O PRÍNCIPE POEIRA
E A FLOR
DA COR
DO CORAÇÃO
(UMA “OUSADA” MONTAGEM
PARA O PÚBLICO
INFANTOJUVENIL.
ou
DE COMO SE TRATAR DE
TABUS,
PARA AS CRIANÇAS,
DE FORMA LEVE E
POÉTICA.)
Até queria, mas não posso escrever sobre todas as peças
a que assisto e das quais gosto, por falta total de tempo, uma vez que vejo uma
média de seis por semana, quase sempre mais do que isso. Também não
tenho o hábito de escrever sobre espetáculos infantojuvenis, a não ser
quando eles me encantam muito, o que, infelizmente, é muito raro. E, também, não
é porque não o mereçam ou, menos ainda, porque não os considere
importantíssimos – muito pelo contrário -, mas precisaria de que o meu
dia tivesse, no mínimo, o dobro de horas e eu não fizesse outra coisa na vida,
que não fosse escrever críticas sobre TEATRO. Não consegui, porém, resistir a escrever sobre
“O PRÍNCIPE POEIRA E A FLOR DA COR DO CORAÇÃO”, em cartaz no Centro Cultural
OI Futuro, antigo Oi Futuro Flamengo (VER SERVIÇO).
Trata-se de uma “ousada” montagem, levando-se em
consideração as trevas em que estamos mergulhados, sob um patrulhamento e uma
orquestrada perseguição à classe artística, por parte dos (DES)governos,
federal, estadual e municipal. Acharam por bem nos demonizar, mas continuaremos
resistindo, mostrando a competência e a coragem do artista brasileiro,
principalmente os ligados ao TEATRO.
Segundo o “release”, enviado por SILVANA E. S. CARDOSO
(PASSARIM COMUNICAÇÃO), a “Montagem de SAULO SISNANDO aborda temas
atuais e importantes, como o amor, a morte, a amizade, a tolerância e a
diversidade”. Isso voltado para o público
infantojuvenil. Parece uma loucura, uma leviandade, algo impossível ou sei
lá o quê, entretanto isso pode acontecer, sim, num palco, utilizando-se a
linguagem do TEATRO INFANTOJUVENIL: chegar bem perto do coração de cada
espectador, de qualquer idade, e emocioná-lo muito.
SINOPSE:
CANIÇO (DANIEL DIAS DA SILVA) tem 12 anos e acabou
de descobrir o amor.
ROSA (AMANDA MELO) é uma garotinha muito
romântica, que exige uma flor – uma rosa vermelha – da cor do coração, para que
o seu possa ser conquistado.
POEIRA (FABRÍCIO POLIDO), o menino-príncipe,
está noivo de uma andorinha amarela, depois de um noivado anterior, com um
graveto. Usa um gorro, o qual, com o decorrer do espetáculo, revela algo muito
importante, na peça.
O “...PRÍNCIPE POEIRA...” aborda
a importância de sermos diferentes, trazendo à tona temas como tolerância,
amizade, saudade e, principalmente, a necessidade de amar.
Na história, há, ainda, lugar para a PROFESSORA
e a ANDORINHA AMARELA (NEDIRA CAMPOS).
O espetáculo, cuja montagem
é de muito bom gosto e cuidado, fruto de um projeto que já vinha
amadurecendo, fazia três anos, traz um ótimo texto, escrito pelo dramaturgo
e, também, diretor desta encenação, SAULO SISNANDO,
numa idealização do ator MARCELO NOGUEIRA “e aborda, de
forma lúdica e com sutileza, temas importantes da atualidade. Amor, morte,
amizade, tolerância e diversidade de gênero são os dilemas vividos por três
amigos, em uma escola, além das dificuldades impostas pela professora, linha
dura, em sala de aula.”, como está no “release” acima
mencionado.
A peça tem como fonte de inspiração dois
contos do grande escritor e dramaturgo inglês OSCAR WILDE: “O Príncipe Feliz” e “O
Rouxinol e a Rosa”, os quais servem, e muito, para a discussão de temas tão
atuais e sensíveis. O texto da peça ganhou o prêmio de “Melhor
Dramaturgia”, do Prêmio Literário da Fundação Cultural do Estado do Pará,
edição 2016 e seu autor bebeu na fonte da “clássica obra
teatral, de Naum Alves de Souza, “A Aurora da Minha Vida”, que, em plena
ditadura militar, utilizou personagens infantis e o ambiente escolar, para
discutir paradigmas”.
A propósito, com respeito ao aspecto “político”, digamos, que se pode
perceber no texto, no que diz respeito ao que representa a escola, na
peça de Naum, com a qual há uma correlação, nesta, vou me valer de
algumas informações, a mim passadas pelo idealizador do projeto, MARCELO
NOGUEIRA, as quais, na verdade, são observações do dramaturgo e diretor.
Propositalmente, a PROFESSORA, “linha dura” não tem nome,
na peça, uma vez que representa a própria instituição “escola”,
numa visão do passado, que, infelizmente, ainda hoje, alguns defendem. A PROFESSORA
é “fruto dessa escola que aprisiona, além de ser uma referência direta à
peça “Aurora da Minha Vida”, na qual todos os professores eram anônimos”.
Era uma “instituição opressora, em que os professores eram distantes e
temidos”. A personagem da peça “não é uma
professora nominada, real, que tem intimidade com os alunos e os inspira a
sonhar. Ela é fruto da própria escola que defende”.
Sem querer dar nenhum “spoiler”, chamo a atenção de quem
for assistir à peça, ou dos que já tiveram esse prazer, para os figurinos
da PROFESSORA e da ANDORINHA AMARELA, ambas vividas, não por
acaso, pela mesma atriz. Infelizmente, terei de parar por aqui, para não
lhes roubar o prazer de chegar às suas conclusões.
Um dos maiores aspectos de valorização desta montagem está no
fato de que, embora seja feita com uma arquitetura dramatúrgica voltada
ao público infantojuvenil, ela também fala aos corações dos adultos. E mais
interessante ainda é a perspectiva de que temas tão áridos, delicados e
polêmicos, como a morte e a tolerância, incluindo, aí, a de gênero,
possam ser tratados de uma forma tão leve e poética, sutil e respeitosa,
levando em conta a idade do público-alvo, chamando-lhes a atenção, dentro da
capacidade de cada um, para a necessidade de reflexões sobre diversidade
e inclusão.
Dessa forma, por que um menino não pode se apaixonar por um graveto, por
uma ANDORINHA AMARELA ou por outro menino? Nos dois primeiros casos,
ninguém fica chocado; no máximo, pensam que se trata de um “maluquinho”,
sonhador. No terceiro exemplo, porém, é que, aparentemente, adentra-se num tema
“impróprio”, para uma criança. Ocorre que a paixão, aqui, se dá num nível de um
ser humano por outro, sem nenhuma conotação sexual, homoafetiva. É, tão somente,
uma chamada de atenção para que o amor está acima de tudo e deve ser
cultivado, sempre, e com respeito, em todos os sentidos e de todas as
formas, seja por um ser da mesma espécie, seja pelo mais inusitado ente. É
o amor, acima de tudo. O amor, que salva, que perdoa, que promove a tolerância
e a inclusão. O amor. O amor. O amor... Maior
dos sentimentos humanos. “O amor tem feito coisas / De que, até mesmo,
Deus duvida. / Já curou desenganados, / Já fechou tanta ferida.” (“Iluminados”
- Ivan Lins e Vítor Martins.).
A beleza do texto está na sua simplicidade, nos diálogos de fácil
acesso, do ponto de vista denotativo, porém abrindo espaço para que os adultos
possam percebê-lo de outra forma, por meio de metáforas e sugestões, fora do
alcance dos pequenos. Os dois tipos de público saem ganhando. Além disso, é um texto
que faz uso do humor, o bom humor, inteligente, para destacar os assuntos que,
sob outra ótica e apresentação, não são bons detonadores de risos. Aliás, nem
um pouco. Por falar nisso, não me lembro de ter visto o tema “morte”
retratado de forma tão leve e poética num espetáculo para os miúdos,
como dizem os irmãos lusitanos.
Considero muito importante que, em peças para o público
infantojuvenil, se fuja dos temas triviais e que mereçam relevo questões como a
importância da amizade, os pais separados, o amor fraterno,
a importância da escola, a descoberta do primeiro amor... Tudo de
forma bem acessível ao nível, das crianças e pré-adolescentes, de compreensão
do mundo, como se vê neste espetáculo.
Foi muito feliz SAULO SISNANDO, na junção e adaptação dos dois
contos, na escritura do texto e na direção do espetáculo,
privilegiando o aspecto lúdico e de beleza plástica que deve haver em toda montagem
para o nicho de público a que se destina. E isso também acaba agradando aos
adultos.
Já de algum tempo, a música passou a ser um elemento quase
obrigatório nessas montagens e, aqui, ela também se faz presente, com canções
originais, de ROBERTO BAHAL, que ajudam a contar a história e
colaboram bastante para que o espetáculo seja alegre, movimentado e divertido.
Percebe-se, sem muita dificuldade, que a encenação é modesta, em termos
de custo, porém nem por isso abre mão da qualidade. Bom gosto e criatividade
superam a falta de recursos financeiros. Por conta disso, KARLLA DE LUCA
assina a cenografia e os figurinos, e a iluminação fica a
cargo da dupla FERNANDA e TIAGO MANTOVANI. A ELÉONORE GUISNET,
coube o trabalho de preparação corporal (direção de movimento), e a vocal
foi executada por MARCELO NOGUEIRA. Tudo isso, reunido, funciona muito
bem, a contento.
Quanto ao elenco, três
profissionais com bastante experiência de palco, cujos trabalhos admiro
bastante, e uma "novata", “descoberta” do idealizador do projeto.
Aqueles são FABRÍCIO POLIDO, DANIEL DIAS DA SILVA e NEDIRA CAMPOS;
esta, AMANDA MELO. O quarteto não dá margem a nenhum comentário
negativo; ao contrário, cada um forjou seu personagem (No caso de NEDIRA,
dois.), exatamente, como deveriam ser, sem exageros e apelações, respeitando o
nível mental do público infantojuvenil.
Na direção de produção,
“segurando todos os pepinos e dando conta deles”, a sempre competente CACAU
GONDOMAR, ao lado de MARCELO NOGUEIRA.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Saulo Sisnando
Idealização: Marcelo Nogueira
Elenco (por ordem alfabética): Amanda
Melo, Daniel Dias da Silva, Fabrício Polido e Nedira Campos
Direção de Movimento: Eléonore Guisnet
Cenário e Figurinos: Karlla de Luca
Trilha Sonora Original: Roberto Bahal
Iluminação: Fernanda e Tiago Mantovani
Preparação Vocal: Marcelo Nogueira
Fotos: Lúcio Luna (Fotos de Estúdio) e Luciana Mesquita (Fotos de cena.)
Programação Visual: Bruno Dante
Redes Sociais: Luciana Mesquita
Contrarregra: Felipe Pipo
Camareiro: José Roberto Prado
Operador de Luz: Fernanda Mantovani
Operador de Som: Thiago Tafuri
Tradução em Libras: Jadson Abraão - JDL
Traduções
Assessoria de Imprensa: Silvana Cardoso
do E. Santo (Passarim Comunicação)
Direção de Produção: Cacau Gondomar e
Marcelo Nogueira
Realização: ARTE MESTRA PRODUÇÕES
SERVIÇO:
Temporada: De 22 de junho a 11 de
agosto de 2019.
Local: Centro Cultural Oi Futuro.
Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 –
Flamengo – Rio de Janeiro (Próximo à estação Largo do Machado – Metrô.)
Dias e Horários: Sábados e domingos, às
16h.
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e
R$10,00 (meia entrada).
Capacidade: 63 lugares.
Classificação: Livre (Indicado para
crianças a partir de 8 anos.).
Duração: 60 minutos.
Gênero: Teatro Infantojuvenil.
SESSÕES COM TRADUÇÃO EM LIBRAS: Sempre
aos domingos - 23 e 30/06; 07, 14, 21 e 28/07; e 04 e 11/08.
MESA DE DEBATE SOBRE DIVERSIDADE: Tema: “Questões de gênero e sexualidade: realidades e perspectivas”: 10/08,
sábado, das 14h às 15h30.
Local: Centro Cultural Oi Futuro.
“O PRÍNCIPE POEIRA E
A FLOR DA COR DO CORAÇÃO” é, acima de tudo, uma obra que fala, com simplicidade,
sobre a importância do amor e busca, nesta montagem, trazer, para o público -
jovens, crianças e adultos – o discurso de Oscar Wilde, quando afirmou que: ‘A
consciência de amar e ser amado traz um conforto e riqueza à vida, que nada mais
consegue trazer’”.
Não
é preciso dizer que recomendo muito este espetáculo e que, como é de praxe, sempre que gosto muito de um, já estou me
programando para revê-lo, muito em breve.
E
VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A
ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
(FOTOS: LÚCIO LUNA
e
LUCIANA MESQUITA.)
e
LUCIANA MESQUITA.)
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