ALICE
ATRAVÉS
DO
ESPELHO
(QUAIS SÃO OS LIMITES ENTRE
O
REAL E A FANTASIA?
ou
E QUANDO A FANTASIA
É MAIS
REAL DO QUE PARECE?)
Há
30 anos, o TEATRO BRASILEIRO se orgulha de uma de suas melhores companhias, a ARMAZÉM COMPANHIA DE TEATRO, fundada em 1987, em Londrina, e radicada, no Rio de Janeiro, desde 1998, nas dependências da antiga
Fundição Progresso.
Com
uma bagagem de 28 espetáculos, todos
de altíssima excelência, muitos premiados, e com reconhecimento até no
exterior, onde, a convite, já se apresentou em festivais, a COMPANHIA está reencenando, mais uma
vez, até o dia 20 de fevereiro, na
sua sede, um dos seus melhores espetáculos, talvez sua obra-prima, se bem que escolher a melhor montagem do grupo, dentre
todas, seja tarefa das mais difíceis.
O
espetáculo ora comentado e analisado é “ALICE
ATRAVÉS DO ESPELHO”, cuja primeira encenação se deu, ainda em Londrina, em 1998, e, no ano seguinte, no Rio
de Janeiro, onde voltou a ser montada tantas vezes, sempre com o maior
sucesso, lotação esgotada (dois anos em
cartaz, 1999/2000; 2004; 2007; 2012; 2016, além da atual).
Falar
em ARMAZÉM remete-nos a “Casca de Noz”, “Toda Nudez Será Castigada”, “Mãe
Coragem E Seus Filhos”, “Inveja dos
Anjos”, “Antes Da Coisa Toda Começar”,
“A Marca D’Água”, “O Dia Em Que Sam Morreu” e “Inútil A Chuva”, além de “ALICE...”, é claro. São espetáculos
dos mais emblemáticos da COMPANHIA,
que deixaram saudade no público amante do bom TEATRO. Felizmente, de vez em quando, entre uma montagem inédita e
outra, um deles é remontado.
Foi com “ALICE...” que a COMPANHIA ganhou credibilidade, respeito e admiração, no Rio de Janeiro, aqui fincando raízes,
para a nossa alegria.
Além
de encenar autores consagrados universalmente, a ARMAZÉM conta com uma dramaturgia
própria, responsável por alguns de seus melhores textos encenados, em que despontam os nomes de PAULO DE MORAES, JOPA MORAES,
o caçula, e MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA,
que assina o excelente texto de “ALICE...”.
Neste
espetáculo, principalmente, mas em outros, também, o texto corre, lado a lado, com a grande capacidade de exploração do
corpo dos atores, assim como a utilização de elementos circenses, ligados, em
geral, à difícil arte da acrobacia. Encarar 75 minutos em cena, em “ALICE...”,
é uma prova de resistência física, que não é para qualquer principiante; e,
também, para o púbico, já que o espetáculo é itinerante e exige vários
deslocamentos e prova de vigor dos assistentes.
SINOPSE:
A dramaturgia da peça é
baseada na história pessoal do escritor inglês LEWIS CARROLL (Charles Lutwidge
Dodgson) – 1832 / 1898 - e em dois
dos seus mais importantes e conhecidos livros, tendo como personagem principal a
que dá titulo à peça.
O texto conta a trajetória de ALICE,
uma menina em constante estado de transformação (“Eu sei quem eu era, quando me
levantei, hoje de manhã, mas acho que já me transformei bastante, desde então.”).
A partir de um sonho, ela
é transportada para um mundo imaginário, onde vai encontrar figuras saídas da
imaginação de LEWIS CARROLL, como o Chapeleiro Maluco, a Rainha, o Gato Que Ri, a Lebre No Cio,
a Lagarta, fumando “narguilé”...
Num mundo permeado pelo “nonsense” e pelo onirismo, ela vai ter que descobrir uma outra forma de lidar com suas
emoções.
E nós, com ela...
Fazer
uma crítica a este espetáculo é, ao mesmo tempo, muito fácil, pela total abundância
de méritos, e difícil, por tantos detalhes interessantíssimos, que podem vir a
ser omitidos, nestes escritos, pelo fato de eu não ter tido condições para anotá-los,
como é meu hábito, em função do tipo de encenação.
MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA esbanja
talento, na dramaturgia, criticando o que encontra pela frente,
por meio de situações inusitadas, recheadas de um humor cáustico, por vezes, o que
permite, a PAULO DE MORAES competir,
com ele, em genialidade, da mesma forma, no bom sentido, obviamente.
PAULO abusa da inteligência e
criatividade, quer na direção do
espetáculo, quer na fantástica concepção
do espaço cênico E ainda divide, com GÉLSON
AMARAL a genial cenografia.
Jogando em todas as posições, batendo o escanteio e correndo, para marcar o gol,
com uma bela cabeçada, ainda é o responsável por uma trilha sonora irretocável, na qual não poderiam faltar os BEATLES, e uma iluminação totalmente adequada ao espaço físico e às cenas, criando
momentos inesquecíveis nesse sentido.
Logo de saída,
seu espírito inovador e instigante está presente na opção de não utilizar um palco italiano ou
qualquer outro formato, fixado num só lugar, preferindo uma montagem interativa e itinerante, que permite, aos
espectadores, embarcar, com a protagonista,
numa “viagem” muito louca e
divertida, mas que também abre horizontes para novas reflexões acerca de vários
assuntos, tão presentes no nosso dia a dia, como sexo, drogas, valores éticos e
políticos, assim como os conceitos de sanidade e loucura.
Embora o espetáculo
se destine a um público reduzido, de 60
pessoas, ao longo de sua trajetória, “ALICE...”
já foi vista por cerca de 50 mil espectadores,
atingindo a considerável marca de algumas
centenas de apresentações.
Apesar de baseado
em livros infantis, trata-se de um espetáculo
adulto e para adultos. Com ALICE,
aprendemos a enxergar o mundo de uma forma diferente do que nos é passado, a
valorizar o direito de sonhar e a ter cuidado com a extensão dos nossos sonhos.
ALICE, sem querer, transforma-se no “alter ego” de cada um de nós, ou
vice-versa. Os jogos, as brincadeiras, as piadas e o surrealismo em cena servem
para testar o nosso grau de consciência humana, em primeiro lugar, e cidadã.
O conjunto dos elementos técnicos da peça
(concepção do espaço cenográfico, cenografia, luz, trilha sonora, objetos de cena...), tudo converge
para a criação de um momento onírico,
que se passa no interior de uma gigantesca caixa preta, dentro da qual “tudo é permitido”,
em prol de um grandioso espetáculo.
Os figurinos da peça são uma atração à
parte, todos assinados por JOÃO
MARCELINO, lembrando bastante - o que, a meu juízo, é muito positivo - o estilo da grande figurinista Thanara Schonardie, quando
utiliza objetos de uso do cotidiano, para fazer apliques, bordados, e confeccionar
adereços, como, por exemplo, coroas feitas com seringas de injeção, sem falar
nos vários tipos de tecido empregados nas roupas.
Extremamente alegre
e vivo, ágil e dinâmico, no sentido mais amplo dos quatro adjetivos, o espetáculo
não cai, em momento algum, no marasmo, na mesmice. Muito pelo contrário; cada
nova cena traz uma surpresa maior ao espectador, que se sente na “obrigação” de
seguir os comandos dos atores, a começar por acompanhar ALICE, quando ela passa por um enorme espelho oval, todo rachado,
que nada mais é do que o início do caminho de sua peregrinação.
No escuro,
cada espectador desce por um enorme escorrega e vai parar num hospício, a
melhor metáfora, não para o mundo de
ALICE, mas para a nossa vida, com referências à contemporaneidade.
A solução
encontrada pelo diretor e pelo cenógrafo, nas cenas em que a menina diminui
de tamanho e cresce exageradamente é genial, mas não vou ser responsável por um
“spoiler”, já que perderia totalmente a graça, para quem ainda verá a peça.
A partir daí, salve-se quem puder, para não
ter as suas cabeças cortadas!
É uma experiência
indescritível passar por situações teatrais, é verdade, que nos fazem voltar à
infância, quando tudo aquilo era apenas imaginado, não materializado, quando líamos
os livros de LEWIS CARROLL.
Nas montagens
da COMPANHIA ARMAZÉM DE TEATRO, é
bem comum haver personagens protagonistas e coadjuvantes, como em qualquer história, entretanto o nível
profissional de cada ator/atriz faz com que todos mereçam elogios na mesma
proporção. É evidente que, por força de seus personagens, alguns ganham um
pouco mais de destaque, como LISA EIRAS
FÁVERO (ALICE, nesta versão), PATRÍCIA SELONK (CHAPELEIRO MALUCO), SIMONE MAZZER (RAINHA), SÉRGIO MEDEIROS (CHARLES DODGSON, JOPA MORAES (GATO QUE RI) e
ANDRESSA LAMEU (LEBRE NO CIO).
Todos do elenco sabem tirar partido de suas
vozes e trabalham a expressão corporal, de modo a compor, com bastante perfeição
e realidade, seus personagens.
Trata-se de um espetáculo imperdível!!!
Quem não assistir
a ele, pelo menos uma vez (eu já vi três)
estará perdendo a oportunidade de conhecer o que é fazer TEATRO com sensibilidade, harmonia, bom gosto e muito talento.
Vá assistir
imediatamente.
Antes de
mergulhar no mundo mágico de ALICE, é
servido, a cada espectador, uma xícara de um delicioso chá, ainda fora do “teatro”.
Tome-o e deixe que ele “bata”, forte,
em você e o ajude na “viagem”
(OBSERVAÇÃO: É apenas uma brincadeira!!! O chá existe, sim, e eu o recomendo,
porém, (É claro!!!) não contém
ingredientes alucinógenos. É TEATRO,
gente!!!).
Permita-se ser
adulto e criança, ser plateia e palco; permita-se ser feliz!
Numa
das primeiras falas de ALICE, a
personagem diz: “Eu sei quem eu era, quando me levantei, hoje de manhã, mas acho que já
me transformei bastante, desde então.”). Depois de assistir à peça, você
pensará como ela.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Maurício Arruda Mendonça
Direção:
Paulo de Moraes
Elenco:
Lisa
Eiras Fávero (Alice)
Patrícia
Selonk (Chapeleiro Maluco)
Simone
Mazzer (Rainha)
Sérgio
Medeiros (Charles Dodgson)
Jopa
Moraes (Gato Que Ri)
Marcos
Martins (Lagarta)
Ricardo
Martins (Rei)
Flávia
Menezes (Dormundongo)
Isabel
Pacheco (Duquesa)
Andressa
Lameu (Lebre no Cio)
Concepção
de Espaço Cênico: Paulo de Moraes
Cenografia: Paulo de Moraes e Gélson Amaral
Figurinos:
João Marcelino
Iluminação
e Trilha Sonora: Paulo de Moraes
Projeto
Gráfico Original: Maurício Grecco
Projeto
Gráfico Adaptado: Jopa Moraes
Fotos: Mauro Kury
Produção
Executiva: Flávia Menezes
Produção:
Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio:
PETROBRAS
SERVIÇO:
Temporada: De 13 de janeiro a 20 de fevereiro (2017)
Local: Espaço Armazém – Fundição Progresso – Rua dos Arcos, 24 – Lapa –
Rio de Janeiro
Tel. (21) 2210-2190
Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª feira, às 20h; domingo, às 18h e
20h
Duração: 75 minutos
Recomendação Etária: 12 anos
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada)
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada)
Assessoria de Imprensa: produção@armazemciadeteatro.com.br
(FOTOS: MAURO KURY
e
DIVULGAÇÃO.)
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