sexta-feira, 24 de março de 2023

 

“33º PRÊMIO SHELL

DE TEATRO”

ou

(UMA FESTA

DO TEATRO BRASILEIRO.)



    Depois de um compulsório hiato de dois anos, imposto pela pandemia de COVID-19, realizou-se, na noite da última terça-feira (21 de março / 2023), no Teatro Riachuelo, Centro do Rio de Janeiro, a tão esperada festa de revelação e premiação dos vencedores do “33º PRÊMIO SHELL DE TEATRO”, que acontece com relação aos espetáculos teatrais encenados no Rio de Janeiro e em São Paulo e que, pela primeira vez, reuniu as duas premiações numa só cerimônia/festa. Alguns aspectos marcaram o evento, como a grande quantidade de negros laureados, assim como o prêmio para a primeira atriz “trans” e muitos discursos, emotivos, saudando as ancestralidades.



      Depois da extinção do “Prêmio Molière”, o PRÊMIO SHELL DE TEATRO”, criado em 1988, é, sem dúvida, a mais tradicional premiação da cena teatral brasileira. O evento, criado pela Shell Brasil, é patrocinado pela empresa e tem como objetivo prestigiar e premiar os grandes destaques do TEATRO BRASILEIRO. A premiação abraça nove categorias: Dramaturgia, Direção, Ator, Atriz, Cenário, Figurino, Iluminação, Música (abrange música original, trilha sonora, arranjos, direção musical e efeitos sonoros) e Energia que vem da gente, esta criada a partir do ano em curso, visando a premiar iniciativas relacionadas ao universo teatral com impacto social positivo, reconhecer a criatividade dos artistas e seu impacto positivo na sociedade brasileira. Com relação a 2023, cuja premiação acontecerá em 2024, a organização do “PRÊMIO” já anunciou uma nova mudança no regulamento, com a criação de mais uma categoria: “Destaque Nacional” (Detalhes em breve, quando da publicação do novo regulamento.). Excepcionalmente, a premiação contemplou espetáculos que fizeram temporada, no Rio de Janeiro e em São Paulo, fora do período pandêmico, entre 01 de janeiro e 31 de março de 2020 e 01 de abril a 31 de dezembro de 2022.



      Um dos pontos altos da festa, opinião que posso considerar uma unanimidade, foi a escolha da dupla de apresentadoras, as atrizes Marisa Orth e Verônica Bonfim, duas lindas presenças no palco. Marisa, com seu humor irreverente, raciocínio rápido e reconhecida inteligência, pré-requisitos essenciais para quem faz COMÉDIA, não perdeu uma oportunidade de sair do roteiro e fazer piadas sobre situações que iam surgindo, arrancando gargalhadas dos convidados.




      Dois júris distintos, um para cada cidade, foram os responsáveis pela lista dos indicados. No Rio de Janeiro, votaram Ana Luisa Lima (professora, produtora e gestora cultural), Biza Vianna (diretora de arte e produtora cultural), Leandro Santana (produtor cultural, gestor público e ator), Patrick Pessoa (dramaturgo e crítico teatral) e Paulo Mattos (curador e produtor cultural). Por São Paulo, Evaristo Martins de Azevedo (crítico de arte), Ferdinando Martins (professor e crítico de arte), Luh Maza (dramaturga, diretora, roteirista e atriz), Luiz Amorim (ator, diretor e gestor em produção cultural) e Maria Luisa Barsanelli (jornalista).

      Aqui estão as indicações com os nomes dos vencedores, em cada uma, grifados em vermelho, na ordem em que foram anunciados:


        RIO DE JANEIRO:

ILUMINAÇÃO: Cesar de Ramires, por “Morte e Vida Severina”; Artur Luanda Ribeiro, por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”; Gabriel Fontes Paiva e André Prado, por “Um Precipício no Mar”; Alexandre O. Gomes, por “A Jornada de um Herói”; Maneco Quinderé, por “Neva”; e Fernanda Mantovani, por “Caim”.




CENÁRIO: J.C. Serroni, por “Morte e Vida Severina”; André Curti e Artur Luanda Ribeiro, por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”; João Marcelino, por “Candeia”; Bia Junqueira, por “Ficções”; Cachalote Mattos, por “Turmalina 18 - 50”; e Marcio Meirelles, por “Do Outro Lado do Mar”.





FIGURINO: Wanderley Gomes, por “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”; João Pimenta, por “Ficções”; Ticiana Passos, por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”; Julia Vicente e Gabriel Vieira, por “Peça de Amar”; e Marie Salles, por “O Espectador”.




ENERGIA QUE VEM DA GENTE: “Companhia Cria do Beco”, baseada no Complexo da Maré, pelo espetáculo “Nem Todo Filho Vinga”, que traduz, para a contemporaneidade, de modo complexo e eletrizante, o conto “Pai contra Mãe”, de Machado de Assis, possivelmente o maior libelo antirracista da história da literatura brasileira; Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), pela campanha de arrecadação, realizada durante a pandemia, que ajudou inúmeros profissionais do TEATRO a sobreviver, materialmente, e, também, por ter sido fundamental na luta para a aprovação, no Congresso Nacional, das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc; “Cia de Mystérios e Novidades”, por fomentar, há 40 anos, um TEATRO marcado pela diversidade e multiplicidade e, mais recentemente, por ter criado sua “Escola Sem Paredes”, um complexo de espetáculos, performances, cortejos, intervenções urbanas, exposições, aulas, seminários, oficinas e atividades socioculturais fundamentais para a ocupação do território da zona portuária do Rio de Janeiro e para o enriquecimento do calendário cultural da cidade; “Pandêmica Coletivo”, por seu pioneirismo em criar uma plataforma “on-line”, durante a pandemia, possibilitando a colaboração continuada entre artistas de diversas partes do Brasil, a experimentação de novos recursos na produção teatral “on-line” e difusão desses novos trabalhos; “Revista Questão de Crítica”, por ter contribuído para o fortalecimento das ações “on-line” criadas durante a pandemia, estimulando o debate sobre novas possibilidades estéticas abertas por esse novo modo de produção teatral e, também, por ter sido, ao longo de 15 anos de existência, decisiva, para o fomento do pensamento crítico nas artes cênicas brasileiras; “Projeto Que Boca na Cena?”, por ter realizado transmissões virtuais de espetáculos, a fim de fomentar a distribuição de renda para profissionais da cultura, durante a pandemia, e, nesse processo, por ter se firmado como importante espaço de uma prática antirracista continuada, que amplifica o alcance de trabalhos de artistas negros e periféricos.




        ATOR: Reinaldo Junior, por “O Grande Dia”; Milton Filho, por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”; Cridemar Aquino, por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”; Gilson de Barros, por “Riobaldo”; Fábio Osório Monteiro, por “Sem Palavras”; e Mario Borges, por “A Última Ata”.




    ATRIZ: Ana Carbatti, por “Ninguém Sabe Meu Nome”; Vera Holtz, por “Ficções”; Vilma Melo, por “Mãe de Santo”; Andrea Beltrão, por “O Espectador”; Vitória Jovem Xtravaganza, por “Sem Palavras”; e Viní Ventania Xtravaganza, por “Sem Palavras”.





MÚSICA: Jorge Maya, pela direção musical de “Luiza Mahin ... Eu Ainda Continuo Aqui”; Itamar Assiere, pela direção musical de “Morte e Vida Severina”; Chico César e Marcelo Caldi, pela direção musical de “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”; Ananda K, pela direção musical de “Candeia”; Claudia Elizeu e Wladimir Pinheiro, pela direção musical de “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”; e Azullllllll, pela direção musical de “Cão Gelado”.




DRAMATURGIA: Henrique Fontes e Vinicius Arneiro, por “Peça de Amar”; Gilson de Barros, por “Riobaldo”; Cecilia Ripoll, por “Pança”; Elisandro de Aquino, por “Eu Amarelo”; Rodrigo Portella, por “Ficções”; e Marcio Abreu e Nadja Naira, por “Sem Palavras”.




    DIREÇÃO: Renata Tavares, por “Nem Todo Filho Vinga”; Enrique Diaz e Marcio Abreu, por “O Espectador”; Rodrigo Portella, por “Ficções”; Paulo de Moraes, por “Neva”; Marcio Abreu, por “Sem Palavras”; e André Paes Leme, por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”.






        SÃO PAULO:

ILUMINAÇÃO: Wagner Pinto, por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”; Cesar Pivetti, por “Brilho Eterno”; Aline Santini, por “Na Solidão dos Campos de Algodão”; Cibele Forjaz, por “Altamira 2042”; Wagner Antonio, por “Com os Bolsos Cheios de Pão”; e Wagner Freire, por “Mary Stuart”.




CENÁRIO: Fabio Namatame, por “A Última Sessão de Freud”; Daniela Thomas e Felipe Tassara, por “Molly Bloom”; Bira Nogueira, por “Meu Reino por um Cavalo”; Luiz André Charubine e Mandy, por “Pérsia”; Zé Henrique de Paula, por “Sweeney Todd”; e Chris Aizner, por “Outono, Inverno ou O Que Sonhamos Ontem”.




FIGURINO: Claudia Schapira, por “Na Solidão dos Campos de Algodão”; Marichilene Artisevskis, por “Mary Stuart”; Karen Brusttolin, por “Gaslight, uma Relação Tóxica”; Anne Cerutti, por “Consentimento”; João Pimenta, por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”; e Silvana Marcondes, por “Nzinga”.




ENERGIA QUE VEM DA GENTE: “Éssa Companhia de Teatro”, pelo trabalho com a comunidade de São Miguel Paulista, no extremo da Zona Leste de São Paulo, que resultou no espetáculo “Ensaio para Dois Perdidos”; “Coletivo 302”, pela valorização da ancestralidade em Cubatão, na baixada santista, refletindo sobre a herança socioambiental da época em que era a cidade mais poluída do mundo, expressa de maneira contundente no espetáculo “Vila Parisi”; “Rede de Leituras”, pela importante reunião de profissionais do TEATRO, para fomentar e difundir a dramaturgia contemporânea em tempos pandêmicos; “Cia Munguzá de Teatro”, por suas ações artísticas e sociais acolhendo a população da Cracolândia e seu entorno durante a pandemia de Covid-19; “CATS (Coletivo de Artistas Transmasculines)”, pela pesquisa histórica e ações de visibilidade e inclusão dos artistas transmasculines no Brasil; e “Os Satyros”, pelo projeto “A Arte de Enfrentar o Medo / The Art of Facing the Fear”, reunindo, simultaneamente, artistas de vários países dos cinco continentes e fomentando a experimentação de formatos digitais durante a pandemia.




ATOR: Clayton Nascimento, por “Macacos”; Paulo Marcello, por “O Fazedor de Teatro”; Rodrigo Pandolfo, por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”; Luis Lobianco, por “O Método Grönholm”; Odilon Wagner, por “A Última Sessão de Freud”; e Zécarlos Machado, por “Papa Highirte”.




ATRIZ: Verónica Valenttino, por “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”; Assucena, por “Mata Teu Pai – Ópera Balada”; Ana Lucia Torre, por “Longa Jornada Noite Adentro”; Sara Antunes, por “Anjo de Pedra”; Clara Carvalho, por “Um Inimigo do Povo”; e Laila Garin, por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”.




MÚSICA: Marco França, pela direção musical de “Tatuagem”; Tom Zé e Maria Beraldo, pela música de “Língua Brasileira”; Alisson Amador, Amanda Abá, Denise Oliveira e Jennifer Cardoso, pela execução musical em “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”; Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva, pela direção musical de “Hip Hop Blues”; Felipe Botelho, Amanda Ferraresi, NBKE e Wallie Ruy, pela execução musical em “Wonder – Vem pra Barra Pesada”; e Dan Maia, pela música de “Tebas”.




DRAMATURGIA: Dione Carlos, por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”; Soraia Costa, por “Sete Cortes até Você”; Ronaldo Serruya, por “A Doença do Outro”; Viviane Dias, por “Tarsila ou A Vacina Antropofágica”; Lucas Moura, por “Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar”; e Paola Prestes, por “Bata Antes de Entrar”.




DIREÇÃO: Miguel Rocha, por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”; Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio, por “O Método Grönholm”; Ruy Cortez e Marina Nogaeva Tenório, por “A Semente da Romã” e “As Três Irmãs”; José Fernando Peixoto de Azevedo, por “Um Inimigo do Povo”; Janaina Leite, por “A História do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir”; e Rogério Tarifa, por “O Que Nos Mantém Vivos?”.




Como se pode observar, apenas um espetáculo, “CÁRCERE OU PORQUE AS MULHERES VIRAM BÚFALOS”, ganhou dois prêmios: dramaturgia e música, pelo júri São Paulo.   



Tão logo o tradicional terceiro sinal se fez ouvir, surgiu, no palco, anunciando o início da festa/cerimônia os componentes da companhia “Barca dos Corações Partidos”, que apresentou “Ponteio”, um número do premiado espetáculo “Suassuna – o Auto do Reino do Sol”. Em seguida, as duas apresentadoras adentraram o palco, saudaram os presentes, falaram, rapidamente, sobre a importância do “PRÊMIO” e convidaram ao microfone o senhor Glauco Paiva, Gerente Executivo de Comunicação e Responsabilidade Social da Shell Brasil, que também saudou o público presente e falou da emoção de dividir o palco com as atrizes Marisa Orth e Verônica Bonfim. São palavras do senhor Glauco: “Chegamos à 33ª edição do ‘Prêmio Shell de Teatro’ e estou muito feliz de verdade, porque, pela primeira vez, em muito tempo, estamos trazendo o ‘Prêmio’ para dentro do Teatro, que é onde ele deve estar. Quero agradecer a todos os que fazem o TEATRO BRASILEIRO acontecer. Tivemos essa pausa forçada, devido à pandemia, mas o TEATRO resistiu. TEATRO, e o TEATRO BRASILEIRO, especialmente é feito de resistência. Resistir é ser do TEATRO, é ser de TEATRO. Longa vida ao TEATRO BRASILEIRO e ao ‘Prêmio Shell’”.







Além do anúncio dos vencedores, a cerimônia homenageou duas das maiores atrizes brasileiras, Dona LÉA GARCIA e Dona TEUDA BARA, aplaudidas de pé pela plateia, ovacionadas por longo tempo.








O número musical que homenageou Dona LÉA foi interpretado por Dona Alaíde Costa, do alto dos seus 87 anos e cerca de 70 de profissão, acompanhada pelo pianista Gilson Peranzzetta. Foi o clássico “Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antônio Maria), para relembrar um dos mais importantes espetáculos da trajetória da homenageada, “Orfeu da Conceição”, que teve estreia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1956, e inspirou o filme “Orfeu Negro”, de 1959, vencedor da “Palma de Ouro”, em Cannes. A atriz participou dos dois trabalhos, firmando seu nome como um referencial de sua geração. Fez-se um silêncio sepulcral, para se ouvir a cantora, e, ao final do número, o público explodiu em aplausos.




Para homenagear Dona TEUDA, com um número musical, nada melhor do que uma apresentação do “Grupo Galpão”, do qual a atriz é uma das fundadoras. Celebrando 40 anos, o “Galpão” fez um “pot-pourri” de números que marcaram a trajetória da Cia., que se confunde com a própria história da homenageada. Juntos, saíram de Minas Gerais e encenaram alguns dos maiores dramaturgos do mundo, firmando-se como uma das mais importantes companhias teatrais brasileiras.






Antes do início da premiação e, também, após, foi servido um coquetel de congraçamento.



 

 

FICHA TÉCNICA:

Roteiro: Edu Araújo e Victor Vaz

Direção: Criação Coletiva

Cenário: May Martins

“Light Design”: Arthur Farinon

Engenheiro de Som: Flavio Senna

Assessoria de Imprensa: Pedro Neves e Alan Diniz 

Produção e Realização: Hastro Agency

 





      Antigamente, dizíamos que a população do Brasil equivale ao mesmo número de técnicos de futebol. Atualmente, quase podemos dizer o mesmo, com relação a críticos de TEATRO. Os gostos são diferentes – graças a Deus! – e, de certo, sempre haverá quem preferia outro(a) vencedor(a), nesta ou naquela categoria – e eu não fujo a isso -, mas o que importa é que as decisões dos dois corpos de jurados têm que ser respeitadas e, no final das contas, estra ou aquela pessoa levando para a sua casa o cobiçado troféu, em forma de uma concha (identidade da empresa patrocinadora) e um prêmio de R$8.000,00, quem sai ganhando, de verdade, é o TEATRO BRASILEIRO e nós, seus devotos amantes.




        Até o próximo “PRÊMIO”!




ALGUNS DOS INDICADOS, VENCEDORES 

E CONVIDADOS QUE PASSARAM 

PELO TAPETE VERMELHO:




























































































































































































































































































































































































































































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