sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

 LEOPOLDINA,
INDEPENDÊNCIA
E
MORTE

(A SAGA DE UMA AUSTRÍACA,
“BRASILEIRA DA GEMA”,
DE VERDADE.)




            Meu ano teatral de 2020 começou muito bem, logo com uma OBRA-PRIMA, no dia 3 de janeiro, sobre a qual não escrevi ainda e só o farei depois de tê-la assistido pela segunda vez. A crítica que passo a escrever agora é sobre outra grande OBRA-PRIMA, por coincidência, encenada no mesmo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro, em salas diferentes. Reporto-me a “LEOPOLDINA, INDEPENDÊNCIA E MORTE”, espetáculo que não pode deixar de ser visto por aqueles que amam e admiram um bom TEATRO (VER SERVIÇO.).





            Infelizmente, a imperatriz brasileira LEOPOLDINA não é muito lembrada, na História do Brasil, e, menos ainda, não atingiu, por enquanto (Será que atingirá um dia?), o grau de reconhecimento que merece, nessa mesma História, tão mal contada, nas escolas, e tão cheia de inverdades, exageros e fatos bizarros, que existiram ou não. O Brasil tem uma grande dívida de gratidão e reconhecimento para com essa mulher, que, não tendo nascido em solo brasileiro foi, sem dúvida, muito mais brasileira que muitos nativos, principalmente os que já foram ou ainda exercem alguma função de mandatários neste país, com pés de Curupira.


       
     



SINOPSE:

A peça recria três momentos da vida da arquiduquesa austríaca, que virou Imperatriz do Brasil, no século XIX, entre 1817 e 1826.

Recém-chegada da Áustria, ela relata, a uma interlocutora estrangeira, suas primeiras impressões sobre o Brasil.

LEOPOLDINA (SARA ANTUNES), agora Imperatriz, e JOSÉ BONIFÁCIO (PLÍNIO SOARES), seu principal aliado, analisam o complexo processo da Independência do Brasil, após um acerto de contas.

Por fim, num delírio, que consumiu seus últimos dias, ela relaciona sua vida, sua época e os projetos em disputa naquele momento com os dias de hoje.

A peça retrata uma Imperatriz LEOPOLDINA ainda desconhecida por parte dos brasileiros: esposa, mãe, estadista; culta e preparada, que foi além do papel que lhe cabia em seu tempo histórico, numa época em que o lugar da mulher era restrito a funções privadas.

Primeira mulher a se tornar Chefe de Estado do Brasil, teve importância decisiva no processo de independência. Foi ela que reuniu os ministros, em 02 de setembro de 1822, e decidiu pela separação de Portugal, ratificada por D. Pedro I, no famoso e oficial 07 de setembro, cinco dias depois.









            Que espetáculo fantástico! Que mulher fascinante! Como é prazeroso ir ao Teatro, para assistir a uma peça como “LEOPOLDINA, INDEPENDÊNCIA E MORTE”!

            Achei que, antes de entrar nos comentários críticos sobre o espetáculo, deveria falar um pouco a respeito da vida da personagem-título da peça. Fui atrás de uma pesquisa sobre a vida dessa grande mulher (Ainda bem que existe a Wikipédia, para facilitar a nossa vida. A grande maioria das informações históricas, aqui expostas, foram retiradas de lá, na íntegra ou com pequenas alterações.), a fim de ilustrar, um pouco mais, esta crítica, e quase me afogo em tantas informações. Tive de resumir, ao máximo, tudo o que li sobre ela e que me fizeram mais admirador, ainda, de sua personalidade. Vou transcrever o material que consta no “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), que já é muito bom, e completarei com uma parte da minha pesquisa.





“Descendente da família Habsburgo, a mais poderosa do início do século XIX, Carolina Josefa LEOPOLDINA Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena, capital da Áustria, em 22 de janeiro de 1797. Era filha do imperador Francisco I da Áustria e de Maria Teresa da Sicília. Foi a primeira imperatriz brasileira e ficou conhecida, popularmente, como D. MARIA LEOPOLDINA. 

Deixou sua terra natal, rumo ao Brasil, para se casar com Dom Pedro I, em um matrimônio arranjado, típico daquela época. 

LEOPOLDINA chegou ao Brasil com 19 anos, morreu aos 29 e engravidou nove vezes.





Articuladora e estrategista, foi responsável por ações cruciais para a política da época, mas seu grande feito, como estadista, não foi reconhecido até os dias atuais: enquanto regente interina, durante viagem de Dom Pedro a São Paulo, ela reuniu os ministros e decidiu pela independência do Brasil, no dia 02 de setembro de 1822. 

Na peça, ela clama pela autoria do momento histórico e questiona a escolha do dia 07 de setembro para sua celebração. 

Gostava de TEATRO e literatura e falava vários idiomas, além de ser botânica e mineralogista. 





Segundo Maria Rita Kehl, “D. Pedro continuava dependendo de Leopoldina; ela o orientava politicamente, comunicava-se com representantes de países estrangeiros com mais desenvoltura, falava mais línguas e era mais culta do que ele. Mas Pedro vingava-se da superioridade da esposa, desmoralizando-a como mulher". 

Conforme a paixão de Dom Pedro por Domitila de Castro se tornava pública, e a Marquesa de Santos ficava, cada vez mais, poderosa, LEOPOLDINA e o projeto político que representava foram perdendo força. Morreu, após um aborto, deixando cinco filhos, entre eles o sucessor do trono, Dom Pedro II”.





LEOPOLDINA foi arquiduquesa da Áustria, a primeira esposa do Imperador D. Pedro I Imperatriz Consorte do Império do Brasil, de 1822 até sua morte, tendo sido, ainda, brevemente, Rainha Consorte do Reino Unido de Portugal e Algarves, entre março e maio de 1826. Também foi cunhada do imperador Napoleão Bonaparte, casado com sua irmã mais velha, Maria Luísa, por interesses políticos. Por seu casamento com Pedro I e a proclamação da Independência do Brasil ela se tornou a primeira imperatriz consorte do país e a primeira imperatriz do Novo Mundo.

         Teve uma profunda e eclética educação, na infância e na adolescência, de nível cultural superior e formação política mais consistente, baseada nos princípios de seu avô, Leopoldo II, o qual acreditava “que as crianças deveriam ser, desde cedo, inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade, compaixão e desejo de fazer o povo feliz”. LEOPOLDINA aprendeu e aplicou tudo isso, em vida. Era de uma profunda e inabalável fé cristã e tinha uma sólida formação científica e cultural, que incluía política internacional e noções de governo, o que, certamente, credenciava a arquiduquesa à função de reinar.






PAULO REZZUTTI, grande historiador e autor do livro “D. Leopoldina — A história não contada: A mulher que arquitetou a Independência do Brasil”, sustenta que foi, em grande parte, graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Segundo ele, a prometida de D. Pedro “abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”. Foi, também, conselheira de D. Pedro, em importantes decisões políticas, que refletiram no futuro da nação, como o Dia do Fico e a posterior oposição e desobediência às cortes portuguesas, quanto ao retorno dela e do marido a Portugal. Consequentemente, por reger o país, em ocasião das viagens de Pedro pelas províncias brasileiras, é considerada a primeira mulher a se tornar Chefe de Estado na História do Brasil independente.
Herdou, do pai, o hábito do colecionismo: montou acervos de moedas, plantas, flores, minerais e conchas. Entre outubro e dezembro de 1816, aprendeu, rapidamente, a língua portuguesa (?), visto que, em dezembro, a princesa já conversava com diplomatas portugueses, e vivia “rodeada de mapas do Brasil e de livros que contêm a História deste Reino, ou Memórias a ele relativas”. Fazia parte da formação da família o aprendizado de línguas, e LEOPOLDINA falava 6 idiomas.




O casamento entre MARIA LEOPOLDINA Pedro de Alcântara resultava em uma aliança estratégica entre as monarquias de Portugal e Áustria. O contrato foi assinado em Viena, a 29 de novembro de 1816. O casamento, realizado por procuração, não passou, como já dito, de um ato político e não fruto de um impulso sentimental.
A viagem de LEOPOLDINA ao Brasil foi difícil e demorada. Aquela era a primeira vez que a princesa vira o mar. Enfrentou 86 dias de travessia nas águas do Atlântico.
Em sua chegada ao Rio, a austríaca teria causado espanto a todos, que esperavam uma linda princesa. Consta que tinha uma bela face e era obesa. A estética exterior não a favorecia, contrapondo-se à sua grande beleza interior. Curiosamente, todas as atrizes que a representaram, no TEATRO, na TV e no cinema, são belas figuras femininas, o que também se dá na montagem ora analisada, na pessoa de SARA ANTUNES. Era, extraordinariamente, culta, para sua época, com grande interesse pela botânica.




A princesa, antes, carente de afeto e de aprovação, rapidamente, deu lugar à mulher adulta, que encara a vida sem ilusões. Seu envolvimento com a política brasileira a levaria a desempenhar um papel fundamental na Independência, ao lado de José Bonifácio de Andrada e Silva, personagem que está presente nesta peça, interpretado por PLÍNIO SOARES.
A princesa austríaca esteve sempre do lado da causa brasileira e, em várias cartas escritas a seus amigos, na Europa, começou a fazer distinção entre portugueses e brasileiros, deixando claro o que pensava sobre a dominação portuguesa sobre a colônia. Com o retorno da corte para Portugal, LEOPOLDINA concebeu que ficar na América seria a solução para a defesa da legitimidade dinástica contra os excessos liberais que ameaçavam o poder dos Habsburgo e Bragança, no Brasil. Assim, aos 24 anos, tomou uma decisão política que a sentenciava à permanência indeterminada na América (o Dia do Fico) e a privaria, pelo restante da vida, do convívio com o pai, a irmã e outros familiares. O "Fico" dela foi anterior ao do marido.





LEOPOLDINA percebia que Portugal, dominado pelas cortes, já estava perdido e que o Brasil poderia vir a ser uma potência futura, muito mais relevante que a velha metrópole. As ordens de Portugal, se, forçosamente, cumpridas, acabariam por despedaçar o Brasil em dezenas de repúblicas, como ocorrera com as províncias espanholas, na América do Sul. Se o Príncipe Regente tivesse deixado o país naquele momento, o Brasil estaria perdido para Portugal, pois Lisboa repetia o mesmo erro que levou as cortes espanholas a perderem as colônias.
A atitude de LEOPOLDINA, defendendo os interesses brasileiros, acha-se, eloquentemente, estampada na carta que escreveu a D. Pedro, por ocasião da independência do Brasil. “É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.





Como já foi dito, grande foi sua influência no processo da nossa independência. Os brasileiros já estavam cientes de que Portugal pretendia chamar Pedro de volta, rebaixando o Brasil, outra vez, a simples colônia, em vez de um Reino Unido ao de Portugal. Pedro entregou o poder a LEOPOLDINA, a 13 de agosto de 1822, nomeando-a Chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a sua ausência, e partiu para São Paulo.



A princesa recebeu notícias de que Portugal estava preparando uma ação contra o Brasil e, sem tempo para aguardar o retorno de Pedro, L, aconselhada por José Bonifácio de Andrada e Silva e usando de seus atributos de Chefe Interina do Governo, reuniu-se, na manhã de 02 de setembro de 1822, com o Conselho de Estado, assinando o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal. A imperatriz enviou, a Pedro, uma carta, juntamente com outra, de José Bonifácio, além de comentários de Portugal, com críticas à atuação do marido. Ela exigia que Pedro proclamasse a Independência do Brasil e, na carta, adverte: "O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece".





Enquanto se aguardava o retorno de Pedro, LEOPOLDINA, governante interina de um Brasil já independente, idealizou a bandeira do Brasil, em que misturou o verde da família Bragança e o amarelo-ouro da família Habsburgo. Nada de verde, representando as matas, e amarelo, o ouro, abundantes, por aqui, à época, mais uma bobagem que é ensinada até hoje.
A ligação escandalosa do marido com Domitila, ou Titila, como ele a chamava, na intimidade, o reconhecimento público da filha bastarda de D. Pedro, com a amante, a nomeação de Domitila como dama de companhia da Imperatriz, e a viagem do casal imperial, com Titila a tiracolo, para a Bahia, no início de 1826, foram acontecimentos que deixaram a Imperatriz totalmente humilhada, abalando-a, moral e psicologicamente, no futuro.






Em carta à já citada irmã, Maria Luísa, que morava na Europa, MARIA LEOPOLDINA desabafa: “O monstro sedutor é a causa de todas as desgraças”. Solitária, isolada, devotada apenas a parir um herdeiro para o trono – o futuro Dom Pedro II nasceria em 1825 - LEOPOLDINA tornava-se, cada vez mais, depressiva. Era muita humilhação e falta de empatia, por parte do marido. Desde o início de novembro de 1826, a Imperatriz não se encontrava bem de saúde. Cólicas, vômitos, sangramentos e delírios foram frequentes nas últimas semanas de vida de LEOPOLDINA, cuja saúde definhou rapidamente.
A Imperatriz LEOPOLDINA era querida por todo o povo brasileiro, principalmente entre os mais pobres e escravos, e sua popularidade era maior e mais expressiva do que a do imperador, diga-se de passagem.




Há divergências sobre a “causa mortis” da primeira Imperatriz do Brasil. Para alguns autores, teria falecido em consequência de uma septicemia puerperal, enquanto o Imperador se encontrava no Rio Grande do Sul, aonde fora inspecionar as tropas durante a Guerra da Cisplatina. É, no entanto, muito difundida a versão de que LEOPOLDINA teria morrido em consequência das agressões desferidas contra si, durante acesso de raiva de seu marido, o Imperador, versão essa corroborada por alguns historiadores. Essa suposta causa da morte, todavia, não foi confirmada, com a exumação de seus restos mortais, quando não se verificou nenhuma fratura. A suposta agressão teria acontecido em 20 de novembro de 1826, quando assumiria a regência do país, para que Pedro pudesse viajar ao sul, a fim de tratar da guerra contra o Uruguai




Querendo demonstrar ser mentira o boato sobre suas relações extraconjugais e o clima ruim entre o casal, Pedro I resolveu que o beija-mão à Regente seria feito em sua presença, junto a Domitila de Castro Canto e Melo, sua amante, Marquesa de Santos e dama de companhia da imperatriz. LEOPOLDINA achou aquilo uma enorme humilhação: além de já ser obrigada a ter Titíla como dama de companhia, ser recebida, pela corte, junto à amante de seu marido. E afrontou Pedro, recusando-se a entrar na sala do trono. O Imperador, de gênio raivoso, tentou arrastá-la pelo palácio, agredindo-a com palavras e chutes. Acabou por comparecer ao beija-mão acompanhado, unicamente, pela Marquesa de Santos. Há que se ressaltar que não se conhece outra testemunha, no momento do fato, além dos três, e que as suspeitas sobre as agressões sofridas teriam sido levantadas pelas damas e médicos que ampararam LEOPOLDINA, na sequência daquela suposta (?) cena. Contudo, a realidade dos fatos parece não ter comprovação mesmo, no que se refere às agressões físicas.





Apesar de ser retratada como uma mulher melancólica e humilhada, com os escândalos e relações extraconjugais de D. Pedro I – representando-a como o elo frágil entre o triângulo amoroso –, a historiografia mais recente tem construído, com relação à Imperatriz MARIA LEOPOLDINA, uma imagem menos passiva na história nacional.
LEOPOLDINA procurou formas de acabar com o trabalho escravo. Em uma tentativa de mudar o tipo de mão de obra no Brasil, a Imperatriz incentivou a imigração europeia, para o país.
Entremos, agora, na análise crítica da peça.




Começo pelo brilhante texto, escrito por MARCOS DAMIGO, também responsável pela correta direção do espetáculo. É sua, também a idealização da montagem, um sonho acalentado havia 20 anos. Para dar forma a seu texto, tomou por base um “mergulho profundo na história de LEOPOLDINA, publicada em biografias, artigos e cartas – trechos das correspondências estão no texto no espetáculo. Falas de Bonifácio também foram extraídas de escritos do primeiro brasileiro a ocupar o cargo de Ministro de Estado. O historiador PAULO REZZUTTI, autor do livro ‘D. Leopoldina, a História Não Contada’, prestou consultoria histórica para a peça”. (Extraído do já referido “release”.).





            Segundo MARCOS, “o ensaio publicado pela escritora e psicanalista Maria Rita Kehl, no livro ‘Cartas de uma Imperatriz’ (Estação Liberdade), foi o estopim, para encontrar o recorte de uma história tão rica e interessante, enfatizando a transformação da princesa europeia em estadista consciente de seu tempo histórico”. E prossegue: “Queremos, também, mostrar, para o público de hoje, o projeto de um país que, infelizmente, fracassou com a sua morte [LEOPOLDINA] e o exílio de Bonifácio. Falar desse sonho, de quando o Brasil se tornava uma nação independente, é importante para nós, principalmente neste momento em que parecemos ter que negociar pressupostos muito básicos dos entendimentos sobre a vida em sociedade”.





           O dramaturgo utiliza uma narrativa clara, em linguagem apurada, porém de acesso a qualquer tipo de espectador, mostrando, com detalhes, diretamente ou nas entrelinhas, todos os traços positivos da Imperatriz, que não eram poucos. Apesar de ter vivido a experiência de esposa do Príncipe Regente do Brasil por apenas 10 anos, e tudo o que adveio desse relacionamento, havia muito a ser contado, sobre esse período dessa incrível mulher, e tudo isso está muito bem condensado e explicitado, no texto de DAMIGO, um apaixonado pela História do Brasil, como fonte de criação artística, o que revelou, em grande estilo, ao conceber a escritura do texto de “LEOPOLDINA, INDEPENDÊNCIA E MORTE”. Nasceu dramaturgo, já ganhando um prêmio, com o texto da peça “Cabra”, sobre a "Guerra de Canudos, e tem tudo para repetir o feito, pela peça ora analisada. Há, no texto, um didatismo informal, muito agradável de se ouvir, o que significa dizer uma transmissão de conhecimento, de forma teatral, confessional, com a utilização de uma técnica de que se apodera o bom dramaturgo, para contar uma boa história.




        Talvez possa passar ao largo, para alguns, o interessante título da peça, que encerra uma ambiguidade, estabelecida pelo uso da conjunção aditiva “E” e do vocábulo “INDEPENDÊNCIA”. Todos conhecem o que teria bradado o Imperador, do alto de seu garboso cavalo, ao sacar sua espada, às margens do riacho Ipiranga (história da Carochinha), para selar, segundo os livros, o momento de separação do Brasil de Portugal: “Independência OU morte!”. Com ele, ficava bem claro que D. Pedro I estava disposto a sacrificar a sua própria vida, e a dos brasileiros, pela independência. O título da peça fala em “INDEPENDÊNCIA E MORTE”. O “E” indica que serão tratados dois momentos: o da Independência do Brasil e da morte da protagonista. Nada de errado nessa compreensão. Ocorre, porém, que o vocábulo “INDEPENDÊNCIA”, além do fato histórico, pode, também, referir-se a uma outra leitura, que seria o fato de LEOPOLDINA tomar decisões importantíssimas, independentemente de terceiros, principalmente do marido, e, também, ter uma certa ligação com o fato de ela própria ter atingido uma espécie de “liberdade”, com sua morte, livrando-se do jugo e das humilhações a que estava submetida, durante os 10 anos de Brasil. Se não foi essa a intenção de MARCOS DAMIGO, creio que não deva eu ser acusado de dono de uma imaginação fértil. TEATRO existe para isso mesmo: provocar, provocar, provocar... ...reflexões.





       O elenco é formado por apenas uma atriz, em papel protagonista, e um ator, em papel coadjuvante, mas é como se o casal enchesse, ocupasse todo o espaço cênico, coalhado de atores, como ocorre na grande maioria de um musical, tal é o domínio de cena de ambos e a força de seus trabalhos.

        Com relação a SARA ANTUNES, pelo fato de ter sua base laboral fixada em São Paulo, pouco a conhecia, no seu ofício, entretanto sua brilhante atuação, como LEOPOLDINA, basta, para que eu a coloque no mesmo patamar em que se encontram grandes atrizes do TEATRO BRASILEIRO. De todas as que já vi interpretando a personagem, cada uma com suas peculiaridades, SARA me pareceu representar a que mais se aproxima da forma como LEOPOLDINA me foi apresentada, e não como a maioria dos livros nos retrata a personalidade da Imperatriz. Tem um total domínio de palco, visto que, na grande parte dos 80 minutos de duração da peça, ela se encontra só, em cena, se considerarmos que a magnífica musicista ANA ELIZA COLOMAR, que faz fundos musicais para as cenas, se encontra fora dos focos e representa uma interlocutora que não fala, apesar de agir, por meio de um belíssimo trabalho com as canções que formam a “moldura das cenas”.







        SARA ANTUNES sabe dosar a emoção, oscilando entre a doçura e a resignação da personagem até seus poucos momentos – no final, principalmente – de impulsos de revolta e não-aceitação das humilhações a que é submetida pelo marido. Um grito, ou melhor, um brado, não o da “Independência”, mas de “BRAVA”, pela atuação de SARA ANTUNES!!!

            Assumindo a discrição de seu personagem, ainda que muito importante na trama, JOSÉ BONIFÁCIO, PLÍNIO SOARES, também em atuações um pouco bissextas, no Rio de Janeiro, se apresenta de forma comedida, com seria de se esperar, acertando em todas as suas intervenções. Um personagem coadjuvantenão o atorde luxo, status este atingido, graças ao talento do ator.








         Os elementos de criação artística e técnicos colaboram, totalmente, com a beleza do espetáculo. São um grande ponto de apoio para a montagem, a começar pelo cenário, de RENATO BOLELLI REBOUÇAS, o qual não se utiliza de muitos elementos cênicos; apenas o suficiente para criar uma ambientação adequada à encenação, com destaque para as dezenas de vasos com plantas e flores, que vão sendo realocados, no palco, em posições diferentes, no decorrer do espetáculo.





            O espectador deve prestar atenção ao “diálogo” que há entre a cenografia e o belo desenho de luz, este assinado por ALINE SANTINI. A iluminação, aliada ao cenário, não só atribui relevo a este como cria interessantes e belos efeitos visuais.

            Fugindo a uma, talvez, expectativa, por parte dos que se propõem a assistir à peça, como eu, inclusive, os figurinos, desenhados por CÁSSIO BRASIL, não trazem nenhum toque de grande exuberância, o que, penso eu, não fazia parte mesmo da personalidade de LEOPOLDINA, mas são todos de muito bom gosto e fino trato, adequados aos personagens.

       Acho que não consigo imaginar esta montagem sem a valiosíssima participação de ANA ELIZA COLOMAR, sublinhando, no palco, mas fora dos focos, as cenas, com o agradabilíssimo som de sua flauta e de seu cello. Uma presença indispensável ao espetáculo. ANA ELIZA e NIVALDO GODOY JÚNIOR são os responsáveis pela bela trilha sonora da peça.










FICHA TÉCNICA:

Texto, Direção e Idealização: Marcos Damigo
Codireção: Lucas Brandão
Assistente de Direção: Laura Salerno

Elenco: Sara Antunes e Plínio Soares

Música ao vivo (flauta e cello): Ana Eliza Colomar

Colaboração Artística: Fabiana Gugli, Tarina Quelho e Joca Andreazza
Cenário: Renato Bolelli Rebouças
Assistente de Cenografia: Amanda Vieira
Figurino: Cássio Brasil
Assistente de Figurinos: Daniela Tocci
Trilha Sonora: Ana Eliza Colomar e Nivaldo Godoy Júnior
Desenho de Luz: Aline Santini
Consultor Histórico: Paulo Rezzutti
Artes Visuais: Priscila Lopes
Design Gráfico: Ramon Ribeiro
Foto Divulgação: Victor Iemini, Lorena Zschaber e Maíra Barillo
Vídeo: João F. Maciel
Comunicação: Agência Fervo - Priscila Cotta 
Produção Local RJ: Reprodutora
Produção Executiva RJ: Gabriel Bortolini
Coordenador de Produção RJ: Luiz Schiavinato Valente
Operação de Luz e Projeção RJ: Lara Cunha
Contrarregra e Camareira RJ: Sônia Oliveira
Direção de Produção: Fernanda Moura
Assistente de Produção: Fernanda Ramos
Assessoria Administrativa e Jurídica: Mariana de Castro 
Assistente Contábil: Anna Laura 
Contabilidade: Andrade & Associados
Assistente Contábil: Anna Laura Soeira
Produção e Administração: Palimpsesto Produções Artísticas - Fernanda Moura
Patrocínio: Banco Do Brasil
Realização: Centro Cultural Do Banco Do Brasil 
Assessoria de Imprensa RJ: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany










SERVIÇO:

Temporada: De 08 de janeiro a 23 de fevereiro de 2020 (Haverá sessões durante o carnaval, nos dias 22 e 23, sábado e domingo de carnaval, respectivamente.).
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Teatro I.
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Candelária – Centro – Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: De 4ª feira a domingo, sempre às 19h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia entrada e clientes e funcionários do Banco do Brasil).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 4ª feira a 2 feira, das 9h às 21h.
Vendas pela internet: www.eventim.com.br
Capacidade: 172 Lugares.
Duração: 80 minutos.
Classificação Indicativa: 12 anos.
Gênero: Drama Histórico .









      “LEOPOLDINA, INDEPENDÊNCIA E MORTE” chegou ao Rio de Janeiro, após temporadas de sucesso, no CCBB de São Paulo, em 2018 e 2019, e em Belo Horizonte, em 2019.

Acho que, como a grande maioria dos brasileiros, eu também não valorizava LEOPOLDINA, o que, convenhamos, acaba não sendo culpa nossa, e sim de quem nos ocultou, e ainda oculta, o quanto essa mulher representou na nossa História e seu real papel, no episódio da Independência do Brasil, um dos nossos mais controvertidos fatos históricos. É bem verdade, sim, que há historiadores – parece-me que o número vem aumentando – que, por merecimento, atribuem a ela o seu papel de destaque, durante o pouco tempo que viveu em nosso país, ao lado do marido, o Imperador D. Pedro I.







Tenho uma grande e querida amiga, professora e historiadora, Marisa Sá, a qual, por conhecer, a fundo, a vida de LEOPOLDINA, tem por ela uma fiel veneração, claramente demonstrada nas conversas que sempre tem comigo. Quando, em 2006, Miguel Falabella e Josimar Carneiro nos presentearam com um dos melhores musicais brasileiros de todos os tempos, uma verdadeira OBRA-PRIMA, “Império”, grande sucesso de público e de crítica, espetáculo ao qual assisti quase duas dezenas de vezes e ao qual levei centenas de alunos, Marisa, que também viu o musical algumas vezes, me falou, com grande empolgação, sobre a protagonista da peça aqui analisada. A personagem, lá, vivida, brilhantemente, pela grande cantriz Ester Elias, era cativante e ganhava a simpatia e a empatia do público, por tudo o que de ruim passou e suportou, no Brasil, longe de sua terra e de sua cultura, ao lado de um homem que não a valorizava e, pior ainda, trocava aquele modelo de mulher e esposa por aventuras com prostitutas, aventureiras e aproveitadoras. De lá para cá, passei a, também, fazer parte do clube dos fãs da Imperatriz LEOPOLDINA, fortificado, agora, depois de ter assistido ao espetáculo em tela.

Aconselho-os a assistir, o mais rápido possível, a esta linda e emocionante montagem teatral!!!







(FOTOS: VICTOR IEMINI,
LORENA ZSCHABER
MAÍRA BARILLO.)



(GALERIA PARTICULAR):







           


E VAMOS AO TEATRO!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!


RESISTAMOS!!!


COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!
























































































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