quarta-feira, 23 de setembro de 2015


AS MENINAS
(AMIZADE NAS DIFERENÇAS;
IGUALDADE NO TALENTO;
SOMA, PARA AS REFLEXÕES.)
            Está em cartaz, no Teatro Poeira (Rio de Janeiro), em horário alternativo, às 3ªs e 4ªs feiras, às 21h, e lá poderá ser vista até o dia 21 de outubro (2015), a peça “AS MENINAS”, que NÃO deve ser confundida com uma outra, homônima, de autoria de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes, encenada há uns seis anos, se não me engano.  Não é à toa que, toda vez que tenho de me referir ao espetáculo aqui analisado, tenho de me policiar, para não dizer “As (Três) Meninas”, talvez – pode ser - por influência de “As Três Irmãs”, de Tchecov, que, também não tem nada a ver com o espetáculo foco destes comentários.
 
A peça alvo desta análise tem dramaturgia de MARIA ADELAIDE AMARAL, que adaptou um dos mais festejados romances de LYGIA FAGUNDES TELLES, o meu preferido, publicado em 1973, vencedora, por ele, do Prêmio Jabuti, em 1974, e a quem tive o prazer de conhecer, no final dos anos 90, quando, no comando de um cargo administrativo, numa conceituada universidade do Rio de Janeiro, convidei-a a proferir uma palestra, o que muito me honrou.
           
O espetáculo chega ao Rio, depois de uma bem sucedida temporada em São Paulo, trazendo, no elenco, CLARISSA ROCKENBACH (LORENA), LUCIANA BRITES (ANA CLARA) e SÍLVIA LOURENÇO (LIA), como as protagonistas, além de DANIEL ALVIM (MAX e GUGA), como “ator convidado”, e CLARISSE ABUJAMRA (MÃEZINHA) e SANDRA PÊRA (IRMÃ PRISCILA), em “participações especiais” (eu diria “especialíssimas”).



Clarissa Rockenbach e Sílvia Lourenço.



SINOPSE:

           No auge da ditadura militar, três jovens universitárias convivem num pensionato paulistano de freiras, o Pensionato N.Sª. de Fátima.


           É nele que as três “meninas” encaram o início da vida adulta, cada uma numa busca profunda pela sua própria identidade, vivendo uma história única, de encontros e desencontros, numa das épocas mais conturbadas do país, a ditadura militar que aterrorizou o país, iniciada em 1964.
  
           No palco, as três vozes se misturam, para dar vida ao inquietante romance “As Meninas”, de LYGIA FAGUNDES TELLES, uma das mais importantes e corajosas obras da literatura brasileira, adaptada, para o TEATRO, por MARIA ADELAIDE AMARAL e com direção de YARA DE NOVAES.
 
           A dramaturgia segue as três “meninas”, protagonistas, por fora e por dentro, no relacionamento com os companheiros, com as freiras e com a família, em um tempo de censura e de silêncio.
  
           A história é contada por três olhares: o da aristocrática e romântica LORENA (CLARISSA ROCKENBACH), que transpira generosidade e aspira viver um grande amor com um homem mais velho e casado; o de LIA (SÍLVIA LOURENÇO), idealista e guerrilheira, que milita pela causa da liberdade, sonhando reencontrar o namorado, preso político e torturado, e unir-se a ele; e o de ANA CLARA (LUCIANA BRITES), a bela modelo, que mergulha nas drogas, chamada de “Ana Turva”, pelas outras, mas que acredita que um rico casamento possa libertá-la da dependência e do pavor da miséria.



Foi a própria LYGIA quem indicou, a FERNANDO PADILHA, produtor e idealizador do projeto, ao lado de CLARISSA ROCKENBACH, MARIA ADELAIDE, para fazer a adaptação do romance para o palco.

É a própria MARIA ADELAIDE quem diz: Foi o FERNANDO PADILHA quem me convidou.  Estava ocupadíssima, mas, sendo texto da LYGIA, não havia como recusar.  Escrever a adaptação foi muito fácil, porque as qualidades dramáticas de ‘As Meninas’ revelam-se imediatamente.  Minhas interferências foram mínimas.  Teatro é a arte da síntese.  É exatamente o contrário de uma narrativa literária.  O que fiz foi pinçar e destacar, do romance da LYGIA, os momentos mais reveladores e dramáticos da história e das personagens".

MARIA ADELAIDE tem toda a razão, até certo ponto, na sua modéstia.  O romance parece ter sido escrito, visando a uma adaptação para o TEATRO, feita, obviamente, por quem tem cacife para fazê-lo.  Ele é teatral.  A adaptadora manteve toda a trama, e seu trabalho único, nem por isso de menor valor, já que se trata de uma difícil tarefa, foi tirar da boca de um narrador de primeira pessoa o que a escritora estava querendo dizer, transformando esse rico conteúdo em riquíssimos diálogos, bem simples, naturais, para serem compreendidos por qualquer tipo de espectador, dos mais letrados aos menos, dos mais velhos aos mais jovens.

Clarissa Rockenbach e Sandra Pêra.

É muito importante que o público jovem tome conhecimento desta obra, e até se interesse por ler o romance, depois, já que a memória, no Brasil, não é artigo de primeira necessidade e vive sendo negligenciada.  Num país de pouca, ou nenhuma recordação daquilo que nunca deveria ser esquecido, é importante que, sempre, se mostrem, às gerações mais novas, os horrores de uma época negra na nossa história, o golpe militar de 1964, que tantas vítimas fez, que tantas vidas ceifou, principalmente de jovens idealistas, que lutavam por um país onde houvesse justiça e oportunidades iguais, de bem viver, para todos.

Um conhecido meu, após ter assistido ao espetáculo, confidenciou-me, à saída, que, a despeito de ter gostado “da peça”, achava muito chato “ficar insistindo nessa coisa de golpe, de torturas... um saco”.  Fui obrigado a discordar, utilizando os argumentos mencionados no parágrafo anterior.  Tudo o que se denunciar acerca dessa página de horror do nosso passado recente - afinal são transcorridos apenas 52 anos, o que, em termos de História, é muito pouco - ainda será pouco, pelo mal que nos causaram os “gorilões” fardados daquela época.

            Merece, sim, uma temporada maior, num teatro maior, para um público maior.  Merece, sim, um teatro lotado, aplaudindo de pé, com gritos de “BRAVO!”, como os meus, conforme ocorreu no dia da sessão para convidados.


 
Clarissa e Sílvia.

Além de um romance envolvente, o texto de “AS MENINAS” mostra um apaixonante retrato político do Brasil e de um mundo em transformação.  Como um jovem de 15 anos, em 1964, passei por todo aquele período, convivendo com lorenas, lias, anas e  outros nomes, e vendo, de perto, amigos sendo torturados, outros desaparecendo, um sonho sendo destruído, pela força, pela truculência, pelo ódio, pela estupidez...

O livro frequentou, não apenas como objeto de decoração, a minha cabeceira, por alguns anos, e é com grande alegria que o vejo, agora, representado, em sons e gestos, num palco de TEATRO.
  
Reescrito, dramaturgicamente, o texto manteve a força, o impacto, a densidade do romance que lhe deu origem, reforçado pelo natural aspecto da sonoridade das palavras e pelas inflexões, que emocionam, mas, ao mesmo tempo, como uma válvula de escape para tanta dramaticidade, diverte, com pitadas de humor, às vezes meio cruel, quando das intervenções das personagens de SANDRA PÊRA e CLARISSE ABUJAMRA.  Não podemos, afinal, nos esquecer da função crítica do humor.  É brincando que são ditas muitas verdades, as quais, por vezes, fazem doer muito.

            A diretora, YARA DE NOVAES, foi uma indicação de MARIA ADELAIDE AMARAL.  Certeira, perfeita na mira, a ADELAIDE!
 
Luciana Brites e Daniel Alvim.
 
Costumo afirmar que um bom pedagogo deve ser, antes de tudo, um bom professor.  Guardadas as devidas proporções, até porque não há obrigatoriedade no que vou dizer, mas, via de regra, um bom trabalho de direção passa, muitas vezes, pela experiência de um(a) bom(boa) ator(atriz), como é o caso de YARA, excelente intérprete, que dividiu, com sua companheira de cena, Débora Falabella, pelo espetáculo “Contrações”,  o prêmio de Melhor Atriz, no 9º Prêmio APTR de Teatro, em 2014.

            Baseia-se a minha teoria, como já disse em vezes anteriores, no fato de que quem dirige e, também, atua, parece-me conhecer melhor o “caminho das pedras”, entende, mais profundamente, o que vai no coração e na cabeça do intérprete, podendo, dessa maneira, chegar, o mais próximo possível,  à obtenção de um bom resultado na atuação de um elenco.

Segundo YARA, a direção foi inspirada na adaptação de ADELAIDE: Uma adaptação maravilhosa, que não só respeita, mas, sobretudo, dialoga com o romance, condensando ou deslocando personagens e ações, num fluxo teatral muito propiciador da boa cena.  Das falas ao encadeamento das cenas, passando pelas rubricas, tudo, na adaptação, tem o legado humano e estético, criado por LYGIA FAGUNDES TELLES, no livro ‘AS MENINAS’".

YARA soube valorizar o que de mais emblemático há no texto, empreendendo, à encenação, um bom ritmo, obtido pelo trabalho de um excelente elenco, sob a sua batuta.

MARIA ADELAIDE e YARA DE NOVAES conseguiram “amenizar”, um pouco, o peso da narrativa, sem, contudo, deixar de fazer as denúncias e provocar uma profunda reflexão, nos espectadores, tudo sem violências (físicas) explícitas.

Todo o elenco deste espetáculo é merecedor dos maiores elogios.  A despeito de o trabalho do protagonista, geralmente, ser o de destaque, nesta montagem, a qualidade de interpretação do trabalho dos coadjuvantes equipara-se ao que é feito pelas três atrizes protagonistas.

São três mulheres com personalidades, histórias de vida e aspirações totalmente diferentes, amalgamadas nas suas dores e nos ideais de um futuro feliz, cada uma ao seu feitio.  Três sonhos diversos: LORENA e sua utopia exacerbada, LIA e seu idealismo à flor da pele e ANA e seu projeto de liberdade pessoal.

O elenco: Daniel Alvim, Luciana Brites, Clarisse Abujamra, Clarissa Rockenbach, Sandra Pêra e Sílvia Lourenço.

CLARISSA ROCKENBACH, uma das idealizadoras do projeto, é LORENA, uma estudante de Direito, fina e culta, amante da boa literatura, da música, da arte, em geral, paulistana, filha de família burguesa, quatrocentona.  Sempre muito solícita com as amigas, auxiliando-as, principalmente, quando a ajuda está ligada à parte material (dinheiro), é sonhadora e, paradoxalmente, virgem, apesar de namorar um homem casado e mais velho que ela, M.N., iniciais de Marcos Nemésios, um médico, por quem é apaixonada e de quem vive aguardando um telefonema, aquele em que o amado lhe diria estar livre, para iniciar, com ela, uma relação oficial.  Perdera, tragicamente, um irmão, Rômulo, atingido por um tiro acidental, desferido por um outro irmão, Remo, o que levou o pai, já falecido, a um sanatório e sua mãe a uma vida fútil, preocupada em não aparentar a idade que tem e se envolvendo com rapazes muito mais jovens que ela, os quais a exploravam.

Clarissa e Luciana.

O papel da “menina” LIA é feito por SÍLVIA LOURENÇO.  LIA, uma idealista guerrilheira urbana, forte e determinada, foi, da Bahia para São Paulo, a fim de estudar Ciências Sociais, fugindo da superproteção da mãe e do passado sombrio do pai, um alemão, ex-militar nazista.  Lá, envolve-se na militância política contra a ditadura militar.  Forte e resistente, é chamada de “Lião”, pelas outras.  Ela serve como um contraponto à personalidade e ao comportamento de LORENA, uma vez que é desprovida de qualquer vaidade, vestindo-se muito mal e chegando, até, a ser meio avessa a banhos, o que, por consequência, lhe confere uma péssima aparência física.  No curso de Ciências Sociais, foco de agitações estudantis na década de 60, apaixona-se por Miguel, um militante revolucionário, que acaba preso, o que a faz sofrer muito.  Sua preocupação mais relevante consiste em conseguir dinheiro e roupas para o "aparelho", e está sempre discursando contra a alienação da burguesia, das amigas, em particular, e a pobreza e a má distribuição de renda, mormente no nordeste.  Divide seu foco de atenção entre a militância política, seu engajamento na causa da liberdade da Pátria; o amor e fidelidade aos companheiros de luta; a segurança nos braços de Miguel; e o apoio da família, que, mesmo à distância, protege-a e dispõe-se a ajudá-la numa fuga para o exterior.
 
ANA CLARA, chamada, pelas amigas, de “Ana Turva”, é vivida por LUCIANA BRITES.  É estudante de Psicologia, sonha em ter seu próprio consultório, para atender a burguesia da cidade.  É a que dispõe de menos recursos financeiros.  Das três, a que tem a vida mais marcada por desgraças e tragédias.  É filha de pai desconhecido e mãe prostituta.  Sua infância foi de abandono e solidão, vivida num cortiço, presenciando a mãe apanhar de muitos homens, tendo sido, ainda menina, abusada, sexualmente, por um dentista, que fazia o mesmo à sua mãe, em troca de um tratamento dentário “grátis”.  A mãe suicidou-se, tomando formicida.  Por ser muito bonita, ANA CLARA acaba por se tornar modelo.  É noiva de um médico rico, com o qual sonha se casar, como forma de solução de seus problemas em relação a dinheiro, mas, simultaneamente a esse “compromisso”, relaciona-se, secretamente, com MAX (DANIEL ALVIM), um traficante, a quem, realmente, ela ama e, por causa dele, acaba se envolvendo com drogas, tornando-se uma dependente, até chegar a seu fim trágico, levada à morte, resultado de uma overdose, uma morte anunciada.

Daniel e Luciana (sensualidade sem vulgaridade).

O trabalho das três atrizes é excelente, todas entregues às suas personagens.  Tentei fazer um exercício de imaginação, trocando os papéis e as atrizes e, embora considerando o caráter camaleônico de quem interpreta, o que lhe possibilita ser homem ou mulher, jovem ou velho, bonito ou feio, herói ou vilão etc., não consegui ver cada uma delas vivendo outra personagem. 
 
Embora se equivalham em qualidade interpretativa, cada uma se destaca por um detalhe.  CLARISSA sabe como misturar o lado utópico da personagem, com leves pitadas de bom humor, entremeadas por momentos de “pé no chão” e, também, um pouco de ingenuidade.  LUCIANA abusa do direito de explorar seus dotes físicos na construção da universitária/modelo/drogada, deixando vir à tona toda a carga de sensualidade de ANA CLARA, revelando-se uma ótima atriz nas cenas de confusão mental, causada pelo uso excessivo das drogas.  SÍLVIA, por sua vez, extrapola o lado agressivo e idealista de sua personagem, totalmente desprovida de medo, não medindo esforços, para transformar o futuro do país.  É um trabalho que exige uma considerada carga emotiva, totalmente dosada e dominada pela atriz.  São três trabalhos marcantes no espetáculo!!!

Completando o elenco, há, como já disse, três destaques para atores em papéis coadjuvantes (são os papéis, não os atores): DANIEL ALVIM, CLARISSE ABUJAMRA e SANDRA PÊRA.

Luciana Brites, em primeiro plano.

DANIEL interpreta dois personagens, MAX e GUGA, o primeiro dos dois com maior participação na trama.  Completamente diferentes, são dois papéis muito bem defendidos pelo ótimo ator, indicado, recentemente, ao Prêmio SHELL de Melhor Ator, em São Paulo, por outro espetáculo.  MAX é um homem bonito, atraente e sedutor, amante de ANA CLARA, a quem apresenta o universo das drogas, vindo a ser o responsável, direto ou indireto, de seu fim trágico.  Trafica, não para ganhar dinheiro, mas para garantir sua própria mercadoria de consumo.  Trafica, para poder alimentar o seu vício e o da namorada.  GUGA, o outro personagem, de breve atuação, é um colega de faculdade de LORENA, que abandona o curso de Direito e se dedica a causas pacifistas.

A MÃEZINHA (de LORENA), personagem de CLARISSE ABUJAMRA, certamente, é um dos melhores da carreira dessa talentosa atriz.  Trata-se de uma mulher extremamente fútil, uma forma de fugir ao tormento pelos sinais de velhice, o que poderia fazer com que perdesse seu jovem namorado.  Vivia em função de um, digamos, “lema”: minha cultivada e falsa juventude pelos prazeres da carne.  São ótimos os momentos em que a personagem, totalmente consciente do que faz e fala, mostra-se irônica, chegando ao deboche.  Extremamente elegante, explora uma bela postura cênica, incapaz de perder a pose de quatrocentona falida.  Na verdade, MÃEZINHA constrói um mundo de fantasias, para habitar, como uma maneira de fugir de uma “culpa”, carregada pelos erros e derrotas do passado.  Não me recordo de a personagem ter sido tratada, em algum momento do livro e da peça, por seu verdadeiro nome.  Talvez seja uma falha de minha parte.  Ou não.  Arvoro-me a perceber uma pitada de ironia na palavra “MÃEZINHA”, aquilo que ela, talvez, não tenha sido a vida inteira, para os filhos, a não ser quando os cercava de valores materiais.
 
Clarisse Abujamra.

SANDRA PÊRA parece ter economizado seu talento, durante sua trajetória no palco, embora já o tenha demonstrado em trabalhos anteriores, para explodir com esta IRMÃ PRISCILA.  Para mim, é sua melhor criação.  Convence, e agrada, até com seu silêncio, compensado pelas expressões faciais.  Não se trata de uma personagem de tanto peso, na trama, mas ganha, porém, bastante destaque, em função do tratamento que SANDRA deu a ela.  Conservadora, além do que exige sua condição de religiosa, choca-se com o universo das três “meninas”.  Brilha, em alguns diálogos, chegando a arrancar aplausos em cena aberta.

Sandra Pêra.

Para encerrar estes comentários, apenas acrescento que consegui enxergar uma harmonia entre todos os elementos que se juntam, para que o espetáculo funcione muito bem, passando por cenário, figurino, iluminação, trilha sonora, visagismo...  Quero, entretanto, dar um destaque ao cenário, de ANDRÉ CORTEZ, bastante original e criativo.
 
A área cênica é dividida em dois espaços: um central, representando o quarto de LORENA (Ou seria coletivo, das três?), e um periférico, ocupando toda a área à volta do quarto.  Neste, contemplado com menor intensidade de luz, há uma profusão de cadeiras e outros pequenos móveis e objetos, desorganizadamente posicionados, todos de madeira escura.  Contrastando com esses detalhes, o quarto é bastante “clean”, sempre bem iluminado, sendo delimitado por cadeiras, todas brancas, assim como o piso.  Como fertilidade de imaginação não me falta, decodifiquei esses contrastes como intencionais, por parte do cenógrafo, com a aquiescência da diretora, numa tentativa de mostrar a distância entre o caótico “lá de fora” e o porto seguro do “aqui dentro”.  Seria excesso de imaginação fértil, uma “viagem”?

O quarto, com as três “meninas”.

Nem sempre a transposição das páginas de um livro para as tábuas do piso de um teatro obtém bons resultados.  No caso de “AS MENINAS”, não poderia ter sido melhor o que nos é oferecido.
Quando uma obra literária é adaptada para os palcos ou para as telas, em geral, gostamos mais do livro, se o lemos antes, uma vez que, ao fazê-lo, fomos criando “o nosso filme”, montando “a nossa peça”, exercitando a imaginação criativa.  Vamos construindo as cenas nas nossas cabeças, “vendo” os rostos dos personagens, que criamos, os locais onde ocorrem as cenas...  Assim, o filme ou a peça parecem “não ter muita graça”.  Não foi, porém, o que aconteceu quando assisti ao espetáculo “AS MENINAS”.  Logo na primeira cena, consegui apagar as imagens que já havia formado na minha mente e passei a ver apenas o que estava à minha frente, como algo totalmente novo, graças à ousadia e ao trabalho de toda a equipe envolvida nesta montagem.

Recomendo, com bastante empenho, este espetáculo!!!

FICHA TÉCNICA:

Texto: Lygia Fagundes Telles, com adaptação e dramaturgia de Maria Adelaide Amaral
Direção e Concepção: Yara de Novaes
Elenco: CLARISSA ROCKENBACH (Lorena), LUCIANA BRITES (Ana Clara), SILVIA LOURENÇO (Lia), DANIEL ALVIM (Max e Guga), CLARISSE ABUJAMRA (Mãezinha) e SANDRA PÊRA (Irmã Priscila)
Elenco em OFF: Daniel Alvim (M.N.) e Eloísa Elena (Secretária)
Cenário: André Cortez
Figurino: André Cortez e Fábio Namatame
Iluminação: Juliana Santos
Trilha Sonora: Dr Morris
Preparação Corporal: Miriam Rinaldi
Preparação e Arranjo Vocal: Daniel Maia
Visagismo: Bruna Pires
Fotografia: Ronaldo Aguiar e Priscila Prade
Programação Visual: Tuagência
Assistente de Direção: Leonardo Bertholini
Assistente de Produção: Priscila Tello
Lei de Incentivo: Egberto Simões
Produção Executiva: Gustavo Sanna
Direção de Produção: Fernando Padilha
Realização: Pad Rok Produções Culturais Ltda.
Idealização: Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Patrocínio: Unimed Seguros



SERVIÇO:

Temporada: Até 21 de outubro de 2015
Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 21h.
Local: Teatro Poeira - R. São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro
Telefone da Bilheteria: (21) 2537-8053
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 21h
Ingressos: R$50,00
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos.
Lotação: 135 lugares.



(FOTOS: RONALDO AGUIAR
e
PRISCILA PRADE.)

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