5 X
COMÉDIA
(MUDAM OS TEMPOS;
O HUMOR, TAMBÉM.
MAS A QUALIDADE
CONTINUA A MESMA.)
Para outras
praças, principalmente na Broadway e
em West End, levar mais de 450 mil pessoas ao teatro, numa só
temporada ou em mais de uma, para assistir a uma única peça, não é de causar
admiração, porém, em se tratando de Brasil,
esses números são raros e bastante expressivos, representando o reconhecimento
do público a um grande sucesso. Foi exatamente isso o que, há quase vinte anos,
nos anos 90, Sílvia Gardenberg, infelizmente já, precocemente, falecida,
conseguiu, com a peça “5 X COMÉDIA”,
um espetáculo simples, porém de incomensurável bom gosto, que reunia cinco
monólogos, escritos por cinco diferentes dramaturgos, interpretados, cada um,
por um ator/atriz diferente.
A peça fez três vitoriosas temporadas, no Rio de Janeiro e, em turnê, em várias
cidades brasileiras, em 1993, 1995 e
1999. Havia um revezamento de textos e atores em cena, todos, sem a menor
exceção, expoentes do humor, no TEATRO
e na TV.
Foram redatores, nas versões
anteriores, Felipe Pinheiro, Hamílton Vaz Pereira, Luís Fernando Veríssimo, Mauro Rasi, Miguel Falabella, Miguel
Magno, Patrycia Travassos, Pedro Cardoso, Regiana Antonini, Ricardo Almeida
e Vicente Pereira.
Atuaram como diretores,
naquelas versões, Hamílton Vaz Pereira,
Marcus Alvisi, Mauro Rasi, Miguel Falabella,
Miguel Magno, Pedro Cardoso e Regiana
Antonini.
Interpretando
os textos, nomes da maior expressividade, no humor brasileiro, como Andréa Beltrão, Cláudia Raia, Débora Bloch, Denise Fraga, Diogo Vilela, Evandro
Mesquita, Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Miguel Magno, Patrycia Travassos e Totia
Meireles.
O sucesso era tanto, chegando ao ponto de que um teatro, por maior que
fosse a sua capacidade, era insuficiente, para reunir tanta gente que queria
assistir à peça (eu vi umas três ou
quatro vezes), que o Canecão,
emblemática casa de “shows” carioca, infelizmente desaparecida, que chegava a
comportar 3000 espectadores, serviu
para abrigar o espetáculo, com lotação esgotada.
Agora,
como homenagem a Sílvia, sua irmã, a
cineasta MONIQUE GARDENBERG resolveu
montar um “revival” do espetáculo,
mantendo, apenas, do original, o título e o formato. Duas décadas se passaram e
tudo evoluiu, em ritmo acelerado, de modo que seriam necessários novos textos,
interpretados por atores novos, e muito competentes, que representassem, à
altura, o frescor do humor moderno.
Para
tanto, MONIQUE foi buscar cinco dos
melhores autores de uma geração que já se firmou como representativa do novo bom
humor brasileiro, acompanhando as novidades e tocando em assuntos do nosso
cotidiano, o do século XXI, com o necessário toque de inteligência e, ao mesmo
tempo, atingindo pessoas de níveis culturais e formações e origens as mais
diversas. Não se trata de humor sofisticado, e sim de muitíssimo bom gosto e
inteligência. JÚLIA SPADACCINI, ANTÔNIO PRATA, JÔ BILAC, PEDRO KOSOVSKI
e GREGÓRIO DUVIVIER são os cinco
responsáveis pelas boas gargalhadas que não conseguimos represar, durante a
peça. São todos autores e dramaturgos premiados e respeitados no mercado.
O
primeiro texto, “BRANCA DE NEVE”, é
de JÚLIA SPADACCINI, um dos melhores,
para o meu gosto, mais do que valorizado pela excelente interpretação de DÉBORA LAMM, cujo nome dispensa
qualquer comentário.
Eu
tiro o meu chapéu para a enorme criatividade da autora do texto, partindo de uma ideia tão simples: uma princesa,
do vasto universo das princesas do mundo Disney,
BRANCA DE NEVE, queixando-se (mais
do que isso, revoltando-se), por ter sido preterida por duas outras, que estão
na moda, Elza e Anna, do desenho animado “Frozen”.
E que covardia: duas contra uma, já centenária!!! Isso talvez possa justificar
o fato de BRANCA viver à base de Rivotril, lendo Simone de Beauvoir, para ser uma mulher “moderna” e competitiva,
para não perder, de vez, a coroa e a majestade. Quem não assistiu à peça não
faz ideia do que isso pode render, em termos de bom humor, quando quem está no
comando das teclas é JÚLIA SPADACCINI,
falando pela boca de DÉBORA LAMM,
uma das melhores atrizes de sua geração.
Quem
consegue não rolar de rir, vendo DÉBORA,
na pele de BRANCA DE NEVE, com o
talento que lhe é peculiar, deprimida, em função do ostracismo, dizendo coisas
como estas: “Dizem que o mundo mudou,
que eu não me adéquo mais, que sou antiquada, careta, casada... Mas, gente, ser
casada agora é um problema? Queriam o quê? Uma princesa divorciada? Vivendo
pela Lei do Concubinato? Solteira, aos 40, fazendo fertilização ‘in vitro’,
barriga de aluguel, colhendo sêmen em banco de esperma alemão?”
O segundo
monólogo, “NANA, NENÊ”, escrito por ANTÔNIO PRATA, é tão hilário e bem
construído quanto o primeiro e, também, ganha mais corpo e pujança, por ser
interpretado, magistralmente, por BRUNO
MAZZEO. É o primeiro texto, para TEATRO,
escrito por PRATA, notadamente um
grande escritor e roteirista.
O personagem, um músico, clarinetista, é um pai, “marinheiro de primeira viagem”, desesperado, numa delegacia, tentando explicar, à delegada, o motivo pelo qua foi levado, algemado, à sua presença. Desesperado, porque não conseguia dormir, havia sete meses, já que seu bebê não o permitia, ele, depois de ter tentado mil fórmulas e “jeitinhos”, para fazer adormecer a criança, foi levado a uma atitude extrema – o grande “lance” do texto -, que não posso revelar, para não acabar com a surpresa que PRATA, inteligentemente, criou. É outra pérola de criatividade, para gerar humor, comparável ao texto de JÚLIA. Estreou com o pé direito o dramaturgo.
Apenas
uma mostra deste quadro: “Vocês
acreditam nisso? Acreditam que não tem ‘Alô Bebê 24 horas’?! Se existe alguma
coisa que funciona 24 horas neste mundo é um bebê! Nada é mais 24 horas que um
bebê! E não tem nenhuma ‘Alô, Bebê 24 horas’! Se eu quiser comprar uma máquina
de lavar louça, agora, eu compro! Se eu quiser comprar falafel, agora, eu
compro! Se eu quiser sexo ou drogas ou rock 'n' roll, eu compro! Não que eu vá
comprar, mas tem!”.
A legião de fãs do BRUNO, na qual me incluo, pode imaginá-lo, em cena, dizendo esse
pequeno trecho do seu texto, todo construído no mesmo nível?
A seguir, vem “ARARA VRMELHA”, escrito por JÔ BILAC, um dos mais premiados
dramaturgos de sua geração, e representado por FABIULA NASCIMENTO. A cena se passa num “pet shop” e já deu para desconfiar de que FABIULA é a própria ARARA,
pendurada num poleiro, reclamando, sem parar, da vida, dirigindo-se a um tal Sérgio, que se supõe ser um outro
animal posto à venda, indignada com o mau tratamento que recebe, na loja, em
detrimento das regalias que são dedicadas a outros “coleguinhas” do “pet”,
principalmente um Poodle Queen, o
novo e sensacional mascote do pedaço.
Gostei bastante da
ideia, mas, apesar da ótima interpretação da atriz, não consegui atingir um
riso contínuo. Alternei gargalhadas com risos e pequenas manifestações de um “achar
graça”. Talvez pelo fato de o quadro ter sido antecedido pelos meus
dois preferidos, na peça. De qualquer maneira, satisfaz bastante, também faz
rir.
Um dos bons trechos do
texto e do quadro: “Alá! Espia! Vem ver, Sérgio! Corre! Já tá
Poodle Queen se roçando na vitrine, se esfregando, balançando rabinho, se
exibindo pros outros! Não pode ver um ser humano, já fica todo se querendo! O
mundo tá mesmo perdido, hein! Olha, vou te contar! Se tem uma coisa pior pra
mim no mundo, é bicho puxa-saco de humano! Olha, me sobe um ódio! Mas um
óoodio! Ser humano prende, vende, sacaneia a gente e tá lá o cachorro babando,
fazendo festa!”. Aqui,
percebe-se, claramente, uma das funções do humor, que é estabelecer críticas,
fazer denúncias, de qualquer tipo.
O penúltimo quadro
chama-se “MILHO AOS POMBOS”, título
metafórico, que, aparentemente, não tem nada a ver com o que se passa no palco
e na plateia. Sim, porque boa parte do esquete é passada na plateia, sendo
utilizada uma câmera, que vai captando imagens da atriz, THALITA CARAUTA, agindo e interagindo com o público. As imagens
captadas são projetadas numa tela, para que todos possam tomar conhecimento do
que está se passando, principalmente os espectadores sentados mais à frente, na
plateia, ou na parte superior do teatro.
O texto foi escrito por PEDRO
KOSOVSKI, que tem um espaço reservado numa das minhas gavetas de preferências,
como grande dramaturgo, dos melhores
de seu tempo, já tantas vezes premiado. A história é muito simples, mas carrega
uma carga crítica de peso, e gira em torno de uma figurante, uma “endless” aspirante
a atriz, que, enquanto aproveita mais um teste de elenco, para fazer jus
a um lanche, parece não medir esforços para tirar do sério um paciente (até a página
cinco) diretor. Segundo o próprio autor do texto, ele “fala de um lugar de ausência de
protagonismos: tudo acontece no mundo – guerras, amores, revoluções -, e eu
aqui, na praça, continuo dando milho aos pombos. Fala de um lugar de exclusão
e, ao mesmo tempo, um certo comodismo.” O “dar milho aos pombos” soa como algo inútil, infrutífero. Sobre
isso, vale a pena ouvir a canção “Dando
Milho Aos Pombos”, uma chamada “canção
de protesto”, composta por Zé
Geraldo, nos anos 70.
Aqui
vai um trecho do texto: “Vocês não estão me reconhecendo, não?
Pronto, aquela ali me reconheceu. Ah, é minha vizinha no Leme, não é não? A
gente caminha no calçadão. Tá fazendo figuração também?”.
Para
encerrar a sequência de esquetes, vem “REGRAS
DE CONVIVÊNCIA”, escrito por GREGÓRIO
DUVIVIER, especialmente para ser interpretado por LÚCIO MAURO FIHO.
LUCINHO vive o personagem FLÁVIO,
casado com uma atriz, MÁRCIA, a qual
resolve levar o elenco da peça que estão ensaiando para o apartamento da sogra,
que toma por empréstimo, a fim de, por meio de uma “festa”, trabalhar num “laboratório”,
para o espetáculo, que incluía um sexo grupal, situação com a qual o personagem
se defronta, ao voltar do trabalho.
FLÁVIO se vê totalmente fora de sua área de conforto, diante
daquela insólita situação, e se sente constrangido, em relação a um vizinho,
que, de sua janela, consegue ver o que se passa no outro apartamento. FLÁVIO tenta explicar o “inexplicável”,
sente-se na obrigação de justificar o “injustificável”.
Sendo minoria, no
grupo, e, pela mulher, o homem tenta algo impossível, que absolutamente
se aplica a uma situação como aquela, qual seja estabelecer regras de conduta numa
“suruba”. É extremamente hilária a situação do personagem e ótima a atuação do
ator. Aliás, a bem da verdade, o quinteto é responsável por uma enorme
percentual do sucesso que o espetáculo vem alcançando, desde sua estreia. Todos
atuam magnificamente!
Um
trecho deste esquete: “Posso só pedir
uma coisa? Gostaria que os cônjuges se mantivessem fora do campo visual do seu respectivo
cônjuge. Não, Heitor! Se você quiser o seu marido, pode ficar no seu campo
visual. Olha, eu tô falando mais especificamente da Márcia. Seria legal se a Márcia
ficasse fora do meu campo visual. Pode ser, Márcia?”,
O espetáculo, que tem direção, a quatro mãos, de MONIQUE GARDENBERG e HAMÍLTON VAZ PEREIRA, recebe o
excelente reforço técnico e o suporte de um ótimo cenário, de DANIELA THOMAS
e CAMILA SCHMIDT; uma ILUMINAÇÃO perfeita, de MANECO QUINDERÉ; e ótimos figurinos, de CÁSSIO BRASIL.
Ainda contribuem, nessa parte,
os vídeos, de DADO MARIETTI e as imagens,
ajundando a compor o cenário, assinadas por RADIOGÁFICA, empresa também responsável pelo projeto gráfico.
Para os que nunca assistiram à
peça, recomendo, com bastante ênfase, o espetáculo e, para os que já tiveram a
grata satisfação de assistir a ele, em alguma das versões anteriores, também
faço a recomendação, mas com um lembrete: não vá, pensando em fazer comparações. Elas não cabem, de forma alguma.
Todas as versões anteriores foram ótimas e esta não é diferente.
FICHA TÉCNICA:
BRANCA DE NEVE
DeJulia Spadaccini
De
Com Débora Lamm
NANA, NENÊ
De Antônio Prata
Com Bruno Mazzeo
ARARA VERMELHA
De Jô Bilac
Com Fabiula Nascimento
MILHO AOS POMBOS
De Pedro Kosoviski, com a colaboração de André Boucinhas
Com Thalita Carauta
REGRAS DE CONVIVÊNCIA
De Gregório Duvivier
Com Lúcio Mauro Filho
Direção: Hamilton Vaz Pereira e Monique Gardenberg
Cenário: Daniela Thomas e Camila Schmidt
Imagens do Cenário e Projeto Gráfico: Radiográfica
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurino: Cássio Brasil
Fotos: André Gardenberg
Vídeos: Dado Marietti
Assistente de Direção: Mila Portella e Sérgio Maciel
Direção de Palco : Jorge Basto
Operador de Luz: Vladimir Freire
Operadora de Som: Joana Guimarães
VJ: Bruno Grieco
Contra Regra: Gabriel Max Serqueira
Maquinista: Patrick Sousa
Caracterização: Sônia Penna
Produção de Figurino: Patricia Sato e Sonja Gradel
Assessoria de Imprensa: Vanessa Cardoso / Factoria Comunicação
Texto Programa: Isabel De Luca
Gerência Comercial: Josy Siqueira e Stefania Dzwigalska
Financeiro: Ângela Matos
Equipe Rio: Marco Aurélio Serqueira, Mônica Lima, Juliana Trimer e Júlia
Gonçalves.
Equipe São Paulo: Otávio Ferraz, Tommy Kenny e Vivian Villanova
Motorista: João Batista Oliveira
Produção Teatro: Dada Maia
Produção Teatro: Dada Maia
Direção
de Produção: Clarice Philigret
Diretores
Executivos: Carlos Martins e Jeffrey Neale
Idealização: Dueto
Realização: Nós3
SERVIÇO:
Local: Teatro Oi Casa Grande
Endereço: Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A, Leblon
Endereço: Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A, Leblon
Telefone: (21) 3114-3712
Temporada: De 08 de setembro a 30 de outubro
Dias e Horários: 5ª fera, 6ª feira e sábado, às 21h*; domingo, às 20h
Dias e Horários: 5ª fera, 6ª feira e sábado, às 21h*; domingo, às 20h
Valor dos Ingressos:
Balcão
Setor 3: R$50,00 (inteira) | R$25,00 (meia-entrada);
Balcão
Setor 2: R$70,00 (inteira) | R$35,00 (meia-entrada);
Plateia
Setor 1: R$100,00 (inteira) | R$50,00 (meia-entrada);
Plateia
VIP e Camarote: R$120,00 (inteira) | R$60,00 (meia-entrada)
A bilheteria funciona de 3ª
feira a sábado, das 15h às 21h, e, aos domingos, das 15h às 19h.
Aceitamos todos os cartões
de crédito e débito.
Venda online: www.ingresso.com
Classificação Etária: 14 anos
Gênero: Comédia
Gênero: Comédia
Duração: 80 min.
(FOTOS: ANDRÉ GARDENBERG.)
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