quinta-feira, 21 de agosto de 2025

“CLARA NUNES

– A TAL GUERREIRA”

ou

(UMA BELA E COMOVENTE CELEBRAÇÃO.)

 

        

 

Tinha tudo para ser mais um musical biográfico, “engessado”, seguindo os trâmites desse tipo de espetáculo, mas não o é, porque é algo “na visão de JORGE FARJALLA”. É fato que não tenha fugido às características principais de um musical biográfico, mostrando, cronologicamente, os detalhes mais importantes da vida do homenageado - No caso, homenageada, a grande intérprete CLARA NUNES. -, mas este tem um tempero especial: o foco na espiritualidade da cantora e em sua ancestralidade. Já assisti a dois ou três outros musicais que abordavam e homenageavam CLARA, mas, sem dúvida, nenhum deles traz a força e a pujança deste.


 

 

SINOPSE:

Um ritual!

Reencontro com o sagrado, na obra de uma das maiores cantoras do Brasil.

Abram alas para “CLARA NUNES - A TAL GUERREIRA”, uma viagem onírica pela trajetória da intérprete, que escreveu seu nome na história da Música Popular Brasileira, através do samba e de sua busca na religiosidade de um povo ecumênico, miscigenado e plural, universalidade das raças, dentro de um "corpo-partitura", que cultua os santos, reza um canto e canta um ponto.

O palco de um teatro, sua morada, é o ponto de partida na sagração de sua história.

Guiada pela amiga e diretora Bibi Ferreira e por seus orixás, CLARA ainda está arraigada no plano físico e precisa entender a transição entre dois mundos, vida após a vida, mistura instigante e curiosa, amálgama de um pensamento terreno.

Sua casa, no musical, é o “olimpo” dos bambas: um barracão de escola de samba, onde as personagens de sua trajetória se destacam, em pedaços de carros alegóricos, refletidos na realidade de CLARA, futuro, presente e memória, no barracão da vida desse grande carnaval, que aqui chamamos de eternidade.


 

 


O espetáculo é uma grandiosa, linda e merecida celebração que, através das canções interpretadas por CLARA, glorifica a passagem desse “ser de luz”, a “Claridade”, como era chamada por muitos, pelo plano material e perpetua aquela que foi a primeira profissional feminina a ter status célebre de venda de discos no país, sendo respeitada por tal feito. Ela abriu as portas do sucesso e do reconhecimento para tantas outras também importantes intérpretes. Desde o continente africano até uma cidade no interior do Brasil, nas Minas Gerais, os povos se fundem, para contar e cantar a vida de nossa eterna “Sabiá”.



CLARA NUNES foi o nome artístico adotado por Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, nascida em Paraopeba, interior de Minas Gerais, em 12 de agosto de 1942. Foi uma cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Pesquisadora da Música Popular Brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, também viajou para muitos países, representando a cultura do Brasil. Conhecedora das músicas, danças e das tradições africanas, ela se converteu à umbanda e levou a cultura afro-brasileira para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravaram canções dos compositores da Portela, sua escola de samba do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil discos, derrubando um tabu de que “mulheres não vendiam discos”. Ao longo de toda a sua carreira, vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos. Foi considerada, pela revista “Rolling Stone”, como a nona maior voz brasileira e, pela mesma revista, a quinquagésima primeira maior artista brasileira de todos os tempos.




O espetáculo repete, em solo carioca, o mesmo sucesso alcançado em duas temporadas que passaram por São Paulo, além de algumas apresentações em Fortaleza e Belo Horizonte, arrancando os mais notáveis elogios do público e da crítica especializada, não sem motivo. O espetáculo já foi assistido por quase 60.000 espectadores.



         No palco, o legado de uma das maiores cantoras do Brasil é resgatado e revisita aspectos da liberdade artística, religiosa e poética da artista, transformando sua obra e sua vida em uma verdadeira celebração à brasilidade. Sim, antes de qualquer coisa, estamos diante de uma montagem que sabe explorar as belezas culturais de um país rico em arte, de qualquer gênero, representado por CLARA NUNES.



     Dono de um currículo invejável, como diretor e encenador, JORGE FARJALLA, uma das mentes mais criativas e inquietantes do universo teatral brasileiro, coleciona grandes sucessos, como diretor, dos quais se destacam, não seguindo a ordem cronológica, “Prata Palomares”, “Dorotéia”, “Senhora dos Afogados”, “Vou Deixar de Ser Feliz por Medo de Ficar Triste?”, “O Mistério de Irma Vap”, “Brilho Eterno”, Dom Quixote de Lugar Nenhum e uma vibrante leitura de “Álbum De Família”.



JORGE FARJALLA.


         Seu trabalho, “sui generis”, de encenador, prima pela “desconstrução do trabalho do ator e seus vícios, por uma linguagem única, na direção e encenação dentro do fazer teatral, território que lhe deu maior projeção, mas não está restrito somente a ele; a música e o áudio visual também contemplam sua visão, nada ortodoxa, sobre as coisas. Com um olhar peculiar no ímpeto “pop” e assinatura autoral, FARJALLA, arregimenta públicos imensos e coleciona montagens inesquecíveis, usando e ousando da criatividade e estética como assinatura”. (Trecho extraído do “release”, a mim enviado por Diogo Locci, assessoria de imprensa.).




         É impossível assistir a este musical e não se emocionar bastante e sair do teatro plenamente gratificado por tudo que nos é dado ver e admirar, do texto às interpretações, passando pela exímia direção e por toda a plasticidade da qual a peça é revestida.



         Lamento não ter conseguido assistir a esta montagem, numa das vezes em que estive em São Paulo, com Vanessa da Mata, idealizadora do projeto, na pele da protagonista, entretanto afirmo que a atuação de EMANUELLE ARAÚJO é profícua e cercada de todos os cuidados para parecer a própria protagonista, sem, porém, o desejo de imitá-la, na íntegra. De igual forma, em termos de trabalhos perfeitos de atores, comporta-se todo o imenso elenco, muito bem entrosado, formado por artistas já meus velhos conhecidos, como, por exemplo, CAROL COSTA, ANDRÉ TORQUATO, LUCAS PURIFICAÇÃO, FÁBIO ENRIQUEZ, PAULO VIEL e FLAVIO PACATO, e muita gente, a maioria, incipiente, para mim. Todos se empenham pelo seu melhor e conseguem atingir o objetivo, quer interpretando, quer cantando, quer cumprindo os passos muito bem coreografados por GABRIEL MALO. Além do excelente protagonismo de EMANUELLE ARAÚJO, quero, representando todos os demais do elenco, louvar o brilhante e irretocável trabalho de CAROL COSTA, ao interpretar Bibi Ferreira. É incrível, de difícil dimensionamento, o nível de atuação dessa atriz, que parece ter muita habilidade para imitações, como já o havia provado, ao representar a apresentadora Hebe Camargo, no musical “Hebe” e em outro, recente, “Rita Lee - Uma Autobiografia Musical”. Por mais de uma vez, fechei os olhos e, “vi” Bibi, pela incrível imitação da voz dessa grande artista. Creio que todos passaram pela mesma sensação, dadas as reações dos que estavam perto de mim. Mil vezes parabéns, CAROL!




        O texto, escrito por ANDRÉ MAGALHÃES e JORGE FARJALLA, tem por objetivo - e o consegue - levar para as tábuas aspectos da vida da artista, que passam por suas raízes, em Minas Gerais; seu encontro com o sincretismo religioso do Brasil (o candomblé, a umbanda e o catolicismo); seus amores; e sua música, que flutua por diversos ritmos brasileiros, inclusive, o samba de sua amada Portela. Tudo isso é muito bem costurado, por intermédio de sua parceira, e amiga confidente, Bibi Ferreira.



        O visual da peça é um colírio para os olhos, representado por uma cenografia exuberante e dinâmica, que permite várias entradas e saídas de grandes elementos cênicos no palco, com uma roda de samba ao fundo, um corretíssimo trabalho de MARCO LIMA, tudo na cor branca, uma das cores dos orixás de cabeça de Clara, Ogun e Iansã. O aspecto “clean” e místico da peça se estende aos belíssimos trajes que compõem o figurino da peça, tudo, sem a menor exceção, também na cor branca, assinado por LUIZ CLAUDIO SILVA e JORGE FARJALLA, cheio de encantadores detalhes, que embelezam, sobremaneira, cada uma das muitíssimas peças. Toda a beleza plástica, passada pelo cenário e pelas indumentárias, ganha um forte e expressivo destaque, sob as luzes desenhadas pelo talento de CÉSAR PIVETTI. Que primor de iluminação! Por muito tempo, tenho a certeza de que não me sairão da memória visual afetiva os detalhes plásticos desta encenação.




        A parte musical é agradabilíssima, pousada nos grandes “hits” do repertório de Clara Nunes, vestidos em “trajes de gala”, bem modernos, fruto do brilhante trabalho de direção musical, a cargo do talento de FERNANDA MAIA, que criou excelentes arranjos musicais.  Ainda reservo muitos aplausos para um trabalho nem sempre reconhecido pelo público e pelos críticos e jurados de prêmios, que é o de visagismo, sob a tutela de SIMONE MOMO



Louvo, e isso não poderia passar em brancas nuvens, o empenho e o trabalho de três pessoas sensíveis, que acreditam no bom TEATRO e que estão à frente da produção da peça: MARCO GRIESI (Palco 7 Produções), DANIELLA GRIESI (Solo Entretenimento) e FELIPE HERÁCLITO LIMA (Sevenx Produções Artísticas). Os três apostaram no projeto e o tornaram possível, para a nossa alegria.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Vanessa da Mata

Argumento, Direção e Encenação: Jorge Farjalla

Texto: André Magalhães e Jorge Farjalla

Direção Musical: Fernanda Maia

Direção Coreográfica: Gabriel Malo

 

ELENCO: Emanuelle Araújo (Clara Nunes), Carol Costa (Bibi Ferreira), André Torquato (Aurino), Vitor Vieira (Poeta), Caio (Adelzon), Felipe Adetokunbo (Èsù), Ananza Macedo (Nanã), Leilane Teles (Iansã), Lucas Purificação (Ogum), Fábio Enriquez (Mané Serrador), Paulo Viel (José/Músico), Badu Morais (Ensemble/Cover Clara Nunes), Marisol Marcondes (Ensemble/Cover Bibi Ferreira), Jessé Scarpellini (Ensemble/Cover Aurino/Adelzon/Poeta/Músico), Wesley Guimarães (Ensemble/Cover Ogum), Preta Ferreira (Ensemble/Cover Nanã), Larissa Grajauskas (Ensemble/Cover Iansã), Douglas Mota (Ensemble/Cover Èsù), Flavio Pacato (Ensemble/Cover José), Jade Ito (Ensemble), Elix (Ensemble), Guilherme Gila (Ensemble/Cover Mané Serrador/Músico), Silvia Lys (Ensemble/Músico), Thiago Brisolla (Ensemble/Músico), Daniel Warschauer (Ensemble/Músico), Ronaldo Gama (Músico), Tavinho Damasceno (Músico) e Matheus Caitano (Músico)

 

Cenografia: Marco Lima

Figurino: Luiz Claudio Silva e Jorge Farjalla

Desenho de Luz: César Pivetti

Desenho de Som: Bruno Pinho

Visagismo: Simone Momo

Coordenação Técnica: Hélio Schiavon Jr.

Preparação Vocal e Assistência de Direção Musical: Rafa Miranda

Coordenação de Comunicação: André Massa

Direção de Arte: Kelson Spalato

Assessoria de Imprensa: Agência Taga (Guilherme Oliveira e Diogo Locci)

Fotografia: Flávia Canavarro

Direção Residente: Dani Calicchio

Coordenação de Produção: Bia Izar

Produção Executiva: Paola Portela, Igor Bulhon e Tame Louise

Produção Geral: Marco Griesi e Daniella Griesi

Produtor Associado: Felipe Heráclito Lima

Apresentação: Ministério da Cultura e Petrobras

Realização: Palco 7 Produções, Solo Entretenimento e Sevenx Produções


 




 

SERVIÇO:

Temporada: De 08 a 31 de agosto de 2025.

Local: Cidade das Artes (Grande Sala).

Capacidade: 611 lugares.

Endereço: Avenida das Américas, nº 5300, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e 20h; domingo, às 15h e 19h.

Valor dos Ingressos: Variam de R$ 22,50 a R$ 300, dependendo da localização do assento e se é inteira ou meia-entrada.

Vendas: Internet (com taxa) | Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/107353/d/323387

Bilheteria Física (sem taxa): No próprio Teatro (de terça-feira a domingo, das 13h às 19h).

Observação: Nos dias de espetáculos, o funcionamento se estenderá até meia hora após o início da apresentação.

Autoatendimento: A bilheteria do Teatro da Cidade das Artes possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos.

O Teatro possui acessibilidade e ar-condicionado.

Duração: 120 minutos (sem intervalo).

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Musical.


 

 



Não me canso de tecer os maiores elogios a esta obra, que mescla, de forma impecável, o sagrado e o profano, e que eu RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, e espero poder rever, se disponibilidade na agenda eu tiver.


 

 

 

FOTOS: FLÁVIA CANAVARRO

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!































































































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