segunda-feira, 2 de junho de 2025


“HADDAD E BORGHI CANTAM O TEATRO,

LIVRES EM CENA”

ou

(UMA DUPLA

AULA MAGNA

DE TEATRO.)

ou

(UMA CELEBRAÇÃO

AO TEATRO

E À AMIZADE.)

ou

(UM DOCE AFAGO

DIONISÍACO.)

 

 


 

         Mais uma vez, sinto-me impelido a escrever sobre um espetáculo que já saiu de cartaz ontem (01 de junho de 2025), porém me marcou, sobremaneira, quase me levando às lágrimas, em alguns momentos. Infelizmente, só consegui assistir a ele no antepenúltimo dia de exibição. Trata-se de “HADDAD E BORGHI CANTAM O TEATRO, LIVRES EM CENA”, que acabou de cumprir uma curtíssima temporada, de menos de um mês, no Teatro Adolpho Bloch. Ao final do espetáculo, eu não disse “Parabéns!” a nenhum dos amigos e/ou conhecidos envolvidos no projeto; troquei a felicitação por um “OBRIGADO!”, que é o mínimo que se pode dizer a cada um deles. Obrigado por terem criado um espetáculo tão lindo quanto emocionante e poético. Uma montagem tão singela, porém profunda, na mesma proporção, em história do TEATRO BRASILEIRO, contada por dois exímios mestres, uma dupla de gênios, testemunhas oculares dos fatos, duas figuras com décadas de vida – 88 anos cada um – muitos desses dedicados aos palcos e ao TEATRO de rua, duas memórias ativas do desenvolvimento e do crescimento da arte de representar no nosso país.



 

SINOPSE:

Em cena, ao lado de alguns outros artistas amigos, AMIR HADDAD e RENATO BORGHI discorrem sobre vários temas, como a existência, o ofício do ator, os diversos “brasis” que lhes habitam e, claro, momentos marcantes de suas trajetórias pessoais e profissionais, as quais somadas, ambas, a essa altura, atingem mais de 300 anos.

O elenco conversa com a dupla a cada sessão, a fim de trazer, para a roda, assuntos, referências e lembranças preciosas da vida dos dois grandes mestres do TEATRO, dentro e fora dos palcos.


 

 

Ícones das artes cênicas e do TEATRO moderno, RENATO BORGHI e AMIR HADDAD são personagens fundamentais do fazer teatral. Os dois homenageados, cada um à sua maneira, seguem sendo as mais potentes e comunicativas referências vivas para o TEATRO BRASILEIRO, inclusive internacionalmente, tendo em suas trajetórias espetáculos premiados e montagens antológicas. Os dois festejam 70 anos de amizade e de entrega ao TEATRO, número que acho que só se encontre em alguns poucos outros, na mesma intensidade.



A felicíssima ideia de unir esses dois “monstros sagrados” do TEATRO partiu do produtor EDUARDO BARATA, que se pôs ao trabalho, contando com algumas valiosas colaborações, como as de DÉBORA DUBOC, ELAINE MOREIRA e ELCIO NOGUEIRA SEIXAS (equipe criativa); CLAUDIA CHAVES (pesquisa); e ELAINE MOREIRA (redação final). Além de produzir o espetáculo e de dirigi-lo, BARATA também se ocupou, ao lado de ELAINE MOREIRA, da redação final do texto e da dramaturgia, que tem como espinha dorsal a liberdade de AMIR e RENATO, fundadores do Teatro Oficina, ao lado de Zé Celso Martinez Corrêa.



         Não resta a menor dúvida de que a dupla de homenageados é formada por dois talentos excepcionais, que se conheceram, esdruxulamente, nos bancos da tradicional Universidade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, sendo que ambos, definitiva e ironicamente, não tinham a menor inclinação para a prática da advocacia.



     BORGHI atingiu os 88 anos de idade em março último; AMIR estará completando a mesma idade em julho próximo, ambos, evidentemente, atingidos, fisicamente, pela ação do implacável tempo, porém guardadores de uma memória esfuziante e prodigiosa, ambos de uma lucidez a toda prova. São muitas histórias reunidas em duas únicas pessoas, as quais não poderiam ficar restritas só a eles mesmos; mereciam ser divididas com quem ama o TEATRO e reverencia os dois grandes artistas. Como eu aprendi com aqueles dois!!!



         O espetáculo tem início na pérgula de um espelho d’água, na área externa do Teatro Adolpho Bloch, nos fundos do palco, que também se abre para essa área contígua, com a exibição de um trio musical, que executa canções carnavalescas, do auge da “Era de Ouro da Rádio Nacional do Rio de Janeiro”; mais alguns solos, à capela, de uma cantora lírica; algumas “gags” criadas por duas palhaças; e a música de Dona Ceiça Moreno, ao acordeão, ao fim do que todos esses artistas seguem, em cortejo, até o palco, no interior do Teatro, acompanhados pelo público, que é convidado a cantar com eles, no “foyer”, enquanto se dirigem, os espectadores, aos seus lugares. Está iniciada a grande celebração.



         Segundo os redatores finais da dramaturgia, havia uma preocupação em construir e desconstruir, “desafiando as perspectivas do espaço cênico. Nossa ideia é narrar, cantar e apresentar ao público um panorama, com recortes da cena nacional, pelos olhos de dois homens de TEATRO, dois operários, trabalhadores, contemporâneos, dois pensadores das artes, que não separam vida e TEATRO, TEATRO e vida”, como explica o diretor EDUARDO BARATA.



         O roteiro surgiu, depois de dez encontros entre os redatores finais, os dois atores e outras duas pessoas: DÉBORA DUBOC e ÉLCIO NOGUEIRA, dois grandes amigos de RENATO BORGHI e muito próximos a ele. “É uma narrativa em trânsito, em ebulição e com imensa liberdade artística, assim como a trajetória de AMIR e RENATO. Tudo para homenagear estes gigantes da cena”, conta ELAINE MOREIRA.



“Eu e o RENATO convivemos mesmo por muito tempo. São 70 anos de bem-estar e alegria ao lado dele. Nenhuma vez, tivemos qualquer destemperança nessa vida. Fizemos um grupo de TEATRO juntos, faculdade, e também desistimos dela juntos. RENATO é parte integrante. Agora, é muito bom estarmos aqui reunidos. Sou feliz de tê-lo conhecido e por termos caminhado tanto pela vida cultural brasileira”, afirma AMIR HADDAD.



Em reciprocidade, diz BORGHI: “AMIR é muito importante para mim. Quando eu comecei a fazer TEATRO, ele me dirigiu na peça do Zé Celso, “A Incubadeira”. Era para termos feito apenas por 15 dias e acabamos ficando seis meses. Foi o primeiro sucesso da minha carreira. AMIR ficou com a gente nesse período, e foi um acontecimento, um assombro; ainda era meio amador. Depois, ele veio para o Rio, mas continuamos sempre em sintonia.”.



O espetáculo reúne algumas vertentes de expressões artísticas, como a ópera, o circo, as artes visuais e o carnaval, inspiradas em nomes, como os de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Elis Regina, Zé Kéti, Braguinha, Emilinha Borba, Bizet, Donizetti e Charles Gounod. Tudo junto e misturado, numa grande e deliciosa “salada tropical e tropicalista”



No transcorrer da peça, entrecortando a trajetória intelectual e profissional de AMIR e RENATO, contribuindo para o universo haddad-borghiano, são evocados nomes de grandes artistas e intelectuais, como Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Cora Coralina, Vinícius de Moraes, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Arthur Miller, Gianfrancesco Guarnieri, Oswald de Andrade e Bertolt Brecht



     Embora não seja um musical, com bastante propriedade, a encenação comporta a execução de algumas emblemáticas canções populares brasileiras, tais como “Ave Maria no Morro”, “Se Acaso Você Chegasse”, “Vaidosa”, “Minha Terra”, “Bandeira Branca”, “Alegria, Alegria” e “Carinhoso”, entre outras, uma trilha sonora eclética e da maior responsabilidade. Além disso, são levadas à cena três músicas compostas especialmente para o TEATRO: “Canção do Jujuba”, musicada por Caetano Veloso, para “O Rei da Vela”; “Roda Viva”, composta por Chico Buarque, para o espetáculo de mesmo nome; e “Por Causa do Teatro”, de Jonathan Silva, composta para o espetáculo “O Que Nos Mantém Vivos”; três excelentes composições.



         Como elementos de apoio para esta ótima montagem, devem ser citados o cenário, projetado por ROSTAND ALBUQUERQUE; os figurinos, criados por RUTE ALVES; e a iluminação, desenhada por RICARDO VIANA.



       Considerados como elementos cenográficos, destacam-se dois tronos sobre rodas, para os muitos deslocamentos dos dois “reis do TEATRO”. Um depoimento do cenógrafo: “Assim, AMIR HADDAD e RENATO BORGHI são levados a visitar e contar suas histórias de vida e de TEATRO, por entre cortejos, músicas e atores encenando suas peças.  O palco também serve de camarim aos dois atores, com detalhes realistas, como fotografias e objetos pessoais e inspiração nas obras de Hélio Oiticica e Lígia Clark”



         O espetáculo é bastante dinâmico, graças, em parte, ao trabalho de direção de movimento, a cargo de MARINA SALOMON, que cria uma atmosfera de liberdade, para um grande encontro no tablado.  



         Recuso-me, peremptoriamente, a escrever qualquer coisa mais sobre o que representam, para o TEATRO BRASILEIRO, AMIR HADDAD e RENATO BORGHI, e menos ainda, sobre a estupenda “performance” de ambos neste espetáculo, mas não poderia deixar de dizer quão importantes são as participações dos atores que se apresentam como uma espécie de entrevistadores da dupla: DÉBORA DUBOC, DUDA BARATA, ELCIO NOGUEIRA SEIXAS e MÁXIMO CUTRIM, um trabalho coadjuvante de “escadas” muito bem executado pelo quarteto.


 

 

FICHA TÉCNICA:

Criação e Direção: Eduardo Barata

Roteiro Final: Eduardo Barata e Elaine Moreira

Equipe Criativa: Débora Duboc, Elaine Moreira e Elcio Nogueira Seixas

Pesquisa: Claudia Chaves

 

Elenco: Amir Haddad, Renato Borghi, Débora Duboc, Duda Barata, Elcio Nogueira Seixas e Máximo Cutrim

 

Cantora Lírica: Ana Lia

Palhaças: Lenita Magalhães e Laura Barbeiro

Participação Especial: Dona Ceiça Moreno

Direção Musical / Música ao Vivo: Trio Júlio

 

Direção de Movimento: Marina Salomon

Programação Visual / Cenografia: Claudio Attademo

Preparação Vocal: Jane Celeste e Julie Wein

Cenário: Rostand Albuquerque e Barbara Quadros

Figurinos: Rute Alves

Iluminação e Operação de Luz: Ricardo Vianna

Desenho de Som e Operação de Som: Enrico Baraldi

Fotos / Cenografia: Coleção Marcelo Del Cima

Foto / Zé Celso Martinez Corrêa: Gabriel Rinaldi

Assistente de Cenografia: Ricardo Barata

Assistente de Figurinos e Costura: Emerson Vianna

Macramê e Fuxico: Amarrações Macramê

Adereços de Palco: Fábio Costa

Pintura de Arte: Fabiano Fernandes

Microfonista: Daniella Nanni

Diretores de Palco: Roy D’Peres, Rodrigo Ferreira e Juan Patrick

Camareiras: Ced e Ingrid dos Santos

Fotos: Cristina Granato e Daniella Nanni

Captação de Vídeos: Ketrolin Rossetto e Louise Guima

Edição de Vídeos: Ketrolin Rossetto

Programação Visual / Vídeo-Exposição: Luciano Cian

Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação e Dobbs Scarpa

Direção de Produção: Elaine Moreira

Produção Executiva: Luciano Pontes

Produção de Base: Bruno Luzes

Assistente de Produção: Daniella Nanni

Administrativo-Financeiro: Lilian Santiago

Produção e Realização Barata Produções


 


 

         Por motivos óbvios, deixo de apresentar o SERVIÇO da peça.



    Fiquei extremamente emocionado com o que vi e ouvi e me senti um privilegiado diante de tanto saber e poesia que os dois imensos artistas nos passam. É uma pena que a temporada tenha sido tão curta e que os estudantes de TEATRO não tenham tido a oportunidade de assistir, em massa, a essa dupla aula magna, uma verdadeira “mastercass” de TEATRO, a qual, possivelmente, não poderão assistir mais.





E viva o Teatro! E viva a amizade! E viva AMIR HADDAD e RENATO BORGHI!

 

 



Fotos de Gilberto Bartholo:


 










FOTOS: CRISTINA GRANATO

E DANIELLA NANNI

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos Ana Cláudia Matos.)

 

Com Renato Borghi e Amir Haddad.

Com Amir Haddad.


Com Amir Haddad e Carla Camurati.



 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!




















 






































































































































Um comentário: