ESTADO
DE
SÍTIO
(É “OBRA-PRIMA” QUE SE
DIZ,
NÃO É?
NÃO É?
ou
Gostando muito de TEATRO ou não, a pessoa que
assiste, pela primeira vez, a um espetáculo com a assinatura de GABRIEL
VILLELA apaixona-se por ele, pelo seu TEATRO, torna-se fã
incondicional e nunca mais, a partir de então, deixa de assistir a uma de suas encenações.
Não falo só por mim, um confesso viciado (na), carente e dependente da arte e
do talento deste grandioso artista; é o que, também, me confidenciam as
pessoas, quando o nome de GABRIEL entra nas rodas de conversa. Ele é
dono de um dos mais extensos e ricos currículos de alguém que vive do TEATRO,
quer como diretor/encenador, cenógrafo, figurinista e, até
mesmo, autor e roteirista bissexto. É um multiartista,
dotado de uma sensibilidade, inteligência e criatividade, com quem raríssimas
pessoas do meio teatral conseguem emparelhar. Ultrapassá-lo nunca!
Afinal de contas, não é qualquer um que conseguiu colecionar tantas premiações,
como 12 Prêmios Shell, 9 Troféus APCA (Associação Paulista de
Críticos de Arte), 3 Prêmios Molière, 3 Prêmios Sharp, 10
Troféus Mambembe, 5 Prêmios APETESP (Associação de Produtores de
Espetáculos Teatrais de São Paulo), 2 Prêmios PANAMCO e 1 Prêmio
Zilka Salaberry. Por enquanto...
Não me lembro de quando, exatamente, tomei posse, e não
concedo tal autodistinção a ninguém, da carteirinha de número 01 do clube
dos seus admiradores, mas creio que a minha paixão platônica por esse gênio
começou em 1990, salvo engano, depois de ter assistido à inesquecível montagem
de “Vem Buscar-me, Que Ainda Sou Teu”. Acho que foi. Talvez seja essa,
mesmo, a marca inicial da minha fiel assistência a tudo o que ele faz, num
palco.
GABRIEL
é daqueles artistas que sempre nos surpreendem, com algo superior a tudo
o que já fez antes. Nem sob tortura, eu escolheria o seu melhor trabalho. Sob
ameaça, iria morrer, com certeza, porque não saberia, mesmo, responder. De verdade.
Sempre acho que o mais recente, atual espetáculo, é melhor do que os
anteriores. No caso, seria “ESTADO DE SÍTIO”, em cartaz no Teatro
SESC Ginástico, Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.) e motivo desta crítica,
porém, quando me lembro de “Romeu e Julieta”, com o Grupo Galpão;
“Torre de Babel”; “Mary Stuart”; “O Mambembe”; “Aurora
da Minha Vida”; “Morte e Vida Severina”; “A Ópera do Malandro”;
“Calígula”; “Macbeth”; “Os Gigantes da Montanha”, também
com o Grupo Galpão; “A Tempestade”; “Peer Gynt”; “Boca
de Ouro”; e “Hoje é Dia de Rock”, produção do Centro
Cultural Guaíra, só para citar algumas de suas brilhantes e emblemáticas encenações,
fico sem saber qual desses trabalhos poderia ocupar o topo do pódio. Sei que já
está em cartaz, com o Grupo Maria Cutia, de Belo Horizonte, sua
leitura para “O Auto da Compadecida”, de outro grande gênio, mestre Ariano
Suassuna, e já posso imaginar o que tenha saído desse encontro, ansioso,
contando as horas, para que a montagem venha logo para o Rio de
Janeiro. Uma amiga que já teve o privilégio de ter assistido, por estes
dias, não poupou elogios à peça. E nem espero nada diferente. E quem,
além dele, conseguiria apresentar, por duas temporadas, no Globe
Theatre, em Londres, a convite, um “Romeu e Julieta”? Na terra do bardo?!
Sei não!!!
Passemos,
agora, a falar, diretamente, de “ESTADO DE SÍTIO”, “L’État de Siège”,
na versão original, em três atos, um texto do escritor, filósofo
e dramaturgo argelino ALBERT CAMUS (1913 / 1960), lançado em 1948.
SINOPSE:
Após os maus presságios pela passagem de um cometa,
símbolo de “futuras tragédias”, pela cidade litorânea de Cádiz, no
sul da Espanha, banhada pelo Atlântico, seus habitantes passam a
ser governados pela PESTE (ELIAS ANDREATO), na figura de um homem
oportunista, que proíbe que alguém se lembre ou fale da passagem do tal cometa,
sob pena de pagar com a vida, depõe um governo reacionário e institui um poder
arbitrário, por meio da ameaça de morte.
A PESTE impõe seus projetos à população,
manipulando seus medos e submetendo-os à sua vontade caprichosa. A partir de
então, aplica-se um regime de total e absurdo terror, chegando ao extremo de
que sentimentos e emoções tornam-se proibidos e pessoas doentes passam a ser
identificadas por uma estrela negra – alusão, evidente, ao holocausto -,
liberdades civis são suspensas, o toque de recolher é estabelecido... É o “ESTADO
DE SÍTIO”.
A PESTE instaura o “ESTADO DE SÍTIO” e
cria um regime burocrático, esvaziado de sentido e dominado pelo medo.
Uma cidade sitiada e uma população dividida.
A vida dos cidadãos é submetida ao império dela, a PESTE,
e de sua secretária, a MORTE (CLÁUDIO FONTANA), de modo que o sofrimento
e o desespero se tornam banais.
No meio desse cenário desolador e aterrador, haveria
espaço para uma "revolta", estimulada pelo amor aos seres humanos e
pela liberdade?
Para se libertar da PESTE, será preciso
resistir ao medo que se tem dela, acreditando-se que, assim como a aparição do
cometa, a situação instaurada é uma força histórica e passageira e que o povo
sempre detém o poder eterno.
Apenas o herói DIEGO (PEDRO INOUE), por amor a
VITÓRIA (NÁBIA VILELA), terá a coragem de enfrentar o poder
estabelecido, sacrificando o seu próprio. Ambos são os únicos, na cidade que
não e curvam ante a tirania. O romance do casal é a força capaz de destruir o
medo e terror, embora, para isso, eles tenham de se separar. É o preço que têm de
pagar para o livramento da cidade.
Finalmente, a PESTE é vencida e é expulsa.
Uma
observação: O chamado “Estado de Sítio” é um instrumento
burocrático, político, e autoritário, sobre o qual o chefe de Estado
suspende, por um período temporário, a atuação dos poderes legislativo
(deputados e senadores) e judiciário. Trata-se de um recurso emergencial, que
não pode ser utilizado para fins pessoais ou de disputa pelo poder, mas, e apenas, para agilizar as ações governamentais em períodos de grande urgência e
necessidade de eficiência do Estado.
De
acordo com o “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES
COMUNICAÇÃO), “Escrita em 1948, a peça se passa em uma pequena cidade
litorânea, assolada pela peste e dominada pelo medo. Para CAMUS, o medo era o
mal do século XX e, por isso, ele o utiliza como o fio condutor desta obra,
que, para muitos críticos, é uma alegoria da ocupação, da ditadura e do
totalitarismo. Ao escrever “ESTADO DE SÍTIO”, ALBERT CAMUS declarou que
pretendia ‘atacar, frontalmente, um tipo de sociedade política, que se
organiza, à direita ou à esquerda, de modo totalitário. Esta peça toma o
partido do indivíduo, da natureza humana naquilo que ela possui de mais nobre,
o amor, enfim, contra as abstrações e os terrores de um regime autoritário’
(...) A escolha de Cádiz (Espanha) como cenário de ‘ESTADO DE SÍTIO’ não é nada
casual. Apesar da memória recente do nazismo e do fascismo na Europa, o regime
fascista de Franco, extremamente violento, ainda sobreviveria na Espanha por
quase quatro décadas (1939-1975), uma mácula na história de uma Europa que já
começava a avançar na transição para a democracia liberal. Escolhendo Cádiz,
uma cidade brutal e longamente ocupada, a pestilência ganha transparência no
seu potencial alegórico e se tornam mais eficazes as alusões a torres de
vigilância, campos de concentração, deportações, torturas e... atos de
resistência. Se, na peça, é a coragem que triunfa sobre o mal, vale lembrar que
CAMUS nunca foi um pacifista ingênuo – ele sabia que a resistência exigia
sacrifícios, algumas vezes sobre-humanos.”.
É
tão grande a semelhança entre “ESTADO DE SÍTIO” e o livro “A Peste”,
do mesmo autor, publicado em 1947, um ano antes da peça,
que, para muitos estudiosos e seus admiradores, em geral, aquela é uma
adaptação dramatúrgica do romance.
É
impressionante como um texto escrito há 71 anos possa ser tão
atual e caber, como uma luva, nos dedos, das duas mãos, do Brasil dos
nossos dias! A peça, de fundo escancarada e despudoradamente político, traz uma
crítica feroz aos regimes totalitários, fascistas e, especialmente, em forma
metafórica, à ditadura de Franco, de 1939 a 1975, quando ele
morreu. A Cádiz da história, porém, pode se multiplicar em vários
nomes, espalhados pelo mundo, em vários países, inclusive a “terra do
pau-brasil”, o estado onde estava situada a capital do Brasil,
anterior à atual, e a ex-“Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil...”,
todas, nas três esferas. destruídas e devastadas por terríveis PESTEs, tanto as que já
passaram, como o cometa, quanto as que se estabeleceram, recentemente, e estão no poder.
“ESTADO
DE SÍTIO” chega ao Rio de Janeiro, vindo de vitoriosa
temporada em São Paulo, com vários prêmios e indicações na bagagem: Prêmio
Shell São Paulo, de Melhor Música, para BABAYA MORAIS e MARCO
FRANÇA; Três indicações ao Prêmio Shell São Paulo, de Melhor
Cenografia, para J. C. SERRONI, Melhor Figurino, para GABRIEL
VILLELA e Melhor Música, para BABAYA MORAIS e MARCO FRANÇA,
esta categoria vencedora, como já citado; Indicação ao Prêmio
APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Direção,
para GABRIEL VILLELA.
Constando no “release”, já mencionado, o texto
se apresenta como “uma alegoria da ocupação, da ditadura e do
totalitarismo” e da usurpação, acrescento. Mas, como na letra
de Chico Buarque de Holanda, “Apesar de você, amanhã há de ser
outro dia...”, a força do amor e a união vencem o mal. O medo, sem
dúvida, é o fio condutor da peça e representa o grande desafio a ser vencido
por todo Homem, durante toda a sua existência. A cada situação de medo vencida,
outra se apresenta, muitas vezes, como um desafio maior.
Faz
parte do corpo do “release”, com relação à encenação: “O
totalitarismo infecta o organismo social de maneira insidiosa; os sintomas
podem não ser facilmente identificáveis, mas os efeitos são implacáveis. Para
colocar ‘ESTADO DE SÍTIO’ em cena, GABRIEL VILLELA parte do princípio de que ‘a
epidemia deveria ultrapassar a condição de alegoria – o que, na atual
conjuntura, talvez, reduzisse a poética de CAMUS a uma espécie de alerta
político, correndo, inclusive, o risco de fazermos um espetáculo panfletário –
para atingir a categoria mais ampla de símbolo’”. Não acho que o espetáculo
seja panfletário, de modo algum, mas não posso negar que o encenador põe
na mesa o suficiente para que cada espectador faça analogias com o momento
político atual do Brasil e tire suas conclusões, fique, realmente,
alerta, posicionando-se do lado de cá ou de lá, com muita convicção com relação
à posição tomada. Vejo, na encenação de GABRIEL, várias das
funções do TEATRO: informar, ilustrar, esclarecer, denunciar e, até,
divertir, porém de forma apartidária, aparentemente, muito embora, nas
entrelinhas e nas metáforas, o espectador atento consiga identificar, no fundo,
suas intenções. E não há nenhum mal nisso. Afinal, pelo menos no papel, vivemos
num regime democrático, e eu, neste caso especial, de “ESTADO DE SÍTIO”,
caminho, braços dados, ao lado de VILLELA.
O
trabalho de GABRIEL VILLELA, temos de reconhecer, não é acessível a
todos, pelo excesso daquilo que é dito ou mostrado, indiretamente, sob as mais
diversas e criativas formas, o que não vejo, tanto, como um defeito; ao
contrário, penso ser uma virtude, embora, somos forçados a reconhecer, para o
grande público, muita coisa fique no ar. É muita inteligência, criatividade e
bom gosto, reunidos num só artista. O que é totalmente isento de
discussão é que o espetáculo é deslumbrante, do ponto de vista plástico,
como são todas as montagens do diretor, e requer muita atenção do
público, para entender toda a trama; o espectador tem de estar atento a muitos
detalhes, que se apresentam de forma metafórica ou simbólica, marca mais que
registrada do teatro villeliano, como, logo no início, nesta peça,
a linda passagem de um ator (NATHAN MILLÉO GUALDA), lentamente, cruzando
o palco, todo vestido de branco, empunhando um guarda-chuva, na mesma cor, do
qual, quando sacudido, em intervalos mais ou menos iguais, se espalha talco,
pelo espaço: é o COMETA, visitando Cádiz e lançando uma possível
maldição, na crença dos ignorantes e/ou místicos.
Pouco
tenho a acrescentar, com relação ao texto, de excelente qualidade,
atualíssimo, universal, tendo recebido ele uma ótima tradução, a
despeito de eu não ter tido acesso ao original. Como modesto conhecedor da obra
de CAMUS, com o qual travei um considerável conhecimento, durante meu
curso de Letras, penso que ALCIONE ARAÚJO e PEDRO HUSSAK
souberam captar todas as intenções do autor e codificá-las no nosso
idioma, de modo a que nada de importante ficasse de fora do corpo final da obra.
Há uma cena que leva o público ao delírio, quando, em meio a uma discussão, o JUIZ
chama sua esposa de “ADÚLTERA!”, o que provoca uma reação, por parte
dela, retrucando, com muita ênfase: “JUIZ!”, em tom de profunda ofensa.
Gargalhadas ecoam pelo Teatro.
Também
creio que não se faz necessário falar muito mais da direção de GABRIEL
VILLELA, apenas acrescentando que há uma grande simbiose entre ele e seu elenco.
Sempre foi assim, e não seria diferente agora. Poucos diretores de TEATRO
conseguem criar uma estética tão particular, capaz de identificá-lo, para os
que já estão acostumados a ela, sem que, previamente, saibam quem é o diretor
da peça. É como um conhecedor da obra de um grande pintor reconhecer sua
assinatura, numa tela, sem tê-la visto. Como poucos, GABRIEL tem a mão
destinada a transformar um clássico do TEATRO numa montagem ímpar, totalmente
singular, sem descaracterizar a obra original, sem mutilá-la. Procurando se
afastar de uma representação realista, explora, nas interpretações de seus atores,
um tom brechtiano, para que o público possa, e consiga, captar a mensagem, sem
confundir a ficção com a realidade, não se iludindo com a realidade do contexto.
É o método de Brecht, sendo posto em prática, na proposta de afastamento
do público em relação ao que ocorre no palco, não fisicamente, e sim
emocionalmente, “de forma que o espectador não deva se envolver com o
espetáculo, e sim, manter a imparcialidade e a postura crítica diante dos
acontecimentos expostos no palco”.
Nas
encenações de GABREIL VILLELA, o elemento plástico salta
aos olhos do espectador, e as imagens relativas a cenários e figurinos,
principalmente, ficam guardadas na retina, de modo que, anos depois, ou a vida
inteira, sempre que desejamos, elas vêm à nossa mente. Assim acontece comigo e
creio que o mesmo se dá com todos os admiradores de seus magníficos trabalhos,
nessas duas áreas.
Em
“ESTADO DE SÍTIO”, o admirável cenário, de J. C. SERRONI,
destaca-se de forma incrível, com a aplicação e o aproveitamento de peças e
objetos utilizados, uma parte quase fixa, e outros elementos móveis, para
atender a diferentes necessidades, de acordo com as cenas, reaproveitados, umas
nas outras, de forma inteligente e criativa, formando um universo puxado para o
barroco mineiro. É preciso que se chame a atenção para o teto, uma grande
estrutura, um emaranhado de ramos contorcidos, negros, que lembram uma
gigantesca coroa de espinhos, o qual assume posições diferentes, vai descendo,
aos poucos, acompanhando o processo crescente de instauração do medo naquela Cádiz
sitiada, ameaçada e condenada a um futuro desastroso. Também chama a atenção
uma enorme estrela de seis pontas, também negra, ao fundo do palco, a marca da
morte.
Nesta
montagem, os figurinos, sempre, sem a menor contestação, um ponto
alto, nas encenações de VILLELA, também são assinados por ele,
fugindo, totalmente, e não sem motivo, de uma de suas características, nessa
área, que é a utilização de uma paleta de cores variadíssima, focada mais nos
tons claros e vivos, berrantes. Para estar dentro do clima da peça, ou
para ajudar a criá-lo, obedecendo ao estado de espírito de uma população
aterrorizada pelo medo, GABRIEL optou pelo preto, para confeccionar
todos os incríveis trajes. Medo, autoritarismo, PESTE e MORTE
não pedem colorido. Raríssima é a presença de outro cor ou matiz que não seja o
preto fechado. Sem o multicolorido habitual, em seus figurinos, poderia
parecer que o resultado, em cena, não agradasse, porém posso garantir-lhes que o
guarda-roupa também é um deslumbramento.
Ainda
sob a rubrica plasticidade, cabe espaço para um comentário sobre a luz,
de DOMINGOS QUINTILIANO, que abre mão das cores, sobre a qual só cabem
elogios, por sua potência criativa, ajustada a cada cena, muito relacionada à
cenografia, a qual destaca.
Um
dos grandes destaques, nesta encenação, vai para o trabalho de visagismo,
com ênfase na magnífica maquiagem artística, de CLAUDINEI HIDALGO,
a qual, extrema e propositalmente, exagerada, realça o caráter grotesco e tosco
dos personagens, bem distante da realidade. Assisti ao espetáculo na
primeira fila e, percebi os detalhes, nas caracterizações, o que, em alguns personagens,
parecia uma máscara, e não a aplicação de material de maquiagem sobre a
pele, tal é a perfeição como ela é feita e ajuda a criar e a realçar “máscaras”
faciais, as quais põem em destaque a interpretação dos atores. Os olhos
crescem; a boca do personagem NADA (CHICO CARVALHO) lembra a do Coringa,
inimigo do herói Batman; os adereços do visagismo, os
quais também estão inseridos nos figurinos, são incrivelmente
fantásticos. O conjunto das maquiagens pareceu-me ter alguma relação com as
chamadas “pinturas negras”, de Francisco de Goya, o célebre
pintor e gravador espanhol, hoje expostas no Museu do Prado, diante das
quais, em visita ao local, muito me encantei e me emocionei.
Outro
grande elemento de impressionante relevo, em “ESTADO DE SÍTIO”, é a parte
musical, o que também é uma constante em outros trabalhos de GABRIEL,
seja com canções originais, sejam com músicas conhecidas. Como
ele sempre se cerca de grandes profissionais, mais uma vez BABAYA MORAIS
e MARCO FRANÇA se incumbiram dessa parte e, competentes, como sempre
são, assinam uma trilha sonora de requintado gosto e funcionalidade, no espetáculo,
e a sua direção musical, tirando partido das excelentes vozes de todos
do elenco, com alguns destaques, nos solos. Mas, também, nos coros, a harmonia
das vozes concorre para um prazer direcionado à alma, via nossos ouvidos. Presente, nessa trilha
sonora, estão “arranjos polifônicos, que ligam e colaboram com a
dramaturgia. Utilizam desde canções revolucionárias icônicas, como Fisia il
Vento, o Hino da Resistência Francesa, a músicas ciganas de Goran Bregovic e
outras cantadas em ladino (língua falada por comunidades judaicas originárias
da Península Ibérica)”.
Chegou a hora do elenco. Que
elenco!!! Todos brilham em cena, porque são, acima de tudo, profissionais
do palco, gente que respira TEATRO, com total domínio do corpo e da
voz, falando e cantando sem microfones. Um elenco mais que homogêneo, no
qual todos têm seus momentos de “protagonismo”, mas um trio se destaca,
pela força e importância de seus personagens: ELIAS ANDREATO (PESTE), CLAUDIO
FONTANA (MORTE) e CHICO CARVALHO (NADA).
ANDREATO
encarna a PESTE e o faz de forma irretocável, impondo a “ordem” e o “respeito”,
por meio de ameaças, claras e veladas, um vilão com um requinte de maldade
coberto por um véu transparente de uma tragicomicidade. Um de seus melhores
trabalhos, no meu entendimento.
FONTANA
é a MORTE, secretária da PESTE. Subserviente, debochado e irônico, como sua “chefe”,
CLAUDIO, na pele da personagem, me encantou, sobremaneira,
naquele que considero, como no caso de ELIAS ANDREATO, seu melhor trabalho
de interpretação, a despeito de outros, anteriores, que, também, me
agradaram muito. Os dois atores formam, praticamente, um ser uno,
separados, apenas, por um grau hierárquico, porém muito próximos no restante de
suas caracterizações.
Fã
incondicional do trabalho de CHICO CARVALHO (NADA), não posso dizer que
este seja seu melhor desempenho, no palco, pois o coloco no mesmo patamar de
seus últimos, sob a direção de GABRIEL VILLELA, a saber, a partir
do mais recente: “Boca de Ouro”, “Peer Gynt” e “A Tempestade”.
O NADA, seu personagem, na peça ora analisada, se
apresenta como o narrador da trama. É um bêbado, andarilho errante,
questionador contumaz de tudo, inclusive de tudo o que parte da PESTE e da
MORTE, e sua característica mais marcante é a forte dose de ironia e sarcasmo,
na forma mais superlativa, provocando boas gargalhadas, com seu humor
cáustico. CHICO era o motivo dos comentários, no saguão do Teatro Ginástico,
após a sessão de estreia. Todos ao mais favoráveis possíveis, ratificados por
mim.
Fazem
parte, ainda, do maravilhoso elenco, de 13 excepcionais artistas,
Rosana Stavis (Mulher do Juiz e Benzedeira), Nábia Vilela (Vitória,
filha do Juiz), Leonardo Ventura (Juiz, Alcaide e Pescador), Pedro
Inoue (Diego), Arthur Faustino (Governador e Velha), André
Hendges (Padre), Rogério Romera (Homem do Povo e Cérbero), Jonatan
Harold (músico), Nathan Milléo Gualda (Astrólogo, Cometa e Cérbero) e
Zé Gui Bueno (Alcaide e Cérbero). Para quem não sabe, CÉRBERO é o
cão de três cabeças, que guarda a entrada do mundo dos mortos, na mitologia
grega, o submundo Hades. Lá, ele recebe as almas dos mortos e impede que
tentem escapar. A introdução desse elemento é uma sensacional ideia da direção.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Albert Camus
Tradução: Alicone Araújo e Pedro Husak
Direção: Gabriel Villela
Diretores Assistentes: Ivan Andrade e
Daniel Mazzarolo
Elenco / Personagem: Elias Andreato (Peste),
Claudio Fontana (Morte), Chico Carvalho (Nada), Rosana Stavis (Mulher do Juiz e
Benzedeira), Nábia Vilela (Vitória, filha do Juiz), Leonardo Ventura (Juiz, Alcaide
e Pescador), Pedro Inoue (Diego), Arthur Faustino (Governador e Velha), André Hendges
(Padre), Rogério Romera (Homem do Povo e Cérbero), Jonatan Harold (músico), Nathan
Milléo Gualda (Astrólogo, Cometa e Cérbero) e Zé Gui Bueno (Alcaide e Cérbero)
Cenografia: J. C. Serroni
Assistentes de Cenografia: Gabriela
Rinaldi, Nathália Campos e Priscila Soares
Pintura de Arte e Adereços
Cenográficos: Andréia Mariano, Ingrid Oliveira, Marcelo Machado, Naiana Leotti,
Priscila Chagas e Tais Santiago
Maquinistas de Montagem: Alício
Silva, Ingrid Oliveira, Marcelo Machado, Priscila Chagas e Wagner Almeida
Figurinos: Gabriel Villela
Assistente de Figurinos: Nour Koeder
Coordenação do Ateliê de Figurinos:
José Rosa
Costureira: Zilda Peres
Iluminação: Domingos Quintiliano
Operador de Iluminação: Cleber Eli
Direção Musical: Babaya Morais e Marco França
Preparação Vocal: Babaya Morais
Arranjos: Marco França
Maquiagem: Claudinei Hidalgo
Assistentes de Maquiagem: Patricia
Barbosa e Luís Cambuzano
Fotografia: João Caldas Filho e Andrea machado
Assistência de Fotografia: Andréia
Machado
Diretor de Palco: Alexander Peixoto
Camareira: Ana Lucia Laurino
Coordenação Galpão de Ensaios: Mara
Santiago
Produção Executiva: Augusto Vieira
Direção de Produção: Claudio Fontana
Realização: SESC Rio
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 04 a 28 de julho de
2019.
Local: Teatro Sesc Ginástico.
Endereço: Avenida Graça Aranha, 187,
Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2279-4027.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado,
às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00, R$15,00
(meia entrada) e R$7,50 (associados Sesc) - Entrada solidária: 50% de desconto,
mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível, que será doado ao projeto
Mesa Brasil.
Horário de Funcionamento da Bilheteria:
De 3ª feira a domingo, das 13h às 20h.
Capacidade: 513 espectadores.
Duração: 90 minutos.
Classificação Indicativa: 14 anos.
Gênero: Drama.
O texto deixa bem claro o
aspecto negativo de qualquer postura autoritária, venha ela da direita ou da
esquerda. Não é a posição, o lado, o que importa, e sim o comportamento
arbitrário e despótico. Esse é o aspecto nefasto, foco maior da crítica contida
na peça.
Mesmo não sendo classificada como
uma tragédia, menos, ainda, grega, desta, há um vestígio, nesta montagem,
representada pela presença e atuação de um coro.
“A vontade do governador é que nada
aconteça em seu governo e que tudo continue bem, como sempre foi”.
Alguém se identifica com essa frase? E com esta: “O Governador lhes é
grato. Nada é bom quando é novo.”?
“ESTADO DE
SÍTIO”, uma OBRA-PRIMA, é uma superprodução,
com 13 atores em cena, e não é um espetáculo para ser visto
apenas uma vez. Já estou me preparando para revê-lo e aplaudir, mais ainda,
aquele grande trabalho em equipe.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
(FOTOS: JOÃO CALDAS
FILHO
E
ANDREA MACHADO.)
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS - MARISA SÁ.):
(FOTOS - MARISA SÁ.):
Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia,
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.
Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia,
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.
Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia,
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.
Com Claudio Fontana.
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