“COMO POSSO
NÃO
SER
MONTGOMERY
CLIFT?”
ou
(A DRAMÁTICA TRAJETÓRIA DE UM ASTRO QUE NÃO ACEITAVA VER SEU BRILHO APAGADO.)
Um grande ator brasileiro, que também “joga em outras
posições”, completa 40 anos de ótimos serviços prestados ao TEATRO
BRASILEIRO e escolhe, para comemorar tão importante marca, encenar um solo,
contando um pouco da trágica trajetória de um astro do cinema internacional,
que, não conseguindo perceber a triste, porém crua, realidade de que o sol
nasce para todos, mas não brilha para sempre, no caso de algumas pessoas,
recusa-se a aceitar a perda de seu brilho. Refiro-me a GUSTAVO GASPARANI,
que estreou, há três dias (07/01/2023), o monólogo “COMO POSSO NÃO SER
MONTGOMERY CLIFT?”, no Espaço Cultural Municipal Sergio Porto, Rio de
Janeiro. O texto é do dramaturgo espanhol, contemporâneo, de 45 anos, ALBERTO
CONEJERO LÓPEZ, aqui traduzido por FERNANDO YAMAMOTO, e a montagem
recebeu direção de FERNANDO PHILBERT. Em cena, como já dito, o
reconhecido talento de GUSTAVO GASPARANI.
Sempre que me desloco da minha casa até um Teatro,
percorrendo, em média, 30km, na ida, e mais 30, na volta, vou com um desejo
imenso de gostar do espetáculo e não voltar para casa frustrado e até, às
vezes, muito arrependido do que, para mim, é um grande sacrifício: o “simples”
deslocamento. Às vezes, vou na certeza de que a noite será muito proveitosa; é
muito bom, quando isso acontece. Em outras, acabo, sem querer, “quebrando a
cara” e “mordendo” não a língua, mas o pensamento, o que só é aceito
em linguagem figurada. Quando recebi, de STELLA STEPHANY (JSPONTES
COMUNICAÇÃO – Assessoria de Imprensa), o convite para a estreia de “COMO
POSSO NÃO SER MONTGOMERY CLIFT?”, e li os nomes dos que faziam parte da FICHA
TÉCNICA, fui, logo, tomado por uma grande alegria e passei a contar os dias
para a estreia da peça. O tempo psicológico fez com que uma meia dúzia de dias
parecesse(m) um mês. Mas, no sábado passado, esse momento chegou e, mais uma vez,
graças aos DEUSES DO TEATRO, voltei para casa sentindo-me muito
recompensado.
SINOPSE:
Através da
história de um dos maiores ícones do cinema americano, na era de ouro de
Hollywood, MONTGOMERY CLIFT (1920-1966), a peça reflete sobre a opressão
que a fama pode exercer numa pessoa pública, a ponto de ela se perder de si
mesma, tentando ser o que o mundo espera e acredita.
A montagem
insere o espectador na vida do consagrado galã norte-americano, que, decidido a
abandonar o cinema, por conta do assédio e da pressão dos meios de comunicação e da
indústria cinematográfica, enfrenta o passado e suas consequências no presente:
o acidente de carro, que desfigurou seu rosto; o desejo sexual conflituoso e, muitas
vezes, reprimido; e sua relação difícil com os colegas de profissão.
Tudo se dá,
por meio de memórias e ações no tempo presente, quando MONTGOMERY CLIFT,
exausto de tudo e de todos, ou quase isso, insiste em voltar ao TEATRO e
realizar o sonho de montar o clássico texto “A Gaivota”, de Anton
Tchekhov, no papel de Konstantin Gavrilovich Treplev, ao lado de Elizabeth
Taylor, como Nina Mihailovna Zarechnaia, sem lograr êxito.
Antes de assistir a um espetáculo teatral em que alguma “celebridade”
(Detesto o termo, mas fui obrigado a utilizá-lo, por conta da “imposição”
exercida pela sociedade, com relação à língua.) é personagem, procuro pesquisar
sobre sua vida, particular e artística. São raras as minhas idas ao cinema, o
que me coloca um pouco distante do seu universo, entretanto é claro que tenho
algumas informações sobre os grandes astros e estrelas da telona, nacionais e
internacionais, porém não com tanta profundidade, o que me fez “dar um
Google” no nome de MONTGOMERY CLIFT e “colar” bastante da Wikipédia,
procurando fazer adaptações, para uma escrita própria, resumindo o que pude,
ainda que tenha ficado um pouco longa a pesquisa, pelo que já, antecipadamente,
me penitencio. Sabia de seus sucessos, no cinema; assisti a pouquíssimos filmes
em que ele atuou e não tinha muita informação acerca de um grave acidente de
carro, por ele sofrido, e provocado, que mudou, radicalmente, sua vida.
Nascido Edward MONTGOMERY
CLIFT, nos Estados Unidos, em Omaha, e
falecido em Nova Iorque, MONTY,
como também foi tratado, e vai me facilitar bastante a comunicação aqui, era
reconhecido - sua interpretação - pela imprensa norte-americana, como “temperamental,
jovem e sensível”. Seu destaque maior, nas telas - foram 15 filmes -,
se deu em "Red River" (1948), "The Heiress" (1949), "Um Lugar ao Sol" (1951), "I Confess" (1952), "A Um Passo da Eternidade" (1953), "Os Deuses Vencidos" (1958) e "Julgamento em Nuremberg" (1961). Desses, tenho lembrança de ter
assistido apenas ao terceiro da lista, ao quinto e ao último. Transitava bem em
papéis de “vítima e herói”, tendo recebido, por eles, quatro
indicações ao “Oscar”, na carreira: três para Melhor
Ator e uma para Melhor Ator Coadjuvante, além de também ter sido
indicado ao "Globo de Ouro" e ao "BAFTA" (“Britsh Academy Film Awards”). É detentor de uma estrela, como sua marca, na “Calçada
da Fama”, em Hollywood.
Oriundo
de uma família de posses – o pai era vice-presidente de um banco estatal de
Omaha -, CLIFT teve sua vida marcada pelo conturbado relacionamento com
sua mãe, Ethel, apelidada de “Sunny” (“Ensolarada”), personagem
amplamente citada e questionada na peça ora em análise. Há um momento em que, num gesto de profunda coragem e desprendimento, com muita ironia, MONTY diz, em relação a Ethel: "Querida mamãe, você fez tanto, tanto, tanto por mim, que vai me custar o resto da vida pra desfazê-lo.". A quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929 e
a “Grande Depressão", nos Estados Unidos, da década de 1930,
arruinaram, financeiramente, seu pai, e a família teve que se mudar para Nova Iorque.
Ainda assim, a mãe persistiu em seus planos e, à medida que a situação do
marido melhorou, conseguiu matricular o filho Brooks, em Harvard, e a filha,
também Ethel, no Bryn Mawr College. CLIFT, no entanto, não conseguiu se
adaptar à escola e nunca foi à faculdade. Em vez disso, passou a atuar no TEATRO,
o que levou à sua estreia na Broadway , em
1935, aos 15 anos de idade, no musical “Jubilee”, de Cole Porter. (Estreou
bem o adolescente. O mestre não poderia ter sido melhor.). Reconhecido,
mundialmente, como um grande astro do cinema, numa carreira que durou justos 20
anos, sua presença nos palcos também foi bem sucedida e comportou bons espetáculos.
Muitas coisas podem ser consideradas responsáveis
por sua vida conturbada, atormentada, e uma delas foi, com certeza, sua condição de homossexual, reprimida
e não assumida, por receio, creio, de que tal revelação, uma vez
tornada pública, pudesse lhe causar problemas na carreira profissional. Um
exemplo disso é o fato de John Wayne e Walter Brennan terem se sentido “indignados” pela homossexualidade do ator e se mantido afastados dele, durante as gravações do filme
“Red River”. Por sua parte, CLIFT se sentia ofendido pelas
inclinações ultraconservadoras dos atores. A homossexualidade recebia um
tratamento muito hostil, naquela época, mais do que ainda hoje, mesmo em
ambientes mais “progressistas”, como nas artes. Na visão de alguns
autores, CLIFT era apenas homossexual, enquanto outros argumentam que ele se sentia atraído por homens e
mulheres, e, mais que isso, ia para a cama, indiscrimidamente, com ambos os sexos. Seu biógrafo
Michelangelo Capua afirma que “Monty dormiu tanto com homens como com
mulheres, esperando descobrir suas próprias preferências sexuais”. Diz,
ainda, que a mãe de CLIFT “fala sem problemas da homossexualidade
do filho: ‘Monty se deu conta de que era homossexual muito cedo. Creio que
tinha doze ou treze anos’”. Cada um deve se ocupar de si, e esse detalhe
de sua vida íntima, a meu juízo, não tem a menor importância, entretanto é fato
que foi um dos fatores que o levaram a um triste ocaso.
Sua carreira esteve repleta de êxitos, interpretando alguns papéis que o levaram a ser indicado ao “Oscar”, alçado à condição de ídolo, por seu talento e pela atração física, que sua estampa provocava, em homens e mulheres. Suas cenas de amor com Elizabeth Taylor, em "Um Lugar ao Sol", estabeleceram um novo padrão para o romance no cinema. Seus papéis em "A Um Passo do Paraíso", interpretando um soldado de infantaria, e em "Os Deuses Vencidos" são considerados, pelos críticos e os seus ardorosos fãs, os mais importantes de sua carreira.
Em 1956, durante as filmagens de "A Árvore da Viuda", CLIFT foi de encontro a um poste telefônico,
com o seu deslumbrante Chevrolet, ao sair de uma festa promovida por Elizabeth
Taylor, uma de suas melhores amigas, e dirigir, de forma irresponsável, bêbado,
em altíssima velocidade. Ele e Liz Taylor, a quem chamava de “Bessie Mae”,
foram grandes amigos, até sua morte. As filmagens de "A Árvore da Vida" ficaram interrompidas, até sua recuperação, dois meses depois. A partir do
fatídico acidente, que, por pouco, quase lhe roubou a vida (Ou, na verdade, a
roubou?), começou sua dependência de barbitúricos e drogas mais pesadas. Depois
do acidente, seguiu um caminho de autodestruição, que é considerado o “suicídio
mais longo vivido em Hollywood”.
Após esse gravíssimo acidente de carro, CLIFT
atuou em apenas mais dois filmes, antes de decidir encerrar sua carreira
profissional: "Rio Selvagem" (1960), como protagonista, e "Os Desajustados" (1961), estrelado
por Marilyn Monroe e Clark Gable. A “Vênus Platinada”, que estava passando por problemas
emocionais, quando filmava com MONTY, descreveu-o como “a única
pessoa que conheço que está pior do que eu”. Por aí, pelo que
conhecemos da desajustada vida pessoal da consagrada estrela de Hollywood,
podemos imaginar quão “complicado” era o Senhor MONTGOMERY CLIFT.
Seu estilo de vida autodestrutivo estava arruinando sua saúde. A Universal rompeu o vínculo com o astro, em 1962, durante a gravação de "Freud Alé da Alma", que ele
conseguiu, a duras penas, levar até o fim, por suas frequentes ausências no “set”
de filmagem.
Em "Julgamento em Nuremberg", de 1961, CLIFT teve uma atuação de apenas dezessete minutos, considerada
de altíssima qualidade, a ponto de lhe ter rendido a indicação ao “Oscar”
de Melhor ator Coadjuvante, entretanto a estatueta foi conferida a George Chakiris,
um ator norte-americano, de ascendência grega, por sua participação no consagrado
musical “West Side Story”, na pele do personagem Bernardo. Isso abalou,
de forma implacável, MONTGOMERY CLIFT, o qual considerou injusta a
premiação e inadmissível ter pedido o prêmio para o colega, com o que,
modestamente, concordo. O diretor de "Julgamento em Nuremberg", Stanley
Kramer, escreveu, em suas memórias, que CLIFT não conseguia decorar suas
falas. Mas, ao mesmo tempo, exclamaria: “CLIFT é um dos três ou quatro
maiores atores que existem.”. Além dessa indicação, também foi nomeado,
pela primeira vez, ao “Oscar” de Melhor Ator, por "The Search", seguindo-se outras, na mesma categoria, por “A
Place in the Sun” e “From Here to Eternity”. MONTY
jamais pôde ter o prazer de exibir uma estatueta do “Oscar”, em
sua estante de troféus (Será que, na sua casa, havia uma?).
MONTGOMERY CLIFT morreu,
em 23 de julho de 1966, aos 45
anos, por complicações de saúde, devido à sua dependência do álcool e das drogas, em seu apartamento, em Nova York. Foi enterrado no cemitério Quaker, no Brooklyn.
Reconheço ter mergulhado bastante profundamente nas
informações biográficas do personagem protagonista desta peça, porém, ao mesmo
tempo, reforçando meu pedido de desculpas, julgo muito importante ter o
conhecimento delas, para um melhor aproveitamento e julgamento do espetáculo, o
qual, de antemão, recomendo, com o maior empenho.
A peça estava pronta para estrear, em março de
2020, eu agendado para assistir a ela, quando a “indesejada das gentes”,
em homenagem ao grande poeta Manuel Bandeira, na forma de um vírus, teimava em arrombar
as portas das nossas casas, à busca de novas vítimas. Foi assim: a COVID-19
chegou, os Teatros foram fechados e a peça, que era para ter estreado no Rio de
Janeiro, acabou desabrochando em São Paulo, apenas em outubro de 2022, no SESC
Pinheiros, onde cumpriu uma bela temporada.
MONTGOMERY
CLIFT vivia dividido e fraturado entre o que esperavam dele e o que realmente era. Um dos
rostos mais belos de Hollywood, o galã, como outros colegas de profissão, tão
lindos quanto ele e que abalavam os corações alheios, como Cary Grant, James
Dean e Rock Hudson, por exemplo, para citar somente alguns, sofria bastante, por ser obrigado a esconder sua homossexualidade e atender aos anseios de seu público. Como
tantos astros e estrelas de sua geração, acabou entregue ao álcool e às drogas,
na tentativa inútil de anestesiar seu sofrimento. O
já citado trágico acidente automobilístico, apresentado, de forma brilhante, na
peça, é considerado um divisor de águas
na vida do homem e do ator. As sequelas e cicatrizes, estas denotativa e
conotativamente falando, jamais foram apagadas, até sua precoce morte.
ALBERTO CONEJERO LÓPEZ, autor do texto,
vasculhou todos os meandros da vida de MONTY, partiu de fatos reais e
criou uma excelente dramaturgia, pontuando, com maior ênfase, alguns momentos
da vida do personagem, alternando lucidez e alucinação, na medida certa, sempre
focando a necessidade de o personagem resgatar o seu bem mais precioso, ou
seja, sua profissão de ator. Decepcionado com o cinema, CLIFT queria,
obstinadamente, voltar ao TEATRO, onde se iniciou na carreira, não
conseguindo levar a cabo algum projeto. Sua fama de louco e irresponsável, um
drogado contumaz, já havia sido instaurada, nos meios artísticos, atingindo os
grandes empresários. Esse texto é um grande desafio para qualquer ator, e é
preciso uma grande bagagem, muita experiência de palco e talento para segurar,
solitário, em cena, esse espetáculo, durante 70 minutos, tarefa que poucos
poderiam desempenhar. GUSTAVO GASPARANI é um deles.
GASPARANI é um ator completo, já
tendo deixado boas lembranças, em musicais, interpretando, cantando e dançando.
Para mim, seu talento explode mesmo na parte da interpretação. Nesta peça, seu
brilhante trabalho me trouxe à lembrança o GUSTAVO GASPARANI de “Ricardo
III”, de Shakespeare, grande sucesso, estreado em 2014, que teve uma vida longa
e que merecia ser remontado, ganhador de tantos prêmios. Um GASPARANI
totalmente entregue ao personagem (Lá, eram muitos, interpretados por um só
ator.). Se, por um lado, considero muito difícil o trabalho, para o ator, neste
solo, por outro, acredito que, o fato de interpretar um consagrado ator, pode ter se tornado um facilitador, para a execução do trabalho, uma vez que o intérprete
pode, e deve, levar para o palco toda a sua intimidade pessoal e profissional,
mesclando-a com a do personagem interpretado. Talvez seja por conta disso, que “enxergamos”,
no palco, o próprio MONTGOMERY CLIFT, ainda que este e GASPARANI
não tenham traços físicos comuns. Aliás, MÁRCIO MELLO, com seu bom
visagismo, não teve a intenção de fazer com que o ator se parecesse,
fisicamente, com o personagem. A propósito, da parte de GASPARANI, na
construção do seu CLIFT, não houve, da mesma forma, a mínima intenção de
imitar sua voz e seu gestual. O excelente trabalho de interpretação é fruto de muito estudo e um mergulho na atmosfera dos eventos
e situações, citados na peça, para que MONTGOMERY CLIFT viesse à luz: “um
homem intenso e sensível, que terá que se redescobrir e se ressignificar após o
acidente que transformou a sua vida”, de acordo com o próprio GASPARANI.
Concordo com ele, quando diz que se trata de “uma
peça de TEATRO para um ator feito nas tábuas do palco”, uma vez que, “a
força deste projeto está no coração do ator”, ainda um acréscimo seu. GASPARANI
é, verdadeiramente, um ator das tábuas e escancarou seu coração, para dar vida ao personagem.
FERNANDO PHILBERT realizou mais um de seus excelentes trabalhos de direção. Conversando com ele, sobre o processo de construção da peça, pude perceber quão intenso PHILBERT se mostrou na árdua tarefa de enfrentar um grande novo desafio, diante de um texto tão lindo quanto "forte" e difícil de ser dirigido e interpretado, que exigia, da direção, muito estudo e atenção a todas as intenções que o dramaturgo procurou passar ao público, para que esste pudesse enxergar o verdadeiro lado quase oculto do personagem, sem qualquer tipo de apelação ou exagero. Suas marcações são muito milimetricamnente estudadas, a ideia de utilizar uma banheira em cena, com toda a carga de simbologia que ela contém, o olhar aguçado para o trabalho de um grande ator, conduzindo-o à melhor postura em cena, tudo isso ratifica o que já venho dizendo há bastante tempo: FERNANDO PHILBERT, discípulo, assumido e declarado, de Aderbal Freire-Filho, é um dos melhores encenadores dos últimos tempos.
A cada nova cenografia assinada por NATÁLIA
LANA, e executada, com extremo grau de cuidado e perfeição, por ANDRÉ
SALLES, como cenotécnico, e sua equipe, mais fã me torno do trabalho dessa
grande artista. NATÁLIA é um poço inesgotável de criatividade,
sensibilidade e bom gosto. Para este espetáculo, como em outros anteriores,
porém, aqui, com mais propriedade, a cenógrafa abusa de um cenário polissêmico,
ou seja, com muitos significados e poucos significantes. Ela criou um local que
ocupa quase todo o amplo espaço cênico do Teatro, com uma banheira clássica, embutida
num suporte de mármore “de Carrara”, cenográfico, evidentemente, uma
perfeita imitação da nobre pedra, como símbolo de glamour e intimidade. Esse
espaço pode ser muitos: o banheiro da casa do personagem; ou da residência de
Liz Taylor, que CLIFT tanto frequentava, inclusive de onde saiu, de uma
festa, na noite em que se espatifou contra um poste da companhia telefônica
local; um hotel de luxo, em que ele pudesse estar hospedado em Hollywood, visto
que preferia morar em Nova Iorque e só ir a Los Angeles quando tinha que
filmar... Cada um enxerga o que quiser ali. E podem ser todos esses lugares, e outros mais. Nos degraus que dão acesso à banheira e pelo chão, objetos jogados, em
desalinho, como um reflexo do seu universo tormentoso, com destaque para muitas
garrafas de bebidas alcoólicas, vazias. Como uma espécie de moldura, para isso
tudo, alguns rebatedores de luz, utilizados por fotógrafos profissionais, lembrando
um estúdio de filmagem, servindo, também, para dar uma ideia da invasão de
privacidade do artista. Enfim, um deslumbre de cenário.
O personagem veste apenas um requintado figurino, criado por MARIETA SPADA, um traje de gala. Nas
primeiras cenas, incompleto, mas, com o passar das ações, MONTY vai de
compondo e veste os acessórios que faltavam ao elegante fraque, para ir à
cerimônia de sua quarta indicação ao “Oscar”. Um primor de figurino.
VILMAR OLOS é o
responsável por uma corretíssima luz, iluminando setores do espaço
cênico, de acordo com as marcações propostas pela direção, ou o todo,
explorando os rebatedores, os quais são acionados, na forma de flashes, em momentos
muito precisos da encenação. Não há uma luz muito intensa, por não se fazer
necessária, porém é visível a comunhão que há entre a luz e o cenografia e a adequação das cores e intensidade luminosa.
Outro excelente elemento da peça é a luxuosa trilha sonora, a cargo do competente MARCELO ALONSO NEVES, que corresponde a trechos de alguns diálogos de três filmes em que CLINT atuou: “Um Lugar ao Sol”, “Os Deuses Vencidos” e “Julgamento em Nuremberg”. Acrescentem-se ao produto desse “garimpo” as canções “It’s All Right With Me”, de Cole Porter, na divina voz de Ella Fitzgerald, e mais “Ridin’ High”, “Night And Day” e “Too Darn Hot”, todas também interpretadas por Ella e, igualmente, compostas por Porter. Ainda faz parte da rica trilha “Plaisir D’Amour” (Tema da Mãe), de Nana Mouskuri, na voz de Rina Ketty. Um luxo de trilha sonora, muito apropriada à encenação, que cai como uma luva na construção do ambiente da peça.
Merece uma citação elogiosa FABRÍCIO POLIDO, por conta de sua
competente e ousada, no melhor sentido da palavra, direção de produção.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Alberto
Conejero López
Tradução: Fernando
Yamamoto
Direção: Fernando
Philbert
Atuação: Gustavo
Gasparani
Cenário: Natália
Lana
Figurino: Marieta
Spada
Visagismo: Márcio
Mello
Iluminação: Vilmar
Olos
Trilha Sonora: Marcelo
Alonso Neves
Programação
Visual: Mary Paz
Assessoria de
Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Participação em
áudio: Claudio Gabriel, Cesar Augusto e Isaac Bernat
Assistente de
Direção: João Sena
Cenotécnico: André
Salles
Pintor de
Arte: Paulo Ferreira
Alfaiate: Alex
Leal
Redes
Sociais: Rafael Teixeira
Operado de
Som: Thiago Tafuri
Operador de
Luz: Thiago Monte
Contrarregra e
Camareiro: Roberto Prado
Fotos: Nil
Caniné
Pré-Produção: Celso
Lemos
Direção de
Produção: Fabricio Polido
Realização: Coisas
Nossas Produções Artísticas, Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria
Municipal de Cultura e Programa de Fomento à Cultura.
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de janeiro a
12 de fevereiro de 2023.
Local: Espaço Cultural
Municipal Sergio Porto.
Endereço: Rua Humaitá, nº 163
– Humaitá – Rio de Janeiro (Entrada pela Rua Visconde Silva).
Telefone: (21)2535-3846.
Informações: (21) 2535-3846.
Dias e Horários: 6ª feira e
sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Valores do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Capacidade: 98 lugares.
Duração: 70 minutos.
Classificação: 16 Anos.
Gênero: Monólogo Dramático.
“COMO POSSO NÃO SER MONTGOMERY CLIFT?” vem
engrossar a imensa lista de ótimas estreias de espetáculos teatrais, no Rio de
Janeiro, neste início de 2023, um importante indicativo: teremos um ano teatral bastante profícuo,
para compensar as perdas que tivemos durante quase três anos.
Ratifico minha recomendação, com empenho, do espetáculo.
FOTOS: NIL CANINÉ (OFICIAIS),
RICARDO BRAJTERMAN (CONVIDADO) e “FRAMES” (CEDIDOS POR STELLA STEPHANY .)
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO.
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