ACORDA
PRA
CUSPIR
(HUMOR
EM TEMPO DE ÓDIO,
INTOLERÂNCIA E EXIBICIONISMO.
INTOLERÂNCIA E EXIBICIONISMO.
ou
ESTOU
RINDO DE QUÊ
OU
POR QUÊ?)
Quando
o meu querido amigo, e grande diretor
de TEATRO, DANIEL HERZ, me convidou para assistir ao ensaio geral de um
espetáculo, um monólogo, que ele estava dirigindo, tendo como ator MARCOS VERAS, fiquei muito feliz e honrado
com o convite e me municiei de gargalhadas, para serem libertadas, durante a
apresentação, visto que, admirador profundo do trabalho de VERAS, tinha a certeza de que seria uma noite muito alegre, que me
faria voltar para casa leve, de tanto rir.
Ledo engano! (Alguém ainda usa essa
expressão?!) É claro que o espectador vai dar boas gargalhadas com o humor
ácido, cáustico – e bota ácido e cáustico nisso – que o texto de ERIC BOGOSIAN
apresenta, supervalorizado pela excelente interpretação de VERAS, devidamente conduzido, sob a batuta de DANIEL. Mas fiz o percurso, de Laranjeiras até a minha casa,
distante cerca de 20
quilômetros de lá, em profundo silêncio e reflexão.
Achava
eu que assistiria a mais um “stand-up” delicioso, daqueles que só VERAS e mais dois ou, no máximo, três
outros “stand-uppers” (acho que criei um neologismo em inglês), como ele, sabem
fazer, já que a maioria não tem a menor graça. E fiquei de queixo caído, com o
que me proporcionou a querido ator. Havia sido eu alertado, por DANIEL, de que veria algo totalmente
diferente de tudo o que VERAS já
havia feito, anteriormente, no palco. Fui cético, e, honestamente, o confessei
ao querido DANI, entretanto,
conhecendo a sua competência, como encenador, a capacidade profissional de
ambos, e sendo fã ardoroso de seus trabalhos, não tinha motivos para duvidar.
E
o que vi, naquele espaço de ensaio? Vi um texto
sensacional, sendo interpretado por um grande
ator. Sim, amigos. Nem todo ator é um bom comediante. MARCOS VERAS não é apenas um excelente comediante, o que, por si, já
seria um grande mérito, visto que, para ser um bom comediante, este há de ser,
antes de tudo, um bom ator. De preferência, ótimo. VERAS é tudo isso e mais alguma coisa. Quem duvidar, que assista à
peça e ao filme “O Filho Eterno”, em
breve nas telas, no qual ele interpreta um papel muito sério e dramático, que
há de provocar lágrimas nos espectadores.
Após o ensaio geral, organizamos uma roda, no mesmo local, VERAS, DANIEL, THIAGO HERZ, assistente de direção, eu e mais quatro ou cinco outros convidados do diretor, para discutir o trabalho e apresentar sugestões, “a fim de torná-lo melhor”, o que me deixou bastante lisonjeado. Surgiram alguns questionamentos e sugestões, muitos frutíferos. Uma dúvida, porém, pairou no ar. Como “vender” o espetáculo, na mídia, com relação ao gênero a que pertence? É um drama? É uma comédia? É uma mistura dos dois? Está mais para um do que para outro, embora a predominância de um não apagasse a presença do outro? Seria uma comédia dramática ou um drama cômico, embora, possa parecer que haja um grande paradoxo nisso? Saímos de lá sem resposta. No dia em que assisti ao espetáculo, vi, no programa da peça, a classificação de “comédia”; apenas “comédia”, o que acho muito pouco para um texto com tantas outras intenções, além de divertir, se bem que, na comédia, se critica, e bem, e muito, o que se quer criticar.
Segundo
o próprio VERAS, BOGOSIAN, também ator e que é um
dramaturgo norte-americano, de origem, tendo escrito o texto há quatorze anos, “concentra sua crítica no sistema social vigente”,
não só aplicado a seu país, mas extensivo ao mundo inteiro, capitalista,
acrescento eu. De quatorze anos para cá, parece que nada mudou; ou melhor,
mudou, sim; para pior. Cabe, como uma luva, em nós, brasileiros. Se o autor vai conseguir fazer as pessoas
entenderem isso e, consequentemente, contribuir para uma mudança, mínima que
seja, nos hábitos consumistas da população e no desejo de atingir seus quinze
minutos de fama - retificando: suas muitas horas; retificando, ainda: sua vida
inteira -, isso são outros quinhentos. Espero que sim.
SINOPSE:
O título original da peça,
em inglês, é “Wake Up And Smell The Coffe”,
cuja tradução literal seria “Acorda E
Cheire O Café”, o que, certamente, soaria muito estranho, entre nós. Dentro
do que se propõe o texto, optou-se
por um título bem diferente, mas que guarda a ideia do original.
“ACORDA PRA CUSPIR” é uma expressão equivalente a “Se Liga”, “Acorda Pra Vida”, “Faz
Alguma Coisa”, “Mexa-se”, ou
algo parecido. A ideia geral é: TOME UMA
ATITUDE E MUDE, TRANSFORME-SE (PARA MELHOR).
A peça é uma crítica ao
sistema social na atualidade, uma comédia ácida, sobre a busca incessante por
sucesso, fama e dinheiro.
MARCOS VERAS interpreta JOSÉ
SILVA, um homem que se vê refém das cobranças da sociedade, no sentido de
querer “se dar bem”, de ser bem sucedido, custe o que custar.
O personagem pretende
conquistar um espaço no “mundo de celebridades”, não importando que, para isso,
tenha que passar por cima dos amigos e da família, fazendo qualquer tipo de
sacrifício estético, profissional ou sentimental.
No decorrer da trama, ZÉ começa a se posicionar de maneira
diferente, devido à trajetória revolucionária que seus pensamentos percorrem.
Um espetáculo que utiliza
o humor, para trazer, às situações do cotidiano, novos ângulos de observação.
Trata-se de um monólogo que vai de encontro ao momento em que vivemos, uma peça
sobre o ser humano, sobre o real e o ideal, para o Homem.
“ACORDA PRA CUSPIR” fala de egoísmo, individualismo e ambição, no
pior sentido da palavra; toca em assuntos que, muitas vezes, passam despercebidos,
porque valores outros, supérfluos, menores, sufocam aqueles aos quais
deveríamos dar mais importância.
O autor já era conhecido, no Brasil, por
três montagens: “Subúrbia”, “Sexo, Drogas e Rock’n Roll” e “Talk Radio”, principalmente pelas duas
últimas, excelentes, em todos os sentidos. Gostei de seu estilo, desde que
assisti a estas.
São palavras
de MARCOS VERAS: “Estava
querendo fazer algo mais provocador, ainda que seja comédia, porque amo fazer!
Tem riso, mas tem drama. A plateia se surpreende, positivamente, e se
identifica com o discurso do personagem. A gente está sempre buscando a
felicidade, através das redes sociais. Estamos mais preocupados em parecer ser
do que realmente ser.”. Agora, sou eu a dizer: as redes sociais estão
aí mesmo, para provar isso, por meio das ostentações, ostensivas e camufladas,
nas postagens, fotos e vídeos, lançados ao mundo. É um tal de querer mostrar e,
mais do que isso, provar que “EU EXISTO
E SOU O CARA”... A carapuça, de vez em quando, parece que também foi feita,
sob medida, para mim.
VERAS, idealizador do projeto, se interessou pela obra de BOGOSIAN, em 2012, quando viu Bruno Mazzeo, em “Sexo Drogas e Rock’n'Roll”, num excelente trabalho, diga-e de
passagem.
No início, durante os primeiros dez minutos de
espetáculo, aproximadamente, temos, realmente, a impressão de que assistiremos
a um “stand-up”, mas, passada essa “introdução”, em que o ator/personagem deixa
bem claro que as pessoas não pagaram ingressos para assistir a uma palestra
motivacional, o monólogo continua, fragmentado em pequenos monólogos
independentes, porém, ligados por um único “link”, que é a proposta/tema da
peça, qual seja a de falar da alienação a que o ser humano se submete, a
obsessão pelo dinheiro e o culto às celebridades, por meio das redes sociais e
outras vias, valorizando-lhes os gestos e declarações mais desprovidos de
conteúdo, cheios de um vazio deletério, nocivo, pernicioso, sem a menor importância,
daquele tipo em que um ser humano menos “contaminado” se pergunta, ironicamente,
ao tomar contato com tais inutilidades: “Como é que eu consegui viver até hoje
sem saber disso?”.
Esses monólogos,
ainda que inventados, fictícios, em forma de uma excelente dramaturgia, são reproduções de fatos e temas reais, do cotidiano. JOSÉ SILVA frequenta espaços compartilhados
por todos nós e vive situações pelas quais todos já passamos ou passaremos um
dia.
O primeiro grande
impacto que o texto causa, logo no
início da peça, e que já prende a atenção do espectador, é quando o personagem,
da forma mais natural possível, nos alerta para o fato e que há, no mundo,
digamos, duas grandes concentrações de indivíduos, opostamente colocados, para
dividir o mesmo espaço: os que mandam e os que são mandados, os que subjugam e
os que são subjugados, os que podem e os que desejariam poder, e o poder.
Poderia você
perguntar: E o que há de novidade nisso? Absolutamente, nada!!! Quantas vezes,
porém, você já parou para refletir sobre isso e se posicionar num dos dois
batalhões? Daí para frente, a provocação, direta ou subliminar, vai se
avolumando e o ator, o ótimo ator, MARCOS
VERAS, vai crescendo, em cena, num trabalho que é, merecidamente, muito
aplaudido e ovacionado, quando as cortinas se fecham.
Não é de hoje, que DANIEL HERZ e MARCOS VERAS, um admirador do outro, vinham flertando, visando a um
trabalho comum. Foi VERAS quem
apresentou o texto a DANIEL, que,
logo, o achou interessante e capaz de mexer com as pessoas, porque, para este,
chamava a atenção para questionamentos que pouca gente faz, tais como: sobre o
que fazemos com a projeção que almejamos; sobre o que a gente ganha com a vida;
sobre o preço que se tem de pagar por isso; sobre se vale a pena o custo-benefício;
sobre se isso é a coisa mais importante; sobre se você, obrigatoriamente, tem
de virar alguém importante no mundo, virar uma celebridade; sobre passar a ter
uma batida hiperconsumista; sobre quais os valores humanos que são, verdadeiramente,
importantes na nossa existência; sobre o que fazer com a oportunidade única de
uma vida: nascer, crescer e morrer... Tudo isso provocando reflexão. “A gente se vê no personagem” – diz DANIEL.
É muito bom saber que os dois, DANIEL e VERAS, planejam novas parcerias no palco, para a nossa alegria e para o bem do TEATRO BRASILEIRO.
É muito bom saber que os dois, DANIEL e VERAS, planejam novas parcerias no palco, para a nossa alegria e para o bem do TEATRO BRASILEIRO.
Por considerar
mais do que suficientes os comentários acerca da brilhante atuação de MARCOS VERAS, para quem esse JOSÉ SILVA deve ter sido o maior
desafio de sua vida profissional, passo a falar um pouco sobre a corretíssima direção de DANIEL HERZ, certamente, responsável por extrair, do ator, um
potencial interpretativo que, talvez, nem este soubesse que tinha armazenado, à
espera de um diretor que, com olhos de Raio-X, o enxergasse lá dentro e lhe
mostrasse como trazer aquilo à tona. DANIEL
é um diretor de atores, que sabe
aproveitar todo o potencial dos que trabalham com ele, dando-lhes corda, para
uma criação individual do personagem, e puxando-lhes as rédeas, quando percebe inevitáveis
exageros. É por isso que suas peças são bem enxutas, cada personagem na dose
certa de sua composição, cada ator no tom certo de interpretação. Não foi
diferente nesta peça.
Como TEATRO é um trabalho coletivo, de
equipe, o diretor é quem assina a
obra, entretanto há de haver uma integração muito forte entre ele e os membros
de sua equipe, para que o resultado final seja, por exemplo, o sucesso que é “ACORDA PRA CUSPIR”.
A ideia de
colocar, em cena, dez ou doze bonecos, de tamanho natural, reproduzindo o
protagonista, dispostos em várias posições, no palco, que deve ter sido tomada
em conjunto com FERNANDO MELLO DA COSTA,
festejado artista na arte da cenografia,
é uma grande achado, para passar a ideia de reprodução, da multiplicação do
personagem, que o mundo é povoado de josés silvas.
Aliás, essa cenografia é um dos pontos altos do
espetáculo, ocupando o palco com apenas os referidos bonecos e duas ou três
cadeiras, deixando o espaço livre, para os deslocamentos do ator, que recebeu a
luxuosa colaboração de DUDA MAIA, na
direção de movimento. Quanta
versatilidade!
E já que é
trabalho de equipe, para agregar valores positivos, entra o mestre AURÉRIO DE SIMONI, com uma excelente iluminação, que valoriza cada cena, com
uma luz, predominante e intencionalmente, “fria’, longe de variações de cores,
transformando-se, na medida certa, em cada fragmento de monólogo, dentro do que pede
cada situação, com momentos de foco intenso apenas sobre o personagem. Tudo
estudado nos mínimos detalhes.
ANTÔNIO GUEDES optou, acertadamente,
por um figurino discreto, calça e
camiseta, na cor preta, com ligeiras linhas brancas, que dá, ao ator, um
conforto para os seus muitos movimentos, os quais lhe causam um enorme desgaste
físico em cena.
E,
para completar, DANIEL HERZ foi
chamar o talentoso e eclético músico ANDRÉ ABUJAMRA, para
compor canções originais e vinhetas para a trilha da peça, um outro elemento
enriquecedor para a montagem.
Cada um
escolhe um mundo para viver e elege suas necessidades cruciais para brilhar e
se distinguir no meio da multidão. Todos somos assim. Às vezes, acertamos; na
maioria delas, erramos; algumas vezes, erramos feio. É para que erremos menos e
nos conscientizemos da necessidade de sermos pessoas melhores, na vida, e saber
aproveitá-la, da melhor maneira possível, reconhecendo todos os limites que ela
nos impõe, quando o outro está em jogo, ao nosso lado, é que o espetáculo “ACORDA PRA CUSPIR” existe e eu o recomendo,
com o maior empenho, esperando, em breve, voltar a vê-lo.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Eric Bogosian
Tradução: Maurício Guilherme
Tradução: Maurício Guilherme
Ator: Marcos Veras
Direção: Daniel Herz
Assistência de Direção: Thiago Herz
Música Original: André Abujamra
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurino: Antônio Guedes
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de Movimento: Duda Maia
Fotos: Priscila Prade
Produção: Rodrigo Velloni
Realização: Velloni Produções Artísticas
Música Original: André Abujamra
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurino: Antônio Guedes
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de Movimento: Duda Maia
Fotos: Priscila Prade
Produção: Rodrigo Velloni
Realização: Velloni Produções Artísticas
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
SERVIÇO:
Temporada: De 12 de agosto a 2 de outubro / 2016
Local: Teatro do Leblon- Sala Fernanda Montenegro
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon, Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Valor do Ingressos: 6ª feira = R$ 60,00; sábado = R$ 80,00; domingo = R$ 70,00. OBSERVAÇÃO: Em todas as sessões, há a cobrança de meia-entrada, para todos os que, legalmente, fizerem jus a ela, no valor de 50% do preço da inteira.
Duração:70 minutos
Classificação Etária: 14 anos
Local: Teatro do Leblon- Sala Fernanda Montenegro
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon, Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Valor do Ingressos: 6ª feira = R$ 60,00; sábado = R$ 80,00; domingo = R$ 70,00. OBSERVAÇÃO: Em todas as sessões, há a cobrança de meia-entrada, para todos os que, legalmente, fizerem jus a ela, no valor de 50% do preço da inteira.
Duração:70 minutos
Classificação Etária: 14 anos
(FOTOS: PRISCILA PRADE.)
Com Marcos Veras - Foto: Marisa Sá.)
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