quarta-feira, 11 de setembro de 2024

LEGALMENTE LOIRA,

- O MUSICAL”

ou

(AS APARÊNCIAS

ENGANAM.)

ou

(ÁGUA COM AÇÚCAR

TAMBÉM FAZ BEM

NO TEATRO.)




         Iniciei minha mais recente maratona teatral em São Paulo (7 espetáculos em 5 dias, de 14 de 18 de agosto de 2024) por um musical sobre o qual eu conhecia muito pouco, ou quase nada: “LEGALMENTE LOIRA - O MUSICAL”, em cartaz no Teatro Claro Mais SP (VER SERVIÇO.). Por isso mesmo, minha expectativa não era tão grande, como costuma ser, quando me proponho a assistir a um musical, entretanto duas coisas me despertavam um curioso desejo de conferir a montagem: o fato de ter sido produzida pelo Instituto Artium de Cultura e o Atelier de Cultura e por trazer, como protagonista, a talentosíssima MYRA RUIZ, a quem jamais deixo de prestigiar, quando está em cartaz com algum espetáculo, pelo conjunto da sua obra, que tanto admiro. Mas faço questão de repetir que a minha expectativa não era superlativa, confesso, mas precisava ver, para emitir a minha opinião. E, para os que me conhecem - só escrevo sobre uma peça quando gosto dela -, já dá para entender por que motivo estou sentado em frente ao meu computador, deixando os dedos caminharem de acordo com o que ditam a minha mente e o meu coração.

 


         Justificativa nº 1, para eu querer ver o musical: Minha total admiração pelos trabalhos produzidos pelo ATELIER DE CULTURA e pelo INSTITUTO ARTIUM DE CULTURA; por um, pelo outro e pelos dois juntos, que teve início em agosto de 2013, coincidentemente, mesmos mês e ano em que iniciei a escrever este blogue. A primeira produção deles, que logo me arrebatou, foi “A Madrinha Embriagada”. Depois, foram vindo, na ordem cronológica, “O Homem de La Mancha”, uma verdadeira OBRA-PRIMA; “A Noviça Rebelde”; “Annie”, “Billy Elliot”, outra OBRA-PRIMA; “Escola do Rock”; “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”; “Evita Open Air”, uma ousadíssima produção, com a maior estrutura já construída para TEATRO MUSICAL, no Brasil, a céu aberto, no Parque Villa-Lobos; “Wicked – História Não Contada das Bruxas de Oz”, um outro exemplo de coragem, com temporada completamente esgotada, com mais de 150 mil espectadores, no Teatro Santander – SP; “Matilda, o Musical”, uma produção inédita, que levou mais de 101 mil espectadores ao Teatro Claro Mais SP; “Cantando na Chuva”, com efeitos especiais de tirar o fôlego; e “Shakespeare Apaixonado”, ainda em cartaz no 033Rooftop. Aqui está o “link” da crítica que escrevi sobre este espetáculo, que não é um musical:  http://oteatromerepresenta.blogspot.com/2024/09/o-segredo-de-brockback-mountain-ou.html.

 



         Justificativa nº 2: Poder assistir a um musical estrelado por MYRA RUIZ é certeza absoluta de que não há como se arrepender de ter ido ao Teatro. É convicção plena de que verá em ação uma atriz completíssima, uma “cantriz”, que interpreta, canta e dança igualmente nas mesmas gigantescas proporções, com uma rica formação profissional no exterior, um talento incalculável, como pouquíssimas artistas no Brasil.

 

 

 

SINOPSE:

Na trama, Elle Woods (MYRA RUIZ), uma típica “patricinha”, jovem estudante de moda, espera ser pedida em casamento pelo seu namorado rico, Warner Huntington III (RENAN ROSIQ), filho do governador, mas, inesperadamente, ele termina o relacionamento com ela, sob o pretexto de que quer cursar a Universidade de Harvard e o “estereótipo” de Elle não faria bem para sua carreira.

Fazendo uso de metáforas, ele acha que seria melhor, para a sua imagem, se casar com uma “Jackie” (Kennedy) do que com uma “Marilyn” (Monroe).

Cansada de sofrer “bullying” com o estereótipo da futilidade e para provar que inteligência não depende de aparências, ela resolve entrar na mesma faculdade de Direito que o ex-namorado e dar-lhe uma merecida lição.


 

 

 

         Aparentemente, estamos diante de um roteiro bem “água com açúcar”, ao feitio de algum sucesso de uma “Sessão da Tarde”, na TV. E não é outra coisa mesmo, sem maiores pretensões, além de divertir e incendiar os corações apaixonados. E que mal há nisso? Não vejo o menor. Há público para todos os gostos e nenhum deles deve ser desprezado. Por outro lado, quando permitimos que o nosso olhar seja desviado, para penetrar nas entrelinhas do texto, conseguimos observar, sem maiores dificuldades, que há coisas a provocar reflexões: a questão do empoderamento feminino, movimento social, político e filosófico que busca a justa igualdade de gênero e a participação das mulheres na sociedade, e da misoginia, termo que se refere a um sentimento de desprezo e preconceito, além de outros afins, com relação às mulheres, simplesmente por seu sexo, uma total estupidez. O empoderamento deve ser encorajado; a misoginia, muito bem combatida. Isso sem falar no desmascaramento de uma tese desprovida do menor valor científico, aquela que, pejorativamente, rotula de “burras” as mulheres loiras. Quando percebemos isso, a peça passa a ter um novo sabor, que enriquece a história e a montagem. 


 


 

Como já aconteceu em outros musicais de TEATRO, o espetáculo é Inspirado numa franquia cinematográfica, de 2001, adaptada para os palcos em um musical de sucesso internacional. O filme que lhe deu origem chama-se “Legally Blonde”, no original. Em fevereiro de 2007, uma adaptação musical estreou nos palcos da Broadway, tendo sido indicada a sete categorias do “Tony Awards” e em dez categorias do “Drama Desk Awards”. Isso não é pouca coisa. Posteriormente, em 2010, também brilhou em Londres, no West End, onde conquistou o prêmio de Melhor Musical no “Olivier Awards”.  A história é baseada num livro de AMANDA BROWN.

  


         A estrutura dramática do texto é bastante simples, buscando, a meu juízo, pessoas de todas as classes sociais e de diversos níveis de escolaridade. Simples, porém não tola; uma história linear, com surpresas agradáveis. Um espetáculo muito gostoso de ser assistido, no qual seu tempo cronológico equivale a muito menos, do ponto de vista do tempo psicológico. Em palavras mais simples: o tempo interior “voa”, sem que o percebamos e, quando chega o final do espetáculo, ficamos sentindo aquela “vontade de quero mais”.

 


Tudo funciona a contento, no musical, não tivesse ele sido dirigido por JOHN STEFANIUK, um canadense, de Toronto, amante do Brasil e grande admirador dos artistas brasileiros, que já dirigiu, com um brilho ímpar, no exterior e em nosso país, inúmeras grandes produções, como “O Rei Leão”, em que assumiu a função de Diretor Associado Mundial, em Paris, Londres, Sydney, São Paulo, Madri, Cidade do México, Amsterdã, Cingapura, Taipai e Joanesburgo, além de duas turnês nacionais no Reino Unido. Por aqui, assinou a direção de “Billy Elliot”, pela qual ganhou o prêmio de melhor musical da escolha da crítica. Também dirigiu “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, para o Atelier de Cultura. Sua direção de “Evita Open Air” foi considerada como um dos 10 melhores momentos de Andrew Lloyd Webber em 2022. JOHN também dirigiu, em São Paulo, “Matilda”, “Cantando na Chuva” e, agora, “Legalmente Loira”. Por seu incalculável talento, é aclamado no exterior e detentor de muitos prêmios. Recentemente, JOHN dirigiu uma nova super produção não-réplica de “Wicked – História Não Contada das Bruxas de Oz”, também em São Paulo.

 

 




JOHN STEFANIUK
(Fonte Desconhecida.)

A leveza, a beleza e o divertimento do musical são um somatório de acertos, distribuídos entre a ótima cenografia, de DUDA ARRUK; os criativos, alegres e coloridos figurinos, assinados, a seis mãos, por LIGIA ROCHA, MARCO PACHECO e JEMIMA TUANY (E VIVA O "PINK"!); o desenho de som, de GABRIEL D’ANGELO; a divertida coreografia, de FLORIANO PEIXOTO; o expLosivo e versátil desenho de luz, de GUILHERME PATERNO; o impecável desenho de perucas, sob a responsabilidade de FELICIANO SAN ROMAN; e o desenho de maquiagem, criado por CRIS TÁKKAHASHI. ANDRÉIA VITFER é responsável por uma corretíssima direção musical, da mesma forma como também merece elogios VICTOR MÜHLETHALER, por sua versão brasileira.

  

 

Não sei, exatamente, quem foi diretamente convidado para atuar no espetáculo – MYRA RUIZ, COM CERTEZA. - e quantos do elenco passaram por audições, mas isso pouco importa. O que interessa é que, por qualquer via que tenha levado cada nome ao “cast”, os critérios empregados nas escolhas foram muito bem aplicados e o resultado é um grupo muito coeso, bastante homogêneo, que se uniu para abraçar a causa de contar, muito bem, uma história leve, que até, no fim, acaba sendo didática. Todos do elenco são dignos da minha humilde aprovação e dos meus efusivos aplausos, os quais se direcionam mais para o elenco de frente: RENAN ROSIQ, HYPÓLITO, LEILAH MORENO, DANILO MOURA, GIGI DEBEI e AMANDA DÖRING. Recuso-me a qualquer justificativa, mas MYRA RUIZ é “hors concours”. Quero, porém, elevar a uma posição de maior destaque, em relação aos demais, LEILAH MORENO (Que cantriz!), que “mete o pé na porta” e, com o talento que lhe é peculiar, grita: “Cheguei! Estou aqui!”.    

 


 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Texto: Heather Hach

Música e Letras Originais: Laurence O’Keefe

Versão Brasileira: Victor Mühlethaler

Direção Geral: John Stefaniuk

Direção Musical: Andréia Vitfer

 

Elenco: Myra Ruiz (Elle Woods), Renan Rosiq (Warner Huntington III), Hipólyto (Emmett Forrest), Leilah Moreno (Paulette Bonafonté), Danilo Moura (Professor Callahan), Gigi Debei (Vivienne Kensington), Amanda Döring (Brooke Wyndham), Giselle Alfano (Ensemble), Thaiane Chuvas (Ensemble), Gabriela Gatti (Ensemble), Mariana Ramires (Ensemble), Vinnycias (Ensemble), Lara Gomes (Ensemble), Esther Arieiv (Ensemble), Vivian Bugno (Ensemble), Bia Vasconcellos (Ensemble), Paulo Grossi (Ensemble), Fábio Galvão (Ensemble), Rafael Pucca (Ensemble), Danilo Martho (Ensemble), Vitor Loschiavo (Ensemble), Ricke Hadachi (Ensemble), Nina Sato (Swing e Dance Captain), André Ximenes (Swing) e Andreina Szoboszlai (Swing)

 

Cenário: Duda Arruk

Figurino: Ligia Rocha, Marco Pacheco e Jemima Tuany

Coreografia: Floriano Nogueira

“Design” de Som: Gabriel D’Angelo

“Design” de Luz: Guilherme Paterno

“Design” de Perucas: Feliciano San Roman

“Design” de Maquiagem: Cris Tákkahashi

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio (Douglas Picchetti e Helô Cintra)

Fotos: Andreia Machado

Produtor: Baccic 

"LEGALMENTE LOIRA - O MUSICAL" é apresentado pelo Ministério da Cultura e pela Brasilprev (LEI ROUANET), tem patrocínio da Momenta e apoio da PremieRpet, SegurPro, Rio Branco, Radisson Blu São Paulo e Dona Deôla.


 



 


SERVIÇO:

Temporada: De 17 de julho a 06 de outubro de 2024.

Local: Teatro Claro SP – Shopping Vila Olímpia.

Endereço: Rua Olimpíadas, nº 360 - Vila Olímpia, São Paulo – SP.

Dias e Horários: De 4ª a 6ª feira, às 19h30min; sábado e domingo, às 15h e às 19h30min.

Valor dos Ingressos: De R$ 19,80 (meia-entrada) a R$ 370 (inteira), dependendo da localização do assento e da sessão.

Canais Oficiais de Venda:

1) Bilheteria “on-line” (com taxa de conveniência): https://uhuu.com

2) Bilheteria Física (sem taxa de conveniência): Bilheteria do Teatro, aberta das 10h às 22h, de 2ª feira a sábado, e das 12h às 20h, aos domingos e feriados.

Local da Bilheteria Física: Shopping Vila Olímpia - Rua Olimpíadas, nº 360 - Vila Olímpia, São Paulo – SP – 1º Piso - Acesso A.

Telefone: (11) 3448-5061.

Capacidade: 801 pessoas.

Classificação Etária: Livre. (Menores de 12 anos devem estar acompanhados dos pais e/ou responsáveis legais. A determinação da classificação etária poderá, a qualquer momento, ser alterada pelo Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca de São Paulo - SP.)

Duração: 150 minutos, com 15 minutos de intervalo.

A programação do Teatro Claro Mais SP conta com acessibilidade física e de conteúdo.

Gênero: Teatro Musical


 

 


 

         Jamais deixarei de assistir a uma produção do Instituto Artium de Cultura e do Atelier de Cultura, pelo “simples” motivo de que, já de um bom tempo, se tornaram preciosas referências no mercado de entretenimento ao vivo, para os espectadores e para as marcas, “devido ao destaque da qualidade técnica e artística de suas produções de padrão internacional”. Eles não medem esforços, para fazer a coisa mais certa possível. E sempre o conseguem.

 

 

         A verdade é uma só: Deixei o Teatro com aquela gostosa sensação de que tinha escolhido iniciar a minha aventura bimestral em São Paulo com o pé direito, que já estava começando a valer a pena mais um deslocamento do Rio de Janeiro à capital paulista, para assistir a espetáculos que, infelizmente, são montados com 99,9% de probabilidade de não virem para a minha cidade. RECOMENDO MUITO O MUSICAL!!!

 





 

 

FOTOS: ANDREIA MACHADO.

 

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Leonardo Braga Soares.)









VAMOS AO TEATRO!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!

RESISTAMOS SEMPRE MAIS!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!

 

 








































































terça-feira, 10 de setembro de 2024


“O SEGREDO

DE BROCKBACK

MOUNTAIN”

ou

(“QUALQUER MANEIRA

DE AMOR

VALE A PENA” (Milton Nascimento

e Caetano Veloso.)

ou

(DE COMO UM

“EQUÍVOCO”

PODE MERECER

UMA CRÍTICA POSITIVA;

ATÉ A PÁGINA 5.)

 

 


 

          Poucas vezes, senti-me tão ansioso, à espera de um espetáculo teatral, como aconteceu quando recebi o convite para uma sessão especial da peça “O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN”, que aconteceu, há um mês desta publicação, no dia 07 de agosto próximo passado. O espetáculo estará em cartaz até 26 do mês em curso (setembro de 2014) no Teatro das Artes RJ (VER SERVIÇO.). Arrependi-me bastante, pois me reservaram um lugar na antepenúltima fila, num Teatro que não tem uma acústica digna de elogios, além de dificultar a visão aos que se sentam da metade do auditório para trás, por falta de um caimento, no piso da plateia, que deveria lá existir. O outro motivo, bem mais sério, foi o fato de eu ter visto uma linda história mal contada, por conta da direção, um verdadeiro desperdício, porém AINDA BEM - com uma dupla de protagonistas que seguram a peça, da primeira à última cena, com dois trabalhos dignos de premiação. Um verdadeiro oásis naquele deserto. Fui convencido, por aquela montagem, de que estava diante de um “equívoco” por parte da direção, de como se pode estragar um texto tão lindo e importante para os nossos dias.

 

 



 

    Constrangido e bastante triste – mais que tudo, FRUSTRADO -, saí do Teatro já com a determinação de deixar passar um bom tempo para rever o espetáculo, na esperança de encontrar uma obra mais enxuta, azeitada, com os devidos e necessários “consertos”, considerando tudo o que pode acontecer de errado numa estreia. Foi o que fiz, na noite da última 4ª feira (04/09/2024), coração acelerado, abertíssimo, cheio de vontade de retificar a minha opinião anterior e gostar muito da peça, então acomodado na primeira fila, com condições plenas para poder observar cada mínimo detalhe da encenação.

 

 


            E como foi essa segunda experiência? Melhor que a primeira, deveras, mas só um pouquinho, não o suficiente para me agradar, no todo. “Então, alguma coisa te agradou, em um nível aquém da tua expectativa?” Sim; e não. É complexo externar a minha opinião, difícil de ser codificada em palavras educadas e comedidas, totalmente isentas de sentimentos negativos, por medo de melindrar alguém ou mais de uma pessoa ligada ao projeto, última das minhas intenções ou, melhor ainda, que nem passa perto do meu desejo, ao comentar sobre a peça. Tudo regido pelo maior respeito ao ser humano, “pisando em ovos” aqui, para ser o mais polido e justo possível. Resumindo, depois da minha segunda vez, diante do que me proporcionaram ver: o pouco que já era bom, ou seja, o magnifico trabalho de MARCÉU PIERROTI e JÚLIO OLIVEIRA, e a corretíssima atuação de EDUARDO RIECHE, foram confirmados, e acho até que melhor que a vez anterior, por ter sido lá uma estreia para a classe, creio eu. Os desacertos da direção, a meu juízo, lá permanecem, e tudo o que acho que não funciona, sem dúvida, relacionado aos deslizes do diretor, continua no palco, hiperbolicamente representado, prejudicando uma avaliação positiva total da obra.

 

 


 


 

    Como sempre, fui com a intenção de gostar da montagem, o que gera em mim muito prazer, que se estende até escrever sobre ela. Mas ficou difícil, muito difícil. Travou-se uma luta interna entre o espectador e o crítico. Confesso que fiquei me questionando se valeria a pena escrever sobre aquilo, todavia achei que eu não teria o direito de soterrar a minha emoção, em algumas poucas cenas, que mereciam elogios, e deixar de me pronunciar sobre momentos constrangedores, para não entristecer e melindrar A ou B. E jamais poderia omitir o prazer de ver um drama tão bem pensado e escrito, interpretado por dois estupendos atores, sem abordar esses dois aspectos. Mas como escrever uma crítica, enaltecendo apenas dois elementos e olvidando o resto, se "TEATRO é a arte do coletivo?".

 

 


    O tripé mais consistente de sustentação de um espetáculo teatral é representado por texto, direção e interpretação. Se um dos esteios falha, o todo ficará desequilibrado, “perneta”. A encenação acabou conseguindo se manter em pé, sem desmoronar, como um castelo de areia, graças, unicamente, à beleza, poesia e delicadeza do texto e pelo irretocável trabalho de MARCÉU E JULINHO. E não adianta querer procurar mais alguns méritos, a não ser a correta atuação de EDUARDO RIECHE, que se desdobra em três personagens, com suas pequenas, porém marcantes inserções, todas muito bem valorizadas pela competência do ator. Salva-se, também, é verdade, a participação, como musicistas, de JOÃO PEDRO MOSCHKOVICH e MIGUEL GÓES, este assinando a assistência de direção, a quatro mãos, com DIOGO MONTEZ, e a direção musical. Mas vale a pena assistir ao espetáculo, embora claudicante, por conta da frouxidão da perna relativa à direção, que, de frágil, se quebrou e se apoiou nas outras duas.   

 

 

 

 

 

            Mesmo que eu não seja um cinéfilo, ainda tenho um aparelho de DVD Player (Acho que é assim que se chama aquela geringonça.), que, inexplicavelmente, ainda funciona normalmente, reproduzindo os DVDs; e uma pequena videoteca, com uns 50 títulos de filmes, por aí, que considero icônicos ou que, no mínimo, me agradaram muito. “O SEGREDO DE BROCKBACK MOUNTAIN” (“BROCKBACK MOUNTAIN”, no original) faz parte dela e, talvez, ocupe uma posição no meu “top 10”.  É um belíssimo filme, em todos os aspectos, do final de 2005, tendo estreado, no Brasil, em fevereiro de 2006, muito bem recebido por nós, contudo causando muita confusão em vários países em que foi exibido, sem falar naqueles em que foi totalmente proibido, embora também tenha recebido algumas premiações, inclusive no maior de todos os prêmios, o “Oscar”, ao qual recebeu 8 indicações, tendo vencido em 3: Melhor Direção, para o taiwanês Ang Lee, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora. A adaptação para o TEATRO traz 90% do que se vê na tela, mas omite parte do final da película, o que não compromete, em nada, a versão teatral.

 

 



SINOPSE:

“O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN” é uma história de amor entre dois cowboys no interior dos Estados Unidos, na década de 60, mais propriamente, no verão de 1963.

Jack Twist (JÚLIO OLIVEIRA) e Ennis del Mar (MARCÉU PIERROTI) são jovens que se conhecem, ao serem contratados para cuidar das ovelhas de Joe Aguirre (EDUARD RIECHE), em Brokeback Mountain.

Jack deseja ser cowboy e está trabalhando no local pelo segundo ano seguido, enquanto Ennis encara o trabalho para ganhar dinheiro, pois pretende se casar com Alma (CATARINA MARCATO), sua namorada, tão logo o verão acabe.

Os dois cowboys, pobres, ao passar semanas isolados, no frio e em más condições de trabalho, começam a criar uma intimidade que se transforma em um romance intenso e conflituoso e transformador.

Ao término do verão, cada um segue sua vida, mas o período e as coisas vividas naquele verão irão marcar suas vidas para sempre.

 

 


 

 

ATENÇÃO:

         Para os que demonstrarem interesse por uma SINOPSE mais completa, completíssima, sugiro que busquem esse conhecimento na internet (“BROCKBACK MOUNTAIN” – Wikipédia).

É referente ao filme, mas coincide, em quase tudo, com a da peça, com exceção do final.

Vale muito a pena ler, principalmente para entender melhor a versão teatral.

E aproveitem para assistir ao filme também!

 

 


 



  O grande trunfo da história reside nos personagens, dois, em especial, os protagonistas, profundamente humanos, e no fato de nos fazer pensar sobre a intolerância, os medos, as fragilidades, os interditos e o poder do amor, aplicados a um lindo e verdadeiro sentimento puro, sincero e amoroso entre dois iguais, dois homens auto reprimidos e com muito medo de romper um casulo e voar livres, como as borboletas que habitam seus corações, principalmente Ennis. Uma história linda, riquíssima em beleza, pureza e emoção, e com personagens fictícios, completamente “normais” e representantes de tanta gente real, com seus desejos, conflitos e destinos avassaladores, trancada em seus abrigos, vivendo uma vida dupla. Trata-se de “uma história que não termina com um ‘blackout’ final, mas que acompanha cada espectador sensível, humano e empático”. Não acredito que ninguém deixe o Teatro, depois de ter assistido a “O SEGREDO DE BROCKBACK MOUNTAIN”, da mesma maneira como entrou. A não ser os “ogros” que lá estiveram “por obrigação”, por um ou outro motivo, ninguém deixa de acompanhar a saga daqueles dois seres humanos, cujo único “pecado” foi amar a ser feliz”. Para entender o sofrimento e sentir a dor de Ennis e Jack, não precisa ser “gay, militante ou simpatizante da causa; basta abrir o peito e deixar escorrer muita empatia. Aliás, é muito bom que se diga que a obra nada tem de panfletária nem que impõe bandeiras a favor do homossexualismo. E um ponto positivo para a direção - Sim, não poderia deixar de fazer menção a isto: não há qualquer tipo de apelação em cena, como nudez gratuita; as duas cenas de sexo não chocam os pudicos, creio meu. - Os protagonistas apenas desejam resolver o seu drama pessoal.

 

 


 

 

 

              Eu nem sabia que havia uma versão teatral do filme e fiquei muito feliz e curioso pela oportunidade de poder assistir a ela, quando soube de sua existência e da montagem brasileira. E me preparei para o melhor. A peça só chegou ao Brasil, trazendo os questionamentos e reflexões do conto de Annie Proulx, por conta do ator MARCELO BROU, responsável pela compra dos direitos de montagem no Brasil, depois de ter assistido à versão britânica, em Londres, passando a ser o idealizador da montagem, além de estar em cena, da primeira à última, como o personagem Ennis, na fase madura, o Ennis velho, “narrando” passagens da peça. Não entendi o emprego do verbo “narrar”, que retirei do “release” que a mim chegou, pois não o vejo como um narrador e, a propósito, como um dos maiores descuidos da peça, penso que sua presença no enredo, o personagem, entenda-se, é totalmente desnecessária, a não ser que se fizesse presente de uma forma mais dinâmica e, realmente, atuante. Não por parte do ator, mas porque a direção houve por bem mantê-lo em cena o tempo todo da peça, sem que a maioria do público tenha entendido quem era aquele personagem, “naquela fila do pão”, causando até, lamentavelmente, comentários jocosos sobre sua participação na trama, ouvidos, posteriormente, por mim. Arrisco também dizer, sem medo de errar, que poucas pessoas conseguem entender que BROU representa o personagem Ennis já velho, porque a direção não encontrou uma forma simples e prática de fazer com que todos, do mais intelectual ao menos escolarizado na plateia, pudessem assim entender. Recuso-me, aqui, a transcrever os epítetos irreverentes destinados ao ator e ao personagem, que ouvi, fora do Teatro, nas duas vezes em que assisti à peça, e que me deixaram constrangido e triste, lembrando que algumas pessoas culpavam o diretor. Não é com suas marcações morosas e equivocadas, transitando pelo palco, como um zumbi, observando as cenas, no espaço cênico, e com sua meia dúzia de pequenas falas enigmáticas que ele conseguirá ser identificado como pensou e desejou a direção.

 

 



    Abro espaço para outro grande deslize da direção, a meu ver, também sério, sob a minha modesta ótica. Reporto-me a ter sido utilizada uma atriz/cantora, CATARINA MARCATTO, que se divide nos cantos e na personagem ALMA (esposa de Ennis), a qual deixa a desejar nos seus exagerados agudos e devendo, algumas vezes, na afinação, causando um certo desconforto (Também, pelos corredores do Shopping da Gávea, ouvi comentários desabonadores sobre seu trabalho, com algumas pessoas tentando, jocosamente, imitá-la, o que me causou uma situação bastante desagradável.). CATARINA foi escalada para interpretar algumas canções de lamento, lindos "blues" e baladas caipiras, compostas por DAN GILLESPIE SELLS, com melodias belíssimas, cujas letras são importantíssimas, na trama, e cujo teor se perde, por serem “cantadas” em “inglês”, por vezes incompreensível, até por quem domina o idioma. Não faz o menor sentido, NA MINHA OPINIÃO, não serem cantadas em português, já que as letras têm uma relação direta com as cenas a que se atrelam. Deveriam ter sido passadas pelas mãos de algum dos nossos ótimos versionistas para o TEATRO. Achei isso IMPERDOÁVEL!!! Pontuar cenas com canções é um excelente expediente, neste tipo de encenação. Essa ideia poderia ter dado 100% certo, mas ficou só em menos da metade do acerto pensado, só valendo pelos toques musicais de JOÃO PEDRO MOSCHKOVICH e MIGUEL GÓES, solando ou acompanhando, dois excelentes musicistas que não erram na execução da trilha sonora original, da versão londrina, com excelentes toques dos exímios músicos brasileiros. A ideia de fazer uso do chamado *“slide”, em algumas canções, é extremamente comovente, porque a sonoridade obtida remonta a lamento.





*“Slide guitar”, ou “bottleneck guitar”, é uma forma de tocar guitarra, em que se utiliza. no dedo médio, anular, mínimo ou indicador (este último menos comum), um pequeno tubo oco cilíndrico, feito de metal, vidro ou cerâmica, com o objetivo de alterar o tom em que se toca, deslizando esse tubo pelas cordas da guitarra.”


 


 


      Para os que, equivocadamente, pensam que é muito fácil a vida de um ator brasileiro, a não ser que tenha sido ungido com os óleos da Central Globo de Produções, deixo bem claro que eles sofrem, pulando de uma audição para outra, até conseguir um papel, de preferência de destaque. Foi assim que MARCÉU PIERROTI se tornou Ennis Del Mar e JÚLIO OILIVEIRA virou Jack Twist. Foi “ralando” nas audições, para preencher o elenco, que os dois alcançaram a categoria de protagonistas de uma linda peça de amor. Sem ter feito parte do processo de seleção nem conhecendo quem disputou com eles os dois principais e disputados papéis, não me resta a menor dúvida de que pouca gente, ou ninguém, defenderia os dois protagonistas com tanta garra, brilho e verdade como eles dois. Ambos são gigantescos em cena e eu reservo um mínimo de uma pitadinha de destaque, ínfima mesmo, a mais para JÚLIO, creio porque o personagem permite arriscar um mergulho mais profundo, de cabeça, na sua construção. Fatores escusos à parte, JÚLIO OLIVEIRA merece ser indicado a prêmios de Melhor Ator de 2024; e a mesma indicação para MARCÉU não me causaria surpresa. E também me faria muito gosto.

 

 

 

 

 

O elenco, na sua íntegra, com altos e baixos, é formado por MARCÉU PIERROTTI (Ennis Del Mar – Não há adjetivos elogiosos que bastam para a sua avaliação.), JÚLIO OLIVEIRA (Jack Twist – IDEM), MARCELO BROU (Ennis Velho), EDUARDO RIECHE (Joe Aguirre, Bill e Pai de Jack), CATARINA MARCATO (Alma e Cantora Baladeira), ARLETE HERINGER (mãe de Jack e Garçonete) e ANA ELISA SCHUMACHER ( Laureen).

 

 

Foto: Gilberto Bartholo.

 

   ANA ELISA SCHUMACHER foi cirúrgica na escolha das peças que formam o conjunto de figurinos. ADRIANA ORTIZ foi precisa na discreta e correta iluminação. O criador da cenografia, que apresenta pontos altos e baixos, os quais, colocados numa balança, pendem um pouquinho mais para o lado negativo, pretensiosamente criativa e confusa, não consta, na FICHA TÉCNICA que me chegou às mãos, porém apurei, recentemente, que foi idealizada por MOACYR GÓES.


Foto: Gilberto Bartholo.

 

 

 

               Longe de mim, querer fazer do diretor MOACYR GÓES uma espécie de “Maria Madalena” tropical. De minha mão, não será desferido nenhum mínimo cascalho ou seixo contra ele, porque, todos têm o direito de não acertar a mão um dia, principalmente quem já mereceu meus merecidos aplausos por outros trabalhos anteriores, mormente no cinema.

 

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

Peça baseada num conto de Annie Proulx

Idealização do Projeto: Marcelo Brou

Texto: Ashley Robinson

Tradução: Miguel Góes

Músicas: Dan Gillespie Sells

Direção: Moacyr Góes

Direção Musical: Miguel Góes

 

Elenco: Marcéu Pierrotti, Júlio Oliveira, Marcelo Brou, Eduardo Rieche, Catarina Marcato, Arlete Heringer e Ana Elisa Schumacher

Stand-by Ennis/Jack: Diego Montez

Músicos: João Pedro Moschkovich e Miguel Góes

 

Assistência de Direção: Diego Montez e Miguel Góes

Cenografia: Moacyr Góes

Figurino: Ana Elisa Schumacher

Iluminação: Adriana Ortiz

Fotos: Marcio Moraes

Produção: Bufões Produções

Produção Executiva: Bruna Britto

Assistência de Produção: Giulia Butler

 

 

 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 07 de agosto a 26 de setembro de 2024.

Local: Teatro das Artes.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 / 2º Piso (Shopping da Gávea).

Dias e Horários: Quartas e quintas-feiras, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

Duração: 90 minutos.

Classificação Indicativa: 16 anos.

Gênero: Drama.

 


 

 

           São palavras de MARCELO BROU, idealizador do projeto: “Por mais que o conto tenha mais de 20 anos, as lutas são as mesmas. Não se faz necessária nenhuma intervenção, por se tratar de uma forma de amor genuína. A peça poderia ter sido encenada há duas décadas ou hoje, como estamos fazendo. Toda a equipe está muito feliz por levar à cena uma peça que fala de amor, que é um tema universal”. Concordo com tal pensamento, ressaltando que há uma distância entre o “ideal” e o “real”. “A peça chega respeitando o amor e o conto da autora. (...) “As cenas serão tratadas como expressão do comportamento apaixonado e erótico dos personagens. Nada será criado para encobrir algo ou, por outro lado, para ser uma exploração da nudez dos atores.”, completa MOACYR GÓES, com o que, respeitosamente, concordo e assino embaixo.

 

 


 

            Ainda ressalta o diretor: “É uma história sobre amor, intolerância e a complexidade dos sentimentos e desejo humanos. Essas são questões que marcam a trajetória humana. A realidade da diversidade das pessoas e a aceitação do outro como ele é são conquistas a serem efetivadas e, realmente vividas em sociedade. Ainda estamos longe disso, já percorremos alguma estrada nesse sentido, mas ainda estamos longe. Neste sentido a peça é, sim, uma reflexão sobre as realidades vividas pela comunidade LGBTQIAPN+”. MOACYR GÓES acertou na sua reflexão, a julgar pelas plateias lotadas, em dias de meio de semana, com um público, que, em sua grande maioria, com certeza, há de se identificar com um dos dois protagonistas, ou, até mesmo com algum dos outros personagens. Confesso que a peça mexe muito comigo e coloco-me totalmente empático a um dos personagens. Curiosos? Lamento.

 

 

 

 


            Desde agosto de 2013, depois de mais de 800 críticas publicadas esta é a primeira que me levou a tentar me equilibrar numa fita de “slackline”, sem a menor certeza de que me sustentaria sobre ela ou se cairia de nariz no chão. Fica a critério de cada leitor o resultado dessa “ousadia”. Se eu recomendo a peça? Sim, para ver um emocionante trabalho de interpretação de MARCÉU PIRERROTTI e JÚLIO OLIVEIRA

  

 

 

 


Foto: Gilberto Bartholo.

 

 

 

FOTOS: MARCIO MORAES

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: João Pedro Bartholo

e

Ana Cláudia Matos.)

 

 








 

 

 

 

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