terça-feira, 7 de janeiro de 2020

SUELEN
NARA
IAN

(TEATRO INFANTOJUVENIL 
MADURO, FUNDAMENTAL
E DE UTILIDADE PÚBLICA.)



            Para mim, o ano teatral de 2020 só iniciou, oficialmente, no dia 3 de janeiro, porém a primeira crítica do ano vai para um espetáculo infantojuvenil, que começou sua longa temporada – coisa rara, nos dias atuais – em 12 de outubro de 2019, “Dia das Crianças”, e só fechará as cortinas no dia 26 de janeiro do ano em curso, embora, devido ao grande sucesso de público e de crítica, haja uma possibilidade de emplacar uma segunda temporada. Trata-se do interessantíssimo “SUELEN NARA IAN”, em cartaz no Teatro dos 4 (VER SERVIÇO.)







             Não escrevi sobre a peça, quando a ela assisti, no início de dezembro, embora muito o merecesse, por total falta de tempo e acúmulo de trabalho, na época. Faço-o agora, com o maior prazer, depois de tê-la revisto no último sábado, dia 4 de janeiro, agora com uma belíssima substituição no elenco, sobre o que falarei adiante.




            É a estreia da talentosa atriz LUÍSA ARRAES, como dramaturga, em texto totalmente original, ganhando a montagem a luxuosa assinatura de outra grande atriz, aqui, como diretora: DÉBORA LAMM. Excelente texto, ótima direção e um elenco afinadíssimo: (por ordem alfabética) EDUARDO RIOS (substituído, pós-recesso de fim de ano, por VINÍCIUS TEIXEIRA), JOANA CASTRO, LUÍSA VIANNA, ROSE LIMA e ZÉU BRITO.











SINOPSE:

“SUELEN NARA IAN” fala sobre novas formações familiares, sob a ótica infantil.

SUELEN (JOANA CASTRO) e NARA (LUÍSA VIANNA) são irmãs, de pais separados, as quais têm as suas vidas modificadas, quando o pai, MARCOS (ZÉU BRITO), decide morar junto com a namorada, CARMEN (ROSE LIMA), que também tem um filho, único, IAN (EDUARDO RIOS / VINÍCIUS TEIXEIRA).

Logo de início, as três crianças não gostam da ideia, não concordam com ela e resolvem procurar um outro lugar para morar.

Eles vivem grandes aventuras, juntos, e, no caminho, descobrem que família pode ser muito diversa.









Embora a sinopse, como deve mesmo ser, resuma o enredo da peça, creio ser necessário complementar o texto com outras informações sobre a história,  jogar muita luz sobre o fato de, e principalmente, como um espetáculo infantojuvenil, a peça “dar voz e representatividade para as crianças, ao falar sobre novas formações familiares” (Extraído do “release”, enviado por FLÁVIA MOTTA – MNIEMEYER ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO), um tema tão atual e importante, infelizmente, ainda, um grande tabu, creio que numa grande faixa da população brasileira, que insiste em ter estabelecido, convencionalmente, que uma "família" só pode ser constituída por um homem e uma mulher (um pai e uma mãe), casados, “no papel”, os quais têm filhos, gerados, “obrigatoriamente”, por amor.






De todo esse “conceito”, arcaico, burro, errado e preconceituoso, o único vocábulo que se aproveita é “amor”. Este, sim, é o que não pode faltar na constituição de uma verdadeira família, seja ela formada como for: por dois pais, por duas mães, por um pai ou uma mãe apenas, por pais separados, pais adotivos, unidos, legalmente ou não, sem falar em outras configurações, com ou sem consanguinidade. São todas famílias, quando há “amor” e, já ia me esquecendo, respeito mútuo. E mais ainda, e da maior importância: ninguém escolhe nascer nesta ou naquela família. Família não é aquela na qual se foi gerado, mas aquela que a gente escolhe e aceita.






LUÍSA ARRAES foi felicíssima na escolha do tema e na maneira como o conduziu, através da construção de um texto leve e divertido e, ao mesmo tempo, profundo, motivador de muitas reflexões, para os miúdos e os graúdos. Sem perder o tom do humor fino, sutilmente, mas não nas entrelinhas, e sim de uma forma direta, por meio e diálogos muito bem costurados, a autora vai tocando nas feridas, naquilo que ainda incomoda tanta gente, quando o assunto é “família”. Por que não aceitar o outro com membro de uma nova família, numa nova estética familiar? Por que não enxergar as diversas formas de amar, expressões desenvolvidas de acordo com a capacidade e o modo de ser de cada um? Por que não pode haver harmonia entre as pessoas que já constituíram uma família anteriormente, a qual, por motivos vários, foi desfeita, acabou, como tudo pode acabar um dia? 






Talvez LUÍSA, embora saiba da importância e da aceitação da sua peça, não tenha chegado, ainda, à percepção exata de quão importante é a discussão que ela propõe, com o seu magnífico texto, principalmente no momento atual. É interessante notar que o que parece, à primeira vista, um “erro”, no título da peça, é, na verdade, algo proposital: não há, como seria de se esperar, a presença de uma vírgula e de uma conjunção aditiva: “SUELEN, NARA E IAN”. Os nomes das três crianças, ligados sem elementos intermediários, sugerem unicidade. Três em um; um por todos e todos por um; um sendo todos e todos sendo um. Uma família!!!




O que se vê, no palco, acontece muito próximo a nós, e com bastante frequência, cada vez mais. “Toda criança conhece alguém que tem pais separados, mas isso ainda não é retratado nas histórias infantis.” (LUÍSA ARRAES)




Situação: pais, separados de seus cônjuges, encontram novos parceiros, novos amores e se permitem a felicidade; e decidem morar juntos. Inconformados com a reconfiguração familiar, os filhos dos membros desse novo casal, via de regra, refutam a figura do padrasto, da madrasta e de meios-irmãos. Na nossa história, SUELEN, NARA e IAN, os quais “não se bicavam”, a princípio, se unem, para o que poderia ser considerada uma “vingancinha” contra os pais, “que não poderiam estar fazendo aquilo com eles”. Então, os três resolvem fugir, juntos, para a Terra do Nunca, uma terra de “órfãos, sem pai nem mãe” (Queriam, na verdade, numa atitude de total rebeldia, fugir dos seus.), diferente da original, em “Peter Pan”, de J.M. Barrie, uma ilha que abrigava os meninos perdidos. No caminho, eles vivem várias aventuras e acabam descobrindo que a família pode ser muito diversa. E feliz. E como!!!




É total a aceitação e a participação da plateia. Refiro-me às crianças e a seus pais ou acompanhantes, adultos. No caso das crianças, percebe-se que muitas delas se identificam com os três protagonistas, pois vivem em famílias não-convencionais, e interagem, ativamente, durante um pouco mais de uma hora de espetáculo, o que foge ao padrão de tempo dos espetáculos para crianças e adolescentes, porém não é motivo para que se perca o interesse pela narrativa. Muito pelo contrário: o tempo passa, o espectador não percebe e não consegue se distanciar do que está acontecendo no palco. Isso é um fato, até certo ponto, bastante raro, em espetáculos do nicho infantojuvenil.






Na direção, DÉBORA LAMM esbanjou talento, não poupando sua criatividade, na resolução das cenas, assim como conduziu o elenco de forma correta, não permitindo que os personagens caíssem no tom caricaturesco, um problema seriíssimo nos espetáculos para o público infantojuvenil. São excelentes as marcações e o ritmo que ela empreendeu ao espetáculo, que ganha muito, em movimentação, com o trabalho de direção corporal e coreografia, assinado por AMÁLIA LIMA, e as canções, compostas por MATHEUS TORREÃO, cantadas, ao vivo, pelo elenco, contando com a participação, no palco, do multiistrumentista ANDRÉ SIGAUD, todos obedecendo à correta direção musical de RICCO VIANA.




O elenco parece ter sido escolhido a dedo. Cada ator/atriz está completamente à vontade, confortável, na interpretação de seus personagens, sendo que ZÉU BRITTO e ROSE LIMA, ambos ótimos, que representam os pais, também aparecem em outros personagens coadjuvantes. E, no momento em que, por motivo que desconheço, houve a necessidade de se buscar um ator que substituísse EDUARDO RIOS, o qual fazia um excelente IAN, foi convidado VINÍCIUS TEIXEIRA, que não faz por menos; ambos se equivalem, potencialmente, na pele do personagem “fofo”, um menino introvertido e muito sensível, provavelmente por ser filho único, com alguma dificuldade de estar em grupo e que se intimida muito fácil, além de não saber fazer perguntas, fruto, certamente, da timidez, a despeito de conseguir ser carinhoso e estar sempre se preocupando com o bem-estar do outro. 








As duas irmãs são bem diferentes, uma da outra, ambas representadas com uma riqueza ímpar. Enquanto SUELEN é uma menina questionadora, autêntica e corajosa, espevitadinha, que, desde pequena, já desafia as estruturas e pensa na própria independência, NARA é aquela que sabe de tudo, tenta ser racional e ponderada, entretanto, na verdade, tem inseguranças e medos, como todos os outros. Ao longo da peça, ela entende que nem tudo tem uma resposta imediata.








Quanto aos elementos técnicos, vale menção o simples e significativo cenário, de LÍDIA KOSOVSKI, com pouquíssimos elementos em cena, concentrados (e muito bem representados) na (pela) fachada de uma casa, formada por duas metades soltas, a qual desliza sobre um trilho, simbolizando o rompimento das relações conjugais e a construção de uma outra. Uma ideia metafórica muito original, sem dúvida. Além disso, a partir de um determinado momento, entra em cena um painel, que toma todo o fundo do palco, o qual, em outra parte, é substituído por uma simulação de um céu estrelado. A utilização de um varal, que sobe e desce, manipulado pelos atores, no qual são afixados elementos que sugerem muitas coisas, incluindo uma tela de TV, computador ou celular, também merece destaque. 








São deveras interessantes os lúdicos, alegres e coloridos figurinos, criados por CAO ALBUQUERQUE e SÔNIA TOMÉ




O desenho de luz, idealizado e construído por ANA LUZIA DE SIMONI, produz efeitos interessantes e enriquecedores para as cenas, abusando de uma paleta bem colorida.









FICHA TÉCNICA:

Texto: Luísa Arraes
Direção: Débora Lamm
Diretora Assistente: Luísa Arraes
Assistente de Direção: Kakau Berredo

Elenco (por ordem alfabética): Eduardo Rios (Ian), Joana Castro (Suelen), Luísa Vianna (Nara), Rose lima (Mãe), Vinícius Teixeira (Ian) e Zéu Britto (Pai)

Músico em Cena: André Sigaud

Direção Musical: Ricco Viana
Canções: Matheus Torreão
Cenário: Lídia Kosovski
Figurino: Cao Albuquerque e Sônia Tomé
Desenho de Luz: Ana Luzia de Simoni
Direção Corporal e Coreografia: Amália Lima
Preparadora Vocal: Sônia Dumont
“Design” e Ilustrações: Omar Salomão
Adaptação de “Design”: Leonardo Pires
Visagista: Josef Chasilew
Fotos: Guto Costa e Lorena Zschaber
Assessoria de Imprensa: MNiemeyer Assessoria de Comunicação
“Marketing” Cultural: Inova Brand
Mídias Sociais: Locomotive
Vídeos: Chamon Audiovisual
Assistente de Produção: Ariel Batista
Produção Executiva: Thaís Trinxet
Direção de Produção: Tatiana Trinxet
Realização: Constelar – Arte, Diversão e Cultura.












SERVIÇO:

Temporada: De 12 de outubro de 2019 a 26 de fevereiro de 2020.
Local: Teatro dos 4.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 54 – Gávea – Rio de Janeiro (Shopping da Gávea – 2º piso).
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 17h.
Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada).
Indicação Etária: Livre.
Gênero: Teatro Infantojuvenil.








Não tenho a menor dúvida em dizer que, durante a temporada teatral de 2019apenas três espetáculos infantojuvenis me tocaram fundo, me emocionaram e me divertiram tanto, e com um nível de produção tão excelente. Parabéns, TATIANA TRINXET, pelo cuidado com o teatro infantojuvenil, ao qual poucos dão o valor merecido! “SUELEN NARA IAN” é um deles, dos que me marcaram, em 2019, e, indubitavelmente, é um espetáculo para toda a famíliapara qualquer tipo de família, e merece, por isso, a minha recomendação com todo o eu entusiasmo e alegria.












(FOTOS: GUTO COSTA
e
 LORENA ZSCHABER.)

(OBSERVAÇÃO: Infelizmente, só há uma foto, abaixo, do ator VINÍCIUS TEIXEIRA, pois as de cena, com ele, ainda não foram feitas. Tão logo eu as tenha, adicioná-las-ei a esta crítica.)





E VAMOS AO TEATRO!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!


RESISTAMOS!!!


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TEATRO BRASILEIRO!!!

















































































































































































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