva com relação ao termo “musical”. O espetáculo está mais para um TEATRO “musicado”, visto que as letras das canções não se prestam a contar também a história, além dos diálogos. Na verdade, as músicas têm alguma relação com as cenas e entram muito bem na “urdidura” da trama, mas sem fazer parte do corpo do texto. Mas isso é o de menos! Vou continuar achando que é um TEATRO “musical besteirol”. Confiram!



         Eu teria muitos motivos para recomendar a montagem, mas vou me ater a apenas alguns, todos da maior importância. Normalmente, reservo para o final os comentários sobre o elenco, no entanto serei diferente aqui. Assisti à peça com o elenco original e sobre ele só tenho a desfiar os maiores elogios. Há uma química fantástica entre o quinteto, os "cinco cavaleiros do após calipso", e todos têm seus momentos de um brilho maior e, o mais importante: absolutamente todos sabem como aproveitar tais oportunidades.



        Começo por CAIO NERY, que conheci ainda moleque, protagonizando uma linda versão do infantil “Mogli, O Menino Lobo”, nos idos de 2016, salvo engano. CAIO, embora jovem, já pode ser considerado um veterano em musicais, emendando, praticamente, um em outro, porém sempre em papéis de pouco destaque, que ele sabe muito bem valorizar, como é o caso do musical “Hair”, em cartaz, no momento, no Rio de Janeiro. Ainda que seu papel lá seja o de membro da tribo, indiscutivelmente, CAIO se destaca, principalmente na dança, que ele domina, com sua versatilidade corporal. Em “REPÚBLICA LEE...”, podemos perceber quão ótima é sua “performance” como cantor e intérprete também. O futuro a ele pertence, quando o assunto é TEATRO MUSICAL.



         Parece-me que INGRID KLUG seja a atriz talhada para a personagem que representa. Conhecia muito pouco do seu trabalho no palco, em uma ou duas peças, porém é aqui que ela escancara a sua porção cômica, o seu sensacional tempo para a COMÉDIA, e arrasa, merecendo, em várias cenas, muitos aplausos em cena aberta, inclusive os meus.



         TAUÃ DELMIRO é um dos meus “geninhos preferidos”, quando o assunto é fazer rir. Ele o consegue escrevendo, dirigindo e interpretando. É outro que, a despeito da pouca idade, já pode ser considerado um veterano em musicais, sempre em papéis que abraça com todo o seu talento e sua ótima veia cômica. Todos os elogios a ele cairiam como redundância.



         HUGO KERT é meu velho conhecido, desde 2013, quando foi um dos protagonistas do musical “The Book of Mormon”, numa montagem acadêmica, na UNIRIO. De lá, quando, ainda estudante de TEATRO, já se mostrava um grande artista, já o vi atuando em grandes produções, sempre com um ótimo rendimento. Não é diferente agora. Seu humor é mais contido, mais clássico, e assim ele se apresenta na montagem em tela. Faz uma bela composição de seu personagem e também agrada à plateia, com seu ótimo trabalho, reservando uma surpresa, que já começa a se delinear a partir do início do segundo ato.



         A grande e agradabilíssima surpresa, para mim, repousa em CELLA BÁRTHOLO, uma possível parenta distante minha, com uma prosódia diferente: sou paroxítono e ela, proparoxítona. Brincadeiras à parte, fiquei muito encantado com a doçura de sua voz, quando apresenta seus solos, e a firmeza em sua interpretação. Para mim, pelo menos, uma gratíssima revelação, visto que nunca havia visto a moça pisando as tábuas, se não me equivoco.



         TAUÃ DELMIRO executa uma segura e criativa direção. Como autor, também tem seu valor, enriquecendo o texto com muitas citações de época, que passam despercebidas pelos espectadores mais jovens, mas que causam uma lembrança gostosa, um delicioso saudosismo, em alguns casos – menos no que diz respeito à ditadura - nos mais velhos, como eu, que vivi, antenada e vigorosamente, como um ativista, a época em que se passa a história.



         A montagem é de baixo orçamento, a despeito de utilizar bastante a tecnologia, que não falha em momento algum, com toda a sincronia que as cenas exigem: imagens ao vivo, projetadas e sons. De qualquer forma, atendem bem à realização da obra, de forma modesta, os detalhes de cenografia, figurinos e iluminação.



         Um detalhe muito importante nesta montagem é o fato de ela reunir, no palco, TEATRO e cinema. Na verdade, a peça vai construindo um filme, na presença do público, com cenas pré-gravadas e outras filmadas ao vivo. A partir do universo lúdico e disruptivo da lírica de Rita, a narrativa aborda a rebeldia de uma juventude que rompeu paradigmas e quer ser fonte de inspiração para os espectadores.”


 


 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Cella Bártholo

Texto: Tauã Delmiro

Direção Geral: Tauã Delmiro

Assistência de Direção e Direção Residente: Manu Hashimoto

Direção Musical: Hugo Kerth

Coreografia: Débora Polistchuck

 

Elenco: Cella Bártholo (Jullie Jones), Caio Nery (Caio Laranjeiras), Tauã Delmiro (Danilo Norway), Ingrid Klug (Sarah Laranjeiras), Hugo Kerth (Darín Gonzalez), Patrick Salerno (alternante Danilo Norway) e Luiza Cesar (swing e cover Sarah Jones)

 

Piano: Lucas Paixão

 

Direção Artística: Cella Bártholo

Assistência de Direção Artística: Patrício Terry

Cenografia: Glauce Carvalho e Vinícius Pugliese

Figurinos: Vinícius Coguiar

Iluminação: Livs

Visagismo: Lívia Rezen

Direção de Produção: Ludmyla Areas

Produção Executiva: Patrício Terry

Direção de "Marketing" e Comercial: Lívia Rezen

Direção Financeira: Camila Biasi

Assistência Direção Financeira: Vanessa Lopes

Assistência de Produção: Luciana Gomes

Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação e Três Comunicação

Fotos: Paulo Aragon, Bianca Tatamya e Gabé

“Desig”Júlia Tavares





 

SERVIÇO:

Temporada: De 05 de agosto a 10 de setembro de 2025.

Local: Teatro dos 4.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 2° Andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2239-1095.

Lotação: 402 lugares.

Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

Venda de ingressos: no “site” Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/107786) e na bilheteria do teatro (atendimento de segunda-feira a sábado, de 14h às 20h; domingos e feriados, de 14h às 20h. Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da apresentação.

Duração: 120 minutos (com intervalo).

Classificação Etária: 14 anos.

Gênero: Musical.


 


 

         Por fim, cabe um robusto elogio à In Cena Casa de Artes e Produções”, braço do grupo aberto em janeiro de 2022, focada em produções culturais das mais diversas áreas, abrangendo musicais, audiovisuais, peças, monólogos e “stand-ups”. Organiza shows, festas, saraus, festivais, eventos corporativos e beneficentes; elabora e realiza projetos autorais; e oferece assistência completa e abrangente a atores, cantores, técnicos, músicos e bailarinos. Em 2024, a produtora estreou o espetáculo “REPÚBLICA LEE – UM MUSICAL AO SOM DE RITA”, recebendo indicações a importantes prêmios de TEATRO em São Paulo. Este ano, a “In Cena Produções” se fundiu com a “R+Marketing”, para a criação da “In Cena +”, “hub” que tem como foco a valorização de projetos inéditos e nacionais e que promete movimentar o cenário cultural.




Parabéns pela coragem de ter bancado este projeto, que merece ser prestigiado por quem admira o bom TEATRO. Desnecessário seria dizer que RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO.


 

 

 

 

 

FOTOS: PAULO ARAGON,

BIANCA TATAMYA

e

GABÉ.

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!

 





















































































































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