BENEDITA
(UM ESPETÁCULO
QUE SURPREENDE,
PELA EXCELÊNCIA
DE SUA QUALIDADE.
ou
A CONSAGRAÇÃO DE UM MULTIARTISTA.)
Um
dos fatores que mais me encantam, no TEATRO, é a sua capacidade de me
surpreender. Ir ao teatro, para assistir a um determinado espetáculo, escrito
por um autor consagrado, dirigido por um diretor renomado e contando com um
elenco de conhecidas estrelas, muitas delas de grande apelo popular, via a
poderosa mídia, que é a TV, não gera, via de regra, no espectador, muita
surpresa. Às vezes, a gente se decepciona, é verdade.
Quando, porém, o espetáculo é
um monólogo, idealizado, escrito, dirigido e
interpretado, brilhantemente, por um ator que não frequenta a grande
mídia, mas tem um talento incomum, a alegria da surpresa positiva, o
encantamento, que nos arrebata, é incomensurável e não tem preço.
Que
bom foi ter assistido ao espetáculo “BENEDITA”, em cartaz no Teatro
Café Pequeno (VER SERVIÇO.), com BRUNO DE SOUSA, cujo talento já era
do meu conhecimento, de algum tempo, porém, infelizmente, ainda não conhecido
do grande público, motivo que me faz recomendar muito o espetáculo, para
que todos os que gostam do bom TEATRO, feito com competência e
seriedade, tomem conhecimento da existência desse grande multiartista, que
a Bahia nos deu.
O
espetáculo não é inédito, no Rio de Janeiro, já tendo sido apresentado
aqui várias vezes, anteriormente, porém seu retorno ao cartaz teatral carioca
contribui para marcar a boa qualidade dos espetáculos que abriram o ano teatral
de 2018.
SINOPSE:
O espetáculo traz à tona a
preservação de um “Patrimônio Imaterial
Cultural”, quando leva o público a conhecer, de perto, BENEDITA, uma misteriosa senhora, genuinamente brasileira,
contadora de histórias.
Ela carrega uma gigantesca
trouxa na cabeça. Em meio aos panos que traz, existem roupas sujas, de cores
vivas.
BENEDITA conta a historia dessas indumentárias especiais - peças
que marcaram sua vida centenária, de perdas, encontros, afetos, maledicências,
tragédias, risos, dores...
Sua apresentação é um
ritual de passagem, que passeia entre o trágico e o cômico, para a construção
de uma personagem genuinamente brasileira. Uma mulher-mito, contadora de
histórias, lavadeira/curandeira/ bruxa/feiticeira, em seu limite de vida.
Com uma declarada relação
com o misticismo e com o indizível, ela perpassa o curandeirismo e a
espiritualidade. BENEDITA tece
destinos, através dos casos que conta, relatando uma história arquetípica e
mitológica.
“BENEDITA”
conta com um extenso e importante “currículo”. O espetáculo já
participou, em média, de 20 festivais ou
mostras nacionais, com 18 prêmios
e mais de 30 indicações.
Em 2016, a peça
realizou a circulação nacional, pelo projeto “PALCO GIRATÓRIO – SESC”, rodando por diversas capitais e
interiores do país. Nesse mesmo ano, participou do SOLOS EM CENA – festival de monólogos, em Niterói, RJ. Integrou,
também, o XII FESTIVAL DE TEATRO DE
FORTALEZA - CE”.
Em Salvador, BA, fez quatro temporadas de sucesso, em 2011/2012 (Teatro Gamboa Nova,
Teatro XVIII, Teatro SESI e Teatro Martins Gonçalves).
Já no Rio de Janeiro, o
monólogo fez duas temporadas, em 2014: no Teatro Maria Clara Machado – Planetário Gávea (junho) e no Teatro Ziembinski (outubro).
Em festivais, participou do FIT - FESTIVAL NACIONAL IPITANGA (BA) DE
TEATRO 2012, tendo sido indicado a 8
categorias: Melhor Espetáculo Adulto;
Melhor Diretor; Melhor Ator; Melhor Cenário;
Melhor Trilha Sonora; Melhor Figurino, Júri Popular e Melhor
Maquiagem, premiado nessa categoria. No mesmo ano, participou do MUST – MOSTRA UNIVERSITÁRIA SALVADOR DE
TEATRO (evento organizado pela Escola de Teatro da UFBA) e foi selecionado
para integrar o FILTE - FESTIVAL LATINO
AMERICANO DE TEATRO DA BAHIA . Foi selecionado, também, para a grade de
espetáculos da MOSTRA CARIRI DE ARTES
2012, no Ceará.
Em 2013, “BENEDITA” venceu o FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO HOME
THEATRE, na cidade do Rio de Janeiro,
levando o prêmio de Melhor Cena.
Venceu, ainda, 5 categorias do 1º FESTIVAL DE ESQUETES DA ESCOLA DE TEATRO
MARTINS PENA RJ – Melhor Ator. Melhor Figurino, Melhor Maquiagem; 3ª lugar no
Júri Técnico e 2ª lugar no Júri Popular, além das indicações de Melhor Cenografia, Melhor Direção e Trabalho
Corporal. Premiado, também, no FESTIVAL
NITERÓI EM CENA RJ 2013, como Melhor
Ator e 3º lugar pelo Júri Técnico, além de outras
indicações. No FESTIVAL DE TEATRO DE
PETRÓPOLIS RJ 2013, BRUNO DE SOUSA levou
o prêmio de Melhor Ator.
O espetáculo, em agosto de 2013,
fez parte da programação da MOSTRA
NACIONAL TEATRO NA CONTRAMÃO, proposta pela Escola SESC de Ensino – SESC Jacarepaguá, no RJ. Em setembro do mesmo
ano, participou do FESTIVAL NORDESTINO
DE TEATRO DE GUARAMIRANGA, no CEARÁ,
e FESQ – FESTIVAL DE ESQUETES DE
CABO FRIO, no RJ. Participou,
também, da MOSTRA SOLOS BRASIL, em MARANGUAPE, no CE (novembro 2013) e da FAU –FEIRA DE ARTE URBANA RJ, na Fundição Progresso (dezembro 2013) Vencedor, também, do FESTIVAL ZIEMBINSKI 2014 DE TEATRO, no RJ, nas categorias: 1º Lugar Melhor Cena; Melhor Ator; Melhor Texto e Melhor
Maquiagem, além das indicações de Melhor
Direção, Júri Popular e Maquiagem. No FESTIVAL FETAERJ 2014, ganho o prêmio de Melhor Ator. No FESTIVAL DE
SÃO GONÇALO RJ 2014, também, como Melhor
Ator, além de diversas indicações, incluindo Pesquisa e Estudo Antropológico, Composição Visual e Direção,
dentre outros. Foi selecionado para o 7º
NITERÓI EM CENA 2014, concorrendo com mais
de 180 peças inscritas. O seu mais recente prêmio foi no FESTIVAL DE SUMARÉ – SÃO PAULO 2014, na
categoria Melhor Ator, além do Prêmio Funarte Myriam Muniz 2014, que
possibilitou o solo de circular pelo nordeste
e Rio de Janeiro, em 2015, no projeto CARAVANA AS TRÊS MARIAS.
Ufa!!!
O premiadíssimo espetáculo volta ao Rio de Janeiro, após circulação por 16 estados e mais de 40 cidades do Brasil.
Não foi à toa que resolvi utilizar um espaço bem razoável, muitas
linhas, para contar a trajetória do espetáculo: é para que você, leitor,
entenda o porquê de tanta admiração, de minha parte, pelo espetáculo e pelo
grande multiartista BRUNO DE SOUSA,
para que possa avaliar a qualidade do espetáculo e se interessar em assistir a
ele, nas poucas oportunidades que terá, visto que a temporada é bem curta.
Transcrevo um trecho do “release”
da peça, com o qual concordo plenamente: “Em tempos de avanços tecnológicos e de
modernidade, reconhecer, valorizar e homenagear um personagem vivo da nossa
cultura popular tem sido uma prática essencial para a manutenção de tradições
ameaçadas ao esquecimento.
Não à toa, BRUNO DE SOUSA, ator e criador do espetáculo ‘BENEDITA’,
traz, para a cena, tal reflexão. Quantas figuras do nosso imaginário popular,
folclórico ou não, ícones, que formaram nossa infância ou comungaram, de algum
tipo, de influência na nossa formação, estão caindo no ostracismo? Quem nunca
teve uma vizinha benzedeira, lavadeira? Ou conheceu alguém detentora de
sabedorias naturais diversas? A anciã que cura os males mais inusitados?
São figuras que, de alguma maneira, todos nós conhecemos ou das quais
já ouvimos falar e que enriquecem a cultura brasileira. ‘BENEDITA’ reúne, na
cena, esses diversos ícones populares, através da personagem título da peça, na
tentativa de compreender e estimular o respeito à diversidade e a valorização
da identidade.
Via personagem, a montagem também discute temas vários, como o aborto,
o misticismo, o abuso de poder, a ética e o papel do idoso em nossa sociedade.
O espetáculo se encontra atrelado a duas matrizes de trabalho: o Teatro
Físico e a Contação de História. Nessas duas searas cênicas, tanto o discurso
corporal como o verbal, produzido pela personagem BENEDITA, têm um valor
semântico estabelecido.
Toda a movimentação e os modos de fala, assim como os argumentos,
estabelecem uma trama de referências, que levam o espectador a criar o
interesse pelas ações, assuntos e detalhes presentes no espetáculo.”.
Para analisar o espetáculo, partindo da ficha técnica, o nome de
BRUNO DE SOUSA, inevitavelmente, será, várias vezes, invocado, pelas
funções que exerce na peça.
Seu primeiro mérito está na idealização
do espetáculo, pela preocupação, muito bem explicitada no trecho acima,
extraído do “release” da peça.
Realmente, faz-se necessário, cada vez mais, que pessoas demonstrem interesse
pela preservação e valorização das nossas tradições culturais e, mais que isso,
ajam, ponham a mão na massa, produzindo obras de arte, voltadas para essa
temática, em qualquer que seja a linguagem. No TEATRO, serão, sempre, de grande valia, devido à maior proximidade
do público com o material explorado cenicamente.
Como diretor de si mesmo,
seu trabalho também deve ser louvado. Ficar em cena, sozinho, por uma hora,
ainda que cercado de tantos atrativos visuais, não é tarefa fácil para um ator,
que depende muito das soluções de um bom diretor,
para que o espetáculo não caia na monotonia, principalmente quando se trata de
um monólogo. Enfadonho é tudo o que este espetáculo não é, em função das
excelentes resoluções encontradas pela direção,
assim como o trabalho de direção de
movimento, que parece ter surgido naturalmente, à medida que o processo ia
se desenvolvendo e a personagem tomava corpo. É claro que, sendo o diretor e o ator, a mesma pessoa, aquele irá procurar, com mais sentido, o que
o faça este permanecer melhor, numa zona de conforto.
Já que o ator foi chamado às
minhas observações, tenho a dizer que é uma pena que BRUNO, ou melhor, o espetáculo, não esteja habilitado a concorrer
aos prêmios de TEATRO, de 2018, no Rio de Janeiro, pelo fato de não ser inédito, porque, se lhe fosse permitido
participar de tais competições, o nome de
BRUNO DE SOUSA, certamente, estaria concorrendo à categoria de Melhor Ator, com grandes chances de
vitórias. É, para mim, uma tarefa difícil, traduzir, em palavras, a minha
enorme emoção, ao vê-lo atuando. Sua composição de personagem é das mais
interessantes que já vi, na minha vida, trabalhada, centímetro a centímetro, na
postura corporal, nas máscaras faciais e na voz. Há, para isso, uma
considerável ajuda de uma maquiagem
surpreendente, sem artificialismos, de uma naturalidade incrível, a ponto de
dar a impressão de que o ator usava uma máscara de látex, daquelas que aderem,
totalmente, à pele, quando, na verdade, se trata de um riquíssimo trabalho
artesanal, feito para cada sessão, pelo próprio ator, e retirado, parte dele, ao
final do espetáculo, na hora dos aplausos.
A verdade que BENEDITA, ou
melhor, Bruno nos passa é
fantástica. Sua interpretação é irretocável, irrepreensível, natural e
emocionante. Não há como não reconhecer isso.
Quanto ao texto, este é o
único elemento sobre o qual não poderei tecer tantos elogios, porque vi, nele,
apenas um ponto de partida, um referencial, para que o ator pudesse mostrar o seu trabalho, o eu enorme talento de
intérprete. Não é ruim; há, inclusive, algumas passagens bem interessantes,
mas, no todo, creio que faltou algo à dramaturgia,
o que, de forma alguma, torna o espetáculo menos lindo.
Seria injusto, se não citasse os nomes de DANILO PINHO e FÁBIO VIDAL,
na “orientação”, segundo a ficha técnica, o que entendi como um
auxílio na direção, salvo engano.
A cenografia é uma obra-prima, uma obra de arte. Não vou entrar em detalhes, para não tirar, aos que
ainda verão a peça, o prazer, o deleite de ver e descobrir como ele vai sendo desconstruído
e construído, em cena, pelo próprio ator.
Só posso adiantar que se trata de uma idea muito original, criativa, que cabe
numa gigantesca trouxa de roupas para lavar e que também seria merecedora de
premiações.
O brilhantismo do espetáculo está muito, também, na linda iluminação, a cargo de PEDRO DULTRA, que idealizou um desenho de luz capaz de pôr em
evidência detalhes do cenário e da interpretação, assim como serve para
separar o onírico do real.
Neste espetáculo, um dos fatores mais interessantes é que todos os elementos
“tecno-cênicos” dialogam entre si,
todos falando o mesmo idioma. Assim, há uma perfeita comunhão entre cenário, figurino, visagismo, iluminação...
O figurino, assinado por DIANA MOREIRA, também impressiona, por
sua “suigeniridade” (merece até um
neologismo). É inventivo, prestando-se ao desenvolvimento das cenas, pois
comporta “n” bolsos e bolsas acopladas, de todos os tamanhos, de onde saem
elementos essenciais para o desenrolar do espetáculo. Uma genialidade!
Quanto ao visagismo, termo
que passou a ser utilizado para fazer referência à caracterização física de um
personagem, abrangendo a maquiagem,
vou me deter nesta, sobre a qual já fiz referência, para louvar o trabalho de
criação de RAMONA AZEVEDO, capaz de
transformar o rosto do jovem BRUNO
no de uma anciã, caquética, quase sem dentes, envelhecida e desgastada, pelas
dores da vida Outra obra que merece
todos os aplausos.
Além dos muitos sons e onomatopeias
produzidos pelo próprio BRUNO,
durante todo o espetáculo, o clima da peça, o universo de BENEDITA, também é criado pela ótima trilha sonora, a car4go de LEANDRO
VILLA.
FICHA TÉCNICA:
Texto, Direção e Atuação: Bruno de Sousa
Orientação: Danilo Pinho e Fábio Vidal
Cenografia: Rodrigo Frota
Figurino: Diana Moreira
Desenho de Luz: Pedro Dultra
Trilha Sonora: Leandro Villa
Maquiagem: Ramona Azevedo
Adaptação e Operação de luz: Élton Pinheiro
Produção: Joana D’Aguiar
Realização: Cia Sino de Teatro e Sopro Escritório de Cultura.
SERVIÇO:
Temporada: De 9 a 31 de janeiro de 2018
Local: Teatro Municipal Café Pequeno
Endereço: Avenida Ataulfo de Paiva, 269, Leblon, Rio de Janeiro
Dias e Horários: Às 3ªa
e 4ªs feiras, às 20h
Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada)
Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada)
Duração: 60 minutos
Classificação
Indicativa: 12 anos
Gênero: Drama
Informações: Joana D’Aguiar (21)
98289-5062
“BENEDITA” é
um espetáculo que emociona muito, mas também diverte; que nos transporta a um Brasil
tão distante de nós, mas que não pode, nem deve, ser ignorado; que é uma prova
viva de que não é necessário um caminhão de dinheiro, para se produzir um excelente
espetáculo teatral; que nos faz acreditar no artista brasileiro e colocá-lo na
posição de destaque que merece.
Assistir a “BENEDITA”
é quase uma obrigação, para quem gosta de TEATRO, com todas as maiúsculas.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO RIO DE JANEIRO E DO BRASIL!!!
(FOTOS: RODRIGO
FROTA, PAULO FUGA, WAGNER MORAIS, MAYCONJ SOLDAN, AGNES CAJAÍBA, DONA MARIANA,
FABÍOLA BUZIM, FABIANA MAIA,
VILLAS MAGAZINE e
COMPARTILHADO NO
GOOGLE.)
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