SELFIE
(“EU ME AMO, EU ME AMO, NÃO
POSSO MAIS VIVER SEM MIM...”
E SEM MEU CELULAR.)
Todos
sabem que ir ao TEATRO, para mim, já
é motivo de grande prazer. Sair de uma
sala de espetáculos, gostando do que vi, é mais prazeroso ainda. E, quando a peça supera, em muito, aquilo que
eu já esperava ser bom, a sensação de felicidade é plena, conhecendo, como
conheço, os bastidores do TEATRO e,
por isso mesmo, sabendo o quanto é necessário suar e matar dois leões por dia,
para se colocar um espetáculo em cena e, pior ainda, depois, para mantê-lo.
Foi
com o coração aos pulos, de tanta felicidade, que saí, na última 6ª feira
(31/10/2014), do Teatro Miguel Falabella,
no Norteshopping, depois de ter
assistido a uma deliciosa comédia: SELFIE,
que não é uma grande promessa de sucesso para este final de ano (a temporada vai até 25 de janeiro); O SEU SUCESSO JÁ É UMA REALIDADE.
Parafraseando
Zeca Baleiro, saí do teatro “com
uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e
desejar ‘bom-dia’, de beijar o português da padaria.”
Que alegria,
depois de ter dado boas gargalhadas, com MATEUS
SOLANO e MIGUEL THIRÉ, dirigidos
por MARCOS CARUSO, num texto de DANIELA OCAMPO!
Miguel Thiré e Mateus Solano.
Desde que vi,
pela primeira vez, MATEUS e MIGUEL, dividindo o palco, em 2007,
numa miniatura de teatro, chamado Teatro
Cândido Mendes, em Ipanema, tornei-me o maior admirador do talento dos
dois. A peça, Dois pra Viagem, que ficou anos em cartaz, viajando ininterruptamente,
escrita por eles mesmos, com a colaboração de Jô Bilac, dirigida por este, era muito engraçada, os dois davam um “show”
de interpretação, e, sabendo-se que fazer comédia é muito mais difícil do que
atuar num drama, que agradar ao público, por meio do riso, é tarefa hercúlea,
vi, naquele momento, o nascimento de dois grandes atores e, mais ainda, a
certeza de que havia uma inegável “química” entre a dupla, que valorizaria
qualquer espetáculo em que atuassem juntos.
E não é que eu estava certo? Eles
repetem a dose em SELFIE, só que com
muito mais recursos, de toda ordem.
A peça foi
ensaiada por três meses, o que justifica, em cena, um espetáculo puro, sem
nenhuma falha humana ou técnica, nem mesmo na estreia, o que seria comum. E olha que não faltam recursos tecnológicos,
no espetáculo, para que tudo dê certo; ou não.
O projeto
surgiu de uma ideia do produtor, CARLOS
GRUN, depois de tomar conhecimento de que (PASMEM!), segundo o blog Oxford
University Press, o vocábulo “selfie”, que, em inglês, é um neologismo
com origem no termo “self-portrait”,
“autorretrato”, e dá nome às fotos
clicadas por aparelho celular e compartilhadas na internet, em 2013, foi eleito a palavra
do ano, mediante a constatação de que tal verbete cresceu
17.000% em 2013, o que confirma o seu status de uma das palavras mais
procuradas em um ano.
É inegável que
o mundo tecnológico, praticamente, hipnotiza e escraviza as pessoas, tornando-as
quase robôs, autômatos. Muitas perderam
a noção do certo e do errado, do permitido e do proibido, do que seja privado
ou público, e vivem a fazer fotografias próprias, sozinhas ou acompanhadas,
numa febre, que parece já não ter volta.
Também aprecio tal prática, porém, com moderação e adequação e respeito
aos locais e momentos.
A peça nos
mostra, por meio de uma profunda discussão e debate, um recorte, muito bem
humorado e inteligente, sobre essa febre de autoexposição e necessidade de
estar antenado à troca de informações e imagens, no caso de “selfies”,
passando por provocações acerca dos valores morais inseridos nos meios de
comunicação. E nunca é excessivo repetir
que tudo é explorado e dito com muito bom humor, também utilizado para mostrar as relações distorcidas entre pessoas e seus objetivos, com essas
exposições.
Também não podia passar ao largo, como um dos motes da peça, a interferência
avassaladora da tecnologia na comunicação, num tempo em que mais se tecla do
que se fala. As pessoas vivem fotografando,
contínua e exageradamente, a si mesmas, registrando o passo a passo de suas rotinas. Há bem pouco tempo, por exemplo, num famoso
restaurante do Rio de Janeiro, vi uma família (pai, mãe, filho e filha,
adolescentes), teclando o tempo inteiro e fotografando os seus respectivos pratos,
para uma imediata postagem nas redes sociais. “O telefone celular serve até
para falar” é uma grande piada.
A tese, já um pouco antiga, de McLuhan, de que, em termos de comunicação, o planeta estaria se transformando numa
grande aldeia global, está mais do que comprovada e posta em prática,
graças às redes socias (Facebook ,
Instagram, Twitter, Tumblr, além de outras), que dominam o mundo das imagens,
exigindo, por conseguinte, os “selfies”.
Com relação à
montagem da peça, farei uma avaliação muito rápida e prática: é EXCELENTE!!!
O texto foi escrito por uma jovem
redatora de TV e dramaturga, das melhores da nova safra, que, já há algum tempo,
vem expondo seu talento e capacidade criativa: DANIELA OCAMPO. Os diálogos
são muito ágeis, dinâmicos, utilizando vocabulário do cotidiano, sem
sofisticações, mas, também, sem vulgaridades.
O espectador não precisa de tempo para entender as piadas; as
gargalhadas surgem, logo que o ator termina sua fala. As situações criadas para as historinhas,
envolvendo CLÁUDIO e os onze
personagens aos quais recorre, para recuperar sua identidade, são hilárias.
O trabalho dos
dois atores não precisa de maiores comentários.
Já vi ambos, em papéis dramáticos e em comédias e cheguei à conclusão de
que são dois atores completos, porque sabem jogar, e muito bem, tanto no ataque
quanto na defesa, marcando muitos gols e evitando que os adversários os
marquem. Neste trabalho, especialmente,
ambos estão exageradamente fantásticos (aqui, o exagero cabe e é bem-vindo),
demonstrando um incrível trabalho de corpo (expressão facial e corporal) e de
sonoplastia ao vivo, numa precisão merecedora de todos os créditos
elogiosos. A imitação de macacos e a
cena em que CLÁUDIO está totalmente
perdido, trabalhando, simultaneamente, em dois computadores (invisíveis), ao
mesmo tempo em que fala em dois celulares, tudo isso, seguido pelos inúmeros e
diversos sons produzidos, com a boca, por MIGUEL
THIRÉ, são dois momentos antológicos.
Declaro,
publicamente, sem nenhum pudor, que, se, antes de SELFIE, eu já era fã do trabalho dos dois, a partir da última 6ª feira, declaro
minha irrefreável paixão pelos dois grandes artistas, ATORES com todas as maiúsculas: MATEUS SOLANO e MIGUEL THIRÉ.
A tarefa de dirigir
dois atores do gabarito de MATEUS e MIGUEL, apoiado num excelente texto,
deve ter sido um grande desafio para o ótimo ator e autor MARCOS CARUSO. Digo “desafio”,
no sentido de fazer com que a qualidade do texto fosse facilmente percebida
pelo público, sem maiores intervenções e decodificações pessoais, e tentar não
interferir na intuição dos dois magníficos atores. CARUSO,
mais uma vez, com seu talento, também de diretor,
demonstrou muita sabedoria e não complicou, em nada, o que foi feito para ser
simples, e agradar muito. Contando com
um palco praticamente nu (a cenografia
é do próprio CARUSO), apenas dois
cilindros de madeira, que servem de bancos e que são utilizados com uma certa
parcimônia, o diretor deve ter
percebido, logo que passou a integrar o projeto, que se tratava de uma peça para, e dos, atores. Discretamente,
aplicou seus vastos conhecimentos, acumulados em tantos anos de palco, para
conduzir, com muita correção e maestria, a direção
do espetáculo.
Funcionam
muito bem a luz, de FELIPE LOURENÇO e os figurinos de SOL AZULAY, discretos e funcionais, como também são perfeitas a direção musical e a trilha sonora, de LINCOLN VARGAS. Outro
destaque da ficha técnica vai para a excelente preparação corporal, de ARLINDO
TEIXEIRA.
SINOPSE (fornecida pela Produção, com adaptações):
A peça conta a história de CLÁUDIO (piada pronta: há uma semelhança fonética do nome do
personagem com “cloud”, “nuvem”, em inglês) (MATEUS SOLANO), um homem superconectado
ao mundo tecnológico digital, que armazena toda a sua vida em computadores,
redes sociais e nuvens, e que, um dia, para se ver livre das grandes marcas
ligadas a tal universo, resolve se debruçar sobre um projeto de criar um
sistema único para armazenamento de todos os dados de uma pessoa, o ICláudio, um aplicativo próprio, mas vê
seu sonho ir por água abaixo, quando deixa cair café em seu equipamento, que
sofre uma pane e apaga tudo.
Perde, então, todas as informações da sua vida, as
quais já não estão mais em nenhum lugar, e descobre, perplexo e desesperado,
que perdeu sua vida, sua história, sua memória; enfim, sua identidade. Ele, simplesmente, passa a “não
existir”. Torna-se, portanto, um homem sem passado, já que não se
lembra de nada, uma vez que toda sua memória era virtual.
A partir daí, inicia uma saga, em busca da memória perdida,
recorrendo a vários personagens de sua vida (onze, ao todo, vividos,
magistralmente, por MIGUEL THIRÉ),
para reconstituir sua história.
O “perder tudo de si”
desperta, no personagem, uma reflexão sobre o exagero que há entre ele e suas
relações com as novas tecnologias e o grau de dependência delas. Ele reflete, e espera-se que os espectadores
também, que, em tudo, na vida, o segredo para o sucesso está no atingir o meio
termo, afastando-se dos exageros.
Como em tudo, na vida, só depois que se perde algo é que se
passa a lhe dar o devido valor.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Carlos Grun, Mateus Solano e Miguel Thiré
Texto: Daniela Ocampo
Direção: Marcos Caruso
Elenco e Personagens: Mateus Solano (Cláudio) e Miguel Thiré: (por ordem de entrada em cena) Paulista, o amigo técnico;
Solange, a mãe; Amanda, a namorada; Álamo, o amigo maconheiro; o Empresário;
Suzana Souza, a apresentadora de TV; o Barman; a Mulher do
Bar; o Deputado; o Menino; e Inocêncio, o velho.
Figurinos: Sol Azulay
Aderecista: Alex
Grilli
Cenografia: Marcos
Caruso
Desenho de Luz: Felipe Lourenço
Direção Musical e Trilha Sonora: Lincoln Vargas
Músicos: Lucas
Vasconcellos, Lincoln Vargas e Mateus Solano
Vozes em “Off”:
Marcelo Adnet, Fernando Caruso, Marcos Caruso, Carlos Grun, Lincoln Vargas,
Carolina Taulois, Dida Camero, Michele Krimer, Júnior Santana, Pedro Mourthé,
Cacá Mourthé, Tamara Barreto, Bruno Lobianco, Daniela Ocampo, Caio Graco e Fabiana Fontana.
Projeto Gráfico:
Raquel Alvarenga
Preparação Corporal: Arlindo Teixeira
Fotos: Sergio Baia e Vítor Zorzal
Tratamento de
Imagens: Caroline Fanjul
Direção de Produção: Carlos Grun — Bem Legal Produções
Assistência de Produção:
Carolina Taulois
Assessoria de imprensa: João Pontes e Stella Stephany — JSPontes Comunicação
SERVIÇO:
LOCAL: Teatro Miguel Falabella / Norte
Shopping - Av. Dom Hélder Câmara, 5332
- 2º piso, Del Castilho Tel:
(21) 2597–4452
HORÁRIOS: de 5ª feira
a sábado, às 21h; domingo, às 20h
DURAÇÃO: 70min
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 anos
TEMPORADA: até 25 de janeiro
Espero (e
vou) poder rever, muitas vezes, esse espetáculo, pois o que é ÓTIMO é para ser
prestigiado, valorizado e aplaudido de pé, como fiz na estreia.
Em tempo:
ainda estou muito feliz por conta de SELFIE e me identifiquei muito com o Seu Inocêncio (Risos).
E “selfie-se” quem quiser, e puder!!!
(FOTOS: SÉRGIO
BAIA e VÍTOR ZORZAL)
Que chegue logo sábado para que eu possa assistir também!
ResponderExcluir:)
Olívia