“CLARA NUNES
– A TAL
GUERREIRA”
ou
(UMA BELA E
COMOVENTE CELEBRAÇÃO.)
Tinha tudo para ser mais um musical
biográfico, “engessado”, seguindo os trâmites desse tipo de espetáculo, mas
não o é, porque é algo “na visão de JORGE FARJALLA”. É fato
que não tenha fugido às características principais de um musical biográfico,
mostrando, cronologicamente, os detalhes mais importantes da vida do
homenageado - No caso, homenageada, a grande intérprete CLARA NUNES. -, mas
este tem um tempero especial: o foco na espiritualidade da cantora e em sua
ancestralidade. Já assisti a dois ou três outros musicais que abordavam e
homenageavam CLARA, mas, sem dúvida,
nenhum deles traz a força e a pujança deste.
SINOPSE:
Um ritual!
Reencontro
com o sagrado, na obra de uma das maiores cantoras do Brasil.
Abram alas
para “CLARA NUNES - A TAL GUERREIRA”,
uma viagem onírica pela trajetória da intérprete, que escreveu seu nome na
história da Música Popular Brasileira, através do samba e de sua busca na
religiosidade de um povo ecumênico, miscigenado e plural, universalidade das
raças, dentro de um "corpo-partitura", que cultua os santos, reza um canto e
canta um ponto.
O palco de
um teatro, sua morada, é o ponto de partida na sagração de sua história.
Guiada pela
amiga e diretora Bibi Ferreira e por seus orixás, CLARA ainda está arraigada no plano físico e precisa entender a
transição entre dois mundos, vida após a vida, mistura instigante e curiosa,
amálgama de um pensamento terreno.
Sua casa, no
musical, é o “olimpo” dos bambas: um barracão de escola de samba, onde as
personagens de sua trajetória se destacam, em pedaços de carros alegóricos,
refletidos na realidade de CLARA,
futuro, presente e memória, no barracão da vida desse grande carnaval, que aqui
chamamos de eternidade.
O espetáculo
é uma grandiosa, linda e merecida celebração que, através das canções
interpretadas por CLARA, glorifica a
passagem desse “ser de luz”, a “Claridade”, como era chamada por muitos,
pelo plano material e perpetua aquela que foi a primeira profissional feminina
a ter status célebre de venda de discos no país, sendo respeitada por tal
feito. Ela abriu as portas do sucesso e do reconhecimento para tantas outras
também importantes intérpretes. Desde o continente africano até uma cidade no
interior do Brasil, nas Minas Gerais, os povos se fundem,
para contar e cantar a vida de nossa eterna “Sabiá”.
CLARA NUNES foi o nome
artístico adotado por Clara Francisca Gonçalves Pinheiro,
nascida em Paraopeba, interior de Minas Gerais, em 12 de
agosto de 1942. Foi uma cantora e compositora brasileira, considerada
uma das maiores e melhores intérpretes do país. Pesquisadora da Música
Popular Brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, também viajou para
muitos países, representando a cultura do Brasil. Conhecedora das músicas,
danças e das tradições africanas, ela se converteu à umbanda e levou a cultura
afro-brasileira para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais
gravaram canções dos compositores da Portela, sua escola de samba do
coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem
mil discos, derrubando um tabu de que “mulheres não vendiam discos”.
Ao longo de toda a sua carreira, vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos.
Foi considerada, pela revista “Rolling Stone”, como a nona
maior voz brasileira e, pela mesma revista, a quinquagésima primeira maior
artista brasileira de todos os tempos.
O espetáculo repete, em solo carioca, o
mesmo sucesso alcançado em duas temporadas que passaram por São
Paulo, além de algumas apresentações em Fortaleza e Belo
Horizonte, arrancando os mais notáveis elogios do público e da crítica
especializada, não sem motivo. O espetáculo já foi assistido por quase 60.000
espectadores.
No palco, o legado de uma
das maiores cantoras do Brasil é resgatado e revisita aspectos da liberdade artística, religiosa e poética da
artista, transformando sua obra e sua vida em uma verdadeira celebração
à brasilidade. Sim, antes de qualquer coisa, estamos diante de uma
montagem que sabe explorar as belezas culturais de um país rico em arte, de
qualquer gênero, representado por CLARA
NUNES.
Dono de um currículo invejável, como diretor
e encenador,
JORGE FARJALLA, uma das mentes mais
criativas e inquietantes do universo teatral brasileiro, coleciona grandes
sucessos, como diretor, dos quais se destacam, não seguindo a ordem
cronológica, “Prata Palomares”, “Dorotéia”, “Senhora dos Afogados”, “Vou
Deixar de Ser Feliz por Medo de Ficar Triste?”, “O Mistério de Irma Vap”,
“Brilho
Eterno”, “Dom Quixote de Lugar Nenhum” e uma vibrante leitura de “Álbum
De Família”.
Seu trabalho, “sui generis”, de encenador,
prima pela “desconstrução do trabalho do ator e seus vícios, por uma linguagem
única, na direção e encenação dentro do fazer teatral, território que lhe deu
maior projeção, mas não está restrito somente a ele; a música e o áudio visual
também contemplam sua visão, nada ortodoxa, sobre as coisas. Com um olhar
peculiar no ímpeto “pop” e assinatura autoral, FARJALLA, arregimenta públicos
imensos e coleciona montagens inesquecíveis, usando e ousando da criatividade e
estética como assinatura”. (Trecho extraído do “release”, a mim enviado
por Diogo Locci, assessoria de imprensa.).
É impossível assistir a este musical e
não se emocionar bastante e sair do teatro plenamente gratificado por tudo que
nos é dado ver e admirar, do texto às interpretações, passando pela exímia
direção e por toda a plasticidade da qual a peça é
revestida.
Lamento não ter conseguido assistir a
esta montagem, numa das vezes em que estive em São Paulo, com Vanessa
da Mata, idealizadora do projeto, na pele da protagonista, entretanto
afirmo que a atuação de EMANUELLE ARAÚJO
é profícua e cercada de todos os cuidados para parecer a própria protagonista,
sem, porém, o desejo de imitá-la, na íntegra. De igual forma, em termos de
trabalhos perfeitos de atores, comporta-se todo o imenso elenco,
muito bem entrosado, formado por artistas já meus velhos conhecidos, como, por
exemplo, CAROL COSTA, ANDRÉ TORQUATO, LUCAS PURIFICAÇÃO, FÁBIO
ENRIQUEZ, PAULO VIEL e FLAVIO PACATO, e muita gente, a
maioria, incipiente, para mim. Todos se empenham pelo seu melhor e conseguem
atingir o objetivo, quer interpretando, quer cantando, quer cumprindo os passos
muito bem coreografados por GABRIEL MALO.
Além do excelente protagonismo de EMANUELLE
ARAÚJO, quero, representando todos os demais do elenco, louvar o brilhante
e irretocável trabalho de CAROL
COSTA, ao interpretar Bibi Ferreira. É incrível, de
difícil dimensionamento, o nível de atuação dessa atriz, que parece ter muita
habilidade para imitações, como já o havia provado, ao representar a
apresentadora Hebe Camargo, no musical “Hebe” e em outro, recente, “Rita
Lee - Uma Autobiografia Musical”. Por mais de uma vez, fechei os olhos
e, “vi”
Bibi, pela incrível imitação da voz dessa grande artista. Creio que
todos passaram pela mesma sensação, dadas as reações dos que estavam perto de mim.
Mil vezes parabéns, CAROL!
O texto, escrito por ANDRÉ MAGALHÃES e JORGE FARJALLA, tem por
objetivo - e o consegue - levar para as tábuas aspectos da vida da artista, que
passam por suas raízes, em Minas Gerais; seu encontro com o sincretismo
religioso do Brasil (o candomblé, a umbanda e o catolicismo);
seus amores;
e sua música, que flutua por diversos ritmos brasileiros, inclusive,
o samba de sua amada Portela. Tudo isso é muito bem costurado,
por intermédio de sua parceira, e amiga confidente, Bibi Ferreira.
O
visual da peça é um colírio para os olhos, representado por uma cenografia
exuberante e dinâmica, que permite várias entradas e saídas de grandes
elementos cênicos no palco, com uma roda de samba ao fundo, um corretíssimo
trabalho de MARCO LIMA, tudo na cor
branca, uma das cores dos orixás de cabeça de Clara, Ogun
e Iansã.
O aspecto “clean” e místico da peça se estende aos belíssimos trajes que
compõem o figurino da peça, tudo, sem a menor exceção, também na cor
branca, assinado por LUIZ CLAUDIO SILVA
e JORGE FARJALLA, cheio de encantadores
detalhes, que embelezam, sobremaneira, cada uma das muitíssimas peças. Toda a
beleza plástica, passada pelo cenário e pelas indumentárias, ganha um
forte e expressivo destaque, sob as luzes desenhadas pelo talento de CÉSAR PIVETTI. Que primor de iluminação!
Por muito tempo, tenho a certeza de que não me sairão da memória visual afetiva
os detalhes plásticos desta encenação.
A
parte
musical é agradabilíssima, pousada nos grandes “hits” do repertório de Clara
Nunes, vestidos em “trajes de gala”, bem modernos,
fruto do brilhante trabalho de direção musical, a cargo do talento
de FERNANDA MAIA, que criou
excelentes arranjos musicais. Ainda reservo muitos aplausos para um trabalho nem sempre reconhecido pelo público e pelos críticos e jurados de prêmios, que é o de visagismo, sob a tutela de SIMONE MOMO.
Louvo, e
isso não poderia passar em brancas nuvens, o empenho e o trabalho de três
pessoas sensíveis, que acreditam no bom TEATRO e que estão à frente da produção
da peça: MARCO GRIESI (Palco
7 Produções), DANIELLA GRIESI (Solo Entretenimento) e FELIPE HERÁCLITO LIMA (Sevenx
Produções Artísticas). Os três apostaram no projeto e o tornaram possível,
para a nossa alegria.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Vanessa da Mata
Argumento, Direção e Encenação: Jorge
Farjalla
Texto: André Magalhães e Jorge
Farjalla
Direção Musical: Fernanda Maia
Direção Coreográfica: Gabriel Malo
ELENCO: Emanuelle Araújo (Clara Nunes), Carol Costa (Bibi Ferreira), André Torquato (Aurino), Vitor Vieira (Poeta), Caio (Adelzon), Felipe Adetokunbo (Èsù), Ananza Macedo (Nanã), Leilane Teles (Iansã), Lucas Purificação (Ogum), Fábio Enriquez (Mané Serrador), Paulo Viel (José/Músico), Badu Morais (Ensemble/Cover Clara Nunes), Marisol Marcondes (Ensemble/Cover Bibi Ferreira), Jessé Scarpellini (Ensemble/Cover Aurino/Adelzon/Poeta/Músico), Wesley Guimarães (Ensemble/Cover Ogum), Preta Ferreira (Ensemble/Cover Nanã), Larissa Grajauskas (Ensemble/Cover Iansã), Douglas Mota (Ensemble/Cover Èsù), Flavio Pacato (Ensemble/Cover José), Jade Ito (Ensemble), Elix (Ensemble), Guilherme Gila (Ensemble/Cover Mané Serrador/Músico), Silvia Lys (Ensemble/Músico), Thiago Brisolla (Ensemble/Músico), Daniel Warschauer (Ensemble/Músico), Ronaldo Gama (Músico), Tavinho Damasceno (Músico) e Matheus Caitano (Músico)
Cenografia: Marco Lima
Figurino: Luiz Claudio Silva e Jorge
Farjalla
Desenho de Luz: César Pivetti
Desenho de Som: Bruno Pinho
Visagismo: Simone Momo
Coordenação Técnica: Hélio Schiavon
Jr.
Preparação Vocal e Assistência de
Direção Musical: Rafa Miranda
Coordenação de Comunicação: André
Massa
Direção de Arte: Kelson Spalato
Assessoria de Imprensa: Agência Taga
(Guilherme Oliveira e Diogo Locci)
Fotografia: Flávia Canavarro
Direção Residente: Dani Calicchio
Coordenação de Produção: Bia Izar
Produção Executiva: Paola Portela,
Igor Bulhon e Tame Louise
Produção Geral: Marco Griesi e
Daniella Griesi
Produtor Associado: Felipe Heráclito
Lima
Apresentação: Ministério da Cultura e Petrobras
Realização: Palco 7 Produções, Solo Entretenimento
e Sevenx Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 08 a 31 de agosto de 2025.
Local: Cidade das Artes (Grande Sala).
Capacidade: 611 lugares.
Endereço: Avenida das Américas, nº 5300, Barra da
Tijuca – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e
20h; domingo, às 15h e 19h.
Valor dos Ingressos: Variam de R$ 22,50 a R$ 300,
dependendo da localização do assento e se é inteira ou meia-entrada.
Vendas: Internet (com taxa) | Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/107353/d/323387
Bilheteria Física (sem taxa): No próprio Teatro (de
terça-feira a domingo, das 13h às 19h).
Observação: Nos dias de espetáculos, o
funcionamento se estenderá até meia hora após o início da apresentação.
Autoatendimento: A bilheteria do Teatro da Cidade
das Artes possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos.
O Teatro possui acessibilidade e ar-condicionado.
Duração: 120 minutos (sem intervalo).
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Musical.
Não me canso
de tecer os maiores elogios a esta obra, que mescla, de forma impecável, o
sagrado e o profano, e que eu RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, e espero poder rever,
se disponibilidade na agenda eu tiver.
FOTOS: FLÁVIA CANAVARRO
É
preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói,
sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que,
juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
Parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻Linda resenha 🥰
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