quarta-feira, 13 de julho de 2016

Vaidades & Tolices



VAIDADES
&
TOLICES


(O PRIMOR DE UM TCHÉKHOV
EM DOSE DUPLA.)






            A ótima CIA LIMITE 151 está em festa, comemorando 25 anos de bons serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO. E quem ganha o presente, mais uma vez, é o espectador, sob a forma de uma nova montagem: “VERDADES & TOLICES”, uma comédia leve, divertida, resultado da fusão de dois pequenos textos escritos pelo consagrado autor russo ANTON TCHÉKHOV: “O URSO” e “O PEDIDO DE CASAMENTO”, tantas vezes montados, em escolas de TEATRO, a título de prova de capacidade e proficiência para os alunos, embora pouco encenados, profissionalmente, no Brasil.

Se o que você procura é uma comédia leve, para puro entretenimento, mas que seja feita com inteligência e transbordante em criatividade, bem interpretada e que ajuda a esquecer os problemas diários, para que, depois de um pesado dia de trabalho, volte à sua casa mais confiante na alegria de viver e no valer a pena ser feliz e esperar pelo dia seguinte, mesmo vivendo num meio caótico, na cidade do Rio de Janeiro, a pedida é dar um pulinho ao Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura, em plena Cinelândia e se entregar ao humor de dois bons textos, interpretados por cinco ótimos atores, MARCELLO ESCOREL, FLÁVIA FAFIÃES, EDMUNDO LIPPI, RAFAEL CANEDO e ISABELLA DIONÍSIO.

 

O elenco.

 

           
SINOPSE:

A comédia “O URSO” conta a história de uma viúva, ELIENA POPOVA (FLÁVIA FAFIÃES) e um credor, GRIGÓRI SMIRNOV (MARCELLO ESCOREL), envolvidos por uma trama, que revela a exaltação humana e a sensibilidade nervosa, numa hilariante crítica ao comportamento de homens e mulheres, brincando com a sempre controversa e atual "guerra dos sexos", ao mesmo tempo em que expõe as mazelas de uma sociedade rígida e repressiva. Paricipa da trama, ta,bem, o criado, LUKÁ (EDMUNDO LIPPI).

No fundo, É uma viagem ao inconsciente da personagem POPOVA, que contrapõe o moralmente correto com os seus verdadeiros desejos mais íntimos, ou seja, amar outro homem que não o seu falecido marido.
O PEDIDO DE CASAMENTO” relata a tentativa de um pedido de casamento tomado a cargo por IVAN LOMOV (RAFAEL CANEDO), um homem hipocondríaco, de 35 anos, que se vê numa idade crítica para desposar NATÁLIA STEPANOVNA (ISABELLA DIONÍSIO), sua vizinha e filha do septuagenário STEPAN TCHUBÚKOV (EDMUNDO LIPPI).
IVAN tenta, então, pedir a mão da filha de STEPAN em casamento, para grande felicidade deste. É com grande efusividade que NATÁLIA é chamada à presença do pretendente, sem que, no entanto, saiba a razão da visita do vizinho. Mas nem tudo é simples. Quando IVAN tenta justificar o motivo da sua presença, surge um mal-entendido: ao fazer o seu discurso introdutório, ele afirma pertencerem-lhe os Prados de Valloviy, ao que a moça contrapõe, defendendo que estes são propriedade sua e de seu pai, STEPAN.
Este desentendimento é o mote para a descolagem de toda a peça. Por meio de gritos e irônicas acusações, vai sendo discutida a pertença dos prados. As personagens põem em jogo a sua própria integridade moral, agredindo-se, mutuamente, através de acusações insignificantes.


 

Rafael Canedo e Edmundo Lippi.

As duas peças têm, como traço comum, o impagável humor com que são construídas. Duas comédias de costumes, cheias de ação e de jogos de linguagem, que giram em torno da sedução amorosa por parte de viúvas e senhoritas, que visam fisgar um marido.
Durante 70 minutos, o público se diverte com os quiprocós desfilados em cena. Segundo o diretor do espetáculo, SIDNEI CRUZ (extraído do programa da peça) “a montagem acentua a comicidade das peças, provocando o jogo interpretativo, por meio da dinamização da relação com os objetos de cena, sem descuidar da folia verbal do autor. A partir de situações corriqueiras, as personagens são, inesperadamente, envolvidas em contendas, que revelam seus temperamentos contraditórios e pontos de vistas inusitados, a ponto de se ofenderem, mutuamente, chegando ao esgotamento físico e à ameaça mortal. Instantaneamente, a sala de visitas transforma-se num palco de luta, num ringue verbal e, paradoxalmente, como acontece no mais inofensivo ‘vaudeville’, ao final da disputa, a atmosfera se acomoda numa trégua de felicidade provisória”.
As peças curtas, de um ato, escritas pelo grande escritor russo – vamos assim chamá-lo, já que se destacou como dramaturgo, contista, novelista e ensaísta - não são tão populares, para o público brasileiro, pelas poucas oportunidades de montagens, porém “todas constituem pequenas obras-primas, de alto valor literário, com as marcas típicas da poética tchékhoviana: a brevidade, a economia dos procedimentos, a linguagem despojada, a ironia, o humor e o aprofundamento psicológico das personagens, de acordo com a visão de CRUZ.



 
Marcello Escorel e Rafael Canedo.


 
Fui ao teatro, ontem, levado por um interesse próprio, motivado por algumas justificativas, a principal das quais seria o fato de ir assistir a mais um trabalho da CIA LIMITE 151, sempre de excelente qualidade, além de alguns nomes do elenco, cujos trabalhos já me agradam de outras experiências, mas, principalmente pela curiosidade daquilo de que tanto me falaram: a excelência da direção.
Fui e comprovei os comentários. A direção de SIDNEI CRUZ é o grande destaque desta montagem. Todos vão assistir ao espetáculo, esperando ver duas encenações independentes, separadas, talvez, por um pequeno intervalo, para uma possível troca de cenários. Isso seria o óbvio, mas SIDNEI apostou em outra proposta, que deu muito certo, que é - não me canso de dizer - o grande diferencial do espetáculo. Eles, simplesmente, mesclou os dois textos, utilizando um único e ótimo cenário, de COLMAR DINIZ, que reproduz, com correção, o ambiente da época em que as histórias se dão, entrecortando as duas, como se ambas constituíssem um todo, já que, enquanto em cena, contracenando entre si, os atores que representam um dos textos sofrem pequenas intervenções, “invasões” e “auxílios”, dos que atuam na outra história e que, ainda, “falsamente” “dialogam” fora de cena. O resultado dessa magnífica ideia é surpreendente.


 
Marcello Escorel e Flávia Fafiães.

 
O diretor, por mais criativo que tivesse sido, não teria obtido o bom resultado a que chegou, se não contasse com um time de bons atores, todos muito bem em seus papéis, com um destaque para MARCELLO ESCOREL, um dos mais experientes na profissão, com longos anos de carreira, ao lado de EDMUNDO LIPPI, o que não quer dizer que a ala mais jovem deixe a desejar. Muito pelo contrário!!!
 
FLÁVIA FAFIÃES compõe uma mulher que vive em conflito, num combate interessante do seu verdadeiro desejo interior com o que, externamente, demonstra, a muito custo, desejar. Impressionaram-me a postura e elegância da atriz em cena.
 
ISABELLA DIONÍSIO também soube criar o tipo da mulher enamorada, apaixonada, que tenta resistir aos arroubos de um galanteador (“vai até a página cinco”), mas não consegue dominar a luta interna, entre o desejo, a paixão e os interesses materiais.
 
RAFAFEL CANEDO, que, a cada trabalho, se revela um profissional melhor, mais maduro, a despeito de ser, ainda, muito jovem, é o responsável por provocar gargalhadas, na plateia, com seus trejeitos, de corpo e voz, quando simula seus “ataques” hipocondríacos.
 
EDMUNDO LIPPI é o único que atua nas duas tramas, com sucessivas trocas de figurino, como o pai da jovem cortejada e o criado da viúva-não-muito-convicta. Em ambos os papéis, o ator demonstra sua tarimba profissional, sabendo separar bem um personagem do outro.
 
Mas foi MARCELLO ESCOREL quem me fez rir mais e confirmar o que penso dele como ator: excelente. Tanto em papéis dramáticos quanto na comédia, como na pele desse implacável e ameaçador GRIGÓRI SMIRNOV, cobrador de uma suposta dívida, que, apesar de já ter abandonado doze mulheres e ter sido preterido por nove, ainda se deixa encantar por uma vigésima segunda. MARCELLO está hilário, no personagem.


 
Edmundo Lippi, Isabella Dionísio e Rafael Canedo.

 
Além da, já comentada, boa cenografia de COLMAR DINIZ, que também assina os corretos figurinos, merecem uma citação a boa luz, de ROGÉRIO WILTGEN, sem muitas variações, porém correta, e as músicas e a direção musical, de WAGNER CAMPOS.
 
Recomendo o espetáculo, na certeza de que os que me leem haverão de concordar com estas minhas humildes considerações, que são as de um amante-mais-que-crítico de TEATRO, que sabe reconhecer e valorizar um bom trabalho cênico.


 
Marcello Escorel e Flávia Fafiães.




FICHA TÉCNICA:

Direção Geral: Sidnei Cruz
Cenário e Figurinos: Colmar Diniz
Músicas e Direção Musical: Wagner Campos
Iluminação: Rogério Wiltgen
Programação Visual: João Guedes
Fotos: Guga Melgar
Produção Executiva: Valéria Meirelles
Divulgação: Ana Gaio
Direção de Produção: Edmundo Lippi

Elenco:

“O URSO”: ​Marcello Escorel​ (Grigóri Smirnov), ​Flávia Fafiães, (Eliena Popova) e Edmundo Lippi (Luká)
“O PEDIDO DE CASAMENTO”: Rafael Canedo (Ivan Lomov), Isabella Dionísio (Natália Stepanovna) e Edmundo Lippi (Sptepan Tchubúkov)
   


 
Edmundo Lippi e Rafael Canedo.




SERVIÇO:

Temporada: De 09 de junho a 06 de agosto (2016)
Local: TEATRO EVA HERZ (dentro da Livraria CULTURA) - Rua Senador Dantas, 45 – Centro (Cinelândia) - Rio de Janeiro / RJ
Bilheteria: Tel.: (21) 3916-2600
Dias e Horários - De 3ª feira a sábado, às 19h30min
Valor dos Ingressos – Às 3ªs e 4ªs feiras, R$40,00; de 5ª feira a sábado, R$50,00 (Com direito a meia-entrada a quem fizer jus.)
Classificação Etária – 10 anos
Duração – 70 minutos
Lotação: 172 lugares



 

Isabella Dionísio e Rafael Canedo.




(FOTOS: GUGA MELGAR.)





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