GALÁPAGOS
(UMA “VIAGEM INSÓLITA”)
Mais um texto
da talentosíssima jovem dramaturga RENATA
MIZRAHI está em cartaz, no momento, no Teatro
III do Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, onde ficará em cartaz até o dia 14 de dezembro.
Embora
longe de ser o melhor texto de RENATA
(OS SAPOS e SILÊNCIO, até agora, são
os meus preferidos, com destaque para o último), GALÁPAGOS também tem o seu valor, como texto e como
espetáculo. Recomendo, sem pestanejar.
Pode-se
dizer que se trata de um trabalho coletivo, já que a sinopse e o argumento foram
esboçados, há três anos, pela dupla de atores, idealizadores do projeto, PAULO GIANNINI e KADU GARCIA. Posteriormente,
foi acrescida a costura de RENATA,
que também participara do argumento. Finalmente,
tudo recebeu o fino acabamento da diretora ISABEL
CAVALCANTI, num trabalho a oito mãos, que contou com muita pesquisa.
A
peça foi contemplada com o Prêmio
Funarte Myriam Muniz e selecionada pelo Programa de Fomento à Cultura Carioca (Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro).
O
TEATRO é uma das artes que mais
dependem do coletivo. Não importa se o
elenco é formado por dezenas de atores e figurantes ou se estamos diante de um
monólogo, o certo é que, por trás de tudo, esconde-se um exército de profissionais,
que, afinados, buscando um só objetivo, têm toda a chance de atingir o sucesso. Essa reunião de quatro pessoas em torno de
uma ideia, um texto, uma direção, uma concepção só faz agregar valores a um bom
espetáculo, como GALÁPAGOS.
Notam-se, em
todos os aspectos da peça, traços, pinceladas, influências do teatro de Edward
Albee e Harold Pinter, o que,
por si só, já é demonstração de bom gosto. Amalgamam-se, em cena, o real e o
absurdo, o palpável e o volátil, o sério e o lúdico, o provável e o improvável,
como a amizade dos dois personagens.
Kadu Garcia e Paulo Giannini.
SINOPSE:
Durante sucessivos
encontros, dois homens, com estilos de vida completamente diferentes,
reconhecem ter algo em comum: um abismo entre o que são e o que representam
ser. CARLOS (PAULO GIANNINI) é um artista plástico renomado, rico, excêntrico;
VANDER (KADU GARCIA) é um
funcionário de uma multinacional, um homem de hábitos simples, classe média
baixa, pai de três filhos e que leva uma vida pacata. Os dois travam um duelo cômico e emocionante
com suas verdades, suas idiossincrasias, seus sonhos, seus medos...
Os encontros se dão num
decadente bar, que só conta com a frequência dos dois, que lá vão, todos os
dias e à mesma hora, com o mesmo objetivo: ver e ouvir uma cantora, que, apesar
de brilhante, não consegue arrebanhar um público razoável. Essa personagem só existe em áudio,
interpretada pela excelente atriz e, melhor ainda, cantora SIMONE MAZZER. Os dois
homens são aficionados pela cantora.
VANDER insiste em puxar conversa com CARLOS, que sempre o rechaça, até que, aos poucos, vão descobrindo
uma identificação, por conta de seus abismos existenciais.
CARLOS é deficiente visual e, diante da “indesejável” presença e
insistência de VANDER, que não lhe
permite aproveitar, ao máximo, o prazer de ouvir sua diva, também se faz, surdo
e mudo, por vezes, concentrando-se naquilo que lhe causa prazer, a voz da cantora.
Por trajetórias
diferentes, ambos estão em momentos de vida muito parecidos, querendo, ou
melhor, precisando, ambos, mudar – TUDO -, o que poderia acontecer por meio de
uma viagem a Galápagos, cuja primeira parada deverá ser dentro de si mesmos, com o objetivo
de ordenar e orientar suas vidas.
Vander e Carlos.
Gostei muito
do espetáculo e passo a fazer alguns comentários importantes sobre ele:
1)
Um texto de RENATA MIZARAHI já se basta como
adjetivo. O “de RENATA MIZRAHI” é o melhor qualificativo para qualquer texto.
2)
A química, a cumplicidade entre a dupla de atores é comovente. Com experiências em trabalhos anteriores, PAULO e KADU trocam passes, em tabelinha, durante toda a peça e,
invariavelmente, ficam cara a cara com um goleiro invisível, que bem pode ser a
cantora anônima. E é gol na certa, e de
placa.
3)
Muito competente o trabalho de direção, de ISABEL
CAVALCANTI. Tudo indica que ela
permitiu a cada ator construir livremente seu personagem e só se deu o trabalho
de fazer alguns alinhavos, perfeitos, no sentido de emoldurar as ações de cada
um, realçando a situação de falso embate entre eles.
4)
AURORA DOS
CAMPOS assina mais um brilhante trabalho de cenografia. Desta vez, sem
muitos detalhes, que caracterizam sua obra, optou por uma cenografia mais “clean”:
apenas um longo balcão de bar, de acesso por dois lados, sobre o qual estão
distribuídos garrafas de bebidas e muitos copos, além de bancos altos, típicos
de uma casa noturna. Ao fundo, uma
cortina vermelha e, sobre o balcão, três luzes pendentes.
5)
RENATO MACHADO
é o responsável por uma bela iluminação,
de pouca intensidade, uma espécie de meia-luz, como pede o ambiente físico e o
clima das situações.
6)
Discretos e corretos são os figurinos, de BRUNO PERLATTO.
7)
Excelente a trilha
original, de FELIPE STORINO. O “set list”, interpretado por SIMONE MAZZER, é de primeiríssima
qualidade e muito bom gosto.
Amigos ou, simplesmente, “viajantes”?
FICHA TÉCNICA:
Texto – Renata Mizrahi
Direção – Isabel Cavalcanti
Elenco – Paulo Giannini e Kadu Garcia
Cenografia – Aurora dos Campos
Iluminação – Renato Machado
Figurino – Bruno Perlatto
Trilha Original– Felipe Storino
Design Gráfico – Roberta de Freitas
Fotografia – Dalton Valério e Débora Setenta
Assistente de direção - Renata Mizrahi
Assistente de
Cenografia – Ana Machado
Consultoria de
movimento para o personagem Carlos -
Moira Braga
Produção Executiva – Thamires Trianon
Direção de Produção – Paulo Giannini e Kadu Garcia
Realização – Saravá Cacilda Projetos Culturais
Direção de Produção - Criada pelos sócios Kadu Garcia e Paulo Giannini, atores/produtores que
trabalham em parceria desde 2001,
a Saravá Cacilda Projetos Culturais tem como objetivo
dar continuidade a esta sociedade, desenvolvendo e realizando projetos de
qualidade artística e comprometidos com a formação de plateias.
Cenário de Aurora
dos Campos.
SERVIÇO:
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB –
Teatro III - Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro
Temporada: Até 14 de dezembro
Horários: quarta a domingo, às 19h30min
Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia-entrada)
Sessões com intérprete de libras: dias 19, 23, 26 e 30 de novembro; 3,
7, 10 e 14 de dezembro.
Classificação: 14 anos
Duração do espetáculo: 70
minutos
(FOTOS: DALTON VALÉRIO e DÉBORA
SETENTA)
Assino embaixo, Gilberto. Belo texto.
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