segunda-feira, 3 de novembro de 2014


SELFIE

 

 

(“EU ME AMO, EU ME AMO, NÃO POSSO MAIS VIVER SEM MIM...”
E SEM MEU CELULAR.)

 

 

 

 


 

 


 

            Todos sabem que ir ao TEATRO, para mim, já é motivo de grande prazer.  Sair de uma sala de espetáculos, gostando do que vi, é mais prazeroso ainda.  E, quando a peça supera, em muito, aquilo que eu já esperava ser bom, a sensação de felicidade é plena, conhecendo, como conheço, os bastidores do TEATRO e, por isso mesmo, sabendo o quanto é necessário suar e matar dois leões por dia, para se colocar um espetáculo em cena e, pior ainda, depois, para mantê-lo.

 

            Foi com o coração aos pulos, de tanta felicidade, que saí, na última 6ª feira (31/10/2014), do Teatro Miguel Falabella, no Norteshopping, depois de ter assistido a uma deliciosa comédia: SELFIE, que não é uma grande promessa de sucesso para este final de ano (a temporada vai até 25 de janeiro); O SEU SUCESSO JÁ É UMA REALIDADE.

 

            Parafraseando Zeca Baleiro, saí do teatro “com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar ‘bom-dia’, de beijar o português da padaria.” 

 

Que alegria, depois de ter dado boas gargalhadas, com MATEUS SOLANO e MIGUEL THIRÉ, dirigidos por MARCOS CARUSO, num texto de DANIELA OCAMPO!

 

 

 

Espetáculo reflete mania de "selfies" (Foto: Vitor Zorzal)

Miguel Thiré e Mateus Solano.

 

 

 


 

 

 

Desde que vi, pela primeira vez, MATEUS e MIGUEL, dividindo o palco, em 2007, numa miniatura de teatro, chamado Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, tornei-me o maior admirador do talento dos dois.  A peça, Dois pra Viagem, que ficou anos em cartaz, viajando ininterruptamente, escrita por eles mesmos, com a colaboração de Jô Bilac, dirigida por este, era muito engraçada, os dois davam um “show” de interpretação, e, sabendo-se que fazer comédia é muito mais difícil do que atuar num drama, que agradar ao público, por meio do riso, é tarefa hercúlea, vi, naquele momento, o nascimento de dois grandes atores e, mais ainda, a certeza de que havia uma inegável “química” entre a dupla, que valorizaria qualquer espetáculo em que atuassem juntos.  E não é que eu estava certo?  Eles repetem a dose em SELFIE, só que com muito mais recursos, de toda ordem.

 

A peça foi ensaiada por três meses, o que justifica, em cena, um espetáculo puro, sem nenhuma falha humana ou técnica, nem mesmo na estreia, o que seria comum.  E olha que não faltam recursos tecnológicos, no espetáculo, para que tudo dê certo; ou não.

 

O projeto surgiu de uma ideia do produtor, CARLOS GRUN, depois de tomar conhecimento de que (PASMEM!), segundo o blog Oxford University Press, o vocábulo “selfie”, que, em inglês, é um neo­lo­gismo com ori­gem no termo “self-portrait”, “autor­re­trato”, e dá nome às fotos cli­ca­das por apa­re­lho celular e com­par­ti­lha­das na inter­net, em 2013, foi eleito a pala­vra do ano, mediante a constatação de que tal ver­bete cres­ceu 17.000% em 2013, o que con­firma o seu sta­tus de uma das palavras mais pro­cu­ra­das em um ano.

 

 

 


 

 

 

(Foto: Vitor Zorzal)

 

 

 

É inegável que o mundo tecnológico, praticamente, hipnotiza e escraviza as pessoas, tornando-as quase robôs, autômatos.  Muitas perderam a noção do certo e do errado, do permitido e do proibido, do que seja privado ou público, e vivem a fazer fotografias próprias, sozinhas ou acompanhadas, numa febre, que parece já não ter volta.  Também aprecio tal prática, porém, com moderação e adequação e respeito aos locais e momentos.

 

A peça nos mostra, por meio de uma profunda discussão e debate, um recorte, muito bem humorado e inteligente, sobre essa febre de autoexposição e necessidade de estar antenado à troca de informações e imagens, no caso de “selfies”, passando por provocações acerca dos valores morais inseridos nos meios de comunicação.  E nunca é excessivo repetir que tudo é explorado e dito com muito bom humor, também utilizado para mostrar as rela­ções dis­tor­ci­das entre pes­soas e seus objetivos, com essas expo­si­ções.

 

Também não podia passar ao largo, como um dos motes da peça, a inter­fe­rên­cia avas­sa­la­dora da tecnologia na comu­ni­ca­ção, num tempo em que mais se tecla do que se fala.  As pes­soas vivem fotografando, con­tínua e exageradamente, a si mes­mas, regis­trando o passo a passo de suas rotinas.  Há bem pouco tempo, por exemplo, num famoso restaurante do Rio de Janeiro, vi uma família (pai, mãe, filho e filha, adolescentes), teclando o tempo inteiro e fotografando os seus respectivos pratos, para uma imediata postagem nas redes sociais.  “O telefone celular serve até para falar” é uma grande piada.

 

A tese, já um pouco antiga, de McLuhan, de que, em termos de comunicação, o planeta estaria se transformando numa grande aldeia global, está mais do que comprovada e posta em prática, graças às redes socias (Facebook, Instagram, Twitter, Tumblr, além de outras), que dominam o mundo das imagens, exigindo, por conseguinte, os “selfies”.

 

Com relação à montagem da peça, farei uma avaliação muito rápida e prática: é EXCELENTE!!!

 

 

 


 

 

 


 

 

 

O texto foi escrito por uma jovem redatora de TV e dramaturga, das melhores da nova safra, que, já há algum tempo, vem expondo seu talento e capacidade criativa: DANIELA OCAMPO.  Os diálogos são muito ágeis, dinâmicos, utilizando vocabulário do cotidiano, sem sofisticações, mas, também, sem vulgaridades.  O espectador não precisa de tempo para entender as piadas; as gargalhadas surgem, logo que o ator termina sua fala.  As situações criadas para as historinhas, envolvendo CLÁUDIO e os onze personagens aos quais recorre, para recuperar sua identidade, são hilárias.

 

O trabalho dos dois atores não precisa de maiores comentários.  Já vi ambos, em papéis dramáticos e em comédias e cheguei à conclusão de que são dois atores completos, porque sabem jogar, e muito bem, tanto no ataque quanto na defesa, marcando muitos gols e evitando que os adversários os marquem.  Neste trabalho, especialmente, ambos estão exageradamente fantásticos (aqui, o exagero cabe e é bem-vindo), demonstrando um incrível trabalho de corpo (expressão facial e corporal) e de sonoplastia ao vivo, numa precisão merecedora de todos os créditos elogiosos.  A imitação de macacos e a cena em que CLÁUDIO está totalmente perdido, trabalhando, simultaneamente, em dois computadores (invisíveis), ao mesmo tempo em que fala em dois celulares, tudo isso, seguido pelos inúmeros e diversos sons produzidos, com a boca, por MIGUEL THIRÉ, são dois momentos antológicos. 

 

Declaro, publicamente, sem nenhum pudor, que, se, antes de SELFIE, eu já era fã do trabalho dos dois, a partir da última 6ª feira, declaro minha irrefreável paixão pelos dois grandes artistas, ATORES com todas as maiúsculas: MATEUS SOLANO e MIGUEL THIRÉ.

 

 

 


 

 

 


 

 

 

A tarefa de dirigir dois atores do gabarito de MATEUS e MIGUEL, apoiado num excelente texto, deve ter sido um grande desafio para o ótimo ator e autor MARCOS CARUSO.  Digo “desafio”, no sentido de fazer com que a qualidade do texto fosse facilmente percebida pelo público, sem maiores intervenções e decodificações pessoais, e tentar não interferir na intuição dos dois magníficos atores.  CARUSO, mais uma vez, com seu talento, também de diretor, demonstrou muita sabedoria e não complicou, em nada, o que foi feito para ser simples, e agradar muito.  Contando com um palco praticamente nu (a cenografia é do próprio CARUSO), apenas dois cilindros de madeira, que servem de bancos e que são utilizados com uma certa parcimônia, o diretor deve ter percebido, logo que passou a integrar o projeto, que se tratava de uma peça para, e dos, atores.  Discretamente, aplicou seus vastos conhecimentos, acumulados em tantos anos de palco, para conduzir, com muita correção e maestria, a direção do espetáculo.

 

Funcionam muito bem a luz, de FELIPE LOURENÇO e os figurinos de SOL AZULAY, discretos e funcionais, como também são perfeitas a direção musical e a trilha sonora, de LINCOLN VARGAS.  Outro destaque da ficha técnica vai para a excelente preparação corporal, de ARLINDO TEIXEIRA.

 

 

 

(Foto: Vitor Zorzal)

 

 

 

 
SINOPSE (fornecida pela Produção, com adaptações):
A peça conta a his­tó­ria de CLÁU­DIO (piada pronta: há uma semelhança fonética do nome do personagem com “cloud”, “nuvem”, em inglês) (MATEUS SOLANO), um homem superconec­tado ao mundo tecnológico digital, que arma­zena toda a sua vida em com­pu­ta­do­res, redes soci­ais e nuvens, e que, um dia, para se ver livre das grandes marcas ligadas a tal universo, resolve se debruçar sobre um pro­jeto de criar um sistema único para arma­ze­na­mento de todos os dados de uma pes­soa, o ICláudio, um aplicativo próprio, mas vê seu sonho ir por água abaixo, quando deixa cair café em seu equi­pa­mento, que sofre uma pane e apaga tudo. 
Perde, então, todas as informações da sua vida, as quais já não estão mais em nenhum lugar, e descobre, perplexo e desesperado, que perdeu sua vida, sua história, sua memória; enfim, sua identidade.  Ele, simplesmente, passa a “não existir”.  Torna-se, portanto, um homem sem passado, já que não se lem­bra de nada, uma vez que toda sua memó­ria era vir­tual. 
A par­tir daí, ini­cia uma saga, em busca da memó­ria per­dida, recor­rendo a vários per­so­na­gens de sua vida (onze, ao todo, vivi­dos, magistralmente, por MIGUEL THIRÉ), para recons­ti­tuir sua história.
O “perder tudo de si” desperta, no personagem, uma reflexão sobre o exagero que há entre ele e suas relações com as novas tecnologias e o grau de dependência delas.  Ele reflete, e espera-se que os espectadores também, que, em tudo, na vida, o segredo para o sucesso está no atingir o meio termo, afastando-se dos exageros. 
Como em tudo, na vida, só depois que se perde algo é que se passa a lhe dar o devido valor.
 

 

 


 

 
FICHA TÉCNICA:
Ide­a­li­za­ção: Car­los Grun, Mateus Solano e Miguel Thiré
Texto: Dani­ela Ocampo
Dire­ção: Mar­cos Caruso
Elenco e Personagens: Mateus Solano (Cláu­dio) e Miguel Thiré: (por ordem de entrada em cena) Pau­lista, o amigo téc­nico; Solange, a mãe; Amanda, a namo­rada; Álamo, o amigo maconheiro; o Empre­sá­rio; Suzana Souza, a apre­sen­ta­dora de TV; o Bar­man; a Mulher do Bar; o Depu­tado; o Menino; e Ino­cên­cio, o velho.
Figu­ri­nos: Sol Azulay
Aderecista: Alex Grilli
Cenografia: Marcos Caruso
Dese­nho de Luz: Felipe Lourenço
Dire­ção Musi­cal e Tri­lha Sonora: Lin­coln Vargas
Músicos: Lucas Vasconcellos, Lincoln Vargas e Mateus Solano
Vozes em “Off”: Marcelo Adnet, Fernando Caruso, Marcos Caruso, Carlos Grun, Lincoln Vargas, Carolina Taulois, Dida Camero, Michele Krimer, Júnior Santana, Pedro Mourthé, Cacá Mourthé, Tamara Barreto, Bruno Lobianco, Daniela Ocampo, Caio Graco e Fabiana Fontana.
Projeto Gráfico: Raquel Alvarenga
Pre­pa­ra­ção Cor­po­ral: Arlindo Teixeira
Fotos: Ser­gio Baia e Vítor Zorzal
Tratamento de Imagens: Caroline Fanjul
Direção de Pro­du­ção: Car­los Grun — Bem Legal Produções
Assistência de Produção: Carolina Taulois
Asses­so­ria de imprensa: João Pon­tes e Stella Stephany — JSPon­tes Comunicação
 

 

 

 

(Foto: Vitor Zorzal)

 

 

 

 
SERVIÇO:

LOCAL: Tea­tro Miguel Fala­bella / Norte Shopping   -   Av. Dom Hél­der Câmara, 5332   -   2º piso, Del Cas­ti­lho  Tel: (21) 2597–4452
HORÁRIOS: de 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h
DURAÇÃO: 70min
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 anos
TEMPORADA: até 25 de janeiro


 

 

Espero (e vou) poder rever, muitas vezes, esse espetáculo, pois o que é ÓTIMO é para ser prestigiado, valorizado e aplaudido de pé, como fiz na estreia.

 

Em tempo: ainda estou muito feliz por conta de SELFIE e me identifiquei muito com o Seu Inocêncio (Risos).

 

E “selfie-se” quem quiser, e puder!!!

 

 

 

(FOTOS: SÉRGIO BAIA e VÍTOR ZORZAL)

 

 

 

 
   

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