BIBI
–
UMA
VIDA EM MUSICAL
(BIBI: UMA VIDA QUE VALE TODOS
OS MUSICAIS.
ou
UMA OBRA-PRIMA,
SEM O MENOR ESPAÇO
PARA QUALQUER
TIPO DE ERRO.)
Sejam
as minhas primeiras palavras de um enorme agradecimento a THEREZA TINOCO e a CLÁUDIA
NEGRI, por terem tido a feliz e iluminada ideia de idealizar um espetáculo musical,
homenageando alguém ainda em vida, coisa tão rara, no Brasil, sendo que esse “alguém”,
ainda em atividade, aos 95 anos de idade,
é, nada mais, nada menos, que a maior
estrela do TEATRO BRASILEIRO de todos os tempos. E o termo “estrela” vai, aqui, empregado pelo
fato de sua arte atingir várias
mídias e funções, não apenas como atriz.
Sem mistérios maiores, pois todos os que me leem já se deram conta de quem
estou falando, preparem seus corações para uma viagem no tempo, a fim de
conhecer um pouco mais sobre DONA BIBI
FERREIRA, nascida Abigail Izquierdo
Ferreira.
De
acordo com o “release”, enviado pela
assessoria de imprensa (MEIZE HALABI),
o espetáculo “é uma produção com 19 atores, 8 músicos, 120 figurinos, 30 perucas,
sapatos e chapéus sob medida, 800 metros de tecidos, 12 costureiras, 300
refletores e uma cena com 1.490 lâmpadas”. Resumindo, uma superprodução, DE VERDADE, que emprega cerca de uma centena de profissionais.
E
segue o “release”, dizendo o que
todos nós já esperávamos ver em cena: “um tributo inédito à maior estrela do teatro
nacional, que está em cena há 76 anos”.
Uma
vida inteira dedicada às artes, é a própria BIBI quem diz: “Não consigo lembrar de mim fora de um teatro”.
“A trajetória pessoal e profissional dessa
estrela brasileira só poderia ser contada, e celebrada, levando para o palco o
próprio palco, das companhias de comédia, do teatro de revista, dos grandes
musicais e do teatro engajado, em que ela atuou”, ainda consta no “release”.
SINOPSE:
Em “BIBI,
UMA VIDA EM MUSICAL”, a história familiar, profissional e amorosa da
artista se enredam.
A formação em música, dança e línguas estrangeiras foi
estimulada pela mãe AÍDA IZQUIERDO, bailarina espanhola.
A estreia profissional
no teatro, aos 19 anos, foi pela mão do pai, o ator PROCÓPIO FERREIRA, em papel
escrito, por ele, para a filha.
Assim, o musical percorre todas as fases da vida
de BIBI, da escolha do seu nome, sua preparação para os palcos, os espetáculos
musicais, como os inesquecíveis “Gota D’Água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, "Minha Querida Dama" (“My Fair Lady”), “Alô Dolly” ("Hello, Dolly") e “Piaf, a Vida de Uma Estrela da Canção”, seus casamentos, o nascimento da filha única, Tina Ferreira, as viagens
para Portugal e Inglaterra, a trabalho e a estudo, a homenagem da escola de samba Viradouro,
até sua chegada a um teatro da Broadway, aos 90 anos.
Sem
mais delongas (entreguei a idade), passemos a fazer um comentário crítico sobre o musical,
de longe, um dos melhores - se não o
melhor - musicais biográficos a que já assisti em toda a minha vida. E não
foram poucos; não foram mesmo.
Comecemos
pelo texto, base de sustentação de
qualquer peça de TEATRO. Depois de
ter marcado muitos pontos positivos, com “Hebe
– O Musical”, em cartaz em São Paulo,
cujo roteiro foi baseado na biografia
da artista, escrita pelo próprio, ARTUR
XEXÉO acertou a mão, neste “BIBI...”,
ao lado de LUANNA GUIMARÃES, com
quem divide a tarefa de contar a trajetória dessa grande dama do TEATRO BRASILEIRO, da juventude aos
dias atuais. Grande mérito da dupla! Parece-me
que, na verdade, XEXÉO é o co-autor do texto, o que não faz a menor diferença.
No
texto, não ficam de fora os
principais fatos e momentos que marcaram a vida de BIBI, ela que, mesmo sem a menor noção do que seria uma artista,
entrou em cena, pela primeira vez, aos 24
dias de idade, na peça “Manhãs de Sol”, de autoria de Oduvaldo Vianna, substituindo
uma boneca,
que desaparecera pouco antes do início do espetáculo.
Quanto à idade exata de BIBI, não pairam dúvidas com relação ao ano:
1922, o da “Semana de Arte Moderna”, que balançou os alicerces da genuína
cultura nacional. Coincidentemente, no ano em que surgiu um representativo movimento
de vanguarda cultural, no Brasil, também nasceu BIBI. Ou será que “estreou”? Já sobre o dia certo do nascimento,
há muitas dúvidas. Parece que nem BIBI
sabe, ao certo, o dia em que veio ao mundo. A mãe dizia que ela nascera
em 1º de junho;
o pai falava que a data era 4 de junho,
mas sua certidão de nascimento traz a data de 10 de junho. Isso era muito comum naquele tempo.
Ainda bem pequenina, seus
pais se separaram e BIBI passou a
viver com a mãe, que foi trabalhar na Companhia
Velasco, uma companhia de teatro de revista espanhola. Seu primeiro idioma, até os quatro anos, foi
o espanhol. O idioma português e o grande amor
pela ópera ela
viria a aprender com o pai.
De volta ao Brasil,
tornou-se a atriz mirim mais festejada do Rio
de Janeiro. Entrou para o Corpo de
Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde permaneceu por longo tempo, até estrear na companhia do pai.
Aos nove anos, teve negada a matrícula no Colégio
Sion, em Laranjeiras, por ser
filha de um ator de teatro, o que não era visto com bons olhos, naquela época;
não poderia se misturar com as meninas “de família”.
Profissionalmente, sua estreia se deu em 28 de fevereiro de 1941, quando interpretou Mirandolina, na peça “La
Vocandieira”.
Em 1944, montou sua
própria companhia teatral, reunindo alguns dos nomes mais importantes do TEATRO BRASILEIRO, como Cacilda Becker, Maria Della Costa e a diretora Henriette Morineau. Pouco mais tarde, foi
para Portugal,
onde dirigiu peças, durante quatro anos, com grande sucesso.
É bom acrescentar, também, que estudou TEATRO, durante uma boa temporada, em Londres.
Na década
de 60, vieram os sucessos dos musicais, como “Minha Querida Dama” (My Fair Lady), ao lado de Paulo Autran, com quem formou outras
duplas de protagonistas. Ainda nessa época, atuou, também, em outros musicais
de TEATRO e televisão. Em 1960, iniciou a apresentação, na TV Excelsior de São Paulo, de "Brasil 60" (61, 62, 63, etc.,
conforme o ano), um programa ao vivo, que levou, à televisão, os maiores nomes
do TEATRO, aproximando as duas
mídias e ajudando a promover este. Um dos grandes entrevistados foi seu próprio
pai, uma lenda viva, à época, do TEATRO
BRASILEIRO.
Na década de 70, dirigiu e/ou atuou em
grandes e inesquecíveis espetáculos, teatrais e musicais, como na direção da primeira
versão de “Brasileiro, Profissão:
Esperança”, de Paulo Pontes, com
Maria Bethânia e Ítalo Rossi. Quatro anos depois,
remontou o espetáculo, contando com a atuação de Paulo Gracindo e Clara Nunes,
lotando, por meses, a maior casa de “shows”
do Rio de Janeiro, à época, o o
lendário Canecão. Em 1972, atuou no emblemático musical “O Homem de La Mancha”, como Aldonza/Dulcinéa,
repetindo a dobradinha BIBI FERREIRA/Paulo
Autran, com tradução de Paulo Pontes
e Flávio Rangel, com direção deste, além das versões de Chico Buarque e Ruy Guerra,
para as lindas canções da trilha do
musical, que ainda contava com Grande
Otelo, como Sancho Pança, no elenco. Esse
musical havia sido trazido por Paulo
Pontes, que assistira a uma montagem dele na Broadway e achou que seu conteúdo tinha tudo a ver com o momento
político brasileiro de então. Em 1975, participou da emblemática e inesquecível montagem de “Gota “D’Água”, uma versão moderna e
urbana da tragédia “Medeia”, de Eurípedes, numa releitura de Chico Buarque e Paulo Pontes, um dos maiores sucessos do TEATRO BRASILEIRO, em todos os tempos, espetáculo que ficou meses
em cartaz, com total aprovação de público e de crítica e que mostrou um outro lado
de BIBI, a engajada nos problemas
sociais, mais próxima ao povão, numa personagem, Joana, completamente distante do “glamour” de outras por ela
representadas anteriormente. Em 1976, dirigiu Walmor Chagas, Marília Pêra, Marco Nanini e
mais 50 artistas, em “Deus Lhe Pague”, um clássico da
dramaturgia brasileira, de Joracy Camargo.
Na década
de 80, marcou presença, com a descoberta de que poderia interpretar a diva Edith Piaf. Foi em 1983 que estreou “Piaf, a
Vida de uma Estrela da Canção”, trabalho que, além da consagração do
público e da crítica, lhe rendeu alguns prêmios. Aliás, prêmios não lhe
faltaram e, ainda hoje, os recebe, à farta. Gastaríamos dezenas de linhas, para
enumerá-los. “Piaf...” fez muitas
viagens, permaneceu seis anos em cartaz e, em quatro anos, atingiu um milhão de
espectadores, incluindo uma temporada em Portugal,
com atores portugueses no elenco.
Na década
de 90, montou, pela terceira vez, “Brasileiro,
Profissão: Esperança”, com ela mesma atuando, ao lado de Gracindo Júnior. Fez, ainda, um outro
espetáculo, em que cantava canções e contava histórias de Piaf, comemorou seus 50 anos
de carreira, com o espetáculo “Bibi
in Concert” (1 e 2) e dirigiu, pela primeira vez, uma ópera, “Carmen”, de Bizet.
Em 2003,
foi recebida nos braços do povo, em plena Avenida
Marquês de Sapucaí (Sambódromo), quando, homenageada pela Escola de Samba Unidos do Viradouro, foi
tema de enredo, no carnaval carioca.
A VIRADOURO CANTA E CONTA BIBI - UMA
HOMENAGEM AO TEATRO BRASILEIRO
(G.R.E.S Unidos do Viradouro - RJ)
O teatro consagrou e pede passagem.
A Viradouro, meu amor, faz a homenagem.
O teatro consagrou e pede passagem.
A Viradouro, meu amor, faz a homenagem.
Abram as cortinas, que o show vai começar.
É "manhã de sol", um rouxinol vem despertar.
Voa, vai tocar no seu coração.
Amor, nessa avenida, quanta emoção
Em cada gesto, em cada expressão,
Em cada lágrima que vai sorrir.
Diva, brilha a voz dos grandes musicais.
Nesse palco, os artistas imortais
Hoje vão te aplaudir.
Se um vento soprar, eu vou.
Deixa o "Dom" me levar, amor.
Vou em busca de um ideal,
No meu sonho de carnaval.
Se um vento soprar, eu vou.
Deixa o "Dom" me levar, amor.
Vou em busca de um ideal,
No meu sonho de carnaval.
Em toda forma de arte,
Uma luz acendeu.
A "Gota D'Água" faz parte
Dos seus encontros com Deus.
"Piaf, um hino ao amor",
"A vida de uma estrela da canção"
Em uma noite de esplendor.
"Amália" foi sua inspiração
E, quando o sol se põe,
Desce uma estrela lá do céu.
Vem reviver, ao seu lado, Bibi,
O seu mais brilhante papel.
Na década
de 2010, BIBI se dedicou a realizar
espetáculos focados em apenas um artista, como Piaf, por quem ela tem grande admiração, Amália Rodrigues, a Rainha
do Fado, e o ícone Frank Sinatra.
Após 50 anos afastada do teatro de
comédia, voltou aos palcos, como atriz, fazendo “Às Favas com os Escrúpulos”, texto
de Juca de Oliveira e direção de Jô Soares.
Em 2015,
entrou para a lista das 10 Grandes
Mulheres que Marcaram a História do Rio de Janeiro, ao lado, simplesmente,
de nomes como Dona Ivone Lara, Chiquinha Gonzaga, Cecília Meireles, Leila Diniz, Maria Lenk, Carmen Miranda, Nise da Silveira, Helô Pinheiro e a Princesa Isabel.
Aos 90 anos,
conseguiu realizar um sonho/profecia, que foi cantar na Broadway, em New York,
para um enorme público, que a ovacionou.
Aos 95 anos,
ainda faz sua turnê de despedida dos palcos, com o “show” “Bibi - Por Toda Minha Vida”, espetáculo só com músicas
brasileiras.
BIBI é, também, homenageada, em São Paulo, como sendo o nome do mais importante prêmio, do Brasil, exclusivamente para TEATRO MUSICAL, idealizado por Marllos Silva, o "PRÊMIO BIBI FERREIRA", a cujas cerimônias faço questão de comparecer, convidado que sou.
Musicais biográficos não têm muito como
fugir a uma forma, ou fórmula, para contar a vida do personagem, que não seja
seguir uma ordem cronológica (isso
até serve para facilitar, ao espectador, o acompanhamento do espetáculo), o que
é motivo de crítica negativa, para muita gente, mas que, a mim, não incomoda
nem um pouco; ao contrário, gosto muito. O que me desagrada é quando o texto é mal escrito, o que não é o caso
em tela; ocorre, justamente, o oposto. É um texto limpo, preciso, necessário.
Para
ser considerado bom, dentre outras exigências, a parte referente à trilha sonora de um musical tem de agradar aos ouvidos,
quer seja ela formada por canções
conhecidas, quer utilize composições
originais. É ótimo, quando deixamos o teatro
com alguns trechos, ou canções inteiras, na memória, a afetiva, principalmente.
É claro que, também, é preciso que todas as canções estejam inseridas no
contexto da história. Isso ocorre em
“BIBI...”. São 33 canções, ao
todo. A utilização de músicas conhecidas, todas de grande sucesso, em décadas
anteriores, e as composições criadas, especialmente, para a peça (5), todas da lavra de THEREZA TINOCO, são de um bom gosto a
toda prova e, perfeitamente, ocupando os lugares e momentos corretos.
Ainda
na área musical, mais uma vez, TONY LUCCHESI, de reconhecido talento,
assume a difícil tarefa de assinar a direção
musical do espetáculo, além de, também, ser responsável pelos arranjos, contando com a luxuosa assistência de ALEXANDRE QUEIROZ e LÉO
BANDEIRA. O que não falta é harmonia, na área musical, não só pelo fato de
todo o elenco se sair muito bem, no canto, como também pela parte que cabe
à ótima banda, formada por ALEXANDRE QUEIROZ (regência e piano), MIGUEL SCHÖNMANN (teclado, violão e
cavaquinho), LÉO BANDEIRA (bateria),
DAVID NASCIMENTO (baixo), THAIS FERREIRA (violoncelo), LUIZ FELIPE FERREIRA (violino), ÉVERSON MORAES (trombone) e GILBERTO PEREIRA (flauta, clarinete, sax
alto e sax tenor). Oito músicos, produzindo um som que parece vir de uma orquestra
de muitos outros.
SUELI GUERRA faz um excelente trabalho
de coreografia e direção de movimento, coordenando um elenco de muitos atores, harmoniosamente
colocados em cena. Nas coreografias,
originais e ajustadas a cada momento, ela procura ocupar todo o espaço cênico,
principalmente na cena em que BIBI
dança com GUILHERME LOGULLO, ao som
de “Estrada do Sol”, de Tom Jobim e Dolores Duran, muito bem interpretada pelo casal de atores,
celebrando o início do romance de BIBI com
PAULO PONTES.
A
parte cenográfica é uma das grandes
atrações do espetáculo, a cargo de NATÁLIA
LANA, que se preocupou em fazer uma homenagem
ao TEATRO, utilizando as estruturas básicas da cenografia à mostra, “sem coberturas”, segundo a própria. São
utilizados muitos trainéis (elementos de madeira
ou tecido, móveis e bidimensionais, nos quais se pode pintar um muro, jardim, porta,
parede, janela etc.,) praticáveis, palco, boca de cena, telões, rotunda,
ciclorama, bambolinas e pernas (elementos
que se caracterizam como limite lateral do palco). A intenção disso, segundo a cenógrafa, é prestar uma merecida “homenagem
aos técnicos de palco, que ficam atrás das cortinas, mas que fazem o espetáculo
acontecer”. Achei brilhante a ideia!
Revelou-me, ainda, NATÁLIA que, “no primeiro ato, os elementos cenográficos retratam a cenografia de uma
época, com telões pintados e mais realistas; já no segundo, que se passa a
partir da década de 60, mostramos um rompimento com o realismo, e utilizamos um
cenário mais abstrato, que busca receber e trabalhar com a luz”.
Complementa a talentosa NATÁLIA LANA
que “foi
muito importante ter a direção, a iluminação e os figurinos neste mesmo
conceito, para que fosse obtida uma unidade no espetáculo”. Isso se
chama trabalho em equipe e só pode
dar certo. Em TEATRO, ninguém faz nada
sozinho.
Peguemos o gancho, então, para fazer
referência à belíssima iluminação,
de ROGÉRIO WILTGEN, que não
desperdiça a luz, com invenções desnecessárias, algumas vezes, vistas em outras
produções, quase à guisa de “experimentos”, por vezes, desastrosos. Tudo -
intensidade e tons - neste desenho de
luz, é ótimo e ajuda a criar imagens que não se apagarão de nossas mentes.
Aplausos, de pé, para a suntuosidade
e a criatividade, nos figurinos –
muitos e todos –, desenhados e idealizados pela dupla NEY MADEIRA e DANI VIDAL.
Não há um, sequer, que não esteja adequado a cada momento, a cada cena, sem
falar no bom gosto da dupla e na qualidade dos acabamentos, o que, via de
regra, não é muito comum, em figurinos
teatrais. A elegância dos modelos usados por BIBI, ao longo de sua carreira, veste AMANDA ACOSTA, assim como, elegantemente, se apresentam todos os
outros personagens da peça.
O desenho de som, de GABRIEL
D’ÂNGELO, é correto, o que significa que ele, com sua comprovada
competência, venceu, mais uma vez, um desafio, do qual ouço falar muito, que é
resolver as dificuldades para uma boa equalização de som, no Teatro OI Casa Grande, pelas enormes
dimensões deste (quase mil lugares, com um grande balcão). Som perfeito e cristalino.
TADEU
AGUIAR brilha na direção do
espetáculo, sabendo pôr em relevo aquilo que mais o merece, com soluções bonitas,
práticas e de fácil assimilação, para o público, até o mais leigo. Contando com
a assistência de FLÁVIA RINALDI, TADEU fugiu ao piegas, soube explorar o
talento individual de cada ator/atriz,
valorizou a competência de cada um, individualmente, e o resultado é um
espetáculo que pode ser considerado uma OBRA-PRIMA,
motivo de orgulho para nós, brasileiros, daqueles em que, o mais exigente dos
críticos não haverá de encontrar erros, mesmo se os procurar, utilizando a
maior lente de aumento “fabricada pela NASA”
(momento descontração). É preciso muita falta de sensibilidade e bom gosto, para não aplaudir este espetáculo, de pé, e fazer ecoar muitos gritos de "BRAVO!".
TADEU
AGUIAR, com seu “faro” e grande experiência no ramo, contando com sua
competente e fiel equipe, escalou o elenco ideal para a peça. Procuro ver
outros atores, substituindo os personagens principais, ou os de maior destaque,
e, por mais que me venham à mente nomes de grandes profissionais, o que, felizmente,
há bastante, hoje em dia, entre nós, não consigo imaginar, por exemplo, outra
pessoa encarnando BIBI, que não seja
AMANDA ACOSTA, ou PROCÓPIO FERREIRA, que não CHRIS PENNA.
Já que estamos falando de atores e atrizes, passemos a dissertar sobre o excelente elenco do musical. Da protagonista
a quem faz o personagem mais coadjuvante,
todos, sem exceção, cumprem suas funções com a maior garra e competência,
passando, para o público, a mais sincera impressão de prazer naquilo que estão
fazendo. É impossível não enxergar
verdade em todos.
AMANDA
ACOSTA, que, assim como BIBI, já
viveu, no palco, a personagem Eliza
Doolittle, de “My Fair Lady” (BIBI, em 1962; AMANDA, em 2006), é um fenômeno a ser estudado.
Não sei como pode caber tanto talento num corpo franzino, que se presta a
construir uma personagem a qual atravessa décadas, promovendo, com sua postura,
as transformações corporais da personagem, fruto do envelhecimento natural,
assim como o da sua voz. Sim, senhores! AMANDA
“envelhece” fisicamente e na voz, também, conseguindo cantar como a BIBI de hoje, no mesmo nível de
excelência como cantava a homenageada, quando ainda era jovem. Um fantástico trabalho de composição de
personagem, que não é de imitação barata, caricatural. AMANDA se sente BIBI, e
o resto - gestos, vozes, postura, trejeitos, tiques... – tudo vai sendo incorporado à
personagem, da forma mais natural possível. Será difícil disputar, com ela, o
prêmio de Melhor Atriz em musical ou, simplesmente, o de Melhor Atriz, de uma forma geral, no
ano de 2018.
AMANDA,
que, além de grande atriz, é dona de uma belíssima e afinada voz, é uma espécie de talismã, para TADEU AGUIAR, sob cuja direção já havia feito, com grande
sucesso, “Essa é a Nossa Canção”, “Baby, o Musical” e “4 Faces do Amor”. Não há quem não
poupe elogios ao magnífico e indiscutível trabalho da atriz.
As pessoas que reconhecem o talento
de AMANDA são as mesmas que, também,
de forma unânime, aplaudem, freneticamente, a magistral atuação de CHRIS PENNA, interpretando o pai de BIBI, PROCÓPIO FERREIRA, um dos mais reverenciados atores brasileiros de
todos os tempos.
Conheço CHRIS há dez anos, temos uma amizade pessoal, do que muito me
orgulho, mas a coloco em último plano, para avaliar seu trabalho. Sempre
reconheci nele um enorme talento, que nunca tivera, até agora, a oportunidade
de ser explorado. Talhado para musicais, grande cantor e exímio dançarino,
sempre participou de grandes espetáculos, nos quais se destacava muito, é
verdade, mas não como ator. Neste “BIBI...”,
felizmente, a sua hora chegou, o que eu já lhe havia antecipado, há uns três
anos, em plena Banda de Ipanema, num
momento em que, um pouco triste e decepcionado com a carreira, ele chegou a
acenar com a hipótese de abandoná-la. Orgulho-me de lhe ter feito esquecer aquele
plano e continuar investindo na carreira, na certeza de que seu dia haveria de
chegar. E ele chegou. E o melhor: com o total reconhecimento do público e da crítica.
Sua composição do personagem faz com que ele fique irreconhecível, no palco,
sem muitos recursos de maquiagem, a não ser uma pequena prótese, para acentuar
o nariz “abatatado” de PROCÓPIO. No
mais, é pesquisa, é estudo, é dedicação, é competência... É um grande ator,
defendendo um grande papel. Tenho certeza de que seu talento, tão aplaudido,
até em cena aberta, também fará dele indicado a premiações. Dê, a um bom ator,
um bom papel e ele lhe retribuirá em dobro!
Os outros três papéis de maior
destaque foram entregues a LEO BAHIA,
FLÁVIA SANTANA e ROSANA PENNA, os quais, respectivamente,
vivem um MESTRE DE CERIMÔNIAS (de um
circo), uma CIGANA e a VÓ IRMA (avó de BIBI). Eles são encarregados de costurar o espetáculo, como narradores,
fazendo a ponte entre as cenas, seguindo um delicioso texto, que permite pitadas de um bom humor, da parte dos três, com
um pouco de acentuação, nesse item, para LEO.
É ótimo o trabalho do trio.
SIMONE
CENTURIONE complementa o tripé da família FERREIRA. Ela é AÍDA
ISQUIERDO FERREIRA, uma bailarina argentina, mãe de BIBI, numa interpretação bastante correta, embora a personagem não
ganhe tanta relevância, na trama, quanto PROCÒPIO.
Além de uma boa atriz, SIMONE domina
o canto e é sempre muito agradável ouvi-la cantar e vê-la interpretar.
BIBI
teve vários amores, uns mais perenes, outros mais meteóricos, porém todos
marcaram sua vida, de alguma forma, e, na peça, alguns deles estão presentes,
vividos por CARLOS DARZÉ (o diretor CARLOS LAGE, o primeiro marido, com quem
BIBI se casou em Assunção, no Paraguai, em 1943), LEANDRO MELO (HÉLIO RIBEIRO), que
conseguiu transformar a atriz em vedete do teatro de revista, e GUILHERME LOGULLO (PAULO PONTES, muitos anos mais novo que BIBI, com quem ela foi casada durante oito anos, até que o
consagrado dramaturgo faleceu, precocemente, de câncer, aos 36 anos de idade).
Os três dão conta dos personagens.
Além desses, BIBI também se casou com Armando
Carlos Magno, apenas citado na peça, pai de sua única filha, Teresa Cristina (TINA FERREIRA), no musical, interpretada por MOIRA OSÓRIO, e os atores Herval Rossano e Édson França. É o que se sabe...
Com
relação a essas relações amorosas, achei bastante interessante a ideia dos dramaturgos e da direção de inserir canções conhecidas, de grande sucesso, para marcar
os finais dos relacionamentos encenados. Assim, Temos CARLOS DARZÉ, cantando “Fim
de Caso”, a belíssima canção de Dolores
Duran, e LEANDRO MELLO, cantando
“Boa Noite, Amor”, a linda valsa de José Maria de Abreu e Francisco Matoso.
Personagens
que fizeram parte, direta ou indiretamente, da vida de BIBI são representados, na peça, por ótimos atores em papéis coadjuvantes, como ANALU PIMENTA (VANDA, fiel amiga), ANDRÉ
LUIZ ODIN (REPÓRTER e DIRETOR DE CINEMA), MOIRA OSÓRIO (CACILDA BECKER, além de TINA
FERREIRA, como já dito), BEL LIMA
(MARIA BETHÂNIA e MARIA DELLA COSTA), JULIE DUARTE (LÍGIA FERREIRA), CARLOS
DARZÉ (REPÓRTER e VIANINHA, além de CARLOS LAGE, já citado), JOÃO
TELLES (SR. PRAXEDES, o censor),
LEONAM MOARES (ÍTALO ROSSI), FERNANDA
GABRIELA (FOTÓGRAFA, HENRIETTE MORINEAU e THEREZA ARAGÃO), CAIO GIOVANI (MAQUIADOR e
LOUIS ARMSTRONG, em homenagem), LUÍSA VIANNA (NEIDE, a fiel escudeira, secretária particular, espécie de
governanta, até hoje) e LEANDRO MELO (FERREIRA GULLAR, além de HÉLIO RIBEIRO, de quem já falei). Todos
esses também atuam em pequenos papéis e marcam uma excelente presença no coro.
Nada
melhor, para abrir este espetáculo, do que mostrar um circo-teatro, o “Circo
Queirolo”. O circo-teatro era um
espaço/gênero, que, se não foi
criado no Brasil, aqui teve pleno
desenvolvimento. Tratava-se de um circo que, além de números tradicionais, de
acrobacias, malabarismos, mágicas e palhaçarias, apresentava adaptações de
peças de TEATRO. Muitos dos grandes
nomes do TEATRO BRASILEIRO, do início
do século passado, tiveram nele suas origens, como PROCÓPIO FERREIRA, que levou toda a sua vida, sonhando com a regulamentação da profissão de ator, o
que só se deu pela Lei 6533, de 6 de maio de 1978, assinada pelo
ditador de plantão, Ernesto Geisel,
tendo sido este, provavelmente, o seu único gesto a merecer louvor. Ainda bem
que PROCÓPIO conseguiu ver seu sonho
realizado, já próximo à sua morte, que se deu um ano depois, em 18 de junho de 1979, um ano após a lei
ter sido assinada.
Ouvi,
certa vez, de um famoso homem ligado a musicais,
meu amigo e de nome respeitado, que uma peça desse gênero tem de terminar o 1º ato com uma cena “para cima”, que possa gerar, no espectador,
o desejo de tomar seu cafezinho ou ir ao banheiro, no intervalo, e voltar,
logo, para a sua poltrona, aguardando o restante do espetáculo, e não tomar o
caminho de casa, entediado. E, quanto ao 2º
ato, este deve ser iniciado por uma cena das mesmas proporções da que fez o
pano fechar, ao final do ato anterior. Os autores
do roteiro também devem conhecer essa máxima, porque escolheram encerrar o 1º ato com uma sequência maravilhosa de "Minha Querida Dama" (“My Fair Lady”) (Não assisti, porque
tinha 13 anos, à época, e não consegui ninguém que me levasse ao teatro.) e
iniciar o 2º com um delicioso “medley” de "Alô Dolly" (“Hello, Dolly”), duas das mais marcantes cenas do espetáculo
(Assisti a essa, sozinho, no Teatro João
Caetano, com quase 17 anos, e, a partir de então, jamais perdi um espetáculo
que tinha BIBI no elenco ou na direção.).
Além
dessas, merecem destaque muitas outras mais (eu poderia dizer: a peça inteira), como a da morte de PAULO PONTES, emocionante e aplaudidíssima,
ao final da sequência de canções de “Gota
D’Água”; o hilário momento em que BIBI e PAULO PONTES
tentam driblar a “sanha” implacável do SR.
PRAXEDES (JOÃO TELLES), o censor, o qual estava querendo proibir a
encenação de “Brasileiro, Profissão:
Esperança”, chegando a sua ignorância e intolerância ao ponto de liberar a
peça, desde que trocassem as tolhas vermelhas das mesas, por lembrarem o
comunismo, exigindo que fossem substituídas por outras, de cor diferente
(Episódio parecido com esse aconteceu comigo, numa peça em que atuei, no início
dos anos 70.); a belíssima cena do começo da relação com PAULO PONTES; a da reação da crítica, desfavorável, com relação a
um espetáculo de BIBI, quando é cantada
uma linda canção original e na qual se percebe o requinte desta produção, ao reproduzir, com perfeição,
jornais da época, estampando manchetes desfavoráveis à peça. Também ficam, na
memória, todas as cenas das quais a personagem NEIDE participa, por conta do “timing”
de humor da atriz LUÍSA VIANNA.
FICHA TÉCNICA
Texto: Artur Xexéo e Luanna Guimarães
Música
Original: Thereza Tinoco
Direção Musical e Arranjos: Tony Lucchesi
Direção: Tadeu Aguiar
Elenco (em ordem alfabética: Amanda Acosta, Analu Pimenta, André Luiz Odin, Bel Lima, Caio Giovani, Carlos
Darzé, Chris Penna, Fernanda Gabriela, Flávia Santana, Guilherme Logullo, João Telles, Julie Duarte, Leandro Melo, Leo Bahia, Leonam Moraes, Luísa Vianna, Moira Osório, Rosana Penna e Simone Centurione .
Coreografia
e Direção de Movimento: Sueli
Guerra
Cenário: Natália Lana
Figurino: Ney Madeira e Dani Vidal
Desenho
de Luz: Rogério Wiltgen
Desenho
de Som: Gabriel D’Ângelo
Visagista: Ulysses Rabelo
Fotos: Carlos Costa (divulgação) e Guga Melgar (programa e cena)
Assistência
de Direção: Flávia Rinaldi
Assistência
de Coreografia: Olívia Vivone
Assistência
de Direção Musical: Alexandre
Queiroz
Assistência
de Iluminação: Wagner Azevedo
Direção
de Produção: Eduardo Bakr
Logística e Produção de Montagem:
Norma Thiré
Assistência de Produção: Fabiano Bakr
e Fábio Bianchinni
Produção
e Coordenação Geral: Cláudia Negri
Coordenação Artística: Thereza Tinoco
Idealização: Thereza Tinoco e Cláudia
Negri
Realização: Negri e Tinoco Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 5 de janeiro a 1º de abril de 2018
Local: Teatro Oi Casa Grande
Endereço: Avenida Afrânio de
Melo Franco, 290, Leblon – RJ
Telefone: (21) 2511-0800
Dias e Horários: 5ª e 6ª feira,
às 20h30min; sábado, às 17h e 21h; domingo, às 19h
Duração 140 minutos (com intervalo)
Indicação Etária 10 anos
Capacidade 926 lugares
Valor dos Ingressos: Plateia VIP
= R$150,00; Plateia Setor 1 = R$120,00;
Camarote = R$150,00; Balcão
2 = R$90,00; Balcão 3 = R$50,00 – Os valores são referentes
à entrada inteira, porém há preços de meia entrada para os que,
legalmente, fizerem jus ao benefício.
Vendas antecipadas: tudus.com.br
O
espetáculo chega ao fim, com uma cereja importada para o delicioso bolo, uma joia
de fruta, que é a projeção, num espelho de camarim, de várias imagens de BIBI, em todas as fases de sua vida e
carreira artística.
“BIBI – UMA VIDA EM MUSICAL” é um espetáculo
para ficar anos em cartaz, por ser lindo, tecnicamente perfeito, uma obra poética,
uma celebração ao TEATRO e à vida.
A vida de BIBI se confunde com a história do TEATRO BRASILEIRO.
É uma justíssima
homenagem a quem protagoniza, até hoje, a história do verdadeiro e mais
competente TEATRO BRASILEIRO.
E VAMOS AO TEATRO!!!
VAMOS OCUPAR TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO!!!
(FOTOS: CARLOS COSTA
e
GUGA MELGAR,
além de ARQUIVO e DIVULGAÇÃO.)
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