ZILDA ARNS –
A DONA DOS
LÍRIOS
(DIGNA
HOMENAGEM.
OU
DIGNO
ESPETÁCULO.
OU
DIGNIDADE
HUMANA,
ACIMA DE TUDO.)
Como é gratificante e prazeroso qualquer
sacrifício, quando se vai à busca de um bom espetáculo teatral e se encontra algo que supera todas as nossas
expectativas! Foi exatamente o que aconteceu, quando tive a grata oportunidade
de assistir a um monólogo que
homenageia, muito digna e merecidamente, uma das pessoas mais ilustres deste país,
infelizmente já não entre nós, a inesquecível e sempre admirada Doutora ZILDA ARNS, cuja folha de bons
serviços prestados ao país, principalmente aos menos favorecidos, com ênfase
nas crianças, é imensurável.
Essa digníssima personalidade,
vivida pela grande atriz SIMONE KALIL,
recebe o público, no Teatro Candido
Mendes, numa temporada, infelizmente, quase atingindo o seu final (VER SERVIÇO).
A própria SIMONE e LUIZ ANTÔNIO ROCHA,
a quatro mãos, puseram, no papel, a trajetória de vida dessa ilustre mulher
brasileira, do seu nascimento, em 25 de
agosto de 1934, na pequena cidade de Forquilhinha,
Santa Catarina, até a sua morte, em 12 de janeiro de 2010, aos 75 anos de idade, na cidade de Porto Príncipe, no Haiti, onde desenvolvia um belo trabalho de ajuda àquele povo
sofrido e desatendido.
SINOPSE:
O espetáculo é um monólogo, que leva à cena os momentos mais importantes da vida da
fundadora da Pastoral da Criança,
três vezes indicada ao Prêmio Nobel da
Paz e responsável por importante redução da mortalidade infantil em
território brasileiro e em alguns outros países.
O público tem
a oportunidade de conhecer a linda e louvável trajetória da médica sanitarista ZILDA ARNS, num belo trabalho de pesquisa e concepção cênica.
Uma homenagem
digna de quem fez por merecê-la.
Poucas pessoas desconhecem quem foi ZILDA ARNS. Primeiramente, conhecida
como irmã de Dom Paulo Evaristo Arns,
que foi Arcebispo-Emérito de São Paulo,
falecido em 2016, ela foi médica pediatra, sanitarista, ativista e missionária, fundadora da Pastoral da Criança, um programa de
ação social, que se expandiu por diversos países, e da Pastoral da Pessoa Idosa, ambos organismos de ação social, ligados
à Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB). Por seu trabalho de salvar vidas humanas, seu altruísmo e
ação comunitária, foi indicada, em 2006,
ao Prêmio Nobel da Paz, tendo
perdido tal honraria para o presidente colombiano, à época, Juan Manuel Santos, por sua luta pela
pacificação, em seu país, nas negociações com as Farc. Independentemente disso, recebeu dezenas de menções especiais e
prêmios, no Brasil e no exterior,
incluindo o título de cidadã honorária, no Brasil.
Da mesma forma, à Pastoral da Criança, foram concedidos
diversos prêmios, pelo trabalho que vem sendo desenvolvido, desde a sua
fundação. Em 2012, foi eleita, por
um programa de TV, no Brasil, a 17ª
maior personalidade brasileira de todos os tempos.
ZILDA era a décima terceira filha, de um total de dezesseis irmãos, de um casal de origem alemã. Contrariando a
vontade paterna, de que ela fosse professora, uma vez que “medicina não era profissão para
mulher”, ZILDA começou seus
estudos, para se tornar médica, em 1953.
Não era só o pai, porém, que tinha aquela opinião. Numa entrevista, ela disse
que “Um
professor me reprovou no primeiro ano, bem eu, sempre das primeiras da sala.
Ele dizia que era um absurdo uma mulher cursar medicina. Mas virei pediatra,
justo a matéria dele.”.
No mesmo
ano em que entrou na faculdade, ela começou a cuidar de crianças menores de um
ano. Na época, impressionou-se com a grande quantidade de crianças internadas,
com doenças de fácil prevenção, como diarreia e desidratação. Com iniciativas, relativamente simples, como as campanhas do soro caseiro e
da amamentação e a pesagem regular de crianças até 2 anos, a médica conseguiu reduzir, em 60%,os índices da mortalidade infantil no Brasil, nos anos 80. A Pastoral da Criança, fundada no Paraná, foi expandida para outros 26 países, além de estar presente em
quase todas as cidades brasileiras.
Casou-se com Aloísio Bruno Neumann (1931-1978), tendo ficado viúva muito jovem, aos 44 anos, com cinco filhos para criar, o
mais velho com 14 anos e o mais novo
com 4: Rubens, Nélson, Heloísa, Rogério e Sílvia. O primogênito, Marcelo, tão esperado, faleceu três
dias após o parto. Os cinco filhos
lhe deram dez netos.
ZILDA aprofundou-se em saúde pública, pediatria e sanitarismo,
visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e
da violência,
em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação se
revelou como a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil
prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu
uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade
entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da
multiplicação dos dois peixes e cinco pães, que
saciaram cinco mil pessoas, como consta no livro sagrado do catolicismo.
Sua experiência fez
com que, em 1980, fosse convidada,
pelo Governo do Estado do Paraná, a
coordenar a campanha de vacinação Sabin,
para combater a primeira epidemia de poliomielite,
criando um método próprio, depois, adotado pelo Ministério da Saúde. No mesmo ano, foi, também, convidada a dirigir
o Departamento Materno-Infantil da
Secretaria da Saúde do mesmo Estado,
quando, então, instituiu, com extraordinário sucesso, os programas de
planejamento familiar, prevenção do câncer ginecológico, saúde escolar e
aleitamento materno.
Em 1983, a pedido da CNBB, criou a Pastoral da Criança, juntamente com
alguns religiosos de destaque. No mesmo ano, deu início à experiência a partir
de um projeto-piloto, em Florestópolis.
Após 25 anos, a pastoral acompanhou 1.816.261 crianças menores de seis anos e
1.407.743 de famílias pobres, em 4060 municípios brasileiros. Nesse
período, mais de 261.962 voluntários
levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e
cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se
tornassem protagonistas de sua própria transformação social.
Em 2004, recebeu, da CNBB, outra missão semelhante: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente,
mais de cem mil idosos são
acompanhados, mensalmente, por doze mil
voluntários de 579 municípios de 141 dioceses de 25 estados brasileiros.
Dividia seu tempo
entre os compromissos como coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e a participação
como representante titular da CNBB
no Conselho Nacional de Saúde e como
membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
ZILDA ARNS morreu,
tragicamente, em Porto Príncipe, capital do Haiti, onde
se encontrava em missão humanitária, para introduzir a Pastoral da Criança naquele país, enquanto proferia uma palestra,
para cerca de 150 pessoas, dentre as
quais 15 religiosos cubanos, que estavam
próximos a ela, os quais também morreram, quando o país foi atingido por
um violento terremoto. A Dra. ZILDA foi atingida na cabeça, quando as paredes da igreja,
dentro da qual se encontrava, desabaram. Ela estava no último parágrafo do
discurso, que não chegou a terminar. Falava da importância de cuidar das
crianças “como um bem sagrado”, promovendo o respeito a seus direitos e
protegendo-os, “tal qual os pássaros cuidam dos seus filhos”.
Em 2011, foi indicada, postumamente,
ao Prêmio Nobel da Paz. Foram, ao todo, três indicações.
Grande
parte das informações supra estão presentes no “release”, enviado por RACHEL
ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), ou foram extraídas, com supressões e
adaptações, da Wikipédia.
Um conhecido provérbio
romano, “Se queres a paz, prepare-te para a guerra!”, serviu de norte, na vida
de nossa protagonista. Na sua pacificidade, comprou muitas brigas, para
alcançar seu projeto de vida: a redução da mortalidade infantil no país.
“Zilda Arns visitou todas as cidades brasileiras – chegou com a missão
de salvar vidas de norte a sul do país, de lixões a aldeias indígenas, das
periferias dos grandes centros aos interiores sertanejos, nenhum lugar lhe
escapava. Um trabalho desbravador, que, muitas vezes, lembra a expedição dos
irmãos Villas-Bôas”. (Retirado do já citado “release”).
Duas cabeças pensam melhor que uma. Quatro mãos, de duas boas cabeças
pensantes, consequentemente, escrevem melhor do que duas. Em função disso,
temos, neste espetáculo, um bom texto, documental, narrativo e histórico,
entremeado de boa dramaturgia, com lirismo e, até mesmo, um pouco de humor, que
prende a atenção do público, a cada revelação da riquíssima vida da personagem
retratada.
A interpretação de SIMONE KALIL só vem a ratificar a ótima
impressão que, em mim, já havia, em relação à sua capacidade de atriz. A total diferença física, entre atriz e personagem, não é capaz de nos roubar a oportunidade de “ver” a Dra. ZILDA ARNS em cena, com sua
doçura, sua aura de paz, sua bondade, seu extremado amor, pela família e pelos
semelhantes, ao mesmo tempo que “bélica”, como diz o diretor da peça, o seu
lado não midiático, humano, de um ser capaz de, também, sentir raiva e
desconforto, diante das adversidades, com a capacidade de lutar, como uma leoa,
para defender seus ideais. SIMONE se
divide, muito bem, entre essas duas zildas.
A atriz nos passa muita verdade e nos
faz constatar o quanto de amor e entrega a este projeto ela dedica.
Gostei muito da direção de LUIZ ANTÔNIO ROCHA, por ser simples e criativa, por conduzir a atriz pelos trilhos da beleza e do bom
gosto, carregada de tantos outros “temperos”, que resultaram num perfeito “manjar
dos deuses”. Tudo é muito fácil de se entender, chamando o público ao centro da
ação e fazendo com que todos levem, para suas casas, uma lição de vida e de amor
ao próximo. Oxalá todos procurem pô-la em prática, o mínimo que seja, do que
tanto necessitamos, neste momento de trevas em que vivemos, no Brasil!
Um espetáculo que conta com
poucos recursos na verba de produção
tem de procurar se destacar por meio de outros expedientes. E nada melhor, para
isso, do que apelar para a velha e boa criatividade. Este preâmbulo é para
direcionar o meu comentário com relação ao lindo e “ingênuo” cenário, um achado, concebido por LUIZ ANTÔNIO ROCHA e EDUARDO ALBINI. Uma cadeira de ferro,
branca, meio desgastada, como as de um hospital, que serve a diversas utilidades; alguns cestos de vime e palha,
à esquerda do palco, de dentro dos quais são retirados objetos de cena e adereços;
e a cereja do bolo, guirlandas espalhadas, simetricamente, pelo teto, confeccionadas
de latinhas de refrigerantes, sob a forma de lírios, e que guardam uma surpresa
para o quase final da peça. Toda a ação se dá dentro de um pequeno círculo,
que tanto pode remeter a um picadeiro como a uma taba indígena. Uma graça de cenário!
O tom de simplicidade e elegância, característico da personagem, também está
presente no figurino, de CAKÁ OLIVEIRA, que se resume num vestido e um blazer,
bastante discretos.
Contribuem, para o conjunto de acertos os trabalhos de iluminação (RICARDO LYRA), preparação vocal (JANE CELESTE) e preparação corporal (ROBERTO RODRIGUES).
Reservei, para o final da apreciação
crítica, uma análise do trabalho da multimusicista
BEÁ, responsável pela direção
musical, composição sonora e execução da a trilha sonora do espetáculo,
assim como toda a sonoplastia. É impressionante e indescritível o trabalho
dessa moça!!! Utilizando pequenos instrumentos musicais, alguns artesanais,
brinquedos infantis, bem populares, e objetos do cotidiano, os mais simples e
inusitados, ela consegue extrair sons interessantíssimos e expressivos, para
sublinhar a peça, do início ao fim.
Causou-me tanta admiração e curiosidade, que, vez por outra, eu me pegava olhando
mais para ela, à direita do palco, com sua parafernália musical, do que para a atriz. Se tivesse a oportunidade de assistir, novamente, a esta montagem, certamente, por já tê-la
visto, dedicaria boa parte do tempo a olhar, fixamente, o trabalho de BEÁ.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Luiz Antônio
Rocha e Simone Kalil
Direção: Luiz Antônio
Rocha
Assistente de Direção:
Valéria Alencar
Elenco: Simone Kalil
Direção Musical,
Composição Sonora e Execução: Beá
Musicista Substituta:
Ana Magalhães
Iluminação: Ricardo Lyra Jr.
Cenário: Luiz Antônio
Rocha e Eduardo Albini
Figurino: Caká Oliveira
Preparação Vocal: Jane
Celeste
Preparação Corporal:
Roberto Rodrigues
Direção de Produção:
Maira Magalhães
Assistente de Produção:
Jéssica Freitas
Fotos: Dalton Valério e
Beatriz Villela
Arte Gráfica: Duda
Simões (Tangerina Design)
Pintura Artística do
Cenário e dos Figurinos: André Luiz Nascimento
Adereços em Lata (lírios
e caminhão): Josué Batista da Ponte
Confecção dos Figurinos:
Afghan
Eletrotécnico: Renato
Marques
Fisioterapeuta: Ísis
Badini (Osteopatia e Método Busquet)
Assessoria de Imprensa:
Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Realização: Mabruk
Produção Cultural e Artística
SERVIÇO:
Local: Teatro Candido Mendes.
Endereço: Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2523-3663.
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia
entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Diariamente, a
partir das 14h.
Lotação: 103 pessoas.
Duração: 60 minutos.
Classificação Indicativa: Livre
“ZILDA ARNS – A DONA DOS LÍRIOS” é um espetáculo, da temporada em curso, no Rio de Janeiro, que não pode deixar de
ser visto por quem acredita que a arte
salva, o TEATRO educa e
precisamos conhecer mais e louvar os nomes dos ilustres brasileiros, numa terra
em que temos mais motivos, infelizmente, para nos envergonhar das nossas
figuras públicas.
Quanto
a uma parte do título, “A DONA DOS LÍRIOS”, prefiro não fazer nenhum
comentário, para não roubar, aos que ainda vão assistir à peça, uma surpresa.
Como se não bastasse, faz-se
necessário dizer que uma porcentagem da venda de ingressos é doada à Pastoral da Criança.
Querem mais motivos para assistir a
este lindo e comovente espetáculo teatral?
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)
Aplausos.
Com Simone Kalil e Beá.
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