O
HOMEM
NO
ESPELHO
(UM TEATRO EM FORMA DE SHOW
OU UM SHOW DE TEATRO.
ou
UM BÁLSAMO PARA OS OUVIDOS.)
No
verão de 2008, para cobrir um “furo
de pauta”, salvo engano, a dupla Charles
Möeller e Claudio Botelho foi
convidada a criar, em tempo recorde, um espetáculo, para durar apenas um mês,
ocupando a Arena do SESC Copacabana.
Falo de “Beatles Num Céu de Diamantes”,
que virou a coqueluche daquele verão, com várias sessões extras, e se
transformou num dos maiores fenômenos de bilheteria e crítica do Teatro Brasileiro, utilizando um
formato que está mais para um “show”
musical do que para um a peça de
TEATRO, ainda que conte com um
roteiro e seja apresentado como um musical.
Uma obra-prima!!! Isso é unanimidade!!!
Assisti ao espetáculo 58 vezes (até
agora).
O que era para
durar apenas um mês alçou voos altíssimos e está em cartaz há dez anos, continuando a lotar as salas em que é apresentado,
tendo sofrido muitas mudanças no elenco, como é normal, ao longo de uma
carreira longeva, com direito a apresentações, inclusive, na França, a convite.
Neste
chuvoso início de ano, no verão de 2018,
surge um novo candidato ao estrondoso sucesso de “Beatles...”, sem, contudo, a magnitude deste. Falo de “O HOMEM NO ESPELHO”, no mesmo formato,
tendo como base as canções do maior ídolo “pop”,
individual (Lembrem-se dos Beatles!!!)
de todos os tempos: MICHAEL JACKSON.
CRIS FRAGA e NILZA GUIMARÃES, as duas idealizadoras
do projeto, convidaram, há cerca de um ano, o talentosíssimo JULES VANDYSTADT, para cuidar da direção musical e escrever todos os arranjos vocais, além de se encarregar do
roteiro do espetáculo. JULES ainda está no elenco, ao lado de gente de destaque e
do maior gabarito no TEATRO MUSICAL
BRASILEIRO: ESTER FREITAS, EVELYN CASTRO, GOTTSHA e RAFAEL ROSSATO.
Ainda atua, como “stand-in”, RAI VALADÃO, que não participou da sessão à
qual assisti, a estreia, para convidados.
Dividido
em sete blocos, o espetáculo homenageia
MICHAEL JACKSON. Conforme o pouco
esclarecedor “release” que me foi
enviado, “O maior astro ‘pop’ do século XX, uma trajetória genial, conturbada e
misteriosa: é disso que vamos tratar e reverenciar”. Os sete blocos são, na ordem em que são
apresentados: ABERTURA, HUMAN NATURE, ROCK WITH YOU, WHO’S LOVING
YOU, PRICE OF FAME, HEAL THE WORL e FINALE.
Diz, ainda, o
referido (micro) “release” que,
durante cerca de 80 minutos, os
cinco atores/cantores tecem, “com suas canções, os amores, dores,
críticas sociais e políticas, num espetáculo contundente, em que a criança
interior luta pra viver num mundo de dissabores. A abordagem da infância
aparece, questionando o caos e a violência a que somos submetidos, ao entrar na
fase adulta, e permeia a encenação com reflexos distorcidos de nós mesmos. Um
jogo entre o real e o faz de conta que tanto nos atravessa diariamente”.
Tudo isso embalado ao som de grandes “hits”,
como “Billy Jean”, “Beat It”, “Thriller”, “Music and Me”,
“Ben”, “Black or White” e tantas outras canções emblemáticas do repertório
de MICHAEL. Antes de qualquer coisa,
o espetáculo é um merecidíssimo tributo
a MICHAEL JACKSON.
SINOPSE:
Delineando diferenças,
exprimindo desejos e buscando transformação, “O HOMEM NO ESPELHO” vem apresentar as canções do maior ídolo “pop” do século XX, MICHAEL JACKSON
(Nota minha: Acho discutível, embora faça parte da grande legião de seus admiradores.)
A encenação reflete formas
distorcidas, cria sombras e imagens, que permitem, ao público, o passeio por
espaços sensíveis e impalpáveis.
As canções ganham novos
arranjos, novas interpretações, mas sempre com a marca inconfundível do nosso
homenageado.
Por fim, buscamos, no
pensamento dele, a mensagem final: viver
em paz e harmonia num mundo mais justo!
Os quinze
próximos parágrafos foram extraídos, na
íntergra ou adaptados, da Wikepédia,
para que se tenha uma visão panorâmica do ídolo que motivou o espetáculo:
Tão genial
artista quanto polêmico ser humano, MICHAEL JOSEPH JACKSON (Gary, 29 de agosto de 1958 - Los Angeles, 25 de junho de 2009),
além de grande cantor, intérprete, “performer” e “hit maker”, foi um compositor, dançarino, produtor, empresário e arranjador vocal.
Embora tão contestado, como pessoa, era um filantropo, pacifista e ativista norte-americano.
Segundo a revista "Rolling Stone", faturou, em vida,
cerca de sete bilhões de dólares, o que fez dele o artista mais rico de toda a história, e, um ano após sua morte,
faturou cerca de um bilhão de dólares, e ainda fatura bastante até hoje, oito
anos após seu falecimento.
Começou a cantar e a dançar aos cinco anos de
idade, iniciando-se na carreira profissional aos onze, como vocalista dos "Jackson 5",
formado por ele e seus irmãos. Começou, logo depois, uma carreira solo, em 1971, permanecendo como membro do
grupo. Reconhecido nos anos seguintes como "Rei do Pop", cinco de
seus álbuns de estúdio se tornaram os mais vendidos, mundialmente, de todos os
tempos: "Off The Wall" (1979), o
fantástico "Thriller" (1982),
o álbum mais vendido e popular da história, "Bad" (1987), "Dangerous" (1991)
e "HIStory" (1995).
Lançou-se em carreira solo no início da década de 1970, ainda pela Motown, gravadora responsável
pelo sucesso do grupo formado por ele e os irmãos.
No início dos anos 1980, tornou-se uma figura
dominante na música popular e o primeiro cantor afro-americano a
receber exibição constante na MTV. A popularidade de
seus vídeos musicais, transmitidos pela emissora, como "Beat It", "Billy Jean" e "Thriller", são creditados como a causa
da transformação do videoclipe em forma de promoção musical e também de ter
tornado o, então, novo canal famoso.
Foi o criador de um estilo totalmente
novo de dança,
utilizando especialmente os pés. Com suas performances no palco e clipes, JACKSON popularizou uma série de
complexas técnicas de dança, como o "Robot", o "The Lean" (inclinação de 45 graus) e o famoso "Moonwalk".
Seu estilo diferente e único de cantar e dançar
bem como a sonoridade de suas canções influenciaram uma série de artistas nos
ramos do "hip hop", "pop", "R&B" e "rock".
Outros aspectos, no entanto, da sua vida pessoal,
como a mudança de sua aparência, principalmente a da cor de pele, devido
ao vitiligo, geraram
controvérsias significantes, a ponto de prejudicar sua imagem pública. Em 1993, foi acusado de abuso infantil, mas a investigação foi arquivada, devido à falta de provas
e JACKSON não chegou a ir ao
tribunal.
Depois, casou-se e foi pai de três filhos, todos
os quais envoltos em mistério, criado pela mídia, principalmente a chamada
imprensa “marrom”. Em 2005, foi julgado e
absolvido das alegações de abuso infantil. Enquanto se preparava para uma nova
turnê, intitulada "This Is It", MICHAEL morreu de intoxicação aguda do
anestésico propofol, em 25 de junho de 2009, após sofrer
uma parada cardíaca.
O Tribunal de Justiça de Los Angeles considerou
sua morte um homicídio, e seu médico pessoal, o Dr. Conrad Murray, foi condenado por homicídio culposo. Sua morte teve uma
repercussão internacional instantânea, sendo motivo de comoção por parte
dos fãs em
muitas partes do mundo. Estima-se que até dois bilhões de pessoas tenham
assistido ao funeral pela televisão, já que emissoras do mundo todo
transmitiram o evento ao vivo. Em março de 2010, a Sony Music Entertainment assinou
um contrato de US$ 250 milhões, com
o espólio de JACKSON, para reter os
direitos autorais de distribuição para suas gravações, até 2017, e lançando cerca de sete álbuns póstumos na década seguinte a sua morte.
JACKSON recebeu centenas de prêmios, que fizeram dele o artista mais premiado da história
da música popular. Sua vida, constantemente nos
jornais, somada à sua carreira de sucesso, como “popstar” fez
dele parte da história da cultura popular mundial. Nos últimos anos, foi citado como "a
pessoa mais famosa e conhecida do mundo", o que considero um certo
exagero.
O nome do espetáculo aqui
analisado é a tradução literal de "Man in the Mirror",
um “single” extraído do álbum "Bad",
em 1988. Foi interpretada,
pela primeira vez, ao vivo, no “Grammy Awards 1988. A canção esteve no topo da
parada da “Billboard
Hot 100” por duas semanas consecutivas.
A letra da canção, composta por Glen Ballard e Siedah Garrett, foi escrita por
aquele, quando estava indo para o estúdio, a fim de gravar "I Just Can't Stop Loving You", e viu seu rosto no
espelho do carro, surgindo, daí, a inspiração. A letra fala que a mudança que queremos ver no mundo tem que começar por
nós mesmos. A canção, que mistura "música pop" com "gospell", fez
parta do encerramento do funeral de JACKSON.
Passemos,
agora, à análise do espetáculo, que,
de saída, já recomendo, com muito empenho.
Foram muito
felizes os envolvidos no projeto, em sua concepção.
Erguido sob
muito sacrifício e empenho, “O HOMEM NO
ESPELHO” chama a atenção por vários motivos, a começar pela boa escolha do “set list”, que compõe o roteiro do espetáculo, ainda que, como
já fosse de se esperar, muitos “hits”
tenham ficado de fora, uma vez que alongariam bastante o seu tempo de duração.
O cenário, assinado por TECA FICHINSKI, já causa um certo
impacto no espectador. O fundo do palco é formado por várias placas de metal,
fazendo as vezes de espelhos, que são utilizadas, até mesmo, como instrumento
de percussão. Elas refletem as imagens de forma distorcida, longe de sua
realidade, como se sugerissem que a nossa imagem, refletida, a que cada um vê,
de si mesmo, não corresponde à nossa real identidade (É preciso que nos modifiquemos, antes, para modificarmos o mundo.)
O resultado plástico é lindo, principalmente porque amplia e reflete os efeitos
do excelente desenho de luz, de PAULO CÉSAR MEDEIROS, que criou uma
iluminação para um “show”, “comme Il faut”. Ainda podem ser
vistos, no cenário, alguns
praticáveis, de formas e alturas diferentes, e os instrumentos musicais da
ótima banda, que permanece em cena o tempo todo, dando aquele toque de “show”, da qual fazem parte HEBERTH SOUZA (teclado, guitarra, violão e
regência), NAIFE SIMÕES (bateria,
percussão e beatbox), MATIAS CORRÊA
(contrabaixo) e THAÍS FERREIRA
(violoncelo).
TECA FICHINSKI também é a responsável
pelo simples, belo e funcional figurino,
todo trabalhado em matizes de preto, branco e cinza, com estampas do rosto de MICHAEL nas variadas peças. Posso estar
embarcando numa “viagem”, sem alucinógenos, mas senti uma certa intenção de se
fazer referência às cores da pele do grande astro, que nasceu preto (negro) e, por ser
portador de vitiligo, fez de tudo para se tornar branco.
O espetáculo
não conta com uma dramaturgia,
clássica no formato, o que exige da diretora,
KIKA FREIRE, um trabalho mais voltado
para a emoção que deve ser cobrada dos intérpretes, de acordo com as letras das
canções, e a movimentação destes em cena, o que funciona corretamente, sem
maiores destaques. Quanto ao que merece realce, na direção, dentre outras, está a cena em que os atores cantam, segurando espelhos
redondos, o que, em função da incidência de luz e dos movimentos dos cinco, gera
um belo efeito plástico. Não é novidade, mas é bonito e funciona.
Na cena
inicial e em outra, num solo de GOTTSHA,
para “Music and Me”, é utilizado um
bonequinho de marionete, confeccionado por ALEXANDRE
GUIMARÃES, representando o cantor, manipulado por RAPHAEL ROSSATO, creio que em melhor “performance” e justificativa,
sob todos os aspectos, na primeira vez, abrindo o espetáculo.
Na parte
relativa ao visagismo, UIRANDÊ DE HOLANDA, fez um bom trabalho,
ao idealizar parte dos rostos dos artistas pintada de branco, maquiagem que os
próprios retiram, em cena, ao final do espetáculo, como que se despedindo do
homenageado.
O mérito maior
do musical recai sobre a atuação do homogêneo
e magnífico elenco, tanto nas
interpretações em conjunto ou em duplas como nos solos individuais. Parece, uma
“batalha”, no bom sentido da metáfora, com cada um dos cinco querendo
demonstrar o maior talento. Que vozes!
Que sensibilidade de intérpretes! Que bálsamo para os nossos ouvidos!
ESTER
FREITAS, ainda que já tenha participado de outros musicais, parece que, em “O HOMEM NO ESPELHO”, encontrou um
terreno fértil, para semear o seu incomensurável talento de cantora, arrancando
fortes aplausos com seus solos. Pareceu-me um pouco “apagada”, nos dez ou
quinze primeiros minutos, aguardando o momento certo para marcar presença, até
o final do musical.
Outra que
arrebata o público, em suas incursões individuais, é EVELYN CASTRO, com sua voz possante, de imensa extensão. Além
disso, como é atriz, assim como os outros, é de se fazer notar a sua entrega na
interpretação do conteúdo das letras das canções selecionadas.
GOTTSHA, a veterana do elenco, com tantos
excelentes trabalhos em musicais, é uma espécie de cereja do bolo, em termos de
dramaticidade, em suas interpretações, além, é claro, da belíssima voz que Deus
lhe deu.
RAPHAEL ROSSATO nos encanta com seu
timbre de voz e seu carisma em cena.
Deixei para o
final, fugindo à ordem alfabética, o nome de JULES VANDYSTADT, que é o grande mago do espetáculo. JULES vem, há um pouco mais de dez
anos, se dedicando aos musicais, tanto como ator como, principalmente, diretor
musical e arranjador vocal,
funções que acumula aqui.
É digno de
premiação o seu trabalho de desconstrução da obra de MICHAEL, substituindo os arranjos originais, incluindo os musicais,
de tal forma, a criar verdadeiras joias em forma de música. Ele muda
andamentos, transforma canções em outros ritmos, utilizando, até mesmo o tal do
“funk” carioca, que eu detesto, em
parte do “show”, sem falar da
bossa-nova em que ele transformou “I
Just Can’t Stop Loving You”.
Foi muito mais
ousado, quando criou, assim como ocorreu em “Beatles...”, um “mush-up” (composição
criada por mistura de duas ou mais músicas, ambas na mesma pista instrumental).
Lá, houve a junção de “Yesterday”
com “Let it Be”. Aqui, foram
utilizadas “Billy Jean”, cantada por
RAPHAEL ROSSATO, acompanhando-se ao
violão, e “Remeber The Time”, na
voz de ESTER FREITAS.
E a ousadia
não para por aí. JULES,
corajosamente, incluiu, no espetáculo, um trecho em iorubá, um cântico que reverencia Oxalá Chama-se “Oní Sé a Àwúre”, lindamente
interpretado por ESTER, sob um
gigantesco manto, que nos lembra uma visão de Nossa Senhora de Aparecida. Abusou, favoravelmente, do sincretismo
e nos brindou com uma das mais belas cenas do espetáculo.
Ainda houve
canções transmutadas para “jazz”,
com direito a improvisações. Sem dúvida, os arranjos, vocais de JULES
VANDYSTADT valorizam as interpretações de todos, inclusive do próprio, de
cuja participação, como cantor, não
havia ainda falado. Simplesmente, fantástica!
FICHA TÉCNICA:
Roteiro / Direção Musical /Arranjos: Jules Vandystadt
Direção: Kika Freire
Elenco: Gottsha, Jules Vandystadt, Evelyn Castro, Ester Freitas e Raphael Rossato
Coordenação Artística: Cris Fraga
Direção de Produção: Nilza Guimarães
Arranjos Instrumentais: Heberth Souza
Músicos: Heberth Souza, Thais Ferreira, Matias Corrêa, Naife Simões
Figurino e Cenário: Teca Fichinski
Visagismo: Uirandê de Holanda
Luz: Paulo César Medeiros
Som: André Garrido
Programação Visual: Victor Hugo Cecatto
Assessoria de Imprensa: Julyana Caldas
Realização: Dois Atos Produções Culturais.
Fotos: Hugo Cecatto e Luciana Corrêa Mesquita
SERVIÇO:
Temporada: de 03 a
31 de janeiro
Local: Teatro das Artes (Shopping da Gávea) – Rua Marquês de São
Vicente, 52 – 2º piso – Gávea – Rio de Janeiro
Dias e Horários: 2ªs e 4ªs feiras, às 21h
Classificação Etária: 10 anos
Valor do Ingresso: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia entrada)
Gênero: Teatro Musical
Duração: 1h10min
“O HOMEM NO ESPELHO” merece uma
carreira longa, inclusive fora do Rio de
Janeiro, no que acredito, piamente, pela excelência do espetáculo, que
precisa, no entanto, de um cuidado maior, por parte da produção, para que não voltem a ocorrer os desagradáveis problemas
de superlotação, como ocorreu no dia da sessão em que assisti ao musical.
E VAMOS AO TEATRO!!!
E VAMOS OCUPAR TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO!!!
(FOTOS: HUGO CECATTO
e
LUCIANA CORRÊA MESQUITA.)
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