A VIDA DELA
(“MAS LOUCO É QUEM ME DIZ
E NÃO É FELIZ, NÃO É FELIZ”
– Arnaldo Baptista e Rita Lee.)
(SERÁ?!...)
Adoro
ser presenteado com boas surpresas, sempre que vou ao TEATRO. Quando me dispus a assistir ao espetáculo “A VIDA DELA”, em cartaz, infelizmente,
apenas até o próximo domingo, dia 10
(VER SERVIÇO), não sabia quão feliz sairia da pequena Sala Multiuso do Espaço SESC, por ter assistido a uma ótima e
surpreendente encenação.
Conheço o
trabalho individual dos três ótimos atores que fazem parte do elenco - ISABEL GUÉRON, RODOLFO MESQUITA E VANDRÉ
SILVEIRA -, aprecio bastante as assinaturas de direção de DELSON ANTUNES,
mas não me lembrava de ter assistido a alguma peça de PRISCILA GONTIJO, que assina o texto
e de quem me tornei um grande admirador.
Com base no “release”, adaptado, enviado pela assessora de imprensa Lyvia Rodrigues (Aquela Que Divulga), a
peça foi escrita em 2011, para atender a um projeto de atriz IZABEL GUÉRON, e retrata as angústias
do reencontro entre três irmãos numa família disfuncional.
Vandré
Silveira, de pé;
sentados,
Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.
SINOPSE:
“A VIDA DELA” é uma comédia dramática sobre o reencontro de três irmãos. IZABEL
(IZABEL GUÉRON), uma professora de artes, especialista em teatro do
absurdo, escreve textos teatrais, que nunca foram encenados e JONAS
(VANDRÉ SILVEIRA), cineasta, sobrevive de filmes publicitários. Um
dia, eles recebem um telefonema do pai, que os informa de que o irmão
caçula, EDUARDO (RODOLFO MESQUITA), engenheiro desempregado,
está com um distúrbio mental grave, marcado pelo conflito com a realidade, e
que apenas eles podem ajudá-lo.
Isso faz com que os três
irmãos retornem à casa paterna e ao convívio diário, o que não ocorria desde a
infância, com o trio tendo que lidar com as excentricidades um do outro.
Esse reencontro abre
aquele doloroso arquivo afetivo, que eles gostariam de manter fechado. Na
situação, porém, não há como se esquivar. É essa convivência intricada que a
peça aborda.
Por mais árduo que seja,
há reciprocidade aqui e, também, afeto.
O pai, escritor, se faz
presente, apenas, pelo som, ininterrupto, de sua máquina de escrever e não se
permite ser interrompido.
Jonas discute
com Izabel.
IZABEL, a
personagem, carrega uma mala, cheia de adereços cenográficos; JONAS leva o iPad, para editar seu novo
filme publicitário; o pai tranca-se no quarto, junto de sua antiga Olivetti. EDUARDO é o caçula solitário, que
rompeu com as tradições familiares. Ele só possui um amigo, o eletricista que
conserta o fio de alta tensão da rua. EDUARDO
é o único irmão que não cumpriu a “sina” artística e que está à margem da
família e da própria sociedade.
Nesse reencontro, traumas e ressentimentos vêm à tona
e o que parecia ser a crise de apenas um dos irmãos reverbera em todos.
PRISCILA
GONTIJO consegue, com seu texto ácido e bem humorado, expor as agruras do
ser humano contemporâneo, equilibrando-se entre seus desejos e cobranças
sociais. O que esperamos da vida? O que esperam de nós? “Essas questões surgem no ambiente
familiar, entre irmãos, que se tornam cúmplices, mesmo quando não querem.
Certas coisas só um irmão é capaz de entender. O texto é sobre isso também”, conclui
PRISCILA.
Os dois, egoisticamente, só fazem discutir sobre
quem poderia ficar cuidando de Eduardo,
se é que tinham condições para isso.
Utilizando uma rede social,
conversei com PRISCILA, a quem,
infelizmente, não conheço pessoalmente, curioso que estava por saber o que a
motivou a escrever esse excelente texto,
se havia algum motivo especial para
a escolha e o que ela esperava da reação
do público.
De forma muito solícita e gentil, ela me respondeu que o
tema da loucura perpassa todas as suas peças, que é algo do seu universo íntimo
e também das reminiscências de uma infância incomum, onde conviveu, frente a
frente, com alguns fantasmas. Segundo ela, “como escreveu Nelson Rodrigues, esse tema é
a minha flor de obsessão”.
Acrescentou que, desde criança, ia, aos domingos, com a
mãe, visitar uma das tias, diagnosticada como esquizofrênica paranóica. Outra
sofria de psicose maníaco-depressiva, como a doença era chamada, naquela época,
hoje, conhecida como transtorno bipolar, salvo engano. Isso significava que
existia o fantasma da loucura entre as mulheres da casa.
PRISCILA sempre
se sentiu intrigada e atraída pela fronteira entre a lucidez e a loucura e,
mais tarde, entre o teatro e a realidade.
Perguntas que fazia a si mesma: O que seria estar fora dos padrões de normalidade? O que é ser normal?
Tais perguntas ficaram nela e, repetindo suas palavras,
“se
algo me atravessa, preciso escrever”.
Com relação ao texto de “A VIDA DELA”, o seu desafio era escrever o encontro entre irmãos,
com um que rompeu a barreira, que saiu, digamos, dessa caixa, que chamamos “normalidade”,
e a reação dos outros, aparentemente "normais", diante disso. Ela não
queria cair no drama e nem no sentimentalismo. O maior desafio, ao se sentar, para
escrever, era elaborar algo denso, mas com o filtro do humor (daí a
classificação de “comédia dramática”),
“porque
o humor salva e nos redime das angústias mais pungentes, tudo isso, com
delicadeza, sem vulgarizar o tema. Humor com ternura”.
Para elaborar o texto e dar-lhe a forma final, a
dramaturga precisou de meses sozinha, observando, escutando-se e escutando ao
outro, provocando-se, principalmente, para chegar a uma estrutura que
mobilizasse essas camadas.
O motivo especial para a abordagem do tema, mais do que
isso, um desejo, era “mexer no vespeiro, trazer,
à tona, temas tabus, rever preconceitos refletir sobre o que consideramos como
insanidade e como normalidade”. Para isso, utilizou,
como dois de seus personagens, artistas, que vivem dentro da ficção, “já
que todo autor é um pouco obsessivo com a criação”.
Durante sua vida inteira, PRISCILA conviveu com escritores. Otto Lara Resende, Rubem
Braga, Paulo Mendes Campos e Henfil frequentavam a sua casa e ela
não conseguia dormir, para poder ficar escutando as histórias. Hoje, diz que
tem insônia e não pode dormir sem ler, herança de sua infância.
Por conta disso, acrescentou que sua vida ficou mais próxima
da ficção do que da realidade. “Uns loucos, outros autores. E os pés no
chão? Não havia chão. E dei a mão para os autores, para sobreviver. Mas autores
como Kafka e Dostoiévski. Me alfabetizei assim, pois a minha realidade era
muito estranha”.
Com sua peça “A VIDA DELA”, a autora espera provocar, no
espectador, apenas a retirada do véu da indiferença, sabendo que é isso é
muito, mas espera, ao menos, que cada um que assistir ao espetáculo possa “refletir
sobre a nossa ‘vista cansada’, que, muitas vezes, aceita, como verdade, coisas
que podem ter outras leituras”. Gostaria a brilhante dramaturga de que
cada espectador pudesse sair do teatro com perguntas, encarando os próprios
fantasmas.
Terminou nosso breve bate-papo, dizendo que “Todos
nós somos um pouco loucos. E até acredito, que, nos dias que correm, ser normal
é a maior loucura!”
Creio que PRISCILA atinge
seus objetivos, com este texto, dirigido, de forma excelente, por DELSON ANTUNES, com supervisão de WALTER LIMA JR. e magistralmente representado por um trio de atores, com ótimos trabalhos em seus
currículos, artistas que, no projeto, se entregaram, completamente, à proposta
e mergulharam nas profundezes dos seus personagens, culminando todos os
esforços num belo espetáculo de TEATRO,
que merece ser visto por um grande público, quantitativamente falando, o que
nos leva a desejar que uma nova, e mais longa, temporada se faça acontecer.
Realço, nesta montagem, como já disse, no parágrafo anterior a atuação
dos atores.
Da esquerda para a
direita, Vandré Silveira,
Izabel Guéron e
Rodolfo Mesquita.
IZABEL GUÉRON, representa seu
melhor papel, sabendo alternar momentos que mexem com a percepção do espectador
e o levam a um exercício, com o objetivo de entender se determinadas atitudes
e/ou falas fazem parte do universo da “normalidade” ou se é uma consequência de
uma “contaminação”, transmitida por EDUARDO,
personagem de RODOLFO MESQUITA.
RODOLFO, com toda certeza, na
minha visão, está vivendo seu melhor momento no palco, de todos os muitos
trabalhos do ator a que já tive a oportunidade de assistir. Dos três
personagens, por sua fragilidade interior, creio eu, e, até mesmo, uma certa
dose de pureza, é o que mais conquista a simpatia do público (Ou seria piedade? Não sejamos loucos!),
talvez, também, por ser o que carrega a maior dose de humor. Acho que todos os
que assistem ao espetáculo gostariam de estar no lugar de IZABEL GUÉRON, na linda e emocionante cena em que é EDUARDO é acalentado pela irmã,
aconchegado em seu colo. Não foi outro o meu desejo, confesso.
Linda cena!
Quanto ao trabalho de VANDRÉ
SILVEIRA, como já disse, também é ótimo - bem nivelados os três atores -, em termos de interpretação.
Embora o personagem tenha “escapado da caixa”, parece que a loucura é genética naquela
família (o pai também não foge à regra) e, embora, aparentemente, o JONAS
tente não demonstrar o seu quinhão de loucura, esta escorre pelos dedos de suas
mãos fechadas, expondo-se à assistência, o que demanda, por parte do ator, um
trabalho muito delicado e competente. Por mais que sejam díspares, os dois personagens, sempre que estava em cena, sua imagem me remetia ao maior
momento, até agora, de sua carreira, que foi o personagem John Merrick, de “O Homem
Elefante”.
Contribuem, sobremaneira, para que eu recomende o espetáculo, o bom cenário, de JOSÉ DIAS, a ótima iluminação,
de FERNANDA MANTOVANI e TIAGO MANTOVANI, a correta trilha sonora, de RODRIGO MARANHÃO, o figurino, de LUIZA MARCIER
e a direção de movimento, de ANA BEVILACQUA.
Não posso me conformar com aquela frase, mais que batida, que diz que “o que é bom dura pouco” e espero que
cada um dos que me leem seja um apoiador do espetáculo, entrando no link www.catarse.me/avidadela,
contribuindo, com o mínimo que seja, para que o espetáculo consiga se manter em
outras temporadas.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Priscila Gontijo
Direção: Delson Antunes
Assistente de Direção: Renata Caldas
Consultoria: Walter Lima Jr.
Consultoria: Walter Lima Jr.
Elenco: Isabel Guéron (Izabel), Rodolfo Mesquita
(Eduardo) e Vandré Silveira (Jonas)
Trilha Sonora: Rodrigo Maranhão
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago
Mantovani
Cenário: José Dias
Figurino: Luiza Marcier
Direção de Movimento: Ana Bevilacqua
Programação
Visual: Gio Vaz
Fotos: Fernanda Tomaz
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Produção: Pagu Produções Culturais
Izabel e Eduardo.
SERVIÇO:
Temporada: De 25 de março a 10 de abril de
2016.
Local: Espaço Sesc (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 –
Copacabana – Rio de Janeiro.
Horário de
Funcionamento da Bilheteria: De
6ª feira a dom, das 15h às 21h.
Telefone: 2548-1088
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 19h;
domingo, às 18h.
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (meia-entrada);
R$5,00 (associados do SESC).
Recomendação Etária: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 50 lugares
(FOTOS:
FERNANDA TOMAZ.)
A VIDA DELA
(“MAS LOUCO É QUEM ME DIZ
E NÃO É FELIZ, NÃO É FELIZ”
– Arnaldo Baptista e Rita Lee.)
(SERÁ?!...)
Adoro
ser presenteado com boas surpresas, sempre que vou ao TEATRO. Quando me dispus a assistir ao espetáculo “A VIDA DELA”, em cartaz, infelizmente,
apenas até o próximo domingo, dia 10
(VER SERVIÇO), não sabia quão feliz sairia da pequena Sala Multiuso do Espaço SESC, por ter assistido a uma ótima e
surpreendente encenação.
Conheço o
trabalho individual dos três ótimos atores que fazem parte do elenco - ISABEL GUÉRON, RODOLFO MESQUITA E VANDRÉ
SILVEIRA -, aprecio bastante as assinaturas de direção de DELSON ANTUNES,
mas não me lembrava de ter assistido a alguma peça de PRISCILA GONTIJO, que assina o texto
e de quem me tornei um grande admirador.
Com base no “release”, adaptado, enviado pela assessora de imprensa Lyvia Rodrigues (Aquela Que Divulga), a
peça foi escrita em 2011, para atender a um projeto de atriz IZABEL GUÉRON, e retrata as angústias
do reencontro entre três irmãos numa família disfuncional.
Vandré
Silveira, de pé;
sentados,
Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.
SINOPSE:
“A VIDA DELA” é uma comédia dramática sobre o reencontro de três irmãos. IZABEL
(IZABEL GUÉRON), uma professora de artes, especialista em teatro do
absurdo, escreve textos teatrais, que nunca foram encenados; JONAS
(VANDRÉ SILVEIRA), cineasta, sobrevive de filmes publicitários. Um
dia, eles recebem um telefonema do pai, que os informa de que o irmão
caçula, EDUARDO (RODOLFO MESQUITA), engenheiro desempregado,
está com um distúrbio mental grave, marcado pelo conflito com a realidade, e
que apenas eles podem ajudá-lo.
Isso faz com que os três
irmãos retornem à casa paterna e ao convívio diário, o que não ocorria desde a
infância, com o trio tendo que lidar com as excentricidades um do outro.
Esse reencontro abre
aquele doloroso arquivo afetivo, que eles gostariam de manter fechado. Na
situação, porém, não há como se esquivar. É essa convivência intricada que a
peça aborda.
Por mais árduo que seja,
há reciprocidade aqui e, também, afeto.
O pai, escritor, se faz
presente, apenas, pelo som, ininterrupto, de sua máquina de escrever e não se
permite ser interrompido.
Jonas discute
com Izabel.
IZABEL, a
personagem, carrega uma mala, cheia de adereços cenográficos; JONAS leva o iPad, para editar seu novo
filme publicitário; o pai tranca-se no quarto, junto de sua antiga Olivetti. EDUARDO é o caçula solitário, que
rompeu com as tradições familiares. Ele só possui um amigo, o eletricista que
conserta o fio de alta tensão da rua. EDUARDO
é o único irmão que não cumpriu a “sina” artística e que está à margem da
família e da própria sociedade.
Nesse reencontro, traumas e ressentimentos vêm à tona
e o que parecia ser a crise de apenas um dos irmãos reverbera em todos.
PRISCILA
GONTIJO consegue, com seu texto ácido e bem humorado, expor as agruras do
ser humano contemporâneo, equilibrando-se entre seus desejos e cobranças
sociais. O que esperamos da vida? O que esperam de nós? “Essas questões surgem no ambiente
familiar, entre irmãos, que se tornam cúmplices, mesmo quando não querem.
Certas coisas só um irmão é capaz de entender. O texto é sobre isso também”, conclui
PRISCILA.
Os dois, egoisticamente, só fazem discutir sobre
quem poderia ficar cuidando de Eduardo,
se é que tinham condições para isso.
Utilizando uma rede social,
conversei com PRISCILA, a quem,
infelizmente, não conheço pessoalmente, curioso que estava por saber o que a
motivou a escrever esse excelente texto,
se havia algum motivo especial para
a escolha e o que ela esperava da reação
do público.
De forma muito solícita e gentil, ela me respondeu que o
tema da loucura perpassa todas as suas peças, que é algo do seu universo íntimo
e também das reminiscências de uma infância incomum, onde conviveu, frente a
frente, com alguns fantasmas. Segundo ela, “como escreveu Nelson Rodrigues, esse tema é
a minha flor de obsessão”.
Acrescentou que, desde criança, ia, aos domingos, com a
mãe, visitar uma das tias, diagnosticada como esquizofrênica paranóica. Outra
sofria de psicose maníaco- depressiva, como a doença era chamada, naquela época,
hoje, conhecida como transtorno bipolar, salvo engano. Isso significava que
existia o fantasma da loucura entre as mulheres da casa.
PRISCILA sempre
se sentiu intrigada e atraída pela fronteira entre a lucidez e a loucura e,
mais tarde, entre o teatro e a realidade.
Perguntas que fazia a si mesma: O que seria estar fora dos padrões de normalidade? O que é ser normal?
Tais perguntas ficaram nela e, repetindo suas palavras,
“se
algo me atravessa, preciso escrever”.
Com relação ao texto de “A VIDA DELA”, o seu desafio era escrever o encontro entre irmãos,
com um que rompeu a barreira, que saiu, digamos, dessa caixa, que chamamos “normalidade”,
e a reação dos outros, aparentemente "normais", diante disso. Ela não
queria cair no drama e nem no sentimentalismo. O maior desafio, ao se sentar, para
escrever, era elaborar algo denso, mas com o filtro do humor (daí a
classificação de “comédia dramática”),
“porque
o humor salva e nos redime das angústias mais pungentes, tudo isso, com
delicadeza, sem vulgarizar o tema. Humor com ternura”.
Para elaborar o texto e dar-lhe a forma final, a
dramaturga precisou de meses sozinha, observando, escutando-se e escutando ao
outro, provocando-se, principalmente, para chegar a uma estrutura que
mobilizasse essas camadas.
O motivo especial para a abordagem do tema, mais do que
isso, um desejo, era “mexer no vespeiro, trazer,
à tona, temas tabus, rever preconceitos refletir sobre o que consideramos como
insanidade e como normalidade”. Para isso, utilizou,
como dois de seus personagens, artistas, que vivem dentro da ficção, “já
que todo autor é um pouco obsessivo com a criação”.
Durante sua vida inteira, PRISCILA conviveu com escritores. Otto Lara Resende, Rubem
Braga, Paulo Mendes Campos e Henfil frequentavam a sua casa e ela
não conseguia dormir, para poder ficar escutando as histórias. Hoje, diz que
tem insônia e não pode dormir sem ler, herança de sua infância.
Por conta disso, acrescentou que sua vida ficou mais próxima
da ficção do que da realidade. “Uns loucos, outros autores. E os pés no
chão? Não havia chão. E dei a mão para os autores, para sobreviver. Mas autores
como Kafka e Dostoiévski. Me alfabetizei assim, pois a minha realidade era
muito estranha”.
Com sua peça “A VIDA DELA”, a autora espera provocar, no
espectador, apenas a retirada do véu da indiferença, sabendo que é isso é
muito, mas espera, ao menos, que cada um que assistir ao espetáculo possa “refletir
sobre a nossa ‘vista cansada’, que, muitas vezes, aceita, como verdade, coisas
que podem ter outras leituras”. Gostaria a brilhante dramaturga de que
cada espectador pudesse sair do teatro com perguntas, encarando os próprios
fantasmas.
Terminou nosso breve bate-papo, dizendo que “Todos
nós somos um pouco loucos. E até acredito, que, nos dias que correm, ser normal
é a maior loucura!”
Creio que PRISCILA atinge
seus objetivos, com este texto, dirigido, de forma excelente, por DELSON ANTUNES, com supervisão de WALTER LIMA JR. e magistralmente representado por um trio de atores, com ótimos trabalhos em seus
currículos, artistas que, no projeto, se entregaram, completamente, à proposta
e mergulharam nas profundezes dos seus personagens, culminando todos os
esforços num belo espetáculo de TEATRO,
que merece ser visto por um grande público, quantitativamente falando, o que
nos leva a desejar que uma nova, e mais longa, temporada se faça acontecer.
Realço, nesta montagem, como já disse, no parágrafo anterior a atuação
dos atores.
Da esquerda para a
direita, Vandré Silveira,
Izabel Guéron e
Rodolfo Mesquita.
IZABEL GUÉRON, representa seu
melhor papel, sabendo alternar momentos que mexem com a percepção do espectador
e o levam a um exercício, com o objetivo de entender se determinadas atitudes
e/ou falas fazem parte do universo da “normalidade” ou se é uma consequência de
uma “contaminação”, transmitida por EDUARDO,
personagem de RODOLFO MESQUITA.
RODOLFO, com toda certeza, na
minha visão, está vivendo seu melhor momento no palco, de todos os muitos
trabalhos do ator a que já tive a oportunidade de assistir. Dos três
personagens, por sua fragilidade interior, creio eu, e, até mesmo, uma certa
dose de pureza, é o que mais conquista a simpatia do público (Ou seria piedade? Não sejamos loucos!),
talvez, também, por ser o que carrega a maior dose de humor. Acho que todos os
que assistem ao espetáculo gostariam de estar no lugar de IZABEL GUÉRON, na linda e emocionante cena em que é EDUARDO é acalentado pela irmã,
aconchegado em seu colo. Não foi outro o meu desejo, confesso.
Linda cena!
Quanto ao trabalho de VANDRÉ
SILVEIRA, como já disse, também é ótimo - bem nivelados os três atores -, em termos de interpretação.
Embora tenha “escapado da caixa”, parece que a loucura é genética naquela
família (o pai também não foge à regra) e, embora, aparentemente, o personagem
tente não demonstrar o seu quinhão de loucura, esta escorre pelos dedos de suas
mãos fechadas, expondo-se à assistência, o que demanda, por parte do ator, um
trabalho muito delicado e competente. Por mais que sejam díspares, o seu JONAS sempre me remetia ao maior
momento, até agora, de sua carreira, que foi o personagem John Merrick, de “O Homem
Elefante”.
Contribuem, sobremaneira, para que eu recomende o espetáculo, o bom cenário, de JOSÉ DIAS, a ótima iluminação,
de FERNANDA MANTOVANI e TIAGO MANTOVANI, a correta trilha sonora, de RODRIGO MARANHÃO, o figurino, de LUÍSA MARCIER
e a direção de movimento, de ANA BEVILACQUA.
Não posso me conformar com aquela frase, mais que batida, que diz que “o que é bom dura pouco” e espero que
cada um dos que me leem seja um apoiador do espetáculo, entrando no link www.catarse.me/avidadela,
contribuindo, com o mínimo que seja, para que o espetáculo consiga se manter em
outras temporadas.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Priscila Gontijo
Direção: Delson Antunes
Assistente de Direção: Renata Caldas
Consultoria: Walter Lima Jr.
Consultoria: Walter Lima Jr.
Elenco: Isabel Gueron (Izabel)
Rodolfo Mesquita
(Eduardo)
Vandré Silveira (Jonas)
Trilha Sonora: Rodrigo Maranhão
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago
Mantovani
Cenário: José Dias
Figurino: Luisa Marcier
Direção de Movimento: Ana Bevilacqua
Programação
Visual: Gio Vaz
Fotos: Fernanda Tomaz
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Produção: Pagu Produções Culturais
Izabel e Eduardo.
SERVIÇO:
Temporada: De 25 de março a 10 de abril de
2016.
Local: Espaço Sesc (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 –
Copacabana – Rio de Janeiro.
Horário de
Funcionamento da Bilheteria: De
6ª feira a dom, das 15h às 21h.
Telefone: 2548-1088
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 9h;
domingo, às 18h.
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (meia-entrada);
R$5,00 (associados do SESC).
Recomendação Etária: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 50 lugares
(FOTOS:
FERNANDA TOMAZ.)
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